A noite estava densa e silenciosa nos jardins do convento. Valentina sentia a pressão de suas próprias escolhas pesando sobre seus ombros. O cheiro das flores misturava-se ao frio da madrugada, mas nada acalmava a tempestade dentro dela.
Foi quando a voz de Leonardo rompeu o silêncio. — Você está fugindo dele, Valentina? Ela se virou bruscamente, encontrando-o encostado contra uma das colunas de pedra. O sorriso arrogante estava estampado no rosto dele, como se soubesse exatamente o que ela sentia. — Não estou fugindo de nada, Leonardo. Ele se aproximou, os olhos brilhando sob a pouca luz. — Eu te conheço. Sei que está cheia de dúvidas. Você encontrou algo contra Gabriel, não encontrou? Ela não respondeu. — Você pode negar o quanto quiser, mas eu vejo nos seus olhos que não confia mais nele. E eu te avisei. Gabriel teA noite caiu sobre a cidade, carregada de uma tensão cortante. Valentina tentava organizar os pensamentos enquanto olhava para o vazio. Gabriel se foi, Leonardo estava ferido, e seu coração batia como se estivesse prestes a explodir.No convento, as freiras cuidavam dos ferimentos de Leonardo. Seu rosto estava inchado, os lábios cortados e os olhos escurecidos pelos hematomas. Mas sua expressão era fria. Ele não dizia uma palavra, apenas olhava fixamente para o teto, tramando algo.Valentina sabia que Gabriel não voltaria para ela tão cedo. O ódio em seus olhos era mais do que mágoa. Era um aviso.Mas algo dentro dela gritava que aquele não podia ser o fim.Ela pegou o celular e ligou para Gabriel. Chamou até cair na caixa postal. Tentou de novo. Nada.— Droga! — ela murmurou, sentindo um nó apertar sua garganta.De repente, uma risada baixa cortou o silêncio.— Ele não vai te atender, Valentina.Ela se virou e encontrou Leonardo sentado, segurando um pano ensanguentado contra o lábio
O cheiro de incenso e velas queimadas impregnava as paredes frias do convento. O silêncio absoluto cortava como lâminas invisíveis. Valentina sentia-se presa, sufocada por uma dor que parecia maior que sua própria existência. Desde o acidente, sua rotina era sempre a mesma. Acordava antes do nascer do sol, participava das orações matinais, realizava pequenos trabalhos no convento e passava horas encarando o vazio, os dedos entrelaçados em um rosário que não lhe trazia paz. As freiras tentavam confortá-la, mas Valentina era um espectro de si mesma, um corpo presente sem alma. As visitas ao hospital eram um ritual macabro. Ela entrava no quarto branco e impessoal, sentava-se ao lado de Gabriel e segurava sua mão quente, mas imóvel. Seu rosto estava sereno, como se apenas dormisse, mas os monitores piscando e o som ritmado das máquinas a lembravam cruelmente da realidade. — Você me ouve? — ela sussurrava todas as noites. — Sei que pode me ou
O convento era um túmulo de memórias. Cada corredor, cada prece murmurada entre os vitrais contava a história de uma Valentina que não existia mais.Naquela manhã cinzenta, a mala de couro estava pronta ao lado da porta. O hábito simples que usara por meses parecia um fardo sobre sua pele. Quando as freiras tentaram convencê-la a ficar, ela apenas sorriu com tristeza.— Meu lugar não é mais aqui.O vento frio cortava seu rosto enquanto ela caminhava até o carro que a esperava. Entrou, fechou a porta e observou pelo retrovisor o convento ficando para trás.Quando chegou ao apartamento de Gabriel, sentiu o cheiro dele ainda impregnado nos móveis, nas roupas, no travesseiro. O luto apertou seu peito como garras afiadas, mas ela não chorou. Não mais.Passou os dedos pelos livros que ele deixara espalhados, pelos objetos na escrivaninha, pelo paletó esquecido no encosto do sofá. Sentou-se na cama e encarou o vazio, a mente trabalhando frenetic
A cidade já não a via mais como a jovem assustada que buscava refúgio no convento. Valentina havia renascido das cinzas, e agora cada passo seu era calculado, cada olhar lançado, uma promessa silenciosa de que nada mais a derrubaria. Seis meses haviam se passado desde o acidente de Gabriel. Seis meses desde que a culpa e o luto quase a destruíram. Agora, ela usava tudo isso como combustível. E a cidade começou a notar. As Noites de Poder A primeira vez que apareceu publicamente, foi no jantar beneficente da Fundação Esperança, um dos eventos mais importantes da elite local. A noite era um desfile de políticos, empresários e velhos lobos do mercado financeiro. Valentina chegou atrasada de propósito, fazendo questão de que todos já estivessem presentes quando ela entrasse. O vestido preto, longo e ajustado ao corpo, exalava uma elegância perigosa. Os cabelos estavam soltos, caindo como uma cascata escura sobre
O brilho dos holofotes refletia no rosto de Valentina enquanto ela subia ao palco montado no centro da cidade. O eco dos aplausos vibrava pelo ar, misturado ao som dos cânticos de seus apoiadores. O nome dela era entoado como um hino, um símbolo de mudança, um novo ciclo para a cidade.Seis meses. Seis meses desde que abandonou o convento, desde que jurou a si mesma que não seria apenas um nome herdado. Seis meses desde que decidiu que o poder seria sua nova pele.Agora, ali estava ela. Eleita.A multidão rugia em celebração, mas por dentro, Valentina sentia apenas um silêncio ensurdecedor.A Ascensão de ValentinaSeu discurso era impecável, meticulosamente ensaiado. Cada palavra carregava peso, cada frase moldava sua imagem como líder. Ela prometeu justiça, reestruturação, progresso. Aplaudiram. Aclamaram. Ela venceu.Mas enquanto o povo a via como uma figura vitoriosa, ela só conseguia pensar em Gabriel.O va
O quarto de hospital estava silencioso, iluminado apenas pela luz fraca da lua filtrando-se pelas persianas. Valentina estava sentada ao lado da cama, segurando a mão fria de Gabriel, como fazia todas as noites nos últimos seis meses. Mas, dessa vez, algo estava diferente. O ritmo da respiração dele mudara. O peito subia e descia de forma irregular. As pálpebras tremularam, e então, com um suspiro profundo, Gabriel abriu os olhos. O coração de Valentina parou por um instante. — Gabriel…? — Sua voz saiu em um sussurro carregado de emoção. Os olhos dele estavam desfocados, como se sua alma ainda estivesse perdida em algum lugar entre a escuridão e a realidade. Mas, ao pousar o olhar sobre Valentina, algo no fundo de sua expressão mudou. Ele franziu o cenho, como se tentasse reconhecer o rosto à sua frente. — Quem é você? As palavras atingiram Valentina como uma faca no peito. Ela piscou, confusa, tentando processar o que acabara de ouvir. — Sou eu, Valentina. — A voz de
O apartamento estava mergulhado em um silêncio inquietante. Gabriel olhava ao redor, sentindo uma familiaridade estranha com aquele lugar. Algo dentro dele sussurrava que já havia estado ali antes, mas sua mente ainda era um labirinto de sombras. Valentina, por outro lado, não aceitaria a distância. Ela se aproximou lentamente, o salto ecoando pelo piso de mármore. Vestia um vestido preto justo, elegante, mas sedutor. Cada detalhe daquela noite havia sido planejado para despertar Gabriel. — Você se sente em casa? — ela perguntou, a voz suave, quase um sussurro. Gabriel apertou a mandíbula. — Eu não sei. Valentina sorriu. — Então, deixe-me te ajudar a lembrar. Ela pegou a mão dele e o guiou pelo apartamento. Cada cômodo trazia um pedaço de uma história que ele não lembrava, mas que o corpo parecia conhecer. O sofá onde, certa vez, ele a deitou e arran
A atração era inegável.Desde o momento em que Valentina o beijara, Gabriel sentia um fogo crescendo dentro dele, algo que não conseguia explicar, mas que o consumia por dentro.Seu corpo reagia antes da mente. Seus dedos ansiavam por tocá-la. Seu coração disparava sempre que ela se aproximava. E seus sonhos…Ah, os sonhos.Eles estavam se tornando cada vez mais vívidos. Pele contra pele. Gemidos abafados. Unhas cravadas nas costas.O corpo dela tremendo sob o seu.Ele acordava suado, o peito subindo e descendo pesadamente.O pior? Ele não sabia se eram lembranças ou apenas desejos reprimidos.---Valentina percebia cada detalhe.O modo como os olhos dele seguiam seus movimentos.A forma como ele prendia a respiração sempre que ela ficava perto demais.O desejo bruto que ardia por trás da confusão em seu olhar.Ela sorriu. Estava ganhando.