Lorenzo Salvatore O cheiro de café recém-passado invadiu minhas narinas antes mesmo de eu entrar na casa. Minha mãe sabia que eu estava vindo e, como sempre, devia estar preparando um banquete, apesar de eu dizer repetidamente que não precisava exagerar. Mas ela nunca ouvia.Hoje era meu dia de folga, e como de costume, vinha ver minha mãe e Anna. Depois do último susto que ela nos deu, eu me prometi que ficaria mais atento. E hoje, mais do que nunca, eu estava decidido a descobrir o que havia acontecido naquele dia. O que aquele homem misterioso tinha dito a ponto de deixá-la tão abalada, causando seu infarto. Algo me dizia que não era coisa boa.Entrei em casa e fui direto para a cozinha. Como esperado, as duas estavam lá, terminando de arrumar a mesa.— Lorenzo! — Anna correu para me abraçar, mas logo se afastou, me analisando com o cenho franzido. — A cada semana que passa, você parece mais acabado! Está trabalhando demais.Soltei um pequeno sorriso, beijando sua testa.— Fique t
Giulia RicciardiMeu olhar permaneceu fixo no de Domenico. A adrenalina corria em minhas veias como fogo líquido, fazendo meu peito subir e descer em uma respiração ofegante. Mas não havia medo. Apenas a certeza de que eu não recuaria. Domenico abaixou a arma lentamente, os olhos ainda cravados nos meus, como se procurasse alguma fraqueza. Quando não encontrou, fez um gesto brusco para Vittorio e meu tio baixarem as armas. — Antônio, leve esse verme para longe daqui, antes que eu mude de ideia e mate ele agora mesmo. — A voz de meu pai saiu cortante, carregada de uma fúria contida. Vi meu tio se aproximar de Lorenzo, agarrando-o pelo braço. Ele ainda estava machucado, o rosto manchado de sangue e os movimentos mais lentos do que o normal. Mas Lorenzo não cedeu. Ele manteve a cabeça erguida, sem desviar o olhar de Domenico, como se estivesse desafiando-o em silêncio. — Vá para o seu quarto. Agora. — Meu pai ordenou. Engoli em seco, mas não discuti. Apenas saí. No corredor, meus p
Giulia RicciardiO vento cortava o ar com força, batendo contra meu corpo enquanto a moto rugia sobre a estrada. Abri a viseira do capacete, sentindo o vento gelado em meu rosto, como se tentasse apagar qualquer pensamento que me assombrasse. Estava quase fora de Milão, me aproximando do destino que Lorenzo havia me dado, em uma cidadezinha pequena e tranquila, bem ao lado da agitação da capital.Quando parei a moto em frente ao prédio, respirei fundo, observando o local. Era um edifício de cinco andares, nada sofisticado, mas também não decadente, uma construção simples, mas com um certo charme rústico. O tipo de lugar onde alguém como Lorenzo poderia se esconder, longe dos olhos curiosos.Me aproximei da entrada e toquei o interfone, direcionando o dedo para o número do apartamento que ele me indicara.— Alô? — A voz de Lorenzo soou do outro lado da linha, grave e familiar. Meu coração acelerou.— Sou eu, Giulia.Houve um silêncio que parecia uma eternidade, até que, finalmente, ouv
Lorenzo Salvatore.O calor entre nós era insuportável. Caminhei com Giulia em meu colo, os passos rápidos e urgentes, como se o mundo ao nosso redor tivesse desaparecido. O beijo que compartilhávamos era imenso, um turbilhão de sensações. Eu podia sentir o toque delicado de suas mãos segurando meu cabelo, puxando-o de leve, enquanto ela se entregava completamente, sem hesitar. Cada puxada em meus fios parecia um comando silencioso, um convite para me perder ainda mais nela.Meu corpo estava em chamas, e a força com que segurava seu quadril apenas aumentava a necessidade de tê-la mais perto. O peso de seu corpo contra o meu, a maciez da sua pele, tudo em Giulia me incendiava de uma forma que eu não sabia mais controlar. Ela se entregava a mim com a mesma intensidade, seus lábios, seus movimentos… tudo nela me chamava, me consumia.Finalmente, chegamos ao quarto. Com um movimento rápido, coloquei Giulia sobre a cama, minha boca nunca deixando a sua. Ela arfava, e eu respondia com um bei
Giulia RicciardiEnquanto vestia minha roupa, senti o olhar de Lorenzo sobre mim. Me virei e o encontrei sentado na cama, me observando com um sorriso satisfeito. Ele já estava vestido, pronto para sair rumo à casa da mãe, mas parecia não ter pressa em ir. — O que foi? — perguntei, um sorriso tímido escapando dos meus lábios. — Parece até um sonho ter você aqui… e tudo o que aconteceu entre nós hoje. Meu coração deu um salto. Um sorriso se abriu no meu rosto. — Realmente, foi tudo incrível… — murmurei, ainda revivendo cada toque, cada suspiro compartilhado. Lorenzo se levantou e caminhou até mim enquanto eu ajeitava minha blusa. Ele segurou meu rosto entre as mãos, o olhar intenso, carregado de algo que me fazia perder o fôlego. Depositou um beijo suave na minha testa antes de tomar meus lábios com os seus, em um beijo lento, cheio de promessas silenciosas. Quando nos afastamos, ele manteve o olhar preso ao meu. — O que vai dizer ao seu pai? Ele já deve estar sabendo que você su
Lorenzo Salvatore A rua estava silenciosa, envolta pelo breu da noite. O único som era o farfalhar das folhas ao vento e o latido distante de um cão. Estacionei a moto na calçada e olhei ao redor, certificando-me de que não havia ninguém me seguindo. A tensão ainda corria em minhas veias, mas estar ali, na casa da minha mãe, me trazia um breve respiro de alívio.Bati na porta duas vezes. Em poucos segundos, Anna abriu. Seu rosto estava pálido, os olhos levemente inchados, e o tom choroso na voz me fez sentir um aperto no peito.— Onde você estava? — Ela me encarou com um misto de alívio e raiva. — Seu patrão esteve aqui.Meu estômago se revirou.— Domenico? — perguntei, sentindo meu corpo enrijecer.— Não. O herdeiro. Marco.Soltei um suspiro pesado, aliviado, mas ainda alerta.— Ele contou o que aconteceu — ela continuou, cruzando os braços. — Disse que a irmã dele havia sumido. Você estava com ela, não estava?Respirei fundo, tentando conter o cansaço que me consumia. Passei por An
Giulia Ricciardi O calor suave do sol tocava meu rosto quando comecei a despertar. Pisquei algumas vezes, meus olhos se ajustando à luz do dia que entrava pela janela. Respirei fundo e me sentei na cama, sentindo o peso das lembranças da noite anterior desabar sobre mim.As palavras do meu pai ainda ecoavam na minha mente como um veneno lento, corroendo cada pedaço de mim. Ele não falava como meu pai, mas como Domenico Ricciardi, o chefe frio e implacável.Meu pai nunca foi um homem de grandes demonstrações de carinho, mas sempre soube, à sua maneira, mostrar que se importava comigo e com meus irmãos. Porém, agora tudo parecia diferente. Ele estava distante, cruel, cego por algo que eu não conseguia entender. Era como se estivesse perdendo o homem que um dia conheci — e isso doía mais do que qualquer palavra dita na noite anterior.Levantei-me da cama, determinada a não deixar essa sombra tomar conta de mim. Fui até o banheiro, deixando a água fria escorrer pelo meu corpo, tentando l
Lorenzo Salvatore A cada soco no saco de pancadas, sentia a dor nas mãos aumentar. Meus punhos estavam vermelhos, mas eu não parava. Era como se cada golpe pudesse arrancar de mim a confusão e a raiva que me consumiam desde a noite passada. Dez minutos, talvez mais, socando sem parar. O suor escorria pelo meu rosto, misturando-se ao turbilhão de pensamentos. Filho de Leonardo Cavalcante. Essas palavras ecoavam na minha cabeça como uma sentença. A revelação de minha mãe parecia uma piada de mau gosto, uma reviravolta absurda demais para ser verdade. Mas ela me deu o contato do homem que contou isso a ela, e eu precisava de respostas. Assim que acordei, liguei para ele e marcamos um encontro para aquela noite, em um lugar afastado, longe de olhares curiosos. Ansiedade. Inquietação. A necessidade desesperada de entender a verdade. Quem era Leonardo Cavalcante? Como eu podia ser seu herdeiro legítimo? O que isso significava para mim? Outro soco, mais forte dessa vez. — Lorenzo? — Um