Deixei Krica em casa e voltei para continuarmos com nosso ritual. Após terminarmos, chegamos na mansão com a claridade tímida do sol nascente. Tomei um banho frio fazendo um esforço enorme para não pensar na garota e em quanto nós estivemos próximos um do outro. Dormi um pouco além do habitual. Minhas forças estavam se esgotando. Saímos para fazer uma ronda após o almoço. Passamos em frente à escola, os alunos estavam saindo. Não vi a Krica. Passamos por algumas casas e ouvimos Isadora piando ao longe. Fomos até ela. Estava empoleirada num galho baixo e soltava o mesmo pio intermitente em som de flauta. Paramos em frente a casa da família Oliveira.
— Ah não! A casa do Thiago. Jonas não pode fazer isso! — Iana cerrou os olhos e apertou os lábios com raiva.
Thiago era o habitante mais jovem
Lembro-me de entrar novamente no quarto de Eanes. Lembro-me de sua mãe aparecendo na porta com um rosto ainda mais cansado. Não era a mesma que havia me recebido poucas horas antes. Ela estava muito pálida, com olheiras profundas e parecia mover-se com dificuldade. Olhei em volta. Não me lembrava desse quarto. Não me lembrava de ter entrado nele. Era um quarto muito simples. Uma cama, uma mesinha e uma cadeira. Com certeza eu estava na casa de Eanes, pois ao olhar pela janela vi o sol nascendo iluminando a área de piquenique. Só não entendia porque as janelas tinham grades. Eanes abriu a porta e entrou com uma bandeja de café da manhã. — Como se sente? — Não sei. To meio tonta. O que aconteceu? — Você devia estar muito cansada, pois deitou em minha cama e simplesmente adormeceu. Ainda estava
Fui para o mirante. Sentei-me no muro virado para o deserto esperando que uma resposta aparecesse do nada. Nunca consegui entender por que o Sr.Ruschel me escolheu. Eu passei meus primeiros anos de vida em um orfanato achando que era um humano com sérios problemas. Não sabia porque simplesmente desaparecia e aparecia no meio da sala de TV só por querer ver um filme, ou porque meu prato saía voando das mãos da cozinheira e vinha colocar-se à minha frente na mesa quando eu estava com muita fome. Eu era rejeitado pelas outras crianças como uma aberração e os adultos tinham medo de mim. Eu parei de crescer na velocidade humana com quatorze anos e continuava com o mesmo corpo franzino aos dezesseis, quando fugi do orfanato. Vaguei durante longos anos tentando encobrir os poderes que me colocavam em situações embaraçosas obrigando-me a mudar de lugar constantemente. Finalmente conheci um viaja
Dei um pulo para trás. Ansur apareceu de repente ao lado de Arion e no mesmo segundo os dois sumiram. Desapareceram. — Não, não, não. Isso tá doido demais. Não tive tempo de assimilar o que aconteceu. Eanes abriu a porta do quarto e fui direto pra cima dela prendendo-a contra a porta aberta. — Que merda de lugar é esse! O que vocês são! — Eu não faria isso se fosse você. Já sentiu minha força. Seja boazinha. Eu ri. — Vou sair daqui agora! Aproveitando a porta aberta, empurrei Eanes para o chão e mal passei por baixo do batente, fui jogada para trás batendo no chão ao lado de Eanes, vendo a porta fechar sozinha com toda a força. — Eu avisei. Eanes le
O sol sumiu por trás da mansão. Fiquei adormecido no chão da sala por umas três horas. Nunca precisei dormir tanto, mas meu corpo estava recuperado. Só não sabia o quanto de poder ainda me restava. Precisava ser o suficiente para tirar Krica da casa de Jonas. Passamos a tarde pensando em como fazer isso. Juntaríamos o poder dos três e com ajuda também de Krica talvez conseguíssemos. A casa era protegida contra nosso poder, mas se Krica estendesse os braços pelas grades seria suficiente para a transportarmos em segurança para outro lugar. Contornamos a casa com cuidado, atentos ao que se passava dentro. Nenhuma conversa era ouvida. — Provavelmente Dona Laura está adormecida. Ela vem se cansando cada vez mais. Não duvido nada que a tempestade tenha sido provocada por ela para fazer com que krica ficasse na casa — Ansur disse a
Apareci deitada ao lado de Arion numa cama enorme. Meu corpo todo doía e principalmente meu braço. Sentia-me atropelada por um caminhão. Olhei ao redor e o quarto era parecido com o que fiquei na mansão uns dias atrás, mas não era o mesmo. Iana e Ansur não estavam por perto. Arion estava desacordado. — Arion, por favor. Acorde. Onde estão os outros? — Sacudi levemente seu ombro, mas ele não se moveu. — Arion. Não sei o que fazer. Por favor. Você precisa acordar. Ele abriu os olhos sem se mexer. — Seu braço... como você está? — ele perguntou com dificuldade. — Como você está? Parece muito cansado. São seus poderes, não são? Eles te deixam fraco quando você usa. — Foi assim que derrubou Eanes? Fa
Surgimos em um lugar ermo. Uma minúscula ilha no meio de um oceano que não consegui identificar qual. — Esse é o melhor lugar — Gerd comentou. — É um dos poucos lugares que ainda restam com escuridão total na Terra. No centro da pequena ilha a pedra nos esperava. Oval, ligeiramente achatada e perfeitamente equilibrada em outra muito menor em forma de sino. Sentamos sobre a pedra. Gerd esticou o corpo apoiando-se nos cotovelos e lançou a cabeça para trás fechando os olhos e abrindo um largo sorriso. — Hora da festa. Eu e Ansur permanecemos quietos por alguns segundos. Depois, recitamos palavras convocando o poder do luar. A pedra tornou-se translúcida emitindo uma forte luz azul. Pude sentir todo o poder fluindo por meu corpo. Respirei fundo. Nessa hora era fácil imaginar porque um viajante se corrom
Depois que os três desapareceram, Iana jogou-se no sofá, cruzou os braços e ficou me encarando. Eu continuei em pé. Queria saber logo o que acontecia naquela cidade, quem eram eles realmente e por que eu tive aqueles sonhos. — E aí? Vai me contar alguma coisa? Iana revirou os olhos e bufou. — Tudo bem. — Inclinou o corpo para frente e colocou os braços cruzados sobre as pernas. Eu sentei na poltrona em frente ao sofá. — Não sei explicar muita coisa. Um viajante não costuma ter um lugar fixo para morar. Enquanto vaga pelo mundo acaba conhecendo outros viajantes mais velhos e experientes e com isso conseguem desenvolver melhor seus poderes. Eu não tenho conhecimento. Nunca saí do vale. Vivo aqui há cento e vinte seis anos… Não deixei Iana acabar de falar. Soltei um palavr&at
Quando voltamos para casa o sol já estava alto e sua luz banhava a sala. Krica estava dormindo na poltrona em posição fetal. Iana não estava à vista. — Vou levar Krica para cima — falei baixo para que ela não acordasse e a peguei em meus braços sem nenhuma dificuldade. — Depois vou ver onde Iana está e nos reuniremos aqui na sala para conversar. Como ninguém disse nada, desapareci e reapareci no quarto. Estava tão forte que não houve sequer uma pequena alteração em meu corpo quando usei o poder carregando Krica. Coloquei-a devagar na cama. Ela se moveu ajeitando-se e abriu os olhos confusa. — Pode voltar a dormir. Daqui a pouco venho ver se precisa de algo. — Tudo bem. Tô acabando de consertar minha moto. Eu ri ao ver que ela falava comigo ainda d