Lorenzo Salvatore.A noite estava silenciosa, exceto pelo som dos meus dedos batendo no teclado e pelo brilho pálido da tela iluminando meu rosto. A casa dos Ricciardi estava em paz, mas minha mente estava longe disso.Passei o dia inteiro trabalhando, garantindo que a segurança da família estivesse intacta, mas agora, na minha folga, eu tinha outro tipo de missão: descobrir quem realmente era Vittorio.Eu sabia que ele era um farsante, um manipulador. Mas precisava de algo concreto, algo que provasse isso antes que fosse tarde demais.Abri novamente a rede oculta, acessando os registros que consegui rastrear na noite anterior. Fiz questão de apagar meus rastros enquanto avançava pelos arquivos, não podia correr o risco de alguém descobrir que eu estava investigando Vittorio.Os primeiros documentos que encontrei eram disfarçados como transações comerciais, parcerias entre empresas fantasmas e contratos bem elaborados. Mas eu sabia reconhecer um esquema sujo quando via um.Continuei c
Giulia RicciardiO dia no curso foi intenso, mas produtivo. Eu adorava cada segundo que passava entre tecidos, moldes e desenhos. Moda era minha paixão, e a ideia de um dia ter minha própria marca me deixava animada.Mas hoje, além do curso, eu tinha um compromisso diferente.Vittorio havia me convidado para a inauguração de um novo restaurante no centro da cidade. Ele sempre tinha conexões com eventos importantes, e fazia questão de me incluir nesses momentos. Eu gostava da atenção e do prestígio que isso trazia, mas, no fundo, algo ainda me deixava hesitante.Assim que cheguei em casa, fui direto para o meu quarto.Liguei a música em um volume médio e entrei no banheiro, pronta para tomar um banho demorado. A água quente ajudou a aliviar a tensão do dia, e eu aproveitei para lavar o cabelo, massageando o couro cabeludo com calma.Saí do chuveiro envolta em uma toalha macia, o vapor ainda preenchendo o banheiro. Caminhei até o espelho e observei meu reflexo por alguns instantes. Meus
Giulia RicciardiPassei os dedos pelo tecido macio do vestido vermelho, admirando como ele caía perfeitamente em meu corpo. Longo, elegante, com uma fenda lateral que mostrava parte da minha perna e uma abertura nas costas que revelava minha tatuagem delicada — uma flor de lótus que eu fizera em um impulso, como uma pequena forma de expressão pessoal. Era sensual, mas nada vulgar. Papà nunca aceitaria algo vulgar.O reflexo no espelho me devolvia uma imagem que eu sabia interpretar bem. Filha de Domenico Ricciardi, poderosa, graciosa, uma Ricciardi em todos os sentidos. Mas, no fundo, eu ainda era apenas Giulia, uma mulher de 26 anos que conhecia cada canto desse universo de luxo e perigo, mas que, às vezes, desejava um pouco mais.O som da música e das vozes subia do andar de baixo, onde a festa estava em pleno andamento. Papà fazia questão de comemorar cada vitória, e esta era uma das maiores: um novo território conquistado, um passo a mais para solidificar o poder da nossa família.
Lorenzo SalvatoreO barulho da festa ecoava pelo salão principal, mas para mim era apenas um ruído distante. Meus olhos percorriam cada canto, atento a cada movimento, a cada rosto. Eu sabia exatamente onde estavam as saídas, quem eram os convidados e quem poderia representar uma ameaça. Esse era o meu trabalho.Os Ricciardi eram mais do que minha responsabilidade. Eles eram a razão pela qual eu mantinha minha posição no mundo. Proteger Domenico Ricciardi e sua família não era apenas uma obrigação; era uma honra.— Lorenzo. — A voz grave de Domenico me tirou dos meus pensamentos. Ele se aproximou, acompanhado por alguns de seus aliados mais influentes. — Vamos para a sala de reuniões. Há algo que preciso discutir com eles.Assenti sem hesitar, me posicionando ao lado dele enquanto atravessávamos o salão. As portas da sala de reuniões se fecharam atrás de nós, abafando o som da festa. Lá dentro, os homens se sentaram ao redor da longa mesa de madeira maciça. Eu permaneci em pé, na somb
Giulia Ricciardi A festa finalmente tinha terminado. Eu subi as escadas até meu quarto, meus pés descalços mal fazendo barulho no piso de madeira. A longa noite e o peso da bebida me deixavam um pouco zonza, mas era mais do que isso. Algo mais queimava em mim, algo que eu não conseguia nomear, ou talvez não quisesse.Fechei a porta atrás de mim e encarei meu reflexo no espelho. O vestido vermelho ainda estava impecável, apesar das horas de uso. Meu cabelo, antes tão perfeitamente arrumado, agora caía em cascatas desalinhadas pelos meus ombros. Suspirei. Fui até a penteadeira, pegando um algodão e o removedor de maquiagem.Enquanto esfregava o rosto, tentando apagar os traços da noite, uma batida baixa na porta me interrompeu.— Entre — eu disse, sem tirar os olhos do espelho, esperando ver Francesca ou talvez até minha mãe entrando para perguntar como estava a festa.Mas não era nenhuma delas. Era ele.Lorenzo fechou a porta atrás de si, silenciosamente, como sempre fazia. Ele estava
Lorenzo SalvatoreCheguei ao portão da casa da minha mãe e já sentia a diferença no ar. Não era apenas pelo bairro simples onde ela morava, longe das mansões e do luxo da família Ricciardi. Era o cheiro de café fresco, o som de risadas ao longe, a ausência do peso que carregava nos ombros todos os dias.Estacionei meu carro ao lado da calçada, um sedã preto discreto. Desci, observando a fachada modesta da casa. A pintura branca estava um pouco desgastada, mas minha mãe insistia que não queria reformas. "Está boa do jeito que está, Lorenzo. Use seu dinheiro para a educação da sua irmã, não com isso."Abri a porta da frente, e o aroma de café invadiu minhas narinas imediatamente.— Lorenzo! — Minha mãe virou-se da pia com um sorriso caloroso no rosto. Seus cabelos grisalhos estavam presos em um coque frouxo, e ela usava o avental que eu mesmo tinha comprado para ela anos atrás.Antes que eu pudesse responder, senti um par de braços se jogar contra mim. Minha irmã, Anna, me abraçou com f
Giulia RicciardiA luz dourada do fim da tarde atravessava as janelas do meu quarto, iluminando o cavalete à minha frente. Minha tela quase terminada retratava um campo florido que eu havia visto em um verão distante, quando ainda era criança. Pintar era o meu refúgio, um dos poucos momentos em que eu sentia que podia ser eu mesma, sem as amarras da vida que meu sobrenome impunha.Enquanto passava o pincel pelos últimos detalhes de uma flor, ouvi a porta do quarto se abrir. Francesca entrou sem bater, como sempre fazia, segurando uma maçã meio comida. Seus longos cabelos estavam presos em um rabo de cavalo despretensioso, e seus olhos brilhavam com uma curiosidade irritante.— Giulia, você vai mesmo fazer essa cara de quem comeu e não gostou para o rapaz de amanhã? — ela perguntou, encostando-se na porta.Revirei os olhos, ainda focada no quadro.— Não estou com paciência para isso agora, Francesca.Ela se aproximou, sentando-se na beira da cama, e me olhou com aquele ar travesso que
Giulia RicciardiO som de batidas suaves na porta me tirou do sono. Com esforço, abri os olhos, vendo a luz da manhã já entrando pelas cortinas entreabertas.— Senhorita Giulia — chamou a voz de Sílvia, uma das empregadas da casa. — Seu pai pediu para avisar que a senhorita deve descer em dez minutos para o café da manhã.Suspirei profundamente, sentindo o peso da obrigação logo ao acordar.— Obrigada, Sílvia. Já estou descendo — respondi, minha voz ainda rouca de sono.Levantei-me, sentindo a preguiça do corpo após a noite anterior. Fui direto para o banheiro, onde tomei um banho rápido e frio para despertar de vez. Enquanto a água escorria pelo meu corpo, meus pensamentos vagavam para o que me esperava no dia. A aula do curso de moda começaria hoje, e eu estava animada. Era uma pequena fuga para um mundo só meu, ainda que temporária.Depois do banho, escolhi uma roupa prática: uma calça jeans justa, uma regata branca e uma jaqueta jeans que completava o visual. Coloquei alguns acess