Quando o dia amanheceu, todas as coisas de Charlotte já haviam sido levadas para seu quarto antigo, suas amigas já haviam sido realocadas para a casa central e, mais uma vez, mesmo contra a vontade de sua mãe, ela estava de volta a seu lar, de onde jamais deveria ter saído. Marcel, apesar de muito satisfeito, tinha um pressentimento estranho de que algo estava errado, sentia que havia algo prestes a acontecer, no entanto, não deu atenção ao estranho sentimento, afinal, a paz reinava na residência dos Capman e até Judith parecia mais bem disposta naquela manhã. — Marcel — Lucian chamou, pouco depois de sair de seus aposentos, sentia o coração acelerado e uma sensação de urgência desde a noite anterior. Queria, não, aquilo era mais que um querer, ele precisava que os responsáveis por sua amada soubessem de suas intenções, precisava que o cortejo fosse oficializado para, tão logo lhe fosse permitido pelo pai de Charlotte , ele pudesse pedir a ela que lhe desse a honra de ser sua pela
— Uma bela flor, para uma outra bela flor — falou o rapaz, estendendo para ela uma rosa vermelha e muito bem perfumada. O garoto tinha uma pele caramelada, seus olhos eram de um castanho amendoado belíssimos e seu sorriso, galante e encantador, a fez sorrir também. Usava roupas simples, tinha uma cabeleira encaracolada e rebelde que emoldurava seu rosto e, no braço direito, trazia uma cesta de flores. — Oh! — foi tudo o que ela conseguiu dizer a primeiro momento, enquanto pegava a flor e a aproximava do rosto. — Muito obrigada. O agradecimento fez o rapaz curvar o corpo levemente, numa gentil referência, antes de, com um aceno de cabeça, se distanciar sumindo entre as pessoas e deixando-a ali, encantada com o gesto singelo. Quando percebeu que havia ficado para trás, Chelsea correu rapidamente até a loja, erguendo seu vestido um pouco para aumentar a mobilidade. Não demorou a chegar ao local, ainda com a rosa nas mãos e com a respiração um pouco ofegante. — Onde estava? Achamos
O que é o tempo para os apaixonados? O tempo pode ser muitas coisas, desde uma benção, até uma maldição que traz sofrimento aos corações repletos de desejo e saudade. Lucian sabia disso, conhecia tão bem a dor da perda que não se imaginava passando por isso novamente, não era algo que suportaria não de novo. Enquanto saia do escritório do pai de Charlotte , ele sentia o coração aquecido com a proposta de um futuro que nunca imaginou que teria, uma família, uma vida ao lado da mulher que amava e que amaria pela eternidade. Sem dúvida alguma ele se sentia, de fato, o homem mais feliz da face ta terra naquela manhã, sentia que estava há um passo de alcançar aquilo que secretamente, sempre desejou, ter um lar e alguém para quem voltar se um dia partisse para a guerra novamente. Marcel estava igualmente feliz, tão feliz que até havia esquecido da estranha sensação que havia assolado seu peito naquela manhã. Tinha um grande sorriso nos lábios e sentia a felicidade tomando seu ser, finalm
— Maldito, desgraçado! — gritou ele, passando uma das mãos nos cabelos, sentindo o desespero invadir seu peito e o fazendo respirar de forma ofegante. — Eu deveria ter o matado quando tive a chance! — Quem? Marcel, de quem está falando? — Lucian perguntou, olhando para o rapaz com preocupação. A reação de Marcel o dava a certeza de que aquele não foi um ataque aleatório, com certeza não. Porém, antes que Marcel falasse qualquer coisa, uma voz cortou o silêncio noturno e os passos apressados, frenéticos, chegaram aos ouvidos dos dois homens vindos da mata. Então, segundos depois, a cabeleira loira entrou no campo de visão de Marcel e, logo depois, seus olhos se focaram numa Chelsea completamente apavorada com as mãos amarradas e o rosto choroso banhado por lágrimas. Seu vestido estava sujo de terra, a saia estava rasgada e seus pés estavam descalços. Seus cabelos estavam completamente desgrenhados, mas ela ainda tinha suas joias nos mesmos lugares não haviam levado nada. O tecido d
Lucian não via nada em sua frente, não havia quem o impedisse de chegar à fazenda dos Capman tamanho seu ódio e a velocidade do seu cavalo. O Duque só conseguia pensar em como Charlotte estava, em onde ela estava, no que poderia estar acontecendo com ela naquele exato momento. Estava com medo, muito medo. Nem em meio aos guerreiros enquanto empunhava sua espada ensanguentada na guerra ele sentiu tanto pavor. Mas, acima disso, ele sentia raiva, sentia ódio e um furor que tomava seu corpo a ponto de fazê-lo querer arrastar Judith Capman pelos cabelos até que ela lhe dissesse tudo o que sabia sobre o raptor das garotas. Sabia que Marcel cuidaria de Chelsea e que, enquanto ele tentaria buscar por informações na cúmplice do maldito sequestro, Marcel estaria em busca da ordem que poderia ajudá-los caso precisassem de reforço. Quando avistou a grande casa, enquanto passava pelos campos, ele tentou cavalgar de forma mais veloz, afinal, cada segundo era precioso quando sua amada e sua cun
Enquanto observava a discussão, Lucian sentia vontade de intrometer-se, afinal, não era o momento para que eles dois trocassem farpas, precisava que Judith contasse a ele tudo o que sabia, qualquer informação seria útil. — Eu resolvi o problema que nos perseguiu por anos! Tirei de perto das minhas meninas aquela maldita bastarda e você a trouxe de volta! Você colocou aquela maldita dentro da nossa casa de novo! — ela voltou a gritar, batendo no peito de George com tamanha raiva que ela sequer se reconhecia. — Ela nunca foi minha filha e não deveria ter voltado para esta casa! Os olhos do Duque se arregalaram diante daquela revelação, mas, diferente dele, George parecia impassível e sua expressão estava completamente fechada, muito diferente do homem sorridente e gentil com quem Lucian havia convivido durante aquele tempo. George segurou Judith pelos braços apertando-os e fazendo-a voltar ao mundo real, encarando os olhos de seu marido enquanto ele falava, bem devagar: — Você é uma
Judith não sabia o que lhe aconteceria depois daquela explosão em sua sala de estar. O que seria dela? Seu marido iria mesmo repudiá-la? Eram perguntas que ecoavam em sua mente enquanto ela fazia as malas, como George havia mandado. Nunca o viu tão sério e decidido e, por isso, acreditava que sua vida social havia acabado naquele momento. Pela primeira vez arrependia-se de algo que havia feito, seu ódio cego havia atingido suas duas doces filhas e, agora, Brista estava presa nas mãos do cruel Willian Griffin, e aquilo a apavorava de modo que não conseguia sequer respirar bem. “Talvez meu marido tenha razão”, ela pensou, olhando pela janela enquanto via os cavaleiros saindo e rumando para longe montados nos cavalos mais velozes da fazenda. “Talvez eu seja mesmo um monstro.”Enquanto ela se lamentava por si mesma em seu enorme quarto, Marcel cavalgava com Chelsea em direção a grande mansão que ficava nos arredores da cidade, rogando aos céus que houvesse alguém ali, ao menos um homem.
— Posso ajudar, senhores? — um rapaz muito jovem e bem franzino, perguntou. — Chame seu patrão — Lucian tomou a frente, descendo de seu cavalo e parando na frente do rapaz, que encolheu os ombros. — Agora. — O senhor Willian não está — informou, sem sequer olhar para o Duque, ainda com a cabeça baixa e os ombros encolhidos. — Somente a senhora Griffin. — E Honoro, onde está? — desta vez George quem lançou a pergunta, descendo também de seu cavalo. — — O senhor Honoro já não está bem há muito tempo, senhor Capman. — O rapaz ergueu o rosto para ele com um olhar triste. — O tempo não foi generoso com ele como foi com o senhor. Por um momento, George sentiu compaixão pelo amigo, afinal, mesmo que seu filho fosse um crápula, Honoro e George cresceram como irmãos, saber que seu amigo já não tomava as próprias decisões explicou muito do comportamento inadmissível do filho dele. — Então chame a esposa dele! — a voz de Marcel ecoou pelo local e, quando todos se viraram, encontraram o