Capítulo 1

Igor Carter

Soltei o ar quando vi que estava adiantado para o encontro com meu novo cliente. Sempre preferi chegar adiantado, para evitar qualquer tipo de incidente e hoje foi mais um dia.

Girando o volante, entrei em uma rua pouco movimentada. É mais um dia sem sol e com a temperatura ideal e para melhorar, não tem trânsito, ou seja, nada de ruim irá acontecer.

Satisfeito, depositei meu braço na janela do carro quando de relace, vi uma mulher prestes a atravessar a estrada distraidamente e quando ela pôs o pé na faixa de pedestres, o carro que estava a minha frente freiou e buzinou bruscamente, me fazendo freiar abruptamente logo atrás e assustada, a garota pulou e caiu para trás e rapidamente o carro se pôs em movimento, deixando a moça no chão sem nenhum tipo de auxilio pois pelo que me parece, torceu o tornozelo.

Percebi que ela não consegue ficar de pé.

Apertando no botão do painel, ativei o pisca alerta e tirei meu cinto de segurança, abrindo a porta, me pus de pé para ajudar a garota que sozinha, tentava se colocar de pé e com dificuldade, mas antes de ela cair, eu a puxei pela cintura.

— Oi, você está muito machucada?

Eu logo perguntei enquanto passava meus olhos pelo seu corpo em busca de feridas, e negando, ela respondeu.

— Só torci o tornozelo, Senhor…

Sua voz era doce e parecia um pouco nervosa e assentindo, eu me afastei e juntei sua bolsa e a mochila e perguntei.

— Quer ir a um hospital? Eu levo você…

Ela negou com um gesto e pela primeira vez nossos olhares se encontraram e por um momento, o ar ficou preso em minha garganta.

— O senhor não precisa se preocupar. O culpado fugiu, você não me deve nada, mas agradeço pela gentileza.

Piscando algumas vezes, engoli em seco e respondi.

— Me permita então leva-la para casa. Seu pé está muito inchado.

Ela arregalou os olhos ao olhar para o próprio pé e mordeu o lábio ao responder.

— Eu preciso ir trabalhar, já estou atrasada…

Me aproximando dela, logo sorri e peguei as bolsas e disse.

— Ótimo, eu levo você, dessa forma, você não machuca ainda mais o tornozelo.

Ela negou com um gesto e quando iria falar algo, ouvimos buzinas e pessoas reclamando e eu logo disse interrompenado-a.

— Vamos, aceite minha carona. Estou indo para a mesma direção.

Ela mordeu o lábio e sorriu um pouco tímida e a direcionando para o carro, abri a porta e pedi para que colocasse o cinto de segurança enquanto colocava suas bolsas no banco de trás. Dando a volta no carro, ocupei meu acento e logo voltamos a conversar enquanto girava a chave na ignição.

— Onde você trabalha?

Perguntei enquanto olhava para a estrada e se encolhendo, a moça respondeu.

— Trabalho em uma advocacia pequena a algumas quadras daqui.

Assentindo, olhei para meu relógio e vi que ainda estava dentro do meu horário quando avistei uma farmácia e falei.

— Eu vou ali e já volto.

Pude ver que ela quis protestar mas não deu tempo, pois logo estacionei e sai do carro.

Assim que voltei, a moça estava olhando a sua volta com uma expressão séria. Abrindo a porta do carro, ela se assustou e se mexeu no acento, o que a fez soltar um gemido involuntário de dor.

E estendendo uma sacola plástica, eu expliquei.

— Tomei a liberdade de comprar alguns itens para ajudar no inchaço do seu tornozelo e tem uma bolsa de gel, que se deixar frio o suficiente, poderá fazer milagres.

Com os olhos arregalados, ela negou e disse.

— Eu agradeço, mas não posso aceitar. Você não foi o culpado.

Eu assenti e respondi voltando para o trajeto que estava sinalizado no meu GPS. Ela havia colocado enquanto eu havia saído.

— Só quero ajuda-la, por favor.

Ela mordeu o lábio e disse enquanto parecia pensar por um instante.

— Eu aceito, mas você precisa me prometer que vai aceitar o dinheiro de volta.

Ela estava me analisando com suas sobrancelhas arqueadas. Uma expressão suave que estava me deixando relaxado mais que o normal. É como se eu a conhecesse a muito tempo.

Assentindo, eu respondi ao estacionar o carro.

— Tudo bem, aceito sua condição.

Nesse momento, ela esboçou um sorriso largo, e por incrível que pareça, senti meu coração acelerar no peito.

— Obrigada por tudo, agora, me dê seu número.

Ela estendeu seu celular para mim em meio a um sorriso no qual foi retribuído rapidamente e pegando o aparelho, salvei meu contato e fiz uma ligação para que eu pudesse salvar seu contato também e disse.

— Espero que se recupere logo.

Ela assentiu respondeu ao tirar seu cinto de segurança.

— Mais uma vez, agradeço por toda atenção e cuidado.

Eu sorri e neguei com a cabeça enquanto observava ela abrir a porta e saltando do carro, dei a volta e a ajudei a entrar no pequeno escritório de advocacia.

Pude ver que era organizado, pequeno e modesto e logo que entramos, um senhor que aparentava ter 65 anos se aproximou da moça e logo disse num tom carregado de preocupação.

— Bia, o que aconteceu? Está machucada…

Quando o homem me olhou, logo se aproximou e eu fui rápido ao explicar.

— Ela torceu o pé após um quase atropelamento na faixa de pedestres.

O senhor arqueou uma sobrancelha e questionou com uma postura firme.

— Foi você o culpado?

Negando rapidamente, logo respondi ajustando a postura.

— Absolutamente não, mas a ajudei assim que vi as suas condições.

Ele assentiu com a cabeça e respondeu.

— Nesse caso, eu agradeço muito pelo gesto, Garoto.

Eu sorri e confirmei com a cabeça e disse.

— Vou buscar as coisas que ficaram no carro, com licença.

Ela arregalou os olhos quando me ouviu e eu logo me afastei e quando olhei em meu relógio, vi que faltava 15 minutos para a reunião e apressado, retornei com as bolsas em mãos e disse em meio a despedida.

— Eu tenho um compromisso, preciso ir.

Ela sorriu envergonhada e disse enquanto se acomodava na cadeira.

— Obrigada mais uma vez.

Aquelas foram as últimas palavras que ouvi após receber mais um sorriso que me fez parar de respirar e mal percebi quando já estava no carro de novo.

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