Giulia Ricciardi A noite estava agradável, e eu me sentia satisfeita com a minha escolha de roupa. A calça social pantalona preta alongava minha silhueta, enquanto a blusa de uma manga só trazia um toque de sofisticação. O cinto dourado marcava minha cintura com elegância, e os saltos dourados completavam o visual. Prendi o cabelo em um coque arrumado e finalizei com uma maquiagem básica, realçando meus olhos e lábios. Peguei minha bolsa de mão e a chave do carro antes de descer as escadas. Ao chegar ao térreo, encontrei papà e Lorenzo saindo juntos. O olhar de ambos pousou em mim ao mesmo tempo. Papà sorriu, aproximando-se. Ele segurou meu rosto com uma das mãos e depositou um beijo carinhoso na minha testa. — Para onde vai tão bonita assim, mia cara? — perguntou ele, com o tom de voz carregado de orgulho e curiosidade. — Vou a uma palestra do meu curso, papà. Uma estilista renomada da França veio dar uma palestra na faculdade — respondi com naturalidade. Papà assentiu, sa
Lorenzo Salvatore Eu olhava para a carga que chegava, mas minha mente estava distante, viajando para um lugar bem longe do galpão onde estávamos. Domenico, sempre concentrado, inspecionava cada caixa com a precisão de quem conhece a vida que escolheu, enquanto o agrônomo explicava as mudanças na nova variedade de cannabis. A planta agora tinha características geneticamente aprimoradas, o que significava novas possibilidades para a produção de drogas. Mas eu mal conseguia me concentrar nisso. A única coisa que ocupava minha mente era Giulia. Enquanto ela descia as escadas, eu me permiti apreciar sua beleza, sem que Domenico percebesse, e parecia que a cada dia, ela roubava mais uma parte do meu coração para ela. Quando ela se aproximou de nós, o seu cheiro me consumiu, seu perfume era uma mistura de rosas com amêndoas, era algo doce, mas exalava sensualidade também. E era isso que Giulia era, doce e sensual, mesmo quando não tentava ser, ela conseguia ser uma mulher estonteante e de
Lorenzo SalvatoreA sala de espera do hospital estava impregnada com o cheiro estéril de álcool e desinfetante, e o silêncio era interrompido apenas pelo som monótono do relógio na parede. Eu me sentia inquieto, incapaz de ficar parado por muito tempo. Cada minuto que passava parecia uma eternidade.Quando a porta de entrada se abriu, ergui os olhos e vi Domenico entrando, seguido de Marco, Celeste, Francesca e Sophie. Todos carregavam expressões de desespero. Francesca, com os olhos marejados, parecia ter chorado durante todo o caminho até aqui. Marco a envolveu com um braço protetor, tentando confortá-la.— Onde ela está? — Sophie perguntou, a voz trêmula e embargada pela emoção.Engoli seco antes de responder.— Está na cirurgia. Ainda não temos atualizações — disse, mantendo a voz firme, apesar do peso no meu peito.Francesca, que tentava manter a compostura, não aguentou e voltou a chorar. Marco apertou o abraço ao redor dela, murmurando palavras de conforto que pareciam inúteis
Lorenzo Salvatore Fazia uma semana desde o acidente. Giulia havia passado por várias cirurgias e continuava no hospital, em coma. O tempo parecia ter desacelerado desde aquela noite maldita, e cada dia que passava sem notícias sobre a melhora dela só aumentava a tensão. Domenico estava cego de raiva, incansável na busca por Bruce Jones. Ele havia colocado uma recompensa alta para quem conseguisse capturá-lo e, com isso, o submundo estava em alvoroço.Tentamos também falar com o Enzo Morfin, mas ele havia sido morto na cadeia momentos depois de ter chegado lá, ou seja, queima de arquivo.Vittorio apareceu algumas vezes no hospital para ver Giulia. Cada visita dele me deixava com o sangue fervendo. Ele fingia uma preocupação exagerada, mas eu via através da máscara que ele usava. Algo dentro de mim dizia que ele tinha mais a ver com aquele acidente do que queria aparentar. O problema era que eu ainda não tinha provas.Passei a última semana cavando cada detalhe da investigação. Eu não
Giulia Ricciardi A consciência veio como um sopro lento e doloroso. Primeiro, um zunido insistente nos ouvidos, depois a sensação de estar afundando em um oceano escuro. Meus olhos piscavam, pesados, tentando se ajustar à luz fraca do quarto. O cheiro asséptico de hospital me envolveu antes mesmo de eu conseguir entender onde estava. — Giulia? — A voz suave e familiar me fez virar a cabeça com dificuldade. Minha mãe estava ali, sentada ao meu lado, os olhos inchados e avermelhados. Ela parecia exausta, como se não tivesse dormido há dias. Quando nossos olhares se encontraram, um soluço escapou de seus lábios antes que ela se inclinasse sobre mim e me envolvesse em um abraço cuidadoso. — Meu Deus… você acordou — sussurrou, sua voz embargada pela emoção. Senti um aperto na garganta, mas a dor no meu corpo foi ainda mais forte. Minhas costelas pareciam em chamas, e cada movimento fazia minha cabeça latejar como se estivesse sendo comprimida. Eu mal conseguia respirar direito. — O
Lorenzo Salvatore O tempo passava, mas a tensão dentro da família Ricciardi continuava quase palpável. Uma semana havia se passado desde que Giulia acordara do coma, e embora a atmosfera tivesse se tornado menos sufocante, Domenico ainda estava obcecado em encontrar qualquer um que tivesse participado da tentativa de assassinato contra sua filha. O nome de Bruce Jones estava riscado da lista, mas ele não tinha agido sozinho, e Domenico queria respostas. Eu também.Minha atenção estava voltada para Vittorio. Algo nele nunca me pareceu certo. Ele apareceu algumas vezes no hospital para ver Giulia, mostrando-se preocupado e solícito, mas algo nos seus olhos, na maneira como ele se portava, me incomodava. Ele era um jogador astuto, e eu não podia ignorar a possibilidade de que estivesse envolvido de alguma forma. Por isso, intensifiquei minha investigação sobre ele.Depois de dias monitorando seus passos, seus contatos e seus investimentos, não havia nada de concreto que o ligasse ao ate
Giulia RicciardiA sala de aula estava cheia, repleta de vozes misturadas e o barulho das canetas riscando o papel, tecidos sendo cortados, máquinas de costura trabalhando. O cheiro de café e de cola pairava no ar, mas minha mente estava distante dali. Tentava me concentrar no trabalho que Liz e eu precisávamos entregar no dia seguinte, um vestido de casamento feito com tecidos ecológicos, mas tudo o que eu conseguia pensar era na noite anterior.A maneira como Lorenzo me olhou, o toque dele, o beijo... Tudo ainda queimava em minha pele como uma lembrança vívida e perigosa. Eu estava confusa, ansiosa, desejando algo que parecia impossível.— Giulia? — a voz de Liz me trouxe de volta para a realidade. — Você está prestes a cortar fora da linha.Pisquei algumas vezes, me esforçando para voltar ao presente. Liz me encarava com uma sobrancelha arqueada, seu olhar carregado de preocupação.— Desculpa, cortei errado? — perguntei, tentando disfarçar minha distração.— Você está em outro mund
Giulia RicciardiA noite estava fria, mas o ar fresco do jardim era exatamente o que eu precisava para organizar meus pensamentos. Saí da varanda do meu quarto e caminhei lentamente pelo caminho de pedras que levava ao centro do jardim da mansão. As luzes suaves iluminavam as rosas vermelhas perfeitamente podadas, e o cheiro da terra úmida misturava-se ao perfume das flores.Meus pensamentos estavam tumultuados. Lorenzo. Vittorio. Dois nomes que ultimamente pareciam se intercalar em minha mente com uma frequência irritante. Mas a verdade era clara para mim: nunca sentiria por Vittorio o que sentia por Lorenzo. Nunca.Suspirei pesadamente, cruzando os braços sobre o corpo. O roupão de seda não era suficiente para me proteger do frio, mas eu não queria voltar para dentro. Eu precisava desse momento de silêncio, longe dos olhares da minha família, longe das regras impostas pelo meu pai, longe das expectativas que colocavam sobre mim.Vittorio era o pretendente ideal aos olhos de todos. U