Giulia Ricciardi Uma semana havia se passado desde a última vez que vi Lorenzo. O vazio da sua ausência era quase palpável, uma sensação constante de expectativa e incerteza que me acompanhava o tempo todo. Conseguimos nos falar apenas uma vez, através de uma mensagem que ele enviou pelo número da irmã. "Está tudo bem. Estou resolvendo algumas coisas para facilitar nosso caminho", ele escreveu. Curto, direto, sem detalhes. Mas o suficiente para acender uma faísca de esperança no meu peito. Eu torcia em silêncio para que ele conseguisse o que quer que estivesse planejando. Nesses últimos dias, meu pai parecia mais calmo. Sua vigilância sobre mim havia diminuído, e ele sequer mencionou minha frequência no curso, mesmo depois de tê-lo proibido anteriormente. Era um alívio temporário, mas ainda assim, um alívio. O que me deixava realmente desconfortável era a presença constante de Vittorio na nossa casa. Ele estava sempre por perto, como uma sombra, e cada encontro com ele fazia meu e
Lorenzo Salvatore. O interfone tocou, interrompendo meus pensamentos. Levantei-me da mesa e fui até ele, apertando o botão. — Alô? — Sou eu, Giulia! — reconheci a voz dela imediatamente, mas algo em seu tom estava diferente, tenso. Destravei a porta de entrada sem hesitar e esperei ansioso. Em poucos minutos, uma batida apressada soou na porta do meu apartamento. Assim que abri, Giulia praticamente caiu em meus braços, me envolvendo em um abraço apertado. Senti seu corpo tremer, e em poucos segundos percebi que estava chorando. Suas lágrimas molharam minha camisa enquanto ela escondia o rosto em meu peito. — Ei... O que aconteceu, princesa? — perguntei preocupado, segurando-a pelos ombros para olhá-la nos olhos. Giulia ergueu o rosto, os olhos marejados e a respiração descompassada. — Marco sofreu um acidente... — Sua voz quebrou no final da frase. As palavras dela me atingiram como um soco no estômago. Marco, o irmão dela, sempre tão cuidadoso e estrategista. Era difícil acr
Giulia Ricciardi Enquanto Lorenzo tentava rastrear provas contra Celeste, eu caminhava de um lado para o outro pelo apartamento, tomada por uma ansiedade crescente. Meu coração batia descompassado, minha mente girava em torno de todas as possibilidades terríveis que podiam estar acontecendo naquele momento. Eu estava cansada desse jogo sujo, cansada de ver meu pai ser enganado por pessoas em quem confiava cegamente. Minha família estava correndo perigo. Marco, meu irmão, estava em um hospital, lutando pela vida, tudo porque provavelmente havia descoberto algo que não deveria. Algo grande o bastante para Vittorio querer calá-lo. Tinha certeza de que ele deve ter confiado em Celeste, contado o que sabia... e ela, como a cobra traiçoeira que era, deve ter corrido para avisar Vittorio, selando o destino de Marco. Eu só queria que esse pesadelo acabasse. Queria minha família a salvo, livre das garras de Vittorio e sua manipulação. Queria que meu pai finalmente enxergasse a verdade, ace
Lorenzo Salvatore Após sair do apartamento, me despedi de Giulia, cada um seguindo para um lado. Acelerei minha moto, o vento frio cortando meu rosto enquanto eu rumava para o endereço que Henrique havia me passado. Meu coração estava pesado, mas determinado. O plano estava claro na minha mente, e cada segundo que passava me aproximava mais de uma possível solução para tudo aquilo. Minha mente revisava cada reviravolta dos últimos dias: descobertas inesperadas, traições, a verdade sobre o meu passado. Por um instante, senti esperança. Talvez, finalmente, tudo estivesse prestes a se alinhar. Mas, ao me aproximar da casa de Henrique, essa sensação começou a se dissipar. Uma sensação ruim rastejava pela minha pele, deixando os pelos da minha nuca em alerta. Algo não estava certo. Assim que virei a esquina, avistei o portão escancarado. Havia corpos espalhados pelo chão, homens caídos em posições grotescas, o sangue ainda fresco manchando a calçada. Minha respiração acelerou. De
Giulia Ricciardi Enquanto pilotava de volta para casa, o vento cortava meu rosto, mas nem isso aliviava a tensão no meu peito. Minha mente viajava para Marco, torcendo desesperadamente para que ele estivesse bem. Mas uma sombra escura pairava sobre meus pensamentos. Se algo pior acontecesse com ele... se ele não saísse dessa... Vittorio e Celeste pagariam. Com a vida. Ao chegar em casa, encontrei o lugar estranhamente vazio. Nenhum sinal de meu pai ou de qualquer outro membro da família. Apenas alguns soldados na entrada, fazendo a segurança, e algumas empregadas, que limpavam silenciosamente. Seus olhares abaixaram quando passei por elas, como se sentissem o peso que eu carregava nos ombros. Fui direto para o meu quarto. Fechei a porta, como se isso pudesse bloquear o caos do mundo lá fora, e comecei a tirar a roupa lentamente. Entrei no banheiro, liguei o chuveiro e deixei a água gelada cair sobre meu corpo. Por um momento, fechei os olhos e me permiti sentir a água escorrendo,
Lorenzo Salvatore No instante em que apareci, Antônio, Vittorio, Matteo e Domenico não hesitaram — sacaram suas armas e apontaram diretamente para mim. O corredor do hospital se transformou em um campo de tensão pura. Mas não recuei. Mantive a postura firme, encarando cada um deles. Giulia foi mais rápida que qualquer um. Sem pensar duas vezes, se colocou entre nós, correndo em minha direção. Matteo tentou segurá-la, mas ela se desvencilhou, determinada, parando ao meu lado. — Saia de perto desse verme, Giulia! — Domenico vociferou, apontando a arma com ainda mais firmeza. — Antes de qualquer coisa, Domenico… quero que você veja algo. — falei com calma, mas cada palavra carregava uma ameaça velada. Me aproximei da recepção. A atendente estava pálida, tremendo diante de tudo aquilo. — Tudo bem? — perguntei suavemente, tentando não assustá-la ainda mais. — Pode me emprestar seu computador por alguns segundos? Sem dizer uma palavra, ela assentiu e se afastou rapidamente. Conectei
Giulia Ricciardi Senti o olhar de meu pai cair sobre mim, profundo e pesado. Ele se afastou de Lorenzo, caminhando em minha direção com passos lentos, como se cada um deles carregasse o peso dos erros que cometeu. Meu peito se apertou, meus olhos começaram a marejar, e a emoção ameaçava me dominar a qualquer instante. — Mia principessa… — ele disse em um tom baixo e rouco, a voz embargada, os olhos se enchendo de lágrimas. — Me perdoe… por favor, me perdoe. Eu tentei me manter firme, mas as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, quentes e incontroláveis. — Papà… o senhor me machucou demais. — minha voz tremeu, cada palavra saindo como um desabafo há muito tempo guardado. — Nunca confiava em mim… nunca me ouvia. Sempre me via como ingênua. Por quê, papà? Por que não acreditava em mim? Ele não tentou conter as lágrimas que agora corriam por seu rosto, marcando suas feições rígidas com uma vulnerabilidade que eu jamais tinha visto. — Porque fui um tolo! — confessou, a voz c
Lorenzo Salvatore Chegamos à imponente casa dos Ricciardi. Tudo estava igual, os corredores carregavam o mesmo ar austero, o piso impecavelmente limpo, os móveis no mesmo lugar… Mas, ao mesmo tempo, algo parecia diferente. Talvez fosse o peso das últimas revelações, ou o fato de que agora eu e Giulia estávamos, finalmente, livres para viver nossa história. Talvez fosse a verdade que veio à tona: eu não era mais apenas Lorenzo Salvatore. Agora, eu também carregava o sangue dos Cavalcante, e isso mudava tudo. O ar parecia mais pesado, como se anunciasse uma tempestade iminente. Assim que entramos, Giulia, Francesca, Liz e Sophie seguiram juntas para outro lado da casa. Já eu, junto com Domenico e os outros homens, seguimos para o escritório. O ambiente era sério e carregado de tensão. Mal havíamos entrado e Domenico já ordenou que chamassem seus melhores homens. Um por um, eles começaram a chegar. Entre eles, estava Thomas, que me olhou surpreso, como se tivesse visto um fantasma. E