Aiyra— Dakota, já deu! Eu vou a polícia. — A voz de Live, soa estridente no estúdio.Eu a fuzilo com o olhar, pedindo um pouco mais de discrição. Para a minha sorte, Vangory teve que se atrasar ainda mais do que eu, então eu liguei para Live, pedindo que ela me encontrasse no estúdio.Vejo o técnico de som fazer os últimos ajustes e depois sair para o seu almoço. Ficamos só eu e Live na sala.— Seria burrice e você sabe disso. Esse cara tem a metade do estado na mão. Minha denúncia ou a sua, só serviria para irritar ainda mais esse babaca. — Digo, pegando os meus fios e fazendo uma trança folgada.— Você não está entendendo a gravidade dessa merda, Dakota? Ele não está mais interessado no dinheiro. Esse doente agora ta te vendo como algum tipo de caça bizarra. — Live argumenta, seu olhar sombrio nos meus.— Eu estava lá Live, sei disso melhor do que você. — Minha voz sai carregada de raiva, só que direcionada a pessoa errada.— Não seja uma escrota comigo, Dakota. — Ela exige, sua fa
AiyraAssisto ao filme na televisão, o gatinho no meu colo sendo um ponto de calor bem-vindo na noite fria. Já aumentei a temperatura uma duas vezes e ainda sinto meus pés gelados. A onda de frio pegou metade da cidade desprevenida. Todos agora buscam restaurantes ou as próprias camas aquecidas.Ainda não avisei ao Ethan sobre o gato e estou esperando que quando ele pôr os olhos no bichano seu coração se amoleça tanto quanto o meu. Os seguranças do prédio nada disseram ao me ver chegar com um gato, então presumi que deva ser permitido ter animais de estimação no prédio. Por via das dúvidas, vou perguntar a ele quando chegar.— Dakota, as compras que realizou mudaram de status e estão previstas para chegar amanhã. — Vini me avisa, sua voz saindo do sistema de som.Agradeço a ele e continuo a ver o filme. No caminho para cá eu já providenciei a ração e a caixinha de areia, que o médico indicou e deixei para comprar o restante online mesmo. Vejo que já passa das três da manhã e considero
AiyraA cafeteira cara de Ethan, trabalha enquanto eu frito as tiras de bacon. O aroma na cozinha lindamente mobiliada dele, está maravilhoso.Ethan realmente devia estar cansado.Eu já me levantei tem umas duas horas e o deixei na cama, em seu sono pesado. Elvis que muito inteligentemente, subiu na cama durante o nosso sono e se enroscou em nossas pernas, agora me segue pela casa. Ele brinca em alguns momentos com a minha pantufa, me fazendo ficar o olhando. É tão gracinha...Acho que sentirei falta, quando tiver que ir embora.O pensamento faz meu sorriso morrer aos poucos. Eu ainda não tinha parado para pensar em quanto eu me habituei e gostei de conviver com Ethan. O fato de agora saber que o amo me deixando ainda mais envolvida nessa fantasia. Em breve terei que ir embora, arrumar um canto só meu. Não posso ficar debaixo da asa de Ethan para sempre. Nós não somos casados, na realidade, eu nem sei ainda o que somos um para o outro.Bom, quando for o momento, terei que lidar com is
EthanDesço do jipe, meus olhos atentos a qualquer sinal estranho. Quando Dakota me pediu para pegar algumas roupas em sua casa eu quase me ofereci para trazer tudo logo, mas temi que isso pudesse assustá-la. Estamos consideravelmente bem esses dias, ela tem demonstrado estar mais receptiva a demonstrações de carinho, partindo dela mesma algumas vezes essas demonstrações.Meu coração esperançoso teima em me dizer que ela sente o mesmo que eu, mas é difícil ter a certeza quando se desejou isso por tantos anos.E se for só o meu coração se iludindo?Aquele dia no restaurante, entretanto, foi um divisor de águas para mim. Ali eu descobri que ela não é tão imune aos sentimentos quanto quer ser. Eu vou esperar, o quanto for necessário, mas tem dias que é frustrante olhar para seus olhos azuis cristalinos e não dizer que a amo.Paro de andar, meus pensamentos sendo refreados ao ver quem está parado a porta dela. O olhar perdido, sentado no chão e roupas surradas. Joshua.Respiro fundo, mant
Aira“— Eu sinceramente não sei o que a senhora gosta tanto nesse parque. — Murmurei, descontente por ser a única que não foi ao cinema com meus amigos.Minha mãe me fitou, no canto de seus olhos, as ruguinhas se formaram, enquanto um lento sorriso se fez. Ela insistiu em ir comigo para o Central Park. Eu sabia que era um de seus lugares favoritos, mas minha cabeça pré-adolescente só queria sair com os amigos. Na época eu não sabia que seria o dia em que tudo mudaria. O dia em que eu descobriria que a vida pode ser mais do que os meus dramas.— Você não percebe Aiyra? Aqui é como um coração vivo em meio a tantos prédios frios. Quando tudo isso me sufoca, eu venho para cá. Ainda é muito diferente do que eu costumava ver em casa, mas ainda é um respiro. — Ela enlaçou o braço em meu ombro.— A senhora se arrepende de ter saído da reserva, pra ficar com o papai? — indaguei, minha voz miúda.— Nunca. Eu amava o meu lar, tinha muitos defeitos e mais dificuldades do que faço parecer, mas era
AiyraO caminho de volta começa tranquilo, o abalo emocional de antes sendo substituído aos poucos pela resignação dolorida. Eu não tenho como mudar o passado ou deixar de sentir saudade dela, mas posso honrar cada bom sentimento que ela fez criar raízes em mim.Minha moto segue em uma velocidade adequada, os faróis do Audi da Isobell me seguindo a uma distância razoável.Talvez em dias de chuva, ela não se importe de me dar uma carona...Quando paro no sinal, penso ver o mesmo carro que vi me seguir outro dia, mas ele vira em uma esquina e deixo para lá. Quando chego ao prédio de Ethan o sol já começa a perder sua força. Aceno no estacionamento para Isobell e entro sabendo que a qualquer saída minha ela vai me seguir e me sinto mais segura com isso.Passo pela segurança e subo pelo elevador, minha mente e corpo parecendo pesados. Retiro meu casaco e as botas, quando passo pela porta. Elvis vem miando em minha direção e começa a se enroscar em minhas pernas. Agacho fazendo carinho em
AiyraO pequeno teatro que a empresa alugou tem um palco arredondado, todo sistema de luzes agora está reduzido só ao necessário, mas deve ser uma visão e tanto quando está apta para as peças. O som do teatro é todo um conjunto muito bem pensado de forma que o controlador não tenha que fazer milagres.Eu estou na primeira fila, esperando os outros dois avaliadores líderes do comitê. Já conversei brevemente com a maioria da bancada avaliadora e gostei da maioria, claro sempre tem os esnobes que se consideram os reis musicistas, mas sabem o que estão fazendo e é isso que importa.— Bom dia. — Uma voz doce e baixa me cumprimenta.Olho para minha esquerda, minha resposta ficando presa na garganta. Arregalo meus olhos, me atrapalhando com os diversos papeis em minha mão. Quem está a minha frente não é ninguém menos que a rainha das composições, Charlotte Briens.Observo os traços asiáticos dela, os cabelos curtinhos e da cor verde clara, os olhos castanhos com uma maquiagem cintilante dour
EthanMeu olhar se alterna de August para Dakota, a visão dos dois juntos, enviando uma onda irracional e cegante de ciúme por mim. Por anos e anos, eu os vi serem um do outro, me remoendo na própria dor, enquanto eu os assistia. O medo que a presença dele acabe com o que eu conquistei com ela, parece muito real nesse momento.Dakota vem em minha direção e a parte insegura e ciumenta em mim se acalma com isso. Vejo o olhar de meu irmão acompanhar a mão de Dakota que envolve a minha.Dói pra caralho irmão, eu sei...— Pensei que só nos veríamos no evento, August. — Comento, minha voz soando agressiva.— Tive assuntos que me fizeram vir mais cedo. — Ele responde, o olhar indo para Aiyra.Com a minha paciência por um fio, eu olho para o rosto irritado e confuso de Aiyra.— Desculpe te pedir isso, mas você poderia nos dar um minuto? — peço, minha mão apertando brevemente a sua.— Tome todos que quiser, eu já disse tudo que tinha para ser dito. — Ela murmura e querendo marcar sua posição,