— Vamos Clarisse, terá no mínimo treze horas no navio para terminar o que está fazendo — Minha mãe disse enquanto passava pela porta do meu quarto me apressando mais uma vez.
Estávamos indo visitar o Reino de Sounoe, meu pai me disse à alguns dias que iríamos viajar até o Reino de meu futuro marido Sebastian e essas viagens se tornariam cada vez mais frequentes.
Marido? Eca! Esse pensamento me faz torcer o nariz toda a vez que me lembro disso, agora estou saindo de meu quarto agarrada em minha maleta de desenho, era tudo o que eu teria para não morrer entediada dentro daquele navio enquanto não estivesse com Lydie.
Lydie tinha a minha idade era a coisa mais próxima que eu tinha de amigos, nunca saí de meu reino era uma das regras mais absolutamente restritas de meu pai que prezava a segurança, ouvi dizer que isso acontecia por eu ser a única filha e consequentemente a única herdeira ao trono, mas uma hora ou outra eu iria precisar conhecer o Príncipe Sebastian e infelizmente era isso que eu estava indo fazer nesse momento
— Vamos Clarisse! Por que demorou tanto? — Meu pai, Rei Henrique perguntou enquanto eu me aproximava da carruagem
— Havia esquecido meu material de desenho papai, perdoe-me
Beijo o seu rosto e com a sua ajuda eu entro na carruagem, beijo o rosto de minha mãe também e logo em seguida me sento ao seu lado, em poucos segundos começamos nossa breve viagem até o Porto de Sypro onde vivemos
— Está animada para sair do Reino Clarisse? — Foi a vez da minha mãe quebrar o silêncio e eu mentalmente lhe agradeço por isso
— Estou nervosa e ansiosa — falo ao mesmo tempo em que volto meu olhar para ela, os primeiros raios de sol estavam começando a nos iluminar, seus cabelos loiros ficavam ainda mais claros naquele momento o que me fez sorrir — Não sei se estou pronta para um casamento
— Casamento Clarisse? — Meu pai questiona assustado se metendo pela primeira vez em nossa conversa — Quem disse que irá se casar?
Aquilo me pegou um pouco de surpresa, afinal, não era isso que estaríamos indo fazer naquele reino?
— Foi o senhor que disse papai, que iríamos viajar para isso
— Não Clarisse, vamos viajar para você conhecer Sebastian, não para seu casamento mocinha — ele começou a alterar um pouco a voz e a doce risada de minha mãe Anne tomou conta do lugar
— Não está com ciúmes de sua filha, está Henrique? — Dessa vez foi a minha vez de rir, como não pude perceber antes? Meu pai estava com ciúmes por uma situação que ele mesmo (ou a obrigação de manter a linhagem) criou
— Claro que não, não sejam tolas. De onde tiraram essa ideia? — Ele perguntou claramente deixando transparecer sua voz alterada enquanto cruzava os seus braços
Eu e minha mãe realizamos uma troca de olhares e não aguentamos acabamos inundando o local com as nossas risadas, meu pai permanecia sério aparentemente estava começando a se arrepender desse possível casamento
Uma hora ou outra isso teria que acontecer, acabei de completar sete anos de idade e desde sempre ouço meus pais me dizendo que no dia do meu aniversário de dezesseis anos eu iria me casar com príncipe Sebastian, que nesse momento já estava com seus nove anos ou algo assim.
Pelo pouco o que sei, este casamento foi um acordo entre meu pai e o pai de Sebastian, que estranhamente também se chamava Sebastian, este é um fato que me deixa um pouco confusa, afinal, por que diabos duas pessoas teriam o mesmo nome?
Este também já era um assunto que questionei minha mãe em um de nossos momentos sozinhas, era uma regra chata, porém muito utilizada pela maioria dos reinos próximos ao nosso
Durante nosso caminho até o Porto, comecei a me perguntar se eu teria que chamar meu filho de Sebastian III ou Clarisse II que ideia terrível, seria um perfeito desastre, será que está regra poderia ser mudada? Eu espero que sim.
— Sua cabeça está saindo fumaça pequena princesa — A voz de meu pai me arrasta de volta para a realidade e solto um suspiro pensativo — o que está acontecendo Clarisse? Quer adiar essa viagem?
— Não papai — falo um pouco perdida em meus pensamentos e me viro para a minha mãe — mãe, terei que chamar meu filho de Sebastian III ou Clarisse II?
— Então é isso que lhe perturba? — Dessa vez foi a risada de meu pai que encheu o local mas logo voltou a ficar sério com o olhar reprovador que recebeu de Anne
— Claro que não minha filha, irá chamar seu filho como desejar, fique tranquila agora, tudo bem?
Apenas concordei com a cabeça e ela me envolveu em seu abraço, minha mãe tinha um doce cheiro de rosas, que fazia eu me sentir em casa, seus cabelos loiros estavam perfeitamente penteados prendendo sua coroa entre eles, seus olhos claros transmitiam paz mesmo quando eu estava com medo ou apreensiva e seu abraço, bem seu abraço era o melhor do mundo
Aprendi tudo com ela, das primeiras palavras até como me comportar, ela era uma ótima rainha, se preocupava com todos a sua volta e de seu reino, sempre vi minha mãe atenta com os melhores planos para todos e quando aparecia um problema, ela era a primeira a tentar resolver
Meu pai, Henrique era o seu oposto em alguns pontos, tinha cabelos e olhos escuros assim como os meus idênticos aos meus com certeza, não passávamos muito tempo juntos ele estava sempre envolvido em alguma reunião, algum problema político financeiro, ou qualquer outra coisa deste tipo, porém, mesmo estando sempre perdido em seus afazeres nunca deixou de estar presente em nossas refeições.
Por mais corrido que seu dia fosse ele me reservava alguns minutos, algumas vezes apenas para saber como foi meu passeio pelo jardim, ou sobre as aulas que tenho tido e o melhor de tudo, após o jantar papai sempre me levava até meus aposentos e me contava uma história, algumas de livros outras que ele mesmo viveu, foi assim que me vi perdidamente apaixonada por histórias esse era meu momento favorito do dia, sem dúvidas.
A carruagem parou abruptamente o que me assustou um pouco, mas o doce sorriso estampado no rosto de meus pais espantou qualquer sombra de medo
— Chegamos, aguardem aqui eu volto para buscar vocês — Meu pai disse saindo da carruagem, busquei o olhar da minha mãe, que me lançou um sorriso calmo
— Não se assuste, tudo isso é normal querida, seu pai precisa saber se está tudo certo com o navio, se todos os guardas estão em seus postos, se todos os escolhidos para isso estão em perfeito estado
— Coisa de rei... — eu completei sorrindo e em seguida torci o nariz que fez minha mãe rir
— Coisa de rei.
Minha mãe era o ser mais admirável que eu já havia conhecido, se em algum momento eu seria rainha, estava claro para mim quem eu queria ser.
— Vamos? — ouvi outra vez a voz de meu pai abrindo a porta da carruagem, a primeira a sair foi minha mãe e logo depois ele me pegou no colo me colocando no chão — Clarisse, Lydie já está lhe aguardando em seu quarto.
Lydie não é membro oficial de minha família, isso era algo que eu não entendia muito bem, em alguns anos ela seria minha dama de companhia, e o que isso significaria? É, vou descobrir em breve.
Sei que Lydie era filha de uma das damas de companhia de minha mãe, com isso passamos bastante tempo juntas, nos tornamos boas amigas quando não estávamos perdidas em nossos afazeres, estávamos fazendo alguma coisa uma em companhia da outra e isso para mim era ótimo, era como uma melhor amiga, talvez uma irmã... Não conseguia pensar em Lydie de outra maneira.
Seguimos em silêncio por algum tempo até parar na porta do que seria meu quarto pelas próximas horas, me despedi rapidamente de meus pais e entrei, era totalmente diferente do que eu era acostumada, mas era bom, o local era todo de madeira, assim como o restante do navio, havia uma mesa em um dos cantos, uma cama ao lado oposto e um pequeno armário, meus olhos percorreram rapidamente o local e logo encontrei o olhar preocupado e ansioso de Lydie então corri em sua direção de envolvendo em um abraço
—Estou com medo Lydie
—Não fique assim, Clari, vai ser rápido, ouvi minha mãe dizer que não passará de 5 dias
—Bem melhor assim — Falei soltando seu abraço—vamos explorar ou desenhar?
— Explorar primeiro e desenhar depois? — eu concordei com a cabeça enquanto soltava uma pequena risada
Saímos juntas daquele pequeno aposento e um guarda veio nos seguindo, eu o chamava de carrapato, era um apelido carinhoso já que por ordens do meu pai ele não saia do meu pé, isso não me incomodava na maioria das vezes mal trocávamos palavras mas, eu sempre iria lhe chamar de carrapato, era um guarda jovem talvez por isso ele não se importava muito com o apelido que eu lhe dera, ou ele apenas era muito paciente com crianças que tentavam a todo custo lhe pregar peças ou simplesmente correr e se esconder, vai saber...
Passei algum tempo andando de um lado para o outro com Lydie aquele navio era enorme, maior do que já imaginei algum dia, trocávamos poucas palavras estávamos nos contentando em apreciar cada lugar, explorar cada sala ou porta aberta, esbarrei com minha mãe algumas vezes que apenas ria das minhas aventuras e das novas salas que eu encontrava, sabia exatamente onde meu pai estava pela quantidade de guardas parado na porta, aparentemente em alguma reunião ou algo assim, estava disposta a esperar por ele naquele corredor.
—Alteza? —Um dos guardas me chamou atraindo meu olhar — Pode entrar, seu pai lhe aguarda
Fui pega de surpresa, como ele sabia que eu estava ali? A porta se abriu revelando meu pai atrás de uma enorme mesa com um belo sorriso convidativo, não pensei duas vezes antes de ir até ele, que me pega no colo me sentando em sua mesa
— Soube que está explorando, o que está achando?
— Estou maravilhada papai, nunca pensei que seria tão grande — falo um pouco perdida enquanto meus olhos exploram aquela sala
— E como achou que seria Clarisse? — agora já era possível notar o tom irônico em sua pergunta — como o que você desenha?
— Não! Bem.... na verdade sim
— Sim ou não?
— Sim papai, com certeza sim!
— Venha Clarisse, tenho algo para lhe mostrar
Ele me tirou de cima de sua mesa e em seguida segurou em minha mão, seguimos para fora da sala e até um dos lugares onde o carrapato não me deixou passar, continuamos andando por mais algum tempo enquanto eu cantarolava e meu pai apenas sorria, mal começou e eu já estava amando essa viagem, aqui meu pai parecia ter mais tempo para mim, e finalmente iríamos aproveitar algumas horas de apenas nossa companhia.
Chegamos na parte mais alta do navio e a visão foi de me tirar o fôlego o céu azul claro se encontrava com o mar de tal maneira que mal era possível distinguir onde começava um e terminava o outro, o vento frio bagunçava meus cabelos e me causavam arrepios ao olhar para trás pude ver nossa casa ficando mais longe e cada vez menor, quase sumindo de vista, em nossa frente era só água e céu e aquilo me deixou sem palavras por algum tempo
— Acha que daria um bom desenho? — Ele perguntou pela primeira vez olhando para mim desde que chegamos ali
— Sim papai, sem dúvidas seria um belo desenho
— O que acha de desenhar junto comigo?
— Vai ser muito bom, podemos m****r mamãe escolher o mais bonito depois?
—Sim, podemos!!
Ele chamou um dos guardas pedindo que fosse providenciar o material para desenho, ficamos ali aguardando em silêncio, o som do mar era doce e um belo calmante, talvez, além de histórias agora eu amasse viagens.
Não demorou muito para o guarda voltar junto com o carrapato e ambos com itens de desenhos em mãos, tínhamos quadros, tintas e uma bela paisagem de inspiração, passamos uma boa parte do dia ali, até que mamãe nos encontrou
— Estava começando a achar que teriam pulado no mar
—Estamos desenhando o céu mamãe
— Está lindo minha filha, o mais lindo de todos.
—Mas mãe, você diz isso de todos
— Digo por sempre estar se superando a cada desenho
— O meu está mais bonito — disse meu pai se aproximando
— Não, não está! — disse lhe olhando seria
—Sabem, esses desenhos ficariam ótimos no corredor de artes do Castelo — ela disse sorrindo e uma felicidade me percorreu, sempre admirei o corredor de artes, nele estavam apenas os melhores desenhos dos melhores artistas sobre a nossa família — Vamos, precisamos nos alimentar, está na hora.
Dito isso nos animamos eu nem sequer notará que estava com fome já que estava tão distraída, mas assim que tocamos no assunto meu estômago se revirou e sem duvidas eu seria capaz de comer um bolo inteiro ou três, quem sabe.
Seguimos juntos até um salão improvisado, nos alimentamos quase em silêncio, poucas palavras foram trocadas, eu já sentia o sono alcançando meu corpo, hoje havia acordado antes do sol e agora já se iniciava a tarde, faltavam ainda aproximadamente 6 horas de viagem ou um pouco mais
Quando terminamos saímos juntos outra vez, meus olhos começaram a queimar e não paravam de coçar mesmo que eu tentasse disfarçar
— Parece que alguém está ficando com sono — Disse a minha mãe sorrindo
—Estou, um pouco
— Vem meu amor, te levarei para o quarto — Meu pai disse e segurou em minha mão até o quarto, eu estava com tanto sono que nem seria necessário uma história, precisava apenas me deitar
Entramos no quarto e apenas tirei meus sapatos e minha coroa, em seguida me deitei e meu pai se sentou ao meu lado enquanto acariciava meus cabelos
— Durma bem bonequinha
— Obrigada papai, até logo
— Quando acordar, já estarem em Sounoe, está ansiosa?
— Um pouco — Falei e acabei bocejando em seguida
— Não fique, ficaremos poucos dias apenas
Ouvi sua voz ficando mais longe e ainda mais baixa enquanto cantava algo para mim, não demorou muito até que meus olhos se fecharam definitivamente
***
Acordo com batidas na porta e assim que ela se abre revela a Margô uma das damas de companhia de minha mãe, e mãe da Lydie
—Alteza, estamos chegando, precisamos te aprontar
Apenas confirmo com a cabeça voltando a me deitar, estava ainda um pouco sonolenta então até o banho estar pronto eu iria aproveitar todos os segundos que eu podia antes de ser forçada a me levantar
— Vamos Clarisse, falta menos de uma hora para chegarmos — dei um pulo da cama quando a voz da minha mãe invadiu o lugar, ainda esfregando os olhos fui para o banho — Não demore, seu vestido está na cama
Ela disse e saiu, provavelmente indo se aprontar também, tirei minha roupa com ajuda da Margô, tomei um banho quente e em poucos minutos já estava voltando para meus aposentos para me vestir, o vestido que estava em minha cama era lindo, azul claro como estava o céu aquele dia, parecia estar brilhando, coisa que o tornava ainda mais lindo, me aprontei com ajuda da Margô e leves batidas na porta atraíram a minha atenção
— Alteza, temos que ir — a voz do carrapato se fez presente segundos depois
Busquei o olhar da Margo que estava sorrindo em um misto de nervosismo e admiração, mesmo que eu ficasse horas ali, seria impossível decifrar tudo o que aquele olhar queria dizer, como não poderia ser feito mais nada, muito menos perguntado eu fui em direção a porta para encontrar o carrapato que me levaria até meus pais, fiz o caminho em silêncio, era a primeira vez que eu estava longe de casa e ainda iria conhecer um príncipe.— Finalmente Clarisse — Mamãe exclamou assim que me viu — Podemos ir? — Meu pai perguntou alternando o olhar entre eu e mamãe — Me desculpe, podemos ir sim Ele apenas confirmou com a cabeça, ofereceu o braço para minha mãe e seguiram juntos até a carruagem que já estava em nossa espera, segui logo atrás deles, tinham diversos guardas ali, vestidos de vermelho como o carrapato e vestidos de azul que logo imaginei ser guardas do Reino de Sounoe já que eu nunca havia visto uniformes daquela cor enquanto estavámos em casaEntrei na carruagem em silêncio, além de mim parecia que estávamos nos sufocando em nossas próprias perguntas, minha mãe analisava seus dedos e suas unhas, meu pai por sua vez era notável o maxilar trancado a espera de algo ruim, ou apreensivo o demais para esconder alguma coisaO dia já estava escurecendo, o que deu ao céu um tom azulado como um hematoma recém feito, me contive em olhar para o lado de fora, era bem parecido com o meu reino, mas ainda assim era totalmente diferente, estranho né.—Está tudo bem? — Meu pai atraiu a minha atenção — Sim papai — digo enquanto confirmo com a cabeça — Não está com medo, está? — Dessa vez foi minha mãe que falou —Não — neguei com a cabeça — mas não sei como é conhecer um príncipe — É normal como conhecer outra pessoa, Clarisse — Meu pai tentou me acalmar mas não teve muito sucesso — Clarisse, você conheceu a Lydie, é a mesma coisa —Não — neguei outra vez — Lydie não é princesa e não vou me casar com ela — Clarisse, isso não muda nada minha filha, esqueça o casamento — Meu pai mais uma vez tentou — Tudo bem — apenas confirmei, não faria isso, mas não estava disposta a continuar nesse assunto confusoMais algum tempo passou e nós preferimos o silêncio, cada um voltando aos seu próprio transtorno, para suas próprias questões e as minhas ainda eram as mesmasComo seria o príncipe? Como seria nosso casamento?Iríamos nos dar bem? Eu seria uma boa rainha?Corresponderia as expectativas de nossas famílias? Mal percebi quando paramos próximo ao Palácio, assim como havíamos entrado nos saímos meu pai saiu primeiro e em seguida ajudou minha mãe e a mim, na entrada do Castelo havia um belo jardim, com flores que contrastavam perfeitamente aquela imensidão verde, havia uma enorme fonte no centro e próximo a ela um menino estava brincando— Mamãe, aquele é o príncipe? — perguntei olhando para o menino que estava totalmente despreocupado com a nossa presença — Sim minha filha e ele está em um momento de lazer — ela disse em um tom explicativo —Que terrível, ele está sujo como um porco —Clarisse, quieta! — Dessa vez meu pai que disse — deixe o príncipe em paz...— Mas, papai....— Clarisse! — minha mãe disse pela última vez fazendo eu me calar Enquanto caminhávamos até a entrada principal um casal apareceu para nos receber, fizeram um cumprimento como reis enquanto me mantive um pouco afastada, meu olhar se alternava entre o príncipe e nossos pais logo a minha frente — Olá Clarisse — fui pega de surpresa então fui uma reverência meio desajeitada — Você está ainda mais linda do que eu me lembrava—Obrigada! — Eu disse um pouco envergonhada enquanto tentava me lembrar o nome dela —Vamos queridos, entrem — Dessa vez o Rei Sebastian disse enquanto nos conduzia O assunto se encerrou naquele momento algumas damas apareceram para nos guiar até nossos aposentos temporários, carrapato já estava agarrado em meu pé novamente, e ao notar isso lhe dei lingua sem que os outros notassem mas consegui lhe arrancar um breve sorriso enquanto seguimos até o terceiro andar da ala leste, assim que chegamos os aposentos dos meus pais estavam a pelo menos 4 portas depois do meuEntrei me deparando com Margô e Lydie que já estavam a minha espera, mal tenho tempo para as diversas perguntas que me deixavam inquieta, principalmente em como elas chegaram ali primeiro que eu, leves batidas foram ouvidas na porta e duas moças entraram, aparentemente com a mesma idade que o carrapato, se apresentaram tão rápido que mal consigo me lembrar o nome delas, logo se colocaram à minha disposição e saíram do quarto — Qual problema delas? — perguntei a Margô que estava sorrindo — Clarisse, você precisa entender algumas coisas, senta aqui — caminhei até a cama que ela apontava e me sentei — O que aconteceu Margô?—Pra mim, pra Lydie, pro seu guarda, você é apenas a princesa Clarisse, meiga, decidida, inteligente, mas é apenas a nossa menina, somos amigos, certo?— Claro que somos, Margô— Aqui não é assim, Clarisse — olhei rapidamente para Lydie que apenas ouvia a conversa quieta no canto — Aqui não é Sypro, isso eu já entendi Margô —Clarisse, aqui, você é a futura rainha, prometida ao príncipe, aqui você gera receio, medo, insegurança— As pessoas tem medo de mim aqui?— Um pouco, tem medo do que você pode fazer quando se tornar rainha, quem mandaria embora, quem contrataria — Mas Margô, eu jamais faria isso com alguém —Eu sei disso, Lydie sabe disso, seu guarda também sabe, sabemos como você é doce e amável, mas aqui ninguém lhe conhece, só sabem que será a próxima rainha, entende?— Sim Margô eu entendo — Falei sorrindo e em um pulo me coloquei de pé — significa que preciso ter amigos aqui também— Sim, apenas mostre a doce menina que você é, no final ficará tudo bem.Após a minha conversa com a Margô eu estava decidida a finalmente conquistar as pessoas deste reino, assim como fiz na minha casa, tudo bem, as coisas ali seriam totalmente diferentes, mas ainda assim eu estava disposta a isso, não poderia ser tão dificil assimAssim que sai de meus aposentos o carrapato começou a me seguir exatamente como eu já estava acostumada, mas dessa vez algo estava diferente ele parecia estar muito mais em alerta que o normal.— Carrapato?— Sim Alteza? — Voltei minha atenção para ele parando de andar— Onde meus pais estão? —Não era exatamente o que eu gostaria de perguntar, mas por hora isso iria resolver Sento em minha cama, solto um suspiro pesado e perco alguns segundos olhando para a parede vazia, nem saí e já estou morrendo de saudades de casa, saudade dos meus pais e de todos aqui em Sypro.Sim… Eu entendo que preciso ir, entendo que chegou o momento de começar a MINHA vida, começar a minha família e… de certa forma meu próprio reinado, gerar herdeiros para ambos os reinos.— Clarisse? — A voz da Lydie tomou conta do quarto me tirando daquele breve transe — Vamos?— Lydie, já está tudo pronto? — Perguntei enquanto me levantava— Sim, só falta você Clari — Ela disse da maneira mais doce que conseguiu enquReencontro
Os dois primeiros dias em Sounoe estavam correndo conforme o planejado, não tiveram muitos acontecimentos, me arrisco a dizer que foi bem monótono, passei a maior parte dos dias com a Rainha Kora, vez ou outra encontrava com Sebastian, poucas palavras eram trocadas aparentemente ambos estávamos sem muito tempo disponível.Passávamos mais tempo juntos durante as refeições ou quando por algum motivo éramos convocados para alguma reunião, o que era bem raro, não posso dizer que isso era algo bom, muito menos algo ruim, acho que posso dizer que já esperava por tudo isso, vida de futuro rei não é fácil.E eu, por outro lado, já não aguento mais decidir entre marfim e bege, flor copo de leite ou lírio de calla, jantar form
Se antes a monotonia me incomodava, agora posso dizer que faria de tudo para tê-la outra vez, uma semana se passou desde o primeiro contato com a peste nos reinos vizinhos e não pense que tudo melhorou, pelo contrário as coisas só estavam piorando.Raqsar continua sendo devastado e nada podemos fazer além de orar pela vida daqueles infectados, até onde eu sei os curandeiros trabalham dia e noite em busca de uma resposta, um xarope, uma cura, um alívio se posso dizer assim, até agora não temos registro de nenhum infectado que tenha sobrevivido.Cox por outro lado, está a cada dia nos causando mais repulsa, estão lidando com isso da forma mais grotesca que se pode imaginar, ouvimos dizer tantas coisas horríveis, pessoas sendo jogadas vivas na fogueira, m
— Clarisse, estamos nos aproximando de Cox e acho que deveria ver isso — A voz da Lydie estava embargada, parecia estar segurando o choro— Chame o Sebastian, por gentilezaFalo enquanto saio do quarto, no corredor todos os guardas estavam com a mesma expressão Lydie. Carrapato estava andando atrás de mim, mas não deu uma única palavra, o que de certa forma não é comum.Encontrei com Sebastian no caminho e seguimos em silêncio até a parte mais alta do navio e o que vimos é de partir o coração—Alteza, devo diminuir a velocidade? — Nossa atenção foi atraída para o capit&atil
Depois de liberar os guardas, o palácio parecia estar mais vazio que o normal, fiquei andando com Sebastian, levei-o até o corredor das artes, e sorri ao notar que dois desenhos meus estavam pendurados lá como minha mãe disse que faria.Fomos ao jardim, não tinha nada de surpreendente, pelo menos não pra mim… Mas já que Sebastian estava curioso, não vi motivos para negar, mostrei a ele um dos meus lugares favoritos, um pequeno balanço que estava na posição exata para o jardim de tulipas que meu pai mandou fazer quando eu nasci, as tulipas eram coloridas e parecia estar brilhando com a luz do sol, tornava tudo ainda mais bonito.— Tulipas são as suas favoritas? — Questionou Sebastian atraindo minha atenção&n
Na manhã seguinte, assim que saí da cama a primeira coisa que fiz foi escrever uma carta, ainda me culpava pela falta de sentimentos em relação a Elisa que sempre desejou um contato comigo.Elisa,Sinto estar carregando um peso, tudo foi jogado em meu colo como uma enorme âncora e não sei se sou capaz de lidar com ela sozinha. Carrego também uma culpa por não ser capaz de lhe retribuir todo o amor presente em suas cartas, por isso lhe peço perdão.Gosto que me chamem de Clari, mas poucas pessoas o fazem, eu amo comer bolos e troco qualquer coisa por um de chocolate com cobertura, me deu água na boca, sou apaixonada por flores, qualquer uma delas, mas em especial as tulipas. Cresci tendo a vista d
Os dias que se passaram meus pais e eu voltamos a nos entender, os dias se tornaram leves outra vez, pelo menos quando eu não estava sozinha era assim, meu pai me ensinou tudo que eu precisava saber sobre Raqsar e seu povo, minha mãe sempre com histórias sobre ela e Elisa e um colo quando notava que eu estava prestes a desmoronar.E Sebastian, bem, não mudou muito, na verdade não mudou nada, mas se dedicou em não me deixar sozinha, alias ele tem sido uma ótima sombra, quando acho que estou sozinha ele surge sei lá de onde contando alguma coisa que descobriu ou com algum convite aleatório, isso era divertido e confesso que eu amava. Boa parte das vezes era só para revelar sua surpresa com a beleza das tulipas ou pra me contar que achou outra estátua igual.Último capítulo