. Lá, nos recantos de uma floresta, o frio reinava entre os pinheiros e arbustos. A lua mal conseguia filtrar seus raios entre os galhos, mas a densidade daquele lugar quase a impedia por completo. Entre os arbustos quebrados pela força da gravidade de um corpo que havia caído estrondosamente, como se fosse um meteoro vindo do espaço sideral, as vibrações de energia haviam se multiplicado. Isso chamou a atenção de duas pessoas que, com discrição, foram investigar o que havia causado tanto alvoroço. — Rudi... Eu disse que deveríamos trazer mais pessoas, não sei, poderia ser algo maligno — reclamou uma voz feminina, cuja aparência não podia ser vista devido à escuridão. — Ah, por favor, Orfi! O que poderia ser mais assustador do que nós? Nós moramos aqui por algum motivo. Ninguém quer mexer com os nossos, se eles têm algum senso de inteligência — O homem revirou os olhos, que brilhavam um pouco com o reflexo da luz da lua. — Bem, sim... Mas ninguém ousa desafiar-nos, e isso está leva
A estrada parecia deserta, aparentemente já estava esquecida há algum tempo pela maioria das pessoas na Itália, e esse era um assunto sobre o qual ninguém falava nas vilas vizinhas. De acordo com breves comentários infundados de pessoas esporádicas, fazia muito tempo que ela havia chegado a esse estado. Naquela antiga rota, uma caminhonete conversível com dois passageiros a bordo seguia seu caminho por esse trecho de concreto. —Sim, sim, mãe, estamos bem. —A garota parou para ouvir—. Sim, Velkan está dirigindo, já comemos e a viagem está indo bem. Só paramos para colocar gasolina, nada a relatar. Amo vocês, entrarei em contato depois. Tchau.A ligação terminou, ela ajeitou uma mecha de cabelo liso atrás da orelha, enquanto um sorriso iluminava seu rosto e virou para olhar seu companheiro, que já estava sorrindo ao vê-la feliz. Ela corou ao perceber que Velkan a observava naquela ação tão cotidiana. —Você sabe —ela riu nervosamente—, minha mãe não consegue parar de ligar com frequênc
Quando abriu os olhos, a escuridão reinava, sentiu como se tivesse acordado de um longo sonho que mais parecia morte. Sua cabeça girava, não sabia quem era ou como tinha chegado ali. Depois de algum tempo de silêncio, ouviu passos, murmúrios e barulhos. Ficou alerta quando alguém mexeu naquele lugar sombrio. Seus olhos verdes avistaram duas figuras humanas olhando fixamente para ela e também uma luz quase ofuscante de uma vela. Imediatamente se assustou. "Quem são eles? O que querem? Por que estão aqui?" Foram muitas perguntas de uma só vez, até que sentiu o toque de algo em sua pele. Ainda não conseguia distinguir claramente com sua visão o que estava acontecendo, mas as vozes soavam em um idioma desconhecido para ela. A voz suave transmitia paz, mas a voz mais rouca a fez estremecer em um arrepio. Ela tinha dificuldade em se mover, como se seu corpo não estivesse funcionando direito, e apenas a ideia a enchia de uma sensação incômoda que ela mal conseguia suportar. De repente, sen
O olhar fixo do rapaz de cabelos escuros havia petrificado Antonella, mas a tempo Ileana, a namorada dele, acordou para examiná-lo com preocupação, de maneira quase automática. De repente, seu olhar se fixou nela; a garota parecia sonolenta, mas o desespero era mais forte e, com seu último fôlego, a ruiva se lançou em direção à viajante. Tentou mordê-la desesperadamente, mas depois disso só restou a escuridão, pois seus olhos se turvaram. Já haviam se passado algumas horas. O amanhecer estava próximo e Antonella podia sentir como aquele sopro de vida havia retornado a seu corpo. Teria realmente consumido sangue? Não tinha ideia, já que havia perdido a consciência por um longo período de tempo após a tentativa de obter seu combustível para sobreviver. Ela pensava que havia falhado, mas tudo indicava o contrário. "Claro que bebi sangue, tive que... Se não o fizesse, tudo estaria perdido", ponderou a jovem ruiva. Deu um tapa mental em si mesma, recusando-se a ficar parada buscando pr
"Sou um vampiro, não posso acreditar." Durante o restante da madrugada, depois de dar uma rápida olhada na intimidade de seu diário, tudo começou a fazer sentido. Antonella não aguentava mais, parou para analisar a situação, parada diante dos jovens que haviam salvado sua vida, e se perguntou com pesar: Como ela poderia olhar nos olhos daqueles que deveriam ser suas presas imediatas? Bem, o ragazzo merecia um pouco que ela tirasse a vida dele, mas isso ainda estava em dúvida. É claro que ela não leu tudo, era impossível naquele momento, já que o documento era muito extenso para ser lido de uma vez. Ela tinha avançado apenas um pouco além da metade e pulado algumas páginas para se inteirar do inevitável. Agora ela sabia as razões por trás de quase tudo, pelo menos compreendia seu ódio pela raça humana. Ela ainda não queria chegar às últimas páginas, não agora que tinha tão pouco tempo para ler com devoção; pelo menos era assim que ela via, e ainda tinha que explorar aquele outro liv
Aquele desconforto continuava causando estragos no estômago, no peito e na mente de Ileana. Mil pensamentos negativos se amontoavam e não a deixavam respirar direito. Ela nem conseguiu tomar um gole a mais da sua infusão de camomila. Apenas colocou a velha xícara na beira da janela, onde a cortina a cobria, e cruzou os braços, observando com um certo desespero cada movimento de Velkan e Antonella. Ela estava muito perto dele, e Ileana poderia até jurar que, se antes Velkan estava desconfortável, com o passar dos segundos, essa sensação havia suavizado um pouco nele; ela não tinha certeza absoluta, mas podia ver uma expressão relaxada e até um leve sorriso por parte dele que estava realmente testando a paciência dela. Ileana não conseguiu suportar mais aquela cena. Ela deu alguns passos na direção da enfermeira e do paciente e se agachou para que Velkan a visse nos olhos, mas não foi o que aconteceu. Ele estava como... hipnotizado? Olhando para Antonella, enquanto ela tirava a improvi
Ileana não poderia se sentir mais arrependida pelo conflito interno que havia acabado de causar. Antonella estava com uma queimadura bastante dolorosa por ter se intrometido na cura que a ruiva estava fazendo em seu namorado.— Desculpe por ter interferido, sou desajeitada. Eu não deveria...— Não se preocupe, você só queria ajudar — disse Antonella com um sorriso que a acalmou um pouco imediatamente.Mas Ileana sabia que era mais do que querer ajudar, que agiu por essa emoção que atravessou como uma faca afiada em seu estômago quando se sentiu inútil, e mais ainda quando viu Antonella tão próxima de Velkan, não conseguiu controlar o impulso de querer intervir, e isso era o que a fazia sentir culpa.— É que... eu deveria ter prestado atenção e deixado minha xícara longe para evitar que caísse em você — lamentou-se a jovem, abaixando o olhar.— Já... já passou, foi um acidente — Antonella se aproximou para acariciar os cabelos curtos e lisos de Ileana —. Olhe, já apliquei uma solução d
Com apenas aquela sinistra presença, Antonella havia perdido todo interesse em seu momento de leitura e reflexão sobre sua vida. O som do rosnado quase lhe provocou uma dor de cabeça, mas ela não daria o gosto de baixar os olhos para que ele se sentisse superior. Ela deixou seu diário sobre uma superfície empoeirada de madeira, que costumava ser uma mesa talvez, e começou a percorrer onde os destroços permitiam, sem tirar os olhos daquele que a espreitava do lado de fora. Era evidente que a magia que ela mesma havia deixado há cem anos ainda a protegia dentro daquela casa. Bem, ela havia pensado bem e se precavido contra um possível despertar como o que acabara de acontecer com esses viajantes. E, é claro, ela reconheceu aquela criatura. Não era nada menos que um de seus antigos inimigos. Aqueles que conspiraram com outros para se livrar dela tempos atrás. Por que ele ainda estava ali? Ele estava a vigiando? Ou será que ele também havia despertado com algum tipo de feitiço semelhan