O convento estava silencioso, mas dentro da mente de Valentina, um turbilhão de pensamentos e medos se acumulava. Ela andava de um lado para o outro no pequeno escritório, enquanto Gabriel, apoiado contra a mesa, observava atentamente.
— Precisamos expor Vicente de uma vez por todas. Não podemos mais agir na defensiva — Valentina disse, quebrando o silêncio. Gabriel cruzou os braços. — Se formos até a delegacia amanhã, como querem, estaremos entrando no território dele. Isso pode ser exatamente o que ele deseja. Ela parou e olhou para ele. — Então precisamos nos antecipar. Gabriel assentiu. — Há um promotor na capital que já investigava Vicente antes, mas ele nunca teve provas concretas. Se entregarmos o que temos diretamente para ele, podemos tirá-lo do poder sem precisar nos expor tanto. Valentina ponderou por um momento. — Como podemos confiar queO armazém ainda estava cercado por policiais, a luz vermelha e azul das viaturas refletindo nos rostos de Valentina e Gabriel. O caos ao redor parecia distante para eles. Depois de tantos dias de tensão, investigações e ameaças, finalmente Vicente Montenegro estava sob custódia.Valentina ainda sentia seu coração acelerado, não pelo medo, mas pela adrenalina que corria em seu corpo. Gabriel, ao seu lado, limpava o sangue no supercílio com um lenço improvisado.— Você devia ir ao hospital — ela disse, tentando manter a voz firme, mas o tom preocupado era evidente.Gabriel sorriu de lado, como sempre fazia quando queria aliviar a tensão.— Já passei por coisas piores.Ela franziu a testa.— Isso não significa que não deva se cuidar.Ele segurou o olhar dela, e por um momento, o mundo ao redor desapareceu. Valentina sentiu uma estranha mistura de alívio e nervosismo. Gabriel sempre teve aquele efeito sobre ela, mas agora parecia mais intenso.— Se eu me cuido ou não, acho que isso não é
O vento frio da noite cortava a pele de Valentina enquanto ela caminhava rapidamente pela rua de paralelepípedos. O convento estava a poucas quadras dali, mas sua mente parecia estar a quilômetros de distância. Seu coração ainda pulsava forte no peito, não pelo medo, mas pelo beijo que ainda queimava em seus lábios.Ela entrou pelos portões laterais do convento, evitando qualquer contato com as irmãs que poderiam estar acordadas. Ao chegar ao seu quarto, fechou a porta e se apoiou contra ela, tentando recuperar o fôlego.O que eu fiz?A pergunta se repetia em sua cabeça como um eco interminável. Ela levou os dedos até os lábios, sentindo ainda a presença de Gabriel. A intensidade, o calor, o desejo… tudo que deveria ser reprimido, mas que explodiu de maneira incontrolável.Valentina caminhou até a pequena escrivaninha e abriu sua Bíblia, tentando encontrar nas palavras sagradas alguma resposta para o que sentia. Mas, em vez de conforto, encontrou mais dúvidas.Ela havia escolhido esse
Valentina sentia o gosto do pecado nos lábios. Ainda conseguia sentir o calor de Gabriel, a forma como ele a segurara, como se o mundo inteiro dependesse daquele beijo. Mas agora, no silêncio de seu quarto no convento, tudo parecia errado.Ela se ajoelhou diante do crucifixo na parede, as mãos trêmulas.— O que eu fiz? — murmurou, fechando os olhos com força.O peso da culpa pressionava seu peito. Passara anos se dedicando à vida religiosa, lutando para ser uma mulher íntegra, e agora… Um único beijo tinha colocado tudo em dúvida.No entanto, mais do que a culpa, o que a assustava era outra coisa.Ela queria mais.•••Na manhã seguinte, Valentina evitou olhar para qualquer pessoa. A madre superiora notou seu silêncio, mas não questionou. Talvez pensasse que era cansaço, talvez sentisse que algo estava errado.Mas Gabriel não a deixaria fugir tão fácil.Quando Valentina saiu para inspecionar as reformas
A chuva castigava o telhado do convento naquela madrugada. Valentina revirava-se na cama, incapaz de encontrar paz. As palavras de Gabriel ecoavam em sua mente, a sombra de seu toque ainda queimando sua pele.Ela tentou rezar, tentou sufocar o desejo que a consumia, mas nada adiantava.Então, ouviu um ruído.Seu corpo congelou.A porta de seu quarto estava entreaberta. O vento não era forte o suficiente para tê-la empurrado daquela maneira.Levantou-se, os pés descalços no chão frio, e foi até a porta. Olhou pelo corredor vazio e, por um instante, sentiu que estava sendo observada.Seu coração acelerou.Respirando fundo, fechou a porta e voltou para a cama, mas o desconforto permaneceu.•••Na manhã seguinte, Valentina encontrou Gabriel do lado de fora do convento, perto das obras do orfanato. Ele parecia diferente — mais sério, mais sombrio.— O que houve? — ela perguntou, notando as olheiras
A tempestade castigava Sant’Elisa, trovões ecoavam no céu enquanto a chuva batia contra as janelas do convento. Valentina não conseguia dormir. Desde que Gabriel surgira em seu quarto na noite anterior, ela sentia um nó apertado no peito.As ameaças eram reais.A presença dele era real.E o desejo que crescia entre os dois também.Ela tentou rezar, tentou encontrar alguma clareza, mas sua mente estava consumida por Gabriel. Pelos olhos dele, pelo perigo que o envolvia, pela forma como seu toque a incendiava.Então, ouviu uma batida na porta.Seu corpo gelou.Ela se aproximou devagar, hesitante, e perguntou baixinho:— Quem é?— Sou eu.A voz dele. Grave, baixa, carregada de algo que Valentina não soube definir.Ela abriu a porta.Gabriel estava encharcado da chuva, os cabelos grudados na testa, os olhos ainda mais sombrios sob a pouca luz.— O que está fazendo aqui?
A chuva caía como um véu sobre Sant’Elisa, ocultando segredos e silenciando pecados. Valentina sentia o gosto amargo da tempestade em seus lábios, ainda trêmulos do beijo que compartilhara com Gabriel. Ela recuou um passo, mas ele permaneceu ali, imóvel, os olhos negros cravados nos dela. — Você precisa decidir — repetiu ele, a voz grave, carregada de algo que Valentina não queria nomear. Medo. Desejo. Perdição. — Eu já decidi — ela sussurrou, mas suas palavras não carregavam a convicção que deveriam. Gabriel inclinou a cabeça, analisando-a. — Então por que está tremendo? Ela apertou os punhos ao lado do corpo, como se isso pudesse conter a avalanche dentro de si. — Porque você me confunde. Porque me faz questionar tudo que eu sempre acreditei. Ele sorriu de um jeito sombrio, quase predador. — Então pare de lutar contra isso.
A consciência de Valentina pesava como uma cruz invisível em seus ombros. Ela acordou com os primeiros raios de sol atravessando as cortinas do quarto de Gabriel. Seu corpo estava quente sob os lençóis, e a lembrança da noite passada ardia em sua mente. O gosto do pecado ainda estava em seus lábios. Ela abriu os olhos e viu Gabriel ao seu lado, ainda adormecido. O lençol cobria apenas parte de seu corpo, revelando a pele marcada por cicatrizes e histórias que ela ainda não conhecia. Ele parecia vulnerável, quase inocente. Mas Valentina sabia a verdade. Nada em Gabriel e era inocente. Ela prendeu a respiração, sentindo um nó apertar sua garganta. O que havia feito? Seu coração martelava no peito enquanto memórias invadiam sua mente — os beijos, os toques, o desejo proibido que queimava entre eles. Ela era uma freira. Ou, pelo menos, dev
Valentina passou a noite em claro. Após deixar Gabriel, retornou ao convento como uma sombra na escuridão. Cada passo pesava, como se estivesse carregando o próprio pecado nos ombros. Ela tentou rezar. Tentou buscar consolo nas palavras sagradas, nas promessas feitas a Deus. Mas, sempre que fechava os olhos, era Gabriel que via. O toque dele ainda queimava em sua pele. O gosto dele ainda estava em seus lábios. E agora? Ela não era mais pura. Valentina puxou o lençol sobre o corpo, tentando esconder a vergonha que a consumia. As lágrimas escorreram silenciosas, mas não era apenas culpa que sentia. Era desejo. Era saudade. Era uma fome insaciável que a aterrorizava. — Perdão, meu Deus… Mas nem a própria oração soava verdadeira. ••• Na manhã seguinte, a madre superiora a chamou novamente. — Você está diferente, Valentina. Ela se encolheu sob o olhar severo da mulher mais velha. — Eu… — O que aconteceu entre você e Gabriel Salvatore? O nome dele fez seu