Giulia Ricciardi A consciência veio como um sopro lento e doloroso. Primeiro, um zunido insistente nos ouvidos, depois a sensação de estar afundando em um oceano escuro. Meus olhos piscavam, pesados, tentando se ajustar à luz fraca do quarto. O cheiro asséptico de hospital me envolveu antes mesmo de eu conseguir entender onde estava. — Giulia? — A voz suave e familiar me fez virar a cabeça com dificuldade. Minha mãe estava ali, sentada ao meu lado, os olhos inchados e avermelhados. Ela parecia exausta, como se não tivesse dormido há dias. Quando nossos olhares se encontraram, um soluço escapou de seus lábios antes que ela se inclinasse sobre mim e me envolvesse em um abraço cuidadoso. — Meu Deus… você acordou — sussurrou, sua voz embargada pela emoção. Senti um aperto na garganta, mas a dor no meu corpo foi ainda mais forte. Minhas costelas pareciam em chamas, e cada movimento fazia minha cabeça latejar como se estivesse sendo comprimida. Eu mal conseguia respirar direito. — O
Lorenzo Salvatore O tempo passava, mas a tensão dentro da família Ricciardi continuava quase palpável. Uma semana havia se passado desde que Giulia acordara do coma, e embora a atmosfera tivesse se tornado menos sufocante, Domenico ainda estava obcecado em encontrar qualquer um que tivesse participado da tentativa de assassinato contra sua filha. O nome de Bruce Jones estava riscado da lista, mas ele não tinha agido sozinho, e Domenico queria respostas. Eu também.Minha atenção estava voltada para Vittorio. Algo nele nunca me pareceu certo. Ele apareceu algumas vezes no hospital para ver Giulia, mostrando-se preocupado e solícito, mas algo nos seus olhos, na maneira como ele se portava, me incomodava. Ele era um jogador astuto, e eu não podia ignorar a possibilidade de que estivesse envolvido de alguma forma. Por isso, intensifiquei minha investigação sobre ele.Depois de dias monitorando seus passos, seus contatos e seus investimentos, não havia nada de concreto que o ligasse ao ate
Giulia RicciardiA sala de aula estava cheia, repleta de vozes misturadas e o barulho das canetas riscando o papel, tecidos sendo cortados, máquinas de costura trabalhando. O cheiro de café e de cola pairava no ar, mas minha mente estava distante dali. Tentava me concentrar no trabalho que Liz e eu precisávamos entregar no dia seguinte, um vestido de casamento feito com tecidos ecológicos, mas tudo o que eu conseguia pensar era na noite anterior.A maneira como Lorenzo me olhou, o toque dele, o beijo... Tudo ainda queimava em minha pele como uma lembrança vívida e perigosa. Eu estava confusa, ansiosa, desejando algo que parecia impossível.— Giulia? — a voz de Liz me trouxe de volta para a realidade. — Você está prestes a cortar fora da linha.Pisquei algumas vezes, me esforçando para voltar ao presente. Liz me encarava com uma sobrancelha arqueada, seu olhar carregado de preocupação.— Desculpa, cortei errado? — perguntei, tentando disfarçar minha distração.— Você está em outro mund
Giulia RicciardiA noite estava fria, mas o ar fresco do jardim era exatamente o que eu precisava para organizar meus pensamentos. Saí da varanda do meu quarto e caminhei lentamente pelo caminho de pedras que levava ao centro do jardim da mansão. As luzes suaves iluminavam as rosas vermelhas perfeitamente podadas, e o cheiro da terra úmida misturava-se ao perfume das flores.Meus pensamentos estavam tumultuados. Lorenzo. Vittorio. Dois nomes que ultimamente pareciam se intercalar em minha mente com uma frequência irritante. Mas a verdade era clara para mim: nunca sentiria por Vittorio o que sentia por Lorenzo. Nunca.Suspirei pesadamente, cruzando os braços sobre o corpo. O roupão de seda não era suficiente para me proteger do frio, mas eu não queria voltar para dentro. Eu precisava desse momento de silêncio, longe dos olhares da minha família, longe das regras impostas pelo meu pai, longe das expectativas que colocavam sobre mim.Vittorio era o pretendente ideal aos olhos de todos. U
Lorenzo Salvatore O cheiro de café recém-passado invadiu minhas narinas antes mesmo de eu entrar na casa. Minha mãe sabia que eu estava vindo e, como sempre, devia estar preparando um banquete, apesar de eu dizer repetidamente que não precisava exagerar. Mas ela nunca ouvia.Hoje era meu dia de folga, e como de costume, vinha ver minha mãe e Anna. Depois do último susto que ela nos deu, eu me prometi que ficaria mais atento. E hoje, mais do que nunca, eu estava decidido a descobrir o que havia acontecido naquele dia. O que aquele homem misterioso tinha dito a ponto de deixá-la tão abalada, causando seu infarto. Algo me dizia que não era coisa boa.Entrei em casa e fui direto para a cozinha. Como esperado, as duas estavam lá, terminando de arrumar a mesa.— Lorenzo! — Anna correu para me abraçar, mas logo se afastou, me analisando com o cenho franzido. — A cada semana que passa, você parece mais acabado! Está trabalhando demais.Soltei um pequeno sorriso, beijando sua testa.— Fique t
Giulia RicciardiMeu olhar permaneceu fixo no de Domenico. A adrenalina corria em minhas veias como fogo líquido, fazendo meu peito subir e descer em uma respiração ofegante. Mas não havia medo. Apenas a certeza de que eu não recuaria. Domenico abaixou a arma lentamente, os olhos ainda cravados nos meus, como se procurasse alguma fraqueza. Quando não encontrou, fez um gesto brusco para Vittorio e meu tio baixarem as armas. — Antônio, leve esse verme para longe daqui, antes que eu mude de ideia e mate ele agora mesmo. — A voz de meu pai saiu cortante, carregada de uma fúria contida. Vi meu tio se aproximar de Lorenzo, agarrando-o pelo braço. Ele ainda estava machucado, o rosto manchado de sangue e os movimentos mais lentos do que o normal. Mas Lorenzo não cedeu. Ele manteve a cabeça erguida, sem desviar o olhar de Domenico, como se estivesse desafiando-o em silêncio. — Vá para o seu quarto. Agora. — Meu pai ordenou. Engoli em seco, mas não discuti. Apenas saí. No corredor, meus p
Giulia RicciardiO vento cortava o ar com força, batendo contra meu corpo enquanto a moto rugia sobre a estrada. Abri a viseira do capacete, sentindo o vento gelado em meu rosto, como se tentasse apagar qualquer pensamento que me assombrasse. Estava quase fora de Milão, me aproximando do destino que Lorenzo havia me dado, em uma cidadezinha pequena e tranquila, bem ao lado da agitação da capital.Quando parei a moto em frente ao prédio, respirei fundo, observando o local. Era um edifício de cinco andares, nada sofisticado, mas também não decadente, uma construção simples, mas com um certo charme rústico. O tipo de lugar onde alguém como Lorenzo poderia se esconder, longe dos olhos curiosos.Me aproximei da entrada e toquei o interfone, direcionando o dedo para o número do apartamento que ele me indicara.— Alô? — A voz de Lorenzo soou do outro lado da linha, grave e familiar. Meu coração acelerou.— Sou eu, Giulia.Houve um silêncio que parecia uma eternidade, até que, finalmente, ouv
Lorenzo Salvatore.O calor entre nós era insuportável. Caminhei com Giulia em meu colo, os passos rápidos e urgentes, como se o mundo ao nosso redor tivesse desaparecido. O beijo que compartilhávamos era imenso, um turbilhão de sensações. Eu podia sentir o toque delicado de suas mãos segurando meu cabelo, puxando-o de leve, enquanto ela se entregava completamente, sem hesitar. Cada puxada em meus fios parecia um comando silencioso, um convite para me perder ainda mais nela.Meu corpo estava em chamas, e a força com que segurava seu quadril apenas aumentava a necessidade de tê-la mais perto. O peso de seu corpo contra o meu, a maciez da sua pele, tudo em Giulia me incendiava de uma forma que eu não sabia mais controlar. Ela se entregava a mim com a mesma intensidade, seus lábios, seus movimentos… tudo nela me chamava, me consumia.Finalmente, chegamos ao quarto. Com um movimento rápido, coloquei Giulia sobre a cama, minha boca nunca deixando a sua. Ela arfava, e eu respondia com um bei