O amanhecer trouxe uma inquietação difícil de ignorar. Valentina acordou com o coração acelerado, como se seu corpo já soubesse que algo estava prestes a acontecer.
Gabriel já estava na cozinha do convento, com uma xícara de café nas mãos, folheando o jornal do dia. Assim que a viu, ele ergueu o jornal e apontou a manchete: "O Fantasma de Sant’Elisa: A Verdade Sobre Vicente Montenegro" Valentina pegou o jornal com as mãos trêmulas. Seu nome estava lá, assim como o de seu pai. Isabela havia exposto todas as conexões de Vicente com corrupção, desvio de dinheiro e, principalmente, com a morte de Antônio Vasquez. — Está feito. — Gabriel murmurou. — Agora ele virá atrás de nós. — Valentina disse, sentindo o peso da decisão que haviam tomado. Gabriel segurou seu olhar por um momento antes de dizer: — E estaremos esperando. Não demorou muito. No meio da tarde, uma viaturaO convento estava silencioso, mas dentro da mente de Valentina, um turbilhão de pensamentos e medos se acumulava. Ela andava de um lado para o outro no pequeno escritório, enquanto Gabriel, apoiado contra a mesa, observava atentamente. — Precisamos expor Vicente de uma vez por todas. Não podemos mais agir na defensiva — Valentina disse, quebrando o silêncio. Gabriel cruzou os braços. — Se formos até a delegacia amanhã, como querem, estaremos entrando no território dele. Isso pode ser exatamente o que ele deseja. Ela parou e olhou para ele. — Então precisamos nos antecipar. Gabriel assentiu. — Há um promotor na capital que já investigava Vicente antes, mas ele nunca teve provas concretas. Se entregarmos o que temos diretamente para ele, podemos tirá-lo do poder sem precisar nos expor tanto. Valentina ponderou por um momento. — Como podemos confiar que
O armazém ainda estava cercado por policiais, a luz vermelha e azul das viaturas refletindo nos rostos de Valentina e Gabriel. O caos ao redor parecia distante para eles. Depois de tantos dias de tensão, investigações e ameaças, finalmente Vicente Montenegro estava sob custódia.Valentina ainda sentia seu coração acelerado, não pelo medo, mas pela adrenalina que corria em seu corpo. Gabriel, ao seu lado, limpava o sangue no supercílio com um lenço improvisado.— Você devia ir ao hospital — ela disse, tentando manter a voz firme, mas o tom preocupado era evidente.Gabriel sorriu de lado, como sempre fazia quando queria aliviar a tensão.— Já passei por coisas piores.Ela franziu a testa.— Isso não significa que não deva se cuidar.Ele segurou o olhar dela, e por um momento, o mundo ao redor desapareceu. Valentina sentiu uma estranha mistura de alívio e nervosismo. Gabriel sempre teve aquele efeito sobre ela, mas agora parecia mais intenso.— Se eu me cuido ou não, acho que isso não é
O vento frio da noite cortava a pele de Valentina enquanto ela caminhava rapidamente pela rua de paralelepípedos. O convento estava a poucas quadras dali, mas sua mente parecia estar a quilômetros de distância. Seu coração ainda pulsava forte no peito, não pelo medo, mas pelo beijo que ainda queimava em seus lábios.Ela entrou pelos portões laterais do convento, evitando qualquer contato com as irmãs que poderiam estar acordadas. Ao chegar ao seu quarto, fechou a porta e se apoiou contra ela, tentando recuperar o fôlego.O que eu fiz?A pergunta se repetia em sua cabeça como um eco interminável. Ela levou os dedos até os lábios, sentindo ainda a presença de Gabriel. A intensidade, o calor, o desejo… tudo que deveria ser reprimido, mas que explodiu de maneira incontrolável.Valentina caminhou até a pequena escrivaninha e abriu sua Bíblia, tentando encontrar nas palavras sagradas alguma resposta para o que sentia. Mas, em vez de conforto, encontrou mais dúvidas.Ela havia escolhido esse
Valentina sentia o gosto do pecado nos lábios. Ainda conseguia sentir o calor de Gabriel, a forma como ele a segurara, como se o mundo inteiro dependesse daquele beijo. Mas agora, no silêncio de seu quarto no convento, tudo parecia errado.Ela se ajoelhou diante do crucifixo na parede, as mãos trêmulas.— O que eu fiz? — murmurou, fechando os olhos com força.O peso da culpa pressionava seu peito. Passara anos se dedicando à vida religiosa, lutando para ser uma mulher íntegra, e agora… Um único beijo tinha colocado tudo em dúvida.No entanto, mais do que a culpa, o que a assustava era outra coisa.Ela queria mais.•••Na manhã seguinte, Valentina evitou olhar para qualquer pessoa. A madre superiora notou seu silêncio, mas não questionou. Talvez pensasse que era cansaço, talvez sentisse que algo estava errado.Mas Gabriel não a deixaria fugir tão fácil.Quando Valentina saiu para inspecionar as reformas
A chuva castigava o telhado do convento naquela madrugada. Valentina revirava-se na cama, incapaz de encontrar paz. As palavras de Gabriel ecoavam em sua mente, a sombra de seu toque ainda queimando sua pele.Ela tentou rezar, tentou sufocar o desejo que a consumia, mas nada adiantava.Então, ouviu um ruído.Seu corpo congelou.A porta de seu quarto estava entreaberta. O vento não era forte o suficiente para tê-la empurrado daquela maneira.Levantou-se, os pés descalços no chão frio, e foi até a porta. Olhou pelo corredor vazio e, por um instante, sentiu que estava sendo observada.Seu coração acelerou.Respirando fundo, fechou a porta e voltou para a cama, mas o desconforto permaneceu.•••Na manhã seguinte, Valentina encontrou Gabriel do lado de fora do convento, perto das obras do orfanato. Ele parecia diferente — mais sério, mais sombrio.— O que houve? — ela perguntou, notando as olheiras
Valentina acordou antes mesmo que os primeiros raios do sol invadissem os vitrais do convento. A luz suave das velas ainda iluminava os corredores frios e silenciosos, onde seus passos ecoavam discretamente. Era um novo dia, e como noviça recém-aceita, ela tinha uma lista de tarefas que lhe eram tanto um fardo quanto uma bênção. Vestindo o hábito simples e amarrando o véu com cuidado. Valentina sentia o peso das escolhas que a haviam levado até ali. Aos 22 anos, ela havia deixado para trás um mundo cheio de incertezas e uma vida que, apesar de não ser trágica, era cheia de perguntas sem respostas. Aqui, no convento de Sant’Elisa, acreditava ter encontrado paz, um propósito. No entanto, enquanto carregava um balde de água para o jardim, percebeu algo inquietante no fundo, de sua alma: uma leve sensação de que talvez houvesse algo mais à espera do lado de fora das altas paredes de pedra. O jardim do convento era um refúgio de serenidade. Rosas perfumadas, arbustos bem podados e um pequ
O dia começou agitado no convento de Sant’Elisa. As freiras andavam de um lado para o outro, preparando-se para receber um grupo de visitantes locais interessados na história do lugar. Valentina, que ainda se adaptava à rotina como noviça, estava no jardim, podando rosas com cuidado. Ela respirava fundo, tentando acalmar a mente que, inexplicavelmente, insistia em revisitar o encontro do dia anterior.Mas antes que pudesse se concentrar em seus pensamentos, ouviu passos rápidos ecoando pelo pátio. Quando se virou, viu Gabriel atravessando os portões do convento com a mesma determinação que carregava no olhar.Ele parecia um homem em missão, vestindo um terno impecável que contrastava com a simplicidade daquele lugar sagrado. Seu olhar varreu o jardim até pousar nela. Um sorriso leve — talvez até desafiador — surgiu em seus lábios.“Valentina, não é?” ele perguntou, como se fossem velhos conhecidos.“Senhor… Gabriel, não deveria estar aqui. Este é um lugar restrito.” Valentina ergueu o
A capela estava silenciosa, exceto pelo som suave da respiração de Valentina. Ela estava ajoelhada diante do altar, as mãos unidas em prece. Tentava acalmar o coração que ainda pulsava descompassado desde o encontro com Gabriel. “Senhor, guia-me em Tuas verdades,” ela sussurrou, os olhos fechados com força. “Afasta de mim tudo o que não pertence ao Teu plano. Não permita que eu me perca.” Mas, mesmo em oração, a lembrança dos olhos intensos de Gabriel surgia em sua mente. A maneira como ele a desafiara, como se enxergasse algo que nem ela mesma sabia existir, a deixava inquieta. De repente, Irmã Amélia apareceu silenciosamente ao seu lado. “Valentina,” a freira disse em tom sério, “você está bem?” Valentina abriu os olhos lentamente, respirando fundo. “Sim, Irmã Amélia. Só… tentando encontrar paz.” A mais velha inclinou a cabeça, estudando-a por um momento. “Você precisa ser forte. Homens como Gabriel não têm escrúpulos. Ele está aqui para destruir tudo o que amamos. Não per