Apareci deitada ao lado de Arion numa cama enorme. Meu corpo todo doía e principalmente meu braço. Sentia-me atropelada por um caminhão. Olhei ao redor e o quarto era parecido com o que fiquei na mansão uns dias atrás, mas não era o mesmo. Iana e Ansur não estavam por perto. Arion estava desacordado.
— Arion, por favor. Acorde. Onde estão os outros? — Sacudi levemente seu ombro, mas ele não se moveu. — Arion. Não sei o que fazer. Por favor. Você precisa acordar.
Ele abriu os olhos sem se mexer.
— Seu braço... como você está? — ele perguntou com dificuldade.
— Como você está? Parece muito cansado. São seus poderes, não são? Eles te deixam fraco quando você usa.
— Foi assim que derrubou Eanes? Fa
Surgimos em um lugar ermo. Uma minúscula ilha no meio de um oceano que não consegui identificar qual. — Esse é o melhor lugar — Gerd comentou. — É um dos poucos lugares que ainda restam com escuridão total na Terra. No centro da pequena ilha a pedra nos esperava. Oval, ligeiramente achatada e perfeitamente equilibrada em outra muito menor em forma de sino. Sentamos sobre a pedra. Gerd esticou o corpo apoiando-se nos cotovelos e lançou a cabeça para trás fechando os olhos e abrindo um largo sorriso. — Hora da festa. Eu e Ansur permanecemos quietos por alguns segundos. Depois, recitamos palavras convocando o poder do luar. A pedra tornou-se translúcida emitindo uma forte luz azul. Pude sentir todo o poder fluindo por meu corpo. Respirei fundo. Nessa hora era fácil imaginar porque um viajante se corrom
Depois que os três desapareceram, Iana jogou-se no sofá, cruzou os braços e ficou me encarando. Eu continuei em pé. Queria saber logo o que acontecia naquela cidade, quem eram eles realmente e por que eu tive aqueles sonhos. — E aí? Vai me contar alguma coisa? Iana revirou os olhos e bufou. — Tudo bem. — Inclinou o corpo para frente e colocou os braços cruzados sobre as pernas. Eu sentei na poltrona em frente ao sofá. — Não sei explicar muita coisa. Um viajante não costuma ter um lugar fixo para morar. Enquanto vaga pelo mundo acaba conhecendo outros viajantes mais velhos e experientes e com isso conseguem desenvolver melhor seus poderes. Eu não tenho conhecimento. Nunca saí do vale. Vivo aqui há cento e vinte seis anos… Não deixei Iana acabar de falar. Soltei um palavr&at
Quando voltamos para casa o sol já estava alto e sua luz banhava a sala. Krica estava dormindo na poltrona em posição fetal. Iana não estava à vista. — Vou levar Krica para cima — falei baixo para que ela não acordasse e a peguei em meus braços sem nenhuma dificuldade. — Depois vou ver onde Iana está e nos reuniremos aqui na sala para conversar. Como ninguém disse nada, desapareci e reapareci no quarto. Estava tão forte que não houve sequer uma pequena alteração em meu corpo quando usei o poder carregando Krica. Coloquei-a devagar na cama. Ela se moveu ajeitando-se e abriu os olhos confusa. — Pode voltar a dormir. Daqui a pouco venho ver se precisa de algo. — Tudo bem. Tô acabando de consertar minha moto. Eu ri ao ver que ela falava comigo ainda d
Acordei arfando. Tive outro pesadelo. As sumaúmas estavam pegando fogo e explodiam jogando um líquido azul para todos os lados. O mesmo líquido estranho que vi no outro sonho. Um corpo se formou. Ficava cada vez mais translúcido à medida que virava um tipo de névoa e suas feições iam ficando mais definidas. Ele me segurou pelos punhos. E antes que eu pudesse identificar seu rosto ele soltou um grito horrível que me fez acordar. Olhei em volta. Eu sabia que havia dormido no sofá e duvidava que Iana iria perder seu tempo me trazendo para o quarto. Sorri ao pensar que devia ter sido Arion quem me trouxe. As cortinas grossas estavam fechadas, mas pelo fino feixe de luz dava para ver que havia sol. Fui procurar por eles. Desci as escadas. Estavam todos sentados na sala conversando. Gerd me viu e deu um sorriso. Logo todos estavam me olhando. Iana com cara de tédio, como se eu fos
Não me virei, mas sabia que ela havia ido embora. Ela me perturbava. Olhei para o deserto vermelho tentando tirá-la de minha mente. Senti a presença de Iana aparecendo logo atrás de mim. — Sozinho? — Estou. Por quê? — Onde está a rebelde? Não desgruda mais dela. Achei que estivessem juntos aqui contemplando a paisagem. — O que você quer Iana? — perguntei impaciente. Iana deu uma risadinha. — Ela irritou você também? — O. Que. Você. Quer, Iana? — repeti as palavras pausadamente entredentes. — Essa garota é mesmo extremamente irritante. Respirei fundo exagerando para que Iana ouvisse. — Tudo bem. Esquece. Temos um assu
— Que susto, garoto! Tá doido? Como aparece no meu quarto assim? — Quer, por favor, falar baixo. — O que tá fazendo aqui? Veio me criticar mais? Vai falar o quê agora? Sobre meu modo de vestir? Ele aproximou-se de mim. — Para. Desculpe-me, ok. — E sentando-se na beirada da cama continuou: — Vim buscar você. Gerd acha perigoso você ficar sozinha aqui. — Ah. Veio porque o Gerd mandou. Ele me olhou sério. — Eu também acho perigoso. Não sabe o que senti... — Ele parou de falar e baixou a cabeça. Eu fiquei olhando para ele sem entender. — Tudo bem. Eu volto pra mansão. Mas antes quero que me explique tudo. — Fiquei olhando para ele até que levantasse a cabeça. E entã
Os sonhos de Krica não faziam sentido. Nem mesmo para Gerd. — Bem, pelo que sei, seus sonhos irão ficar mais recorrentes e depois começará a ter visões até mesmo acordada. Krica arregalou os olhos. — Fala sério! Não quero ficar tendo visões! Vou ficar doida antes de conseguir sair desse vale. Iana apareceu na sala e sentou-se na poltrona de frente para onde estávamos. — A energia continua pairando sobre ela. Não ocorreu nenhuma alteração. — Certo — Gerd falou. — Arion poderia ficar um pouco com ela agora. — E virando-se para mim perguntou: — Tudo bem? —Claro — respondi e olhei para Krica que estava sentada no sofá. — Vem comigo? Ela
Aparecemos na sala, mas estava vazia. Sem soltar minha mão, Arion me olhou. — Vamos dar uma volta pela cidade. — Ele disse puxando-me em direção à porta. Achei estranho usarmos a porta já que poderíamos aparecer no meio da cidade em menos de um segundo. — Nós vamos andar? — eu perguntei confusa. Ele sorriu. — Quer procurar por eles aparecendo e desaparecendo por toda cidade? — Acho que não. Tudo bem, andar um pouco serve. Ele riu e sacudiu a cabeça. Não sei se ele esqueceu do detalhe, mas não soltou minha mão e caminhamos assim, em silêncio, por um bom tempo. Descemos a colina e fomos em direção ao mirante, mas eles não estavam lá. Somente quando passávam