Rondamos por trás das casas, mas não havia nada de diferente. Isadora permaneceu no ombro de Ansur até que voltamos para mansão. Tomei um banho para tentar relaxar. A única coisa em que eu pensava enquanto estávamos andando pela floresta era no quanto Krica estava me perturbando. Eu não poderia perder o foco. Não agora que as coisas estavam começando a acontecer. Eu precisava me concentrar em proteger os habitantes do vale. Desci e encontrei Iana e Ansur na cozinha.
— Coma alguma coisa, Arion. O sol já se pôs há muito tempo. Precisamos ir logo — Ansur disse me oferecendo uma xícara de café.
— Você estava distraído demais hoje. Espero que não seja por causa daquela garota — Iana disse de forma áspera.
Olhei para ela. Não estava com vontade de discutir com Iana
Revirei-me na cama sem conseguir dormir. Desci para pegar um pouco de gelo e colocar em meu tornozelo, mas não era exatamente isso que estava me incomodando. Não conseguia distinguir bem o que estava sentindo. Um desejo enorme de estar perto de Arion. Sentir seu braço me apoiando enquanto andava fez meu estômago formigar. E depois... Ele estava tão próximo que acabou me deixando confusa. Nem insisti ou briguei para que me dissesse o que acontecia nessa cidade maluca. Droga. Arion era um garoto muito lindo, acho que só por isso eu me sentia assim. Então não iria mais deixar o frio no meu estômago me dominar quando eu estivesse perto dele. Era só um garoto. Ouvi as batidas recomeçarem ao longe. Quando finalmente peguei no sono já estava amanhecendo. Levantei tarde, mesmo depois de alguns protestos carinhosos de tia Odete. Não fui à escola. E agora eu
Deixei Krica em casa e voltei para continuarmos com nosso ritual. Após terminarmos, chegamos na mansão com a claridade tímida do sol nascente. Tomei um banho frio fazendo um esforço enorme para não pensar na garota e em quanto nós estivemos próximos um do outro. Dormi um pouco além do habitual. Minhas forças estavam se esgotando. Saímos para fazer uma ronda após o almoço. Passamos em frente à escola, os alunos estavam saindo. Não vi a Krica. Passamos por algumas casas e ouvimos Isadora piando ao longe. Fomos até ela. Estava empoleirada num galho baixo e soltava o mesmo pio intermitente em som de flauta. Paramos em frente a casa da família Oliveira. — Ah não! A casa do Thiago. Jonas não pode fazer isso! — Iana cerrou os olhos e apertou os lábios com raiva. Thiago era o habitante mais jovem
Lembro-me de entrar novamente no quarto de Eanes. Lembro-me de sua mãe aparecendo na porta com um rosto ainda mais cansado. Não era a mesma que havia me recebido poucas horas antes. Ela estava muito pálida, com olheiras profundas e parecia mover-se com dificuldade. Olhei em volta. Não me lembrava desse quarto. Não me lembrava de ter entrado nele. Era um quarto muito simples. Uma cama, uma mesinha e uma cadeira. Com certeza eu estava na casa de Eanes, pois ao olhar pela janela vi o sol nascendo iluminando a área de piquenique. Só não entendia porque as janelas tinham grades. Eanes abriu a porta e entrou com uma bandeja de café da manhã. — Como se sente? — Não sei. To meio tonta. O que aconteceu? — Você devia estar muito cansada, pois deitou em minha cama e simplesmente adormeceu. Ainda estava
Fui para o mirante. Sentei-me no muro virado para o deserto esperando que uma resposta aparecesse do nada. Nunca consegui entender por que o Sr.Ruschel me escolheu. Eu passei meus primeiros anos de vida em um orfanato achando que era um humano com sérios problemas. Não sabia porque simplesmente desaparecia e aparecia no meio da sala de TV só por querer ver um filme, ou porque meu prato saía voando das mãos da cozinheira e vinha colocar-se à minha frente na mesa quando eu estava com muita fome. Eu era rejeitado pelas outras crianças como uma aberração e os adultos tinham medo de mim. Eu parei de crescer na velocidade humana com quatorze anos e continuava com o mesmo corpo franzino aos dezesseis, quando fugi do orfanato. Vaguei durante longos anos tentando encobrir os poderes que me colocavam em situações embaraçosas obrigando-me a mudar de lugar constantemente. Finalmente conheci um viaja
Dei um pulo para trás. Ansur apareceu de repente ao lado de Arion e no mesmo segundo os dois sumiram. Desapareceram. — Não, não, não. Isso tá doido demais. Não tive tempo de assimilar o que aconteceu. Eanes abriu a porta do quarto e fui direto pra cima dela prendendo-a contra a porta aberta. — Que merda de lugar é esse! O que vocês são! — Eu não faria isso se fosse você. Já sentiu minha força. Seja boazinha. Eu ri. — Vou sair daqui agora! Aproveitando a porta aberta, empurrei Eanes para o chão e mal passei por baixo do batente, fui jogada para trás batendo no chão ao lado de Eanes, vendo a porta fechar sozinha com toda a força. — Eu avisei. Eanes le
O sol sumiu por trás da mansão. Fiquei adormecido no chão da sala por umas três horas. Nunca precisei dormir tanto, mas meu corpo estava recuperado. Só não sabia o quanto de poder ainda me restava. Precisava ser o suficiente para tirar Krica da casa de Jonas. Passamos a tarde pensando em como fazer isso. Juntaríamos o poder dos três e com ajuda também de Krica talvez conseguíssemos. A casa era protegida contra nosso poder, mas se Krica estendesse os braços pelas grades seria suficiente para a transportarmos em segurança para outro lugar. Contornamos a casa com cuidado, atentos ao que se passava dentro. Nenhuma conversa era ouvida. — Provavelmente Dona Laura está adormecida. Ela vem se cansando cada vez mais. Não duvido nada que a tempestade tenha sido provocada por ela para fazer com que krica ficasse na casa — Ansur disse a
Apareci deitada ao lado de Arion numa cama enorme. Meu corpo todo doía e principalmente meu braço. Sentia-me atropelada por um caminhão. Olhei ao redor e o quarto era parecido com o que fiquei na mansão uns dias atrás, mas não era o mesmo. Iana e Ansur não estavam por perto. Arion estava desacordado. — Arion, por favor. Acorde. Onde estão os outros? — Sacudi levemente seu ombro, mas ele não se moveu. — Arion. Não sei o que fazer. Por favor. Você precisa acordar. Ele abriu os olhos sem se mexer. — Seu braço... como você está? — ele perguntou com dificuldade. — Como você está? Parece muito cansado. São seus poderes, não são? Eles te deixam fraco quando você usa. — Foi assim que derrubou Eanes? Fa
Surgimos em um lugar ermo. Uma minúscula ilha no meio de um oceano que não consegui identificar qual. — Esse é o melhor lugar — Gerd comentou. — É um dos poucos lugares que ainda restam com escuridão total na Terra. No centro da pequena ilha a pedra nos esperava. Oval, ligeiramente achatada e perfeitamente equilibrada em outra muito menor em forma de sino. Sentamos sobre a pedra. Gerd esticou o corpo apoiando-se nos cotovelos e lançou a cabeça para trás fechando os olhos e abrindo um largo sorriso. — Hora da festa. Eu e Ansur permanecemos quietos por alguns segundos. Depois, recitamos palavras convocando o poder do luar. A pedra tornou-se translúcida emitindo uma forte luz azul. Pude sentir todo o poder fluindo por meu corpo. Respirei fundo. Nessa hora era fácil imaginar porque um viajante se corrom