A sala privativa da clínica exalava conforto e discrição, com sofás de linho claro, arranjos florais frescos e uma música ambiente suave preenchendo o espaço. Evelyn apertava as mãos no colo enquanto esperava ser chamada, tentando conter a ansiedade. Estava nervosa para saber o sexo do bebê e queria ouvir do médico que seu filho estava bem. Ao seu lado, sentada com postura impecável e olhos ternos, estava sua sogra, a condessa. A presença dela era reconfortante. A cada dia, a relação entre as duas se estreitara. Havia carinho, havia apoio — e, naquele momento, havia uma silenciosa aliança entre duas mulheres que carregavam muito mais do que títulos nobres.Mas então, algo inesperado aconteceu.Ao olhar para a porta da recepção, Evelyn viu Reginald. Ele estava ali. Alto, imponente, vestindo um paletó escuro e com aquele olhar sempre indecifrável. Evelyn ficou estática por um momento, tomada por uma mistura de surpresa e emoção. Por mais que ele tentasse se manter afastado, aquela presen
Evelyn, por dias, permaneceu envolta nas palavras de Geoffrey. Algo naquelas frases havia se entranhado nela como uma semente inquieta. Desde o início, percebera a tensão silenciosa entre seu sogro e o mordomo, uma tensão que ia muito além de protocolos e hierarquias. Os dias que permaneceu morando na mansão, via olhares desviados, silêncios longos demais, e uma espécie de lealdade ferida pairando no ar.O que a deixava intrigada era o fato de Geoffrey ainda permanecer naquela casa, naquela função — mesmo diante de um ambiente visivelmente constrangedor. Por que suportar isso? Por que não ir embora? A resposta parecia estar enterrada em algo mais profundo. Era evidente: os sentimentos dele por Donovan haviam ultrapassado, há muito, os limites da formalidade.Evelyn não sabia exatamente o que se escondia por trás daquela devoção silenciosa. Mas começava a suspeitar que havia uma história ali — antiga, intensa. Algo que ninguém ousava contar...Semanas depois, Reginald apare
A mala caiu sobre o chão de madeira com um baque seco, mas Reginald não se importou com o som. Estava de volta após quinze dias de viagem pelos hotéis e resorts da corporação, mas em nada aquilo lhe trouxera paz. Passara dias imerso em planilhas, relatórios e inspeções rigorosas, tentando ao máximo manter a mente ocupada. Mas nenhuma sala de reunião, por mais luxuosa que fosse, conseguia apagar de sua memória o gosto dos lábios de Evelyn.A lembrança era como uma maldição: o toque suave, o cheiro do perfume dela, a maneira como o mundo parecia parar por alguns segundos… tudo aquilo lhe corroía a alma.Ele se jogou no sofá da própria sala, afrouxando a gravata. O celular vibrou ao seu lado. Era Veronica.Ele apenas virou o aparelho com a tela para baixo, sem atender. Desde o episódio no restaurante, em que percebera a encenação armada para pressioná-lo, algo se partira entre os dois. Não havia mais encanto, nem respeito — apenas um pacto de aparências. E ele já não
O interfone tocou novamente. Evelyn atendeu com o coração acelerado. Era Reginald.— Vá embora, por favor. Não temos mais o que falar — disse, tentando manter o controle.— Não vou embora até falarmos sobre esse noivado absurdo.— Não perca seu tempo — respondeu, desligando.O silêncio permaneceu por um instante. Até que ela ouviu o som metálico da fechadura girando.Assustada, levantou-se. E viu Reginald entrando sem cerimônia.— Como ousa? — exclamou, indignada. — Me dê essa chave agora mesmo! Você não tem esse direito.Ele fechou a porta atrás de si, ignorando sua raiva.— Você cometeu um erro — disse, o olhar fervendo.Evelyn cruzou os braços, tentando conter a tempestade dentro dela.— Você não pode me cobrar nada — disse, firme. — Está com Veronica, lembra?— Eu não estou noivo dela. Nunca estive — respondeu ele, com a voz dura.– Mas me disseram que viram vocês entrando em uma joalheria!– Sim, fui lá com ela. Minha secretária fez aniversário, e a Veronica suge
Geoffrey estava com uma xícara nas mãos, o calor se espalhando pelas pontas dos dedos. O vapor subia suavemente, em espirais preguiçosas, como se quisesse desaparecer antes de alcançar o teto. A pequena casa de campo que herdara do avô da condessa era charmosa, antiga, com heras que trepavam pela fachada de pedra e janelas que rangiam quando o vento soprava mais forte. Era um refúgio silencioso, onde o tempo parecia andar mais devagar — às vezes até parar.Ali, longe dos olhos atentos da mansão, longe dos corredores onde as lembranças ainda murmuravam pelos cantos, ele podia respirar. A paz, no entanto, era falsa. O silêncio, incômodo. Tudo naquele lugar parecia estar em pausa — exceto os pensamentos.Da janela da cozinha, conseguia ver claramente quem chegava. Era um dos motivos pelos quais gostava daquela casa: a previsibilidade da solidão. Por isso, quando o sedã preto da família Ashbourne parou diante do portão de ferro forjado, um arrepio percorreu sua espinha.
O silêncio no carro era espesso, pesado como a névoa que se arrastava sobre a estrada deserta. Evelyn olhava pela janela, os dedos inquietos repousando sobre o ventre, onde a vida que carregava pulsava silenciosa e frágil. A paisagem desfilava em tons de cinza, envolta por uma chuva fina que parecia querer esconder o mundo. A casa que haviam visitado momentos antes era bonita, perfeita até, com seus jardins bem cuidados e janelas amplas que prometiam conforto e segurança. Ainda assim, algo profundo dentro dela se recusava a aceitar aquele lugar como lar. Era como se uma sombra pairasse sobre aquela perfeição, uma dúvida silenciosa que não a deixava em paz.Damián dirigia em silêncio, os olhos fixos na pista molhada, onde os reflexos da chuva criavam um mosaico de luzes e sombras. Seu rosto estava tenso, marcado por uma preocupação que ele não conseguia disfarçar. O peso da responsabilidade parecia esmagá-lo, e o silêncio entre os dois era carregado de palavras não dita
O portão do jardim dos fundos da casa se abriu sem aviso, e Veronica entrou como uma tempestade. Vestida com uma elegância fria e calculada, seus cabelos negros permaneciam impecáveis, mesmo com o vento que agitava as folhas do jardim. Cada passo dela afundava suavemente na grama molhada, mas não havia hesitação em seu caminhar — havia fogo nos olhos e um nome preso nos lábios, pronto para ferir.Na varanda, Reginald estava absorto em relatórios, os dedos deslizando pelo teclado do computador. O som dos passos a fez erguer a cabeça lentamente, o olhar cansado, mas firme.— Então é aqui que você se esconde — disse Veronica, a voz doce, mas carregada de veneno. — Longe da cidade, dos sócios... e de mim?Reginald suspirou, a expressão opaca. Não havia surpresa, apenas uma fadiga silenciosa.— Veronica, agora não é hora.— Agora é exatamente o momento — rebateu ela, avançando um passo, os olhos faiscando. — Já esperei demais. Você sumiu, Reginald. Ignorou minhas mensagens, m
O céu estava coberto por nuvens espessas. A brisa da manhã trazia consigo o cheiro úmido da terra molhada, misturado ao perfume adocicado das glicínias silvestres que se espalhavam, livres, pelas bordas do antigo cemitério dos ancestrais Montrose Carrington e agora propriedade da família Ashbourne. As lápides cobertas por musgos e heras pareciam mais do que simples túmulos — guardavam séculos de histórias, mágoas silenciosas e segredos nunca revelados.Ao fundo, entre ciprestes retorcidos, erguia-se um banco de pedra coberto por líquens, onde a condessa de Ashbourne permanecia sentada, imóvel, como parte da paisagem decadente. Ela mantinha os olhos fixos sobre uma única lápide, branca e imponente, de mármore puro, com inscrições em letras douradas: Donovan Montrose Carrington Ashbourne, 2001 – 2024. “Filho amado. Irmão leal. Tua breve presença marcou nossas vidas. Com amor, coragem e ternura. Embora tenhas partido cedo, teu nome permanece eterno em nossos corações. Na memória e no amo