AiyraO pequeno teatro que a empresa alugou tem um palco arredondado, todo sistema de luzes agora está reduzido só ao necessário, mas deve ser uma visão e tanto quando está apta para as peças. O som do teatro é todo um conjunto muito bem pensado de forma que o controlador não tenha que fazer milagres.Eu estou na primeira fila, esperando os outros dois avaliadores líderes do comitê. Já conversei brevemente com a maioria da bancada avaliadora e gostei da maioria, claro sempre tem os esnobes que se consideram os reis musicistas, mas sabem o que estão fazendo e é isso que importa.— Bom dia. — Uma voz doce e baixa me cumprimenta.Olho para minha esquerda, minha resposta ficando presa na garganta. Arregalo meus olhos, me atrapalhando com os diversos papeis em minha mão. Quem está a minha frente não é ninguém menos que a rainha das composições, Charlotte Briens.Observo os traços asiáticos dela, os cabelos curtinhos e da cor verde clara, os olhos castanhos com uma maquiagem cintilante dour
EthanMeu olhar se alterna de August para Dakota, a visão dos dois juntos, enviando uma onda irracional e cegante de ciúme por mim. Por anos e anos, eu os vi serem um do outro, me remoendo na própria dor, enquanto eu os assistia. O medo que a presença dele acabe com o que eu conquistei com ela, parece muito real nesse momento.Dakota vem em minha direção e a parte insegura e ciumenta em mim se acalma com isso. Vejo o olhar de meu irmão acompanhar a mão de Dakota que envolve a minha.Dói pra caralho irmão, eu sei...— Pensei que só nos veríamos no evento, August. — Comento, minha voz soando agressiva.— Tive assuntos que me fizeram vir mais cedo. — Ele responde, o olhar indo para Aiyra.Com a minha paciência por um fio, eu olho para o rosto irritado e confuso de Aiyra.— Desculpe te pedir isso, mas você poderia nos dar um minuto? — peço, minha mão apertando brevemente a sua.— Tome todos que quiser, eu já disse tudo que tinha para ser dito. — Ela murmura e querendo marcar sua posição,
AiyraRespiro fundo tentando manter o nervosismo fora do meu sistema. A bolsa repleta de dinheiro ao meu lado é um constante lembrete do que estou prestes a fazer.Ah vamos lá... eu não sou de tremer ante aos meus problemas...Verifico em frente ao espelho a minha roupa pela terceira vez. A calça de lavagem escura que escolhi se mescla bem com minhas botas de couro de cano alto e saltos quadrados. Minha camisa de gola alta cinza está com meu melhor sobretudo negro, o tecido encorpado. Prendi bem os meus cabelos em um rabo de cavalo no alto da cabeça, meu olhar sem maquiagem e formato do maxilar se destacando pelo penteado.Eu pareço séria e talvez... um pouco perigosa e é isso que preciso para o que vou fazer hoje. Ouço os passos de Ethan as minhas costas. Viro-me e vejo seu olhar se alimentar da minha imagem com demora. O dourado de seus olhos bem transparentes com relação aos pensamentos devassos.— Não me olhe assim... não agora. — Peço, apesar da excitação já começar a fazer seu
IsobellAspiro devagar, mantendo minha mão estável. Qualquer atitude impensada agora e tudo pode virar um pandemônio. O quanto eu puder evitar, farei e só preciso tirar Aiyra daqui. Sei que o governo mantém os olhos bem alertas em mim e não quero ficar na mira deles de novo. Já dei mais do que o possível por eles, eu só quero trabalhar e se possível bem longe do meu passado.Zener aperta os olhos, me encarando incrédulo. Conheço bem o tipo de homem que ele é. O tipo que coleciona vidas ou no caso mulheres a seu bem querer.Filhos da puta que não sabem o que é estar à mercê de alguém mais forte...— Você não teria coragem. — Ele afirma, mas seus olhos mostram a dúvida presente.— Aiyra está sob a nossa proteção e se tiver que ser extrema para assegurar a vida dela, farei. — Digo, minha voz calma.— Sabe com quem está lidando, garota? Sabe quantos contatos eu tenho? — ele ameaça, os olhos verdes cintilando de indignação.— Sei bem quem é você Zener e se quer saber, não é o único a ter c
AiyraMeu corpo se aconchega mais ao de Ethan, minha mente ainda processando tudo que aconteceu. Já faz um bom par de horas que Isobell se foi e Ethan me mimou desde então. Me deu um banho, lavando meu coro cabeludo com uma gentileza que quase me levou as lágrimas. Com calma ele me ajudou a vestir as roupas, secou meus cabelos e me pôs deitada em seus braços, onde estou desde então.Ethan deve ter desmarcado diversos compromissos para estar assim comigo. Ele não fez nenhuma insinuação, não me perguntou como eu me sentia e nem pressionou de nenhuma forma. Ele só me manteve junto a ele, ambos sentindo o calor um do outro na cama e aproveitando o fato de estarmos juntos.— Sabe qual foi o meu pior medo quando toda a situação fugiu do meu controle? — pergunto, quebrando o nosso silêncio.— Não. — Ele responde, a voz tranquila.— Foi não poder ver os que amo de novo. Você e a Live... até meu pai. — Reconheço, meus pensamentos se desviando para cada rosto.— Você está conosco e nós estamos
Live“Olhar pela janela era um costume um tanto hipnótico para mim. Do andar em que eu estava, podia ver da minha cama, um outdoor com cores vívidas e uma mulher exuberante nela. Ela estava sempre sorridente, uma postura confiante a modulando. A enfermeira do turno da manhã que eu carinhosamente apelidei de bruxa amarga, veio me verificar como de praxe. Eu particularmente gostava mais da jovem do plantão noturno. Ela era quem dividia a maioria das fofocas que uma garota da minha idade podia ouvir. Já fazia quase uma semana dessa vez. Desde minha última crise, o médico achou melhor que eu ficasse em observação. Nem ele e nem a minha mãe me disseram claramente o que estava acontecendo, mas eu não era idiota. Já estava nesse vai e vem de hospitais desde que me conheço por gente. Meu coração estava falhando. Eu o via como uma máquina enferrujada. em meio a uma fábrica novinha.Estava cada dia mais difícil sorrir e encarar com força os meus medos. Sabia que em breve acabaria na lista par
Aiyra Meus passos saem apressados pelos bastidores, procurando pelo técnico de som. Enquanto eu o procuro, acabo por desacelerar, minha visão capturando uma cena inusitada. Uma jovem, talvez mais nova que eu, está agachada em frente a uma menina, os cabelos escuros da criança jogados em frente ao rosto, enquanto um choro baixinho a envolve.— Eu não quero ficar sozinha mãe... — a menina murmura, soluçando.— Você não vai ficar sozinha meu doce. — A mãe acaricia as costas da criança — A mamãe só precisa cantar um pouquinho e depois lhe compro aquela torta que tanto gosta.Observo as duas, uma saudade intensa de minha mãe brotando. Aproximo-me devagar.— Olá. — Cumprimento e a mulher levanta o olhar escuro para o meu — Você é uma das participantes?A mulher de cabelos curtos e feição suave, vai empalidecendo ao perceber quem sou.— S... sim. — Ela gagueja.— E quem é essa princesa? — pergunto ao me abaixar no nível dos olhos da garota.— Essa é minha filha, Victória. O pai dela
Ethan Observo Aiyra ser levada pelos médicos, algo dentro de mim se quebrando com a cena.Se eu tivesse chegado mais tarde como o previsto... porra... eu nem consigo imaginar...Quando entrei no apartamento, minha intenção era fazer uma surpresa, mas ao encontra-la deitada eu estranhei. Elvis miava constantemente, o corpo pequeno em cima do de Dakota, chamando a atenção dela para algo, mas ela não acordava. Levei um bom tempo para conseguir fazer com que ela despertasse e nessa altura meu desespero só aumentava. Cogitei ser uma gripe ao perceber a febre, mas quando ela começou a reclamar tão ferozmente de dor no lado direito, eu gelei.A anos atrás perdi um grande cantor, quando seu apêndice rompeu e não deu tempo de socorrer. Só de cogitar a possibilidade eu entrei em pânico. O tufão que recaiu sobre a cidade estava tomando proporções grandes e o socorro poderia levar ainda mais tempo. Nunca em minha vida, eu tremi tanto.Procuro uma cadeira, minhas pernas oscilando ao senta