Suas duas meninas eram incríveis. Lindas e maravilhosamente amáveis. Lívia tinha cinco anos, era inteligente e tinha os olhos escuros como a mãe. Possuía uma força em seus braços que não era comum em uma menina de cinco anos. Subia nos brinquedos do parquinho, se pendurava, ficava de ponta cabeça, era uma aventureira nata. Sérgio sabia que ela seria uma atleta no futuro. Era ágil e aprendia tudo de forma muito rápida. Seus olhos negros tinham uma velocidade muito boa para identificar as coisas que ocorriam ao seu redor, tinha sempre uma grande percepção das coisas que ocorriam no ambiente. Assim tão nova, já era uma criança incrível de uma presença muito grande, possuindo o instinto de imposição e presença, ainda mais quando o assunto era defender sua irmã Meliss
Estava ao lado da cama. O quarto estava escuro, mas era possível ver, parcialmente azulado, todo o seu interior pela pouca luz que entrava na janela. Via o beliche de madeira envernizado coberto de edredons. Percebeu que fazia frio. Na parte de cima do beliche a cor azul com aviões desenhados e na de baixo a cor rosa com arco-íris. As duas camas não estavam arrumadas. Duas pessoas dormiam ali, um menino na parte de cima e uma menina na parte inferior da cama. Olhou em volta, as paredes ainda estavam no tijolo aparente. Não possuíam reboco, nem pintura sobre o alaranjado barro dos blocos queimados, trazendo um ar de pobreza ao lugar. Sob seus pés estava o piso recém-colocado. Era de cor preta e branca, fazendo um desenho como de um tabuleiro de xadrez. Reparou a falta de rejunte em suas divisões. O finco entre as cerâmicas guardava poeira e areia. &
O cenário naquele exato momento mudou. Pareciam estar à beira de um grande corpo d’agua. Cinco meninos e um homem mais velho nadavam. Era um dia de muito sol. Os raios refletiam na superfície das águas, pouco movimentadas, dando a impressão de que lascas de vidro cobriam toda a superfície do espelho d’água. O ribeiro naquela região não possuía correnteza. Quando sentiam calor buscavam a sombra das grandes árvores perto da beira do grande flumém. Ficaram ali durante toda à tarde. Pescavam, acenderam uma pequena fogueira e assavam alguns peixes. Tudo simples, mas parecia divertido.Rita deu por si e viu que seu irmão estava ali. Em um determinado momento, já caída a tarde, ele estava nadando até o fundo, numa parte distante da orla, sempre foi bom nadador, mas era perigoso.— Davi, volte. Está muito fundo ai. Pode ficar sem foleg
Sentada sozinha pensava em seu pai. Era um homem alto e bonito. Seus cabelos lisos e corpo magro branco. Tinha os olhos de um castanho mel profundamente cativantes. Como sentia falta deles. Estava ali sobre a grama da parte externa de sua escola. As crianças corriam excitadas por todos os lados, típico das meninas e meninos de sua idade, mas ela se mantinha em seu canto quieta. Alguns sabiam e entendiam o motivo da sua dor, outros passavam por ela e não tinham a menor ideia do porquê daquela menina estar tão diferente das outras crianças. Seu pai havia falecido havia duas semanas. Foi cruelmente ferido no pescoço e não teve a menor chance contra seus agressores. Lembrava-se do cheiro dele e como por toda a parte da casa era presente seu perfume, porém o tempo era cruel e a cada dia que se passava mais se esvaia o que restara
Após o hino todas as turmas subiram. Já em sua sala de aula Clara estava sentada em sua carteira que era dividida com sua amiga Stephanie. A professora havia pedido para todos tirarem os cadernos para fora junto ao livro de ciências. Clara aproveitou o momento para dar uma olhada dentro de sua mochila. Ao vasculhar não encontrava o pequeno canudo. Procurou desesperadamente revirando tudo. A mochila estava muito bagunçada devido os pedaços da boneca soltos e o material escolar. Procurou durante alguns minutos até a professora a questionar: — Algo errado com sua mochila Clarice? — Não professora. Desculpa. Apenas estou procurando meu lápis que caiu do estojo. — Seja rápida que vou começar a explicar a tarefa de hoje.&nb
Levantou seu rosto lentamente do chão seco. Seu respirar suspendia pequenas partículas de poeira que involuntariamente entravam em suas narinas, descendo até o encher de seus pulmões. Pedro colocou seu peso sobre seus braços e esforçou-se a ficar de pé. Todo aquele cenário de caos e adrenalina pulsando em suas veias, devido às moscas e toda a tormenta de tremor e medo, haviam desaparecido assim que soltou a mão do menino branco. Sentou-se no chão e chorou pela morte de seu tão recente amigo. Não queria ter soltado seus dedos. — Mas foi ele quem forçou para soltar a minha mão. — Pedro se questionava sobre o que realmente significavam as palavras finais do garoto: — Como assim eu não me lembrava do nome dele? — Se esforçou em recordar todos os nomes possíveis que j&aacut
Com voz descuidada de medo e sentindo-se totalmente livre para ter contato com a dupla Pedro levantou sua mão acenando e com um sorriso nos lábios perguntou: — Olá. Me chamo Pedro. Vocês são os donos desse lindo lugar? Ambos, homem e menina continuavam chamando e convidando Pedro a se aproximar. O garoto, a cada passo que dava e se aproximava, reparava como os dois eram parecidos. Os cabelos, as expressões, a cor da pele, tudo era de alguma forma semelhante. — Adorei esse lugar. Ele me trouxe alegria, mesmo nesse tempo de tantas coisas estranhas que estão acontecendo do outro lado dos rochedos. Vocês vivem muito tempo aqui? Devem se sentir muito seguros. Não vi nenhuma monstruosidade nesse local. São os verdadeiros donos disso tudo?
Apertou o alicate sobre a ligação elétrica. O contado entre o aço da ferramenta com o cobre do fio de tensão gerou algumas faíscas que espirraram sobre seu rosto sujo. Estava acostumado com aquele fenômeno. Vestia uma roupa que lhe trazia segurança. Os acessórios de proteção, além da barragem contra arco elétrico, o protegiam contra chamas e altas temperaturas. Completava o equipamento de proteção uma luva própria de borracha, jalecos e calças resistentes, feitas de um material grosso. Não podia se esquecer do capacete. Sem todos esses acessórios teria morrido eletrocutado, ou por pancada na cabeça, há muito tempo. Mesmo com aqueles acessórios era um trabalho que oferecia enorme risco de vida, mas pagava suas contas e sustentava sua família. Houve um episódio em q
Adentrou no bairro onde morava. O dia estava nublado. Nos céus grandes relâmpagos cobriam com fortes clarões o céu repleto de nuvens negras. O som chegara segundos depois avisando que os raios não haviam caído tão distante dali. A rua que estava era larga. Duas mãos de carros de distância. As calçadas tinham pelo menos dois metros e meio. Era um lugar seguro para pedalar. Ao final da avenida existia a opção de pegar um atalho por uma senda encurtando toda uma volta que seria necessária se pegasse o caminho principal para sua casa. Pedalou apressadamente e avistou a pequena entrada. A ruela era estreita e não permitia que estivesse sobre sua bicicleta. Desceu de seu veiculo de duas rodas presas a um quadro e segurou seu guidom do lado esquerdo. Até empurra-la era difícil, entre os dois muros que formavam aquele caminho, pois ambos quase não cabiam entre as paredes. Des