✩。•.─── ❁Wictor❁ ───.•。✩
O espumante chegou e o brinde foi feito. Papai e mamãe estavam orgulhosos. Elizabeth não sorria. Ela parecia apática.
...
Após o jantar, papai e mamãe foram conversar no escritório. Ficamos apenas Elizabeth e eu à mesa.
Ela me olhava em silêncio enquanto os empregados retiravam as coisas da mesa.
Não importa o quanto eu mordesse a minha mandibula, a ansiedade permanecia no mesmo lugar dentro de mim.Eu devia me sentir melhor. Então
porquenão me sinto?Levantei-me da mesa abruptamente, arremessando o guardanapo sobre a superfície de mármore.
Meus pés apressados encontraram os jardins da casa sob a luz do luar. Eu me sentia preso. Havia uma pressão enorme sobre as minhas costas.
Retirei os sapatos, encostando-os aos pequenos degraus da entrada, e caminhei pela terra fria, olhando para a lua. Enterrei as mãos nos bolsos da calça para aquece-las.
Um graveto se quebrou atrás de mim, obrigando-me a olhar.
—Então você vai mesmo se casar? E eu-
—Então você não sabe que eu não sou bom pra você? —Enrrijeci, controlando minhas emoções. —Nós somos irmãos, eu não posso me dar ao luxo!!
—Você vai me deixar...
—Estou destinado a perder você! —O meu tom de voz se elevou e eu precisei me controlar novamente, se não quisesse chamar a atenção dos nossos pais.
—Eu deixaria tudo por você, Wictor. Eu deixaria a herança, os nossos pais, tudo. Mas... Você está se preparando para me deixar e ir embora com outra mulher-
—Desde o início. Desde a minha adoção. Eu estou destinado a perder você. E não tem nada que eu possa fazer, Elizabeth.
—Eu faço de tudo por você, sempre fiz. Eu sempre fiz de tudo pra te ter por perto, mas nada NUNCA impede você de ir embora.
—Do que você está falando-
—Eu estou falando sobre todas as vezes em que você me deixa. Você me deixou por cinco anos pra estudar fora, na infância. Você me deixou por várias vezes pra seguir o papai e agora está me deixando pra se casar com uma completa desconhecida.
Expirei. Os meus olhos pesaram, mas me mantive firme.
—E você não já sabe demais? O que quer de mim?
—Eu quero você.
Olhei para os meus pés sujos de terra fria e fiquei em silêncio.
—Por quê insiste em me tratar como se eu não sentisse nada?
—Porque nós somos irmãos! —Sussurrei, franzindo o cenho. —E não tem nada que eu possa fazer pra mudar isso.
O seu olhar sobre mim, pesou, me condenando à ser o seu inimigo dali pra frente. No entanto, eu não poderia cometer um crime daqueles. Eu não podia permanecer errando.
Oh, Elizabeth! Se você soubesse que, em todas as vezes que fui embora, foi para tentar te esquecer... Você me perdoaria?
Eu não sabia, mas os próximos dias seriam difíceis.
✩。•.─── ❁Liza❁ ───.•。✩
Havia recebido um balde de água fria despejada por Wictor. Ele estava me tratando como se eu fosse um pedaço de merda e aquilo me afetava.
Ele sabia disso.Após uma semana daquele maldito jantar, resolvi encarar as coisas tais como elas eram. Mas, as coisas eram ainda mais difíceis do que eu pensava.
Ser tratado mal era um comportamento que eu aprendi a ignorar. Reprimir as minhas reações, em relação a isso, era uma habilidade adquirida como consequência. No entanto, ser ignorada ou tratada mal por Wictor Konnor estava acabando com os meus dias e com as minhas noites.
—Você não parece bem, Liza. O que está acontecendo?
Ela deslizou a escova entre minhas madeixas escuras, amaciando o tufo de cabelos sedosos. Mamãe sabia exatamente como fazer alguém se sentir confortável sem falar quase nada. A parte ruim é que ela dominava muito bem o oposto disso.
Ali, de frente para o espelho da penteadeira, eu encarava os meus olhos fundos. Talvez me perguntasse sobre o porquê de tê-los tão fundos e contornados com manchas escuras.
Mamãe esperou por um conjunto de palavras que formulassem uma frase, mas eu permaneci com as mãos sobre as pernas, encarando o meu próprio reflexo em silêncio.
—Alguém está deixando você assim?
Engoli.
Minha boca parecia seca. Eu estava ficando ansiosa com seu enfrentamento.
—Eu soube que o papai está arranjando noivos para Wictor e eu. —Anunciei em um tom ofensivo como um protesto.
Ela afastou a escova dos meus cabelos e esticou o braço até a madeira branca e iluminada, esvaziando as mãos.
Naquele momento em minha frente, mamãe tocou meu queixo e ergueu meu nariz em sua direção. Analisava o meu rosto como se fosse concertar um erro.
—A nossa família precisa de um dos dois. —Curvou os lábios minimamente, na tentativa de amenizar suas palavras. —Mas você não tem que se preocupar. O seu irmão se voluntariou pra isso.
Ela soltou o meu queixo com ignorância e espremeu os lábios. Seu olhar, desviando de mim, pareceu cortar o ar.
Mamãe atravessou o quarto e se curvou sobre o divã, amassando um casaco de tricô que havia jogado sobre ele.
—Espero que você aprenda algumas coisas com o seu irmão. Ele sabe como valorizar a família, não faz questionamentos desnecessários. —Reforçou, olhando-me por cima dos ombros antes de me deixar. —Aproveite que não faz nada de útil, Liza, e melhore essa cara pálida. Durma durante essa noite e acorde com uma pele melhor do que essa. Amanhã você conhecerá a sua futura cunhada. O seu pai e eu cuidamos de tudo. Eu espero que mostre um pouco de gratidão pela criação que nós lhe damos e tente ser uma versão melhorada dessa rebeldia que você acabou de me mostrar.
Os seus passos fundos alcançaram a porta do quarto antes que eu pudesse protestar.
Por que ela era tão fria daquele jeito? Por que o Wictor precisava fazer tudo isso pela herança? Nós
nãotínhamos mais nada?De qualquer forma, sentia um vazio enorme no peito e ele continuava aumentando com cada coisa que eu não expunha.
✩。•.─── ❁Liza❁ ───.•。✩Aquela noite foi difícil pros meus pensamentos. Nem toda a minha dedicação, para amanhecer apresentável, estava funcionando. Rolar de um lado para o outro numa cama gigante, não me fez sentir melhor.Pelo contrário. Me trouxe solidão e angústia profunda.Após algumas horas, as cortinas estavam balançando com o vento. A luz que entrava pelas janelas escandalosamente grandes, me deixava cega.Agarrada ao travesseiro inútil, espremia as pernas em posição fetal. Uma das piores sensações que se pode carregar no peito, é aquela a qual você não consegue dar descrição.Suspirei. Virei para o teto e caí os braços. Cada um para um lado.Por que eu me sinto tão só?Minhas respostas não viriam de um teto branco com detalhes dourados e cinza. Eu precisava reagir à minha própria vida.Joguei as pernas para fora da cama e me arrisquei a começar o dia como se esperasse por um evento comum. Embora eu soubesse que seria uma situação constrangedora conhecer a futura noiva do meu i
✩。•.─── ❁Wictor❁ ───.•。✩Meus pais haviam pensado em tudo e quando eu concordei em conhecer algumas pretendentes, eles foram atrás de Mary Jacob.Se você não sabe quem é Mary Jacob, por onde esteve durante os últimos 15 anos?!A minha pretendente é a filha única do contador renomado. Ele foi o contador da minha família até o vovô fechar sociedade com outras pessoas e ele pedir demissão.Nós nunca descobrimos o que o motivou a pular fora dos Konnor....Após a recepção calorosa, levei Mary para um passeio pelo jardim vasto da propriedade dos meus pais.—A sua irmã é realmente tão linda quanto falam. —Informou, agitando as mãos próximas às bochechas ruborizadas pelo calor.—Elizabeth tem seus charmes. —Desviei o rumo daquela conversa. —Os meus pais me disseram que você vai precisar se ausentar por um ano inteiro, isso é verdade?Ela encostou o queixo no peito e cedeu.Não entendi.Parei de andar. Esperava que fizesse o mesmo, no entanto, Mary trocou mais alguns passos em direção à namor
✩。•.─── ❁Wictor❁ ───.•。✩...Atravessei a sala em passos acelerados e alcancei a cozinha. Avistá-la comendo sozinha foi quase como um troféu.—Então a candidata à mulher de Deus já foi?O desdém dela acabava comigo. Ela estava me punindo?—Para de gracinha, Elizabeth. —Me aproximei um pouco ranzinza.—Deveria estar feliz, afinal de contas eu vi vocês no jardim. —Terminou o suco, mas o silêncio durou pouco, antes que suas provocações a dominasse. —Da janela do meu quarto, não se esqueça, eu tenho uma vista triunfal.—Não me esqueço. —Com cansaço, debrucei-me sobre a mesa e descansei. —Você estava me vigiando outra vez. Ao menos, dessa vez, eu estava vestido.Fechei os olhos, ouvindo um suspiro curto. Segundos depois, percebi ela se levantar, mas isso não me motivou a abrir os olhos.Talvez nada me motivaria.Seus passos de volta pararam próximos a mim. Estava pronto para abrir os olhos, e quando o fiz, me vi sozinho outra vez. O cheiro dela ainda estava pela cozinha, como ela poderia t
✩。•.─── ❁Wictor❁ ───.•。✩...Em meu quarto, fui até a caixinha de primeiro socorros que ficava no banheiro e comecei a mexer nos analgésicos. Não me importei em procurar por um antisséptico.O celular começou a vibrar sobre a escrivaninha, e, após ter tomado três cápsulas de cores diferentes, perambulei até o aparelho barulhento, usando tudo o que havia restado da minha paciência.—Quem é? —Troquei alguns passos em direção à cama, jogando o corpo lento sobre ela.—Wictor, é a titia-—Tchau, tia.Eu estava pronto para desligar, quando a ouvi implorando.—Não, meu querido sobrinho! Por favor, não desligue. Eu te peço. É sobre o seu pai.Ela sabia como me fazer escutar. Apesar de estar sentindo a paz dos analgésicos misturados, eu ainda raciocinava olhando para o teto que estava em movimento.—Continue...—Venha até a minha casa hoje a noite. Eu tenho uma coisa pra lhe mostrar e é coisa séria, Wictor.—Às oito. Eu apareço aí às oito. —Bocejei. —Tia, eu preciso desligar. Estou lambendo as
✩。•.─── ❁Liza❁ ───.•。✩Pronta para sair, tamborilava os dedos sobre a mesinha de canto. O meu pai passou por mim, falando ao telefone. Pareceu agitado, mas sequer falou comigo.Passos acelerados se aproximaram. Ergui o queixo desafiador, encontrando o segurança que seria responsável por me levar para a aula de balé. Ele sorriu para mim, estendendo a mão. Seu cavalheirismo era tão real quanto a mão que me tocava naquele momento.Eu sentia falta de ter o Wictor comigo, me dizendo o que fazer. Me falando como não confiar nas pessoas e, frequentemente, me livrando de todas as enrascadas nas quais eu me propunha a ser vulnerável....Bati a porta do carro, arrumando a mochila suspensa sobre um ombro.—Ficarei a sua espera, senhorita Konnor. —O segurança pôs uma mão no volante e a outra sobre a coxa.Eu sabia que ele estava com a mão próxima a cintura para facilitar o saque da arma, mas preferia pensar que ele estava apenas relaxando.Acenei positivamente e me distanciei do carro aos poucos
✩。•.─── ❁Wictor❁ ───.•。✩Meu coração acelerava diante de uma espera frenética.—Aconteceu comigo, há vinte anos. O seu avô... Eu ainda morava na mansão dos seus falecidos avós, que agora está trancada. Aquela maldita mansão guarda TODOS os podres de todo mundo, pode acreditar. —Titia se serviu com mais vinho, deixando a garrafa quase seca também. Toda a sua delicadeza havia evaporado junto com a bebida enquanto ela falava e bebia em minha frente. —Há vinte anos eu adotei um garotinho lindo. Ele se parecia muito com você, quando era criança. Era sapeca, protetor, arranjava encrenca... Mas era encantador, extremamente inteligente e muito forte. Sempre defendia os mais fracos.Naquele momento eu pude perceber os cantos dos olhos de titia marejando.—T-Titia...—O seu avô não se mostrou contra a minha vontade quando cheguei com ele. Ele parecia tão satisfeito... Mas, durante a última noite de inverno o meu filho desapareceu. Nós estávamos na casa de campo. Eu, o meu filho, os seus avós e
✩。•.─── ❁Liza❁ ───.•。✩Há quem diga que violência não é a solução. Eu digo que não é mesmo. Violência é a pergunta e a resposta é sim.Antes de iniciar aquela aula, um professor novo entrou na sala. Ele parecia gentil, falou com todas as meninas, se apresentou e, como de costume, o mesmo adulto de sempre permaneceu dentro da sala. Todas as câmeras ligadas. Tudo estava como de costume.Ao final das aulas, percebi que ele falava freneticamente ao telefone. Parecia nervoso. Andava de um lado para o outro, arrumando a mochila sobre um dos ombros.Eu não confiava nele. Algo nele me assustava. Talvez fosse o fato de ele ser novato para mim. Talvez o motivo fosse seu comportamento esquisito e ansioso... Ele me assustava.Ignorei.Adentrei ao vestiário feminino e tomei o meu banho. A água estava quente, eu estava cansada e a minha roupa estava pendurada esperando por mim. Ao acabar, me vesti pensando em como aquele dia havia sido terrível. Eu só queria que acabasse.Wictor namorando, papai ap
✩。•.─── ❁Liza❁ ───.•。✩...Fui instruída e forçada a ficar escondida no carrossel, longe do cisne que havia descrito para Wictor, na chamada. O tempo passou até que ele finalmente chegou. Estava de moto. O barulho da Triumph Rocket preta freando como se fosse rasgar o chão.Eu sinto muito, Wictor. Por favor me perdoe...Eu me sentia responsável por ter atraído ele para aquela situação. Se eu, ao menos, tivesse entrado com o segurança... Se eu tivesse mudado o horário... Se eu fosse um pouco mais valente e enfrentasse o sequestrador dele...E então, a infeliz adrenalina começou.-Elizabeth? Elizabeth, onde você está? De quem você tá fugindo? Elizabeth!!!Ele gritava, procurando por mim. O homem que me mantinha calada com a pistola apontada em minha nuca, finalmente sussurrou sobre o meu ombro:-Você vai sair das sombras e vai atrair ele. Se você resistir, atiro na cabeça do irmão, daqui mesmo. Agora vai. Vai e me deixa orgulhoso. -Sorriu zombeteiramente.Com um empurrão, ele me fez tro