EthanDesço do jipe, meus olhos atentos a qualquer sinal estranho. Quando Dakota me pediu para pegar algumas roupas em sua casa eu quase me ofereci para trazer tudo logo, mas temi que isso pudesse assustá-la. Estamos consideravelmente bem esses dias, ela tem demonstrado estar mais receptiva a demonstrações de carinho, partindo dela mesma algumas vezes essas demonstrações.Meu coração esperançoso teima em me dizer que ela sente o mesmo que eu, mas é difícil ter a certeza quando se desejou isso por tantos anos.E se for só o meu coração se iludindo?Aquele dia no restaurante, entretanto, foi um divisor de águas para mim. Ali eu descobri que ela não é tão imune aos sentimentos quanto quer ser. Eu vou esperar, o quanto for necessário, mas tem dias que é frustrante olhar para seus olhos azuis cristalinos e não dizer que a amo.Paro de andar, meus pensamentos sendo refreados ao ver quem está parado a porta dela. O olhar perdido, sentado no chão e roupas surradas. Joshua.Respiro fundo, mant
Aira“— Eu sinceramente não sei o que a senhora gosta tanto nesse parque. — Murmurei, descontente por ser a única que não foi ao cinema com meus amigos.Minha mãe me fitou, no canto de seus olhos, as ruguinhas se formaram, enquanto um lento sorriso se fez. Ela insistiu em ir comigo para o Central Park. Eu sabia que era um de seus lugares favoritos, mas minha cabeça pré-adolescente só queria sair com os amigos. Na época eu não sabia que seria o dia em que tudo mudaria. O dia em que eu descobriria que a vida pode ser mais do que os meus dramas.— Você não percebe Aiyra? Aqui é como um coração vivo em meio a tantos prédios frios. Quando tudo isso me sufoca, eu venho para cá. Ainda é muito diferente do que eu costumava ver em casa, mas ainda é um respiro. — Ela enlaçou o braço em meu ombro.— A senhora se arrepende de ter saído da reserva, pra ficar com o papai? — indaguei, minha voz miúda.— Nunca. Eu amava o meu lar, tinha muitos defeitos e mais dificuldades do que faço parecer, mas era
AiyraO caminho de volta começa tranquilo, o abalo emocional de antes sendo substituído aos poucos pela resignação dolorida. Eu não tenho como mudar o passado ou deixar de sentir saudade dela, mas posso honrar cada bom sentimento que ela fez criar raízes em mim.Minha moto segue em uma velocidade adequada, os faróis do Audi da Isobell me seguindo a uma distância razoável.Talvez em dias de chuva, ela não se importe de me dar uma carona...Quando paro no sinal, penso ver o mesmo carro que vi me seguir outro dia, mas ele vira em uma esquina e deixo para lá. Quando chego ao prédio de Ethan o sol já começa a perder sua força. Aceno no estacionamento para Isobell e entro sabendo que a qualquer saída minha ela vai me seguir e me sinto mais segura com isso.Passo pela segurança e subo pelo elevador, minha mente e corpo parecendo pesados. Retiro meu casaco e as botas, quando passo pela porta. Elvis vem miando em minha direção e começa a se enroscar em minhas pernas. Agacho fazendo carinho em
AiyraO pequeno teatro que a empresa alugou tem um palco arredondado, todo sistema de luzes agora está reduzido só ao necessário, mas deve ser uma visão e tanto quando está apta para as peças. O som do teatro é todo um conjunto muito bem pensado de forma que o controlador não tenha que fazer milagres.Eu estou na primeira fila, esperando os outros dois avaliadores líderes do comitê. Já conversei brevemente com a maioria da bancada avaliadora e gostei da maioria, claro sempre tem os esnobes que se consideram os reis musicistas, mas sabem o que estão fazendo e é isso que importa.— Bom dia. — Uma voz doce e baixa me cumprimenta.Olho para minha esquerda, minha resposta ficando presa na garganta. Arregalo meus olhos, me atrapalhando com os diversos papeis em minha mão. Quem está a minha frente não é ninguém menos que a rainha das composições, Charlotte Briens.Observo os traços asiáticos dela, os cabelos curtinhos e da cor verde clara, os olhos castanhos com uma maquiagem cintilante dour
EthanMeu olhar se alterna de August para Dakota, a visão dos dois juntos, enviando uma onda irracional e cegante de ciúme por mim. Por anos e anos, eu os vi serem um do outro, me remoendo na própria dor, enquanto eu os assistia. O medo que a presença dele acabe com o que eu conquistei com ela, parece muito real nesse momento.Dakota vem em minha direção e a parte insegura e ciumenta em mim se acalma com isso. Vejo o olhar de meu irmão acompanhar a mão de Dakota que envolve a minha.Dói pra caralho irmão, eu sei...— Pensei que só nos veríamos no evento, August. — Comento, minha voz soando agressiva.— Tive assuntos que me fizeram vir mais cedo. — Ele responde, o olhar indo para Aiyra.Com a minha paciência por um fio, eu olho para o rosto irritado e confuso de Aiyra.— Desculpe te pedir isso, mas você poderia nos dar um minuto? — peço, minha mão apertando brevemente a sua.— Tome todos que quiser, eu já disse tudo que tinha para ser dito. — Ela murmura e querendo marcar sua posição,
AiyraRespiro fundo tentando manter o nervosismo fora do meu sistema. A bolsa repleta de dinheiro ao meu lado é um constante lembrete do que estou prestes a fazer.Ah vamos lá... eu não sou de tremer ante aos meus problemas...Verifico em frente ao espelho a minha roupa pela terceira vez. A calça de lavagem escura que escolhi se mescla bem com minhas botas de couro de cano alto e saltos quadrados. Minha camisa de gola alta cinza está com meu melhor sobretudo negro, o tecido encorpado. Prendi bem os meus cabelos em um rabo de cavalo no alto da cabeça, meu olhar sem maquiagem e formato do maxilar se destacando pelo penteado.Eu pareço séria e talvez... um pouco perigosa e é isso que preciso para o que vou fazer hoje. Ouço os passos de Ethan as minhas costas. Viro-me e vejo seu olhar se alimentar da minha imagem com demora. O dourado de seus olhos bem transparentes com relação aos pensamentos devassos.— Não me olhe assim... não agora. — Peço, apesar da excitação já começar a fazer seu
IsobellAspiro devagar, mantendo minha mão estável. Qualquer atitude impensada agora e tudo pode virar um pandemônio. O quanto eu puder evitar, farei e só preciso tirar Aiyra daqui. Sei que o governo mantém os olhos bem alertas em mim e não quero ficar na mira deles de novo. Já dei mais do que o possível por eles, eu só quero trabalhar e se possível bem longe do meu passado.Zener aperta os olhos, me encarando incrédulo. Conheço bem o tipo de homem que ele é. O tipo que coleciona vidas ou no caso mulheres a seu bem querer.Filhos da puta que não sabem o que é estar à mercê de alguém mais forte...— Você não teria coragem. — Ele afirma, mas seus olhos mostram a dúvida presente.— Aiyra está sob a nossa proteção e se tiver que ser extrema para assegurar a vida dela, farei. — Digo, minha voz calma.— Sabe com quem está lidando, garota? Sabe quantos contatos eu tenho? — ele ameaça, os olhos verdes cintilando de indignação.— Sei bem quem é você Zener e se quer saber, não é o único a ter c
AiyraMeu corpo se aconchega mais ao de Ethan, minha mente ainda processando tudo que aconteceu. Já faz um bom par de horas que Isobell se foi e Ethan me mimou desde então. Me deu um banho, lavando meu coro cabeludo com uma gentileza que quase me levou as lágrimas. Com calma ele me ajudou a vestir as roupas, secou meus cabelos e me pôs deitada em seus braços, onde estou desde então.Ethan deve ter desmarcado diversos compromissos para estar assim comigo. Ele não fez nenhuma insinuação, não me perguntou como eu me sentia e nem pressionou de nenhuma forma. Ele só me manteve junto a ele, ambos sentindo o calor um do outro na cama e aproveitando o fato de estarmos juntos.— Sabe qual foi o meu pior medo quando toda a situação fugiu do meu controle? — pergunto, quebrando o nosso silêncio.— Não. — Ele responde, a voz tranquila.— Foi não poder ver os que amo de novo. Você e a Live... até meu pai. — Reconheço, meus pensamentos se desviando para cada rosto.— Você está conosco e nós estamos