O casal de viajantes havia terminado suas refeições da manhã, ou melhor, Velkan havia terminado ambos os cafés da manhã, já que aparentemente Ileana havia perdido o apetite e seu estômago estava fraco.Lá fora, nuvens cinzentas começaram a cobrir delicadamente o manto celeste, um vento suave, mas gelado soprava, e nem mesmo o som dos pássaros podia ser ouvido ao redor.—E... você está cheio? —perguntou Ileana, com o cotovelo apoiado na mesa e a mão segurando o queixo, surpresa com o quanto seu namorado havia comido.—Você se divertiu muito me vendo comer? —Velkan sorriu divertido—. Porque parece que você nunca me viu comer antes —sussurrou, como se não quisesse ser ouvido por mais ninguém.—Mas é claro que sim, tenho viajado contigo há dois anos, é só que te vi comer com certa ansiedade, além disso, você nunca comeu quase duas porções seguidas —Ileana sorriu.—E você nunca deixou comida no prato —Velkan sorriu, colocou a mão na bochecha da garota e acariciou suavemente com o polegar, e
Ileana não conseguia articular uma palavra após o que havia acontecido com seu namorado há um momento. Seu coração quase parou de medo quando as pupilas de Velkan se dilataram e se moveram rapidamente em direção ao interior da casa, enquanto suas unhas arranharam a madeira da moldura da janela pela qual estavam observando o exterior da casa. Num piscar de olhos e diante das perguntas de Ileana, Velkan começou a caminhar naquela direção, sem dizer nada, e subiu as escadas; ela não pôde fazer nada além de se preparar para segui-lo, enquanto seu coração disparava. "Mas o que está acontecendo? Definitivamente, Velkan está me deixando muito preocupada," pensou alertada. "Parece que ele está em outro mundo, não sei explicar... é como se ele não se importasse com uma única palavra que eu digo. Como se nem me considerasse; como se eu não existisse para ele." Após alguns segundos, ela teve que parar por um momento, pois um peso em sua cabeça a impediu de avançar. Ela levou as mãos às têmpora
Ileana tinha vontade de chorar naquele exato momento e não sabia como se comunicar com Velkan. Seu mau humor havia evoluído para algo maior e se transformou em algo que o fazia parecer uma pessoa completamente diferente. Alguém irracional que não ouvia a sua voz. —Para começar, você precisa controlar seu mau temperamento, eu não quero confusão aqui e eu juro que você não quer brigar comigo —disse Antonella com serenidade. —Eu não vou me acalmar! —bateu em uma das portas, causando um rangido na madeira velha— Agora mesmo você vai nos explicar quem diabos é você! —disse Velkan com uma voz profunda. O coração de Ileana não podia bater mais rápido e sua cabeça não podia sentir mais dor diante daquela situação. Apesar da sua má reação há alguns momentos, ela se aproximou de Velkan para tentar acalmá-lo mais uma vez. —Amor, é melhor você se acalmar, estou certa de que há uma explicação para tudo isso, dê a ele tempo para esclarecer. Velkan não podia acreditar que ela estivesse do lado
Antonella ainda não conseguia entender completamente o que havia acontecido. Velkan havia ficado enfurecido depois de ter mostrado ser uma pessoa pacífica, embora mal-humorada, desde que o conhecera. A parte mais intensa disso tudo foi quando ele tentou agredir a namorada dele, e ela não pôde evitar ter um colapso emocional ou algo do tipo. Ileana ainda estava desacordada sobre as duas cadeiras; sua pele parecia papel, quase da mesma cor da dela quando acordou daquele sono profundo. A desacordada também tinha um leve suor em seu rosto. Antonella colocou a mão na bochecha dela, depois na testa, e percebeu que sua temperatura havia caído; ela estava gelada. Ela começou a agir, verificou seus sinais vitais e algo a alertou: ela não estava respirando. Imediatamente, ela afastou alguns destroços que haviam sobrado da mesa que Velkan destruiu. Com muito cuidado, abaixou a paciente no chão e aplicou os primeiros socorros. Colocou suas duas mãos no peito da garota e começou a fazer compress
Velkan saiu apressadamente daquela casa antiga, mergulhado em desespero. Sua testa estava coberta de suor e suas mãos tremiam devido à enxurrada de emoções negativas que estava experimentando. Sentir-se assim o atormentava sobremaneira.O que diabos estava acontecendo com ele? Ele esteve prestes a bater em sua namorada. O pior de tudo era que ainda sentia o desejo de machucar e talvez até de destruir qualquer um que ficasse em seu caminho. Se a situação envolvesse a pessoa errada, ele tinha certeza de que não responderia pelo que pudesse fazer.Velkan caiu, olhando para o chão, com a mente confusa e as emoções à flor da pele. Suas mãos permaneciam tensas e cerradas devido ao estresse que estava enfrentando. Logo algo fez com que ele erguesse o olhar e percebesse que tudo parecia um pouco diferente lá fora:O céu escurecido, as estrelas brilhando no ponto mais distante, a lua redonda parecia estar observando-o, e aquelas rajadas suaves, gélidas, que carregavam o fino sereno da madrugad
Ali estavam, frente a frente. Besta e homem desafiavam-se com olhares, conduzindo um debate silencioso. Isso não durou muito, pois mais uma vez a voz áspera do lobo ecoava na mente de Velkan, como se fosse uma rajada estridente fazendo estragos em seus ouvidos internos."Ah, não. Isso não é uma piada. Nós realmente podemos nos comunicar mentalmente," falou o lobo na mente de Velkan com um tom áspero. "Ouça... agora você e eu somos semelhantes. Podemos unir forças para sair daqui."—Semelhantes? —Velkan riu com ironia —Nunca seremos semelhantes! —ele exclamou em voz alta. —Eu sei que você nos trouxe até aqui, tenho certeza disso, e nunca vou esquecer isso."Você ainda não percebeu que pode enxergar claramente na escuridão? Ou que sua força muscular e temperamento mudaram drasticamente? Você também não notou que está com mais fome do que o normal? Além disso... Aposto que está com muita fome neste momento. Você pode ser honesto, eu não vou te julgar.""Maldita criatura", protestou Velka
Ileana estava lá, na frente de Velkan e do lobo gigante. O jovem estava consternado e, por um momento, sua raiva havia diminuído significativamente. Só de ver que sua amada estava bem, era suficiente para esquecer todas as coisas ruins e focar em seu principal objetivo: sair de lá vivo junto com ela.—Eu procurei por você em todos os lugares, meu querido —Ileana falou com a voz trêmula e a respiração pesada, talvez pelo medo que a situação lhe provocava—. Eu só... —Ela não pôde continuar falando, porque a besta soltou um rugido forte, enquanto seus olhos cintilavam de raiva, e sem piedade ou aviso, se lançou sobre ela.—Não! —exclamou o jovem desesperado e com medo de perdê-la.Velkan sentiu o mundo desabando sobre ele quando viu Ileana tão vulnerável, debaixo do enorme corpo canino, que parecia mais do que disposto a tirar sua vida como faria com uma presa, que ele alegou ter caçado momentos antes. Não havia razão, não existia nada que justificasse o ataque, exceto a sede de matar; n
Os segundos passavam em completo silêncio. Apenas o assobio do vento reinava naquele lugar escuro. A euforia prazerosa de Velkan ao quase ter engolido seu oponente estava cobrando um preço atormentador. A consciência havia começado a causar estragos em sua mente, embora Velkan realmente tivesse muito pelo que culpar aquele lobo maligno à sua frente. Uma parte lhe dizia que ele agira corretamente, mas a maioria perfurava sua mente, dizendo que ele era um maldito assassino. Antes de chegar a esse lugar infernal, ele sempre estivera a favor da vida e contra a violência e agora... ele se transformara naquilo que tanto detestava. Aquele jovem viajante, agora quase um lobo, estava agachado diante dos restos de Bardou, aquele lobo feroz e sinistro que ele acabara de devorar pedaço por pedaço e que tentara convencê-lo de algo, mas não conseguira, pois ele simplesmente não quis mais ouvir. Ele praticamente deixara apenas alguns ossos e muito do pelo negro espalhado pela rua de pedra que cerc