Igor Carter
Soltei o ar quando vi que estava adiantado para o encontro com meu novo cliente. Sempre preferi chegar adiantado, para evitar qualquer tipo de incidente e hoje foi mais um dia. Girando o volante, entrei em uma rua pouco movimentada. É mais um dia sem sol e com a temperatura ideal e para melhorar, não tem trânsito, ou seja, nada de ruim irá acontecer. Satisfeito, depositei meu braço na janela do carro quando de relace, vi uma mulher prestes a atravessar a estrada distraidamente e quando ela pôs o pé na faixa de pedestres, o carro que estava a minha frente freiou e buzinou bruscamente, me fazendo freiar abruptamente logo atrás e assustada, a garota pulou e caiu para trás e rapidamente o carro se pôs em movimento, deixando a moça no chão sem nenhum tipo de auxilio pois pelo que me parece, torceu o tornozelo.Percebi que ela não consegue ficar de pé.Apertando no botão do painel, ativei o pisca alerta e tirei meu cinto de segurança, abrindo a porta, me pus de pé para ajudar a garota que sozinha, tentava se colocar de pé e com dificuldade, mas antes de ela cair, eu a puxei pela cintura. — Oi, você está muito machucada?Eu logo perguntei enquanto passava meus olhos pelo seu corpo em busca de feridas, e negando, ela respondeu. — Só torci o tornozelo, Senhor…Sua voz era doce e parecia um pouco nervosa e assentindo, eu me afastei e juntei sua bolsa e a mochila e perguntei. — Quer ir a um hospital? Eu levo você…Ela negou com um gesto e pela primeira vez nossos olhares se encontraram e por um momento, o ar ficou preso em minha garganta. — O senhor não precisa se preocupar. O culpado fugiu, você não me deve nada, mas agradeço pela gentileza.Piscando algumas vezes, engoli em seco e respondi. — Me permita então leva-la para casa. Seu pé está muito inchado.Ela arregalou os olhos ao olhar para o próprio pé e mordeu o lábio ao responder. — Eu preciso ir trabalhar, já estou atrasada…Me aproximando dela, logo sorri e peguei as bolsas e disse. — Ótimo, eu levo você, dessa forma, você não machuca ainda mais o tornozelo.Ela negou com um gesto e quando iria falar algo, ouvimos buzinas e pessoas reclamando e eu logo disse interrompenado-a. — Vamos, aceite minha carona. Estou indo para a mesma direção.Ela mordeu o lábio e sorriu um pouco tímida e a direcionando para o carro, abri a porta e pedi para que colocasse o cinto de segurança enquanto colocava suas bolsas no banco de trás. Dando a volta no carro, ocupei meu acento e logo voltamos a conversar enquanto girava a chave na ignição. — Onde você trabalha?Perguntei enquanto olhava para a estrada e se encolhendo, a moça respondeu. — Trabalho em uma advocacia pequena a algumas quadras daqui.Assentindo, olhei para meu relógio e vi que ainda estava dentro do meu horário quando avistei uma farmácia e falei. — Eu vou ali e já volto.Pude ver que ela quis protestar mas não deu tempo, pois logo estacionei e sai do carro.Assim que voltei, a moça estava olhando a sua volta com uma expressão séria. Abrindo a porta do carro, ela se assustou e se mexeu no acento, o que a fez soltar um gemido involuntário de dor.E estendendo uma sacola plástica, eu expliquei. — Tomei a liberdade de comprar alguns itens para ajudar no inchaço do seu tornozelo e tem uma bolsa de gel, que se deixar frio o suficiente, poderá fazer milagres.Com os olhos arregalados, ela negou e disse. — Eu agradeço, mas não posso aceitar. Você não foi o culpado.Eu assenti e respondi voltando para o trajeto que estava sinalizado no meu GPS. Ela havia colocado enquanto eu havia saído. — Só quero ajuda-la, por favor.Ela mordeu o lábio e disse enquanto parecia pensar por um instante. — Eu aceito, mas você precisa me prometer que vai aceitar o dinheiro de volta.Ela estava me analisando com suas sobrancelhas arqueadas. Uma expressão suave que estava me deixando relaxado mais que o normal. É como se eu a conhecesse a muito tempo.Assentindo, eu respondi ao estacionar o carro. — Tudo bem, aceito sua condição.Nesse momento, ela esboçou um sorriso largo, e por incrível que pareça, senti meu coração acelerar no peito. — Obrigada por tudo, agora, me dê seu número.Ela estendeu seu celular para mim em meio a um sorriso no qual foi retribuído rapidamente e pegando o aparelho, salvei meu contato e fiz uma ligação para que eu pudesse salvar seu contato também e disse. — Espero que se recupere logo.Ela assentiu respondeu ao tirar seu cinto de segurança. — Mais uma vez, agradeço por toda atenção e cuidado.Eu sorri e neguei com a cabeça enquanto observava ela abrir a porta e saltando do carro, dei a volta e a ajudei a entrar no pequeno escritório de advocacia.Pude ver que era organizado, pequeno e modesto e logo que entramos, um senhor que aparentava ter 65 anos se aproximou da moça e logo disse num tom carregado de preocupação. — Bia, o que aconteceu? Está machucada…Quando o homem me olhou, logo se aproximou e eu fui rápido ao explicar. — Ela torceu o pé após um quase atropelamento na faixa de pedestres.O senhor arqueou uma sobrancelha e questionou com uma postura firme. — Foi você o culpado?Negando rapidamente, logo respondi ajustando a postura. — Absolutamente não, mas a ajudei assim que vi as suas condições.Ele assentiu com a cabeça e respondeu. — Nesse caso, eu agradeço muito pelo gesto, Garoto.Eu sorri e confirmei com a cabeça e disse. — Vou buscar as coisas que ficaram no carro, com licença.Ela arregalou os olhos quando me ouviu e eu logo me afastei e quando olhei em meu relógio, vi que faltava 15 minutos para a reunião e apressado, retornei com as bolsas em mãos e disse em meio a despedida. — Eu tenho um compromisso, preciso ir.Ela sorriu envergonhada e disse enquanto se acomodava na cadeira. — Obrigada mais uma vez.Aquelas foram as últimas palavras que ouvi após receber mais um sorriso que me fez parar de respirar e mal percebi quando já estava no carro de novo.Igor CarterAlguns meses depois.Essas últimas semanas estão sendo muito movimentadas. Eventos, reuniões, viagens e agora preciso comparecer a uma apresentação onde novos membros serão apresentados para a empresa em que adquiri no mês passado.Uma das advocacias mais importantes do país entrou para o grupo Carter.Além de advogado, me tornei empresário no ramo hoteleiro, e administro cada empreendimento com punhos de ferro e maestria, pois não aceito nada menos que a excelência.Me tornei muito conhecido depois de recuperar das cinzas a empresa que meu pai havia abandonado e largado as traças antes de falecer. Hoje a corporação Carter é valiosa em todo o mundo, tendo sedes sólidas em vários países, gerando fontes de renda e empregos para milhares de pessoas.Me orgulho muito do que consegui criar com meu próprio suor. Com apenas 36 anos, me tornei um dos homens mais influentes do país. Sempre coloquei em mente o que meu pai perdeu pela sua ganância e através disso, me reconstruí totalm
Bianca Bernardes Hoje consigo respirar aliviada por ter alcançado meu maior objetivo de vida. Sou a mais nova advogada habilitada da cidade. Me formei com honras e fui contratada pelo escritório que almejei desde o início da minha carreira.Soube por alto que teve uma troca de sócios recente, mas nada afetou minha chegada na empresa e já tenho até uma amiga que compartilha suas experiências comigo no nosso intervalo e obviamente isso me deixa muito feliz pois sempre fui muito solitária.Desde que coloquei na cabeça o que queria fazer e o desejo cresceu em meu coração, me vi focada em uma única direção. Trabalhar e estudar arduamente para conseguir indicação para uma empresa que realmente valece o esforço e quando pus meus olhos na empresa que hoje pertence ao grupo Carter, minha ambição e vontade só cresceu.Não vejo a ambição como um pecado, quando ele é movido a muita força de vontade e trabalho duro. Pessoas comuns iguais a mim sabem o quanto é sofrido ter algo grande a qual possa
Bianca Bernardes Quando percebi, já estava a uma quadra de distância da empresa, e guardando o celular na bolsa, o senti vibrar, mas já estava descendo pela pequena escadaria e alcancei a calçada quando vejo Emy se aproximando. — Oi, Bia.Com seu tom de voz animado, sorri assim que minha colega parou ao meu lado e entrelaçou nossos braços e comprimentando-a, eu respondo. — Bom dia, amiga.Juntas, começamos a andar rumo ao hall de entrada da empresa quando Emy diz ao me olhar minuciosamente. — Hoje você está mais arrumada que o normal. O que eu perdi?Com a sobrancelha arqueada, eu logo perguntei. — Estou feia?Negando com a cabeça, Emy revirou os olhos e respondeu. — Muito pelo contrario. Esta linda.Dando de ombros, eu respondi. — Tenho dois motivos.Ergui a mão gesticulando e ela assentiu calada. — Já contei para você como eu me vestia no passado e sempre sonhei em me vestir assim.Ela concordou com um gesto e perguntou. — Qual o segundo motivo?Eu sorri tímida, de repente
Igor CarterConfesso que levou alguns segundos até a ficha cair. A mulher que havia ignorado minhas mensagens e ligações estava realmente na minha empresa. Meu choque foi evidente quando nos vimos, mas assim que entrei na sala de reuniões, ela ficou totalmente insegura.Parecia tensa demais. Talvez tenha se lembrado de mim.Internamente sorriu em triunfo por saber que ela está aqui. Pois lembro de cada segundo daquele dia. Lembro-me até das ligações não atendidas.Agora, Bianca Bernardes está sentada a alguns metros de distância, olhando para algo entre seus dedos, com toda certeza tentando me evitar e engolindo em seco, cocei a garganta e quebrei o silêncio enquanto tamborilava os dedos em cima da mesa. — Então você é a aluna que se formou com honras na UNY.Murmurei enquanto observava ela estremecer em sua cadeira. Era evidente sua agonia e soltando o ar com força, eu logo perguntei, me sentindo cansado pela situação. — Você fez de propósito?Nesse momento seus olhos alcançaram os
Bianca Bernardes A sensação trêmula que sinto em todo meu corpo é impossível de descrever. Nunca pensei que passaria por tamanha situação. Se antes tinha vergonha, hoje me sinto humilhada. Me sinto humilhada não por Igor Carter e sim, por ter pensado que ele cobraria algo de mim.Mas pensando bem, tudo se tornou pior quando ele mesmo questionou minhas intenções, pensando que eu havia feito tudo isso por já conhece-lo. Como se eu fosse me aproveitar de alguém dessa forma.Tem como se tornar ainda mais constrangedor?Engoli meu orgulho ferido goela abaixo e atravessei o corredor que dava acesso a sala da Emy que estava aberta, e logo que entrei, fechei a porta atrás de mim e ela logo percebeu que eu não estava bem e baixou a tela do seu notebook. — Misericórdia, Bianca, o que houve?Ela soou alarmada enquanto se aproximava de mim e pegando em minha mão, ela me puxou para a poltrona e prosseguiu. — Parece que viu um fantasma.Por um momento senti meu corpo estremecer e fechando meus
Igor Carter Passei o fim de semana inteiro intercalando entre treinos, uma viagem, projetos e Bianca. Na verdade, fiquei pensando nessa mulher quase o fim de semana inteiro, e quando eu resolvia focar em algo, ela vinha de novo.Não foi fácil ser ignorado por ela a alguns meses, muito menos parar de procurá-la, só que o fato de eu nunca te-la encontrado, ajudou muito naquela época.Agora, ve-la tão de perto todos os dias, só me faz sentir a porra da vontade de conversar com ela. Conhecê-la melhor. Mesmo sabendo que nossa situação poderia ser uma dor de cabeça para o RH, ainda assim, desejo isso profundamente. A situação está tão descontrolada que eu nem deveria estar aqui, mas para meu próprio espanto, estou esperando em minha sala, olhando os diversos e-mails chegando sem força de vontade alguma para me concentrar, enquanto espero Bianca chegar.Desviando a atenção do notebook, encontrei o envelope que ela deixou e senti meu coração martelar com força contra meu peito. Me fazendo e
Bianca Bernardes Depois do que descobri na sexta-feira, os dias têm passado devagar e ao mesmo tempo, depressa demais. Tem sido estranho.Ao mesmo tempo que estou feliz por estar trabalhando, eu só queria estar na minha cama.Mas é o que sempre falei” Bem-vindo ao mundo adulto.”Os adultos não têm o direito de querer ou não fazer o que deve ser feito, então assim, estou seguindo meus dias.Completamente alheia ao que acontecia à minha volta, desviei a atenção da tela do notebook quando ouço algumas batidas ecoarem pela sala silenciosa. — Oi, Bia. Já estou indo embora. Precisa de carona?Emy estava com uma expressão de preocupação no rosto ao me olhar, mas também parecia muito cansada para uma quarta-feira. Negando com um gesto, eu respondi ao me ajeitar na cadeira. — Eu agradeço, mas ainda tenho alguns documentos para digitalizar, então vou ficar.Ela assentiu e disse. — Certo, qualquer coisa, me ligue. E não fiquei até tarde.Ela disse e esperou eu confirmar e saiu andando rumo
Bianca Bernardes Encolhida no banco, senti o medo de Everaldo estar na minha casa e acabar causando uma má impressão no meu chefe e então peguei meu celular e mandei uma mensagem para minha irmã. “ Ali, tem alguém em casa?”Desviei a atenção da tela em minha mão e olhei para meu chefe que estava prestando atenção na estrada quando disse. — Você está agitada hoje.Eu desviei a atenção e engoli em seco ao responder. — Muitas coisas aconteceram em um curto período.Ele suspirou e relaxou em seu assento e murmurou. — Nova empresa, casa nova, namorado novo…Ele deixou a frase morrer e eu sorri de lado ao responder. — Talvez seja a empresa nova, novo chefe, um novo amigo e quem sabe uma casa nova…Nesse momento ele desviou a atenção da estrada e olhou para mim. O brilho que encontrei em seu olhar me fez prender a respiração por alguns segundos. — Posso ajudar em algo?Eu neguei com a cabeça e abri a boca para responder quando meu celular vibrou indicando uma mensagem da minha irmã. “