KATHERINEEssa era a situação mais bizarra e insana de toda a minha existência.No entanto, eu começava a perceber que ele não parecia querer me machucar, ou seja, quanto mais ele precisava me lamber e farejar para finalmente me dar uma mordida?Ousei abrir uma fresta dos meus olhos; só via pelagem escura à minha frente.Meu coração batia acelerado, e senti o sopro quente e úmido do seu nariz... dentro do meu decote.Fiquei sem palavras. Será que escapei de um pervertido apenas para encontrar outro?Uma ideia absurda passou pela minha mente atordoada: eu precisava sair dessa situação, encontrar Lavinia; se ele ia me devorar, que fizesse logo de uma vez.Minha mão trêmula foi subindo centímetro a centímetro; eu me sentia tão pequena com essa enorme besta pairando sobre mim.Meus dedos se moviam incontrolavelmente, aproximando-se do... do... Onde eu o tocaria?No focinho? Não, não. E se ele abrisse a boca de repente? A lembrança daqueles caninos, da carnificina, ainda estava muito fresc
KATHERINEA terra retumbava sob seus passos, as copas escuras das árvores pareciam tão próximas.Olhei para cima, para suas feições bestiais.Ele farejava o ar e mudava de rota.Suas orelhas peludas se moviam, captando cada sussurro da noite.Tão poderoso... É incrível pensar que Elliot é essa criatura.Um grito agudo ecoou pela floresta, me causando arrepios por todo o corpo.— É Lavinia, é nossa filha! — gritei com o coração na boca, me retorcendo desesperadamente para olhar à frente, onde as árvores se abriam, revelando uma cena que gelou meu sangue nas veias.Havia uma ponte suspensa, rústica, feita de cipós e madeira, ligando dois extremos distantes, e no meio, uma depressão profunda.Abaixo, as águas verdes do pântano pareciam quietas, mas sombras escuras nadavam suavemente, rente à superfície.Estava infestado de jacarés e, agora, sobre aquela ponte instável, aquela maldit4 bruxa segurava minha filha pelo braço, empurrando-a para avançar até esta margem.Um rugido ensurdecedor
KATHERINE— Venha, aproxime-se com Alexia, mas deixe esse monstro para trás ou não tem acordo!Olhei para Elliot; ele não parecia ter a intenção de me deixar ir.— Preciso fazer isso. Não se preocupe, eu consigo, eu posso — tentei acalmá-lo.Ele não estava nem um pouco satisfeito, movia-se inquieto, rosnando baixinho.— Além disso, você não pode subir na ponte, pesa muito; ela não aguentaria — apontei outro motivo lógico.Eu não sabia exatamente como funcionava essa transformação.No fim, depois de muita insistência, coloquei meus pés naquela ponte cambaleante.Era estreita; eu segurava aquela mulher contra o peito.Ela tentava se soltar o tempo todo, mas não deixaria, pois a vida de minha Lavinia dependia disso.— Já chega de resistência. Se colaborar, tudo isso acabará logo — balancei-a um pouco, apertando seus braços amarrados, suportando seu fedor misturado com os gases do pântano, que subiam como cheiro de ovos podres.Dava passos arrastados; quase escorregou por entre uma das tá
KATHERINEEm questão de segundos, ele nos envolveu com os braços, apertando-nos contra seu amplo peito protetoramente.— Kath, não podemos perder tempo. Eles vão cortar a ponte. Lavinia vai ficar bem, confie em mim, amor, confie. Não tenha medo desse lycan; ele é meu lobo e te ama com todo o seu ser, nós dois amamos — ele fez essa confissão tão séria e apressada, acariciando minha bochecha molhada.A ponte ainda vibrava; parecia que aquelas desgraçadas não tinham chegado ao outro lado.Não havia tempo para romantismo, agora era hora de sobrevivência.Assenti, confiando nossas vidas a ele. Fiz tudo o que me disse. Eu já não tinha medo da besta por trás do homem.— Não importa se você me estrangular, não solte minhas costas por nada nesse mundo! — ele rugiu, sua voz já estava mudando.— Sim, sim! Segure bem a Lavinia, por favor! — supliquei, subindo em seus músculos, minhas pernas enroladas em sua cintura e minhas mãos quase o estrangulando pelo pescoço.Sentia a estranha transformação
KATHERINELevantei bem a cabeça, olhando para todos os lados com curiosidade.O caminho de pedra mal podia ser visto sob o manto de folhas mortas que cobriam todo o chão.A velha mansão mais parecia uma casa decadente, com as altas estátuas nos telhados manchadas de preto e cobertas de excrementos de aves.Imagino que, ao morrer meu “querido” pai, Rossella nunca mais tenha pisado aqui.— Elliot, já pode me soltar — pedi com uma voz suave.Meus dedos coçavam para acariciar a orelha peluda e engraçada que se movia diante dos meus olhos, mas ainda tinha algumas reservas com essa impressionante transformação.Com um rosnado baixo, ele avançou um pouco mais pelo jardim da frente, os canteiros estavam repletos de ervas daninhas que me cobriam, com mosquitos zumbindo pela vegetação.O coaxar das rãs na água verde e estagnada de uma fonte próxima podia ser ouvido claramente.Elliot se agachou, e assim estendi meus pés até tocar os degraus da escadaria principal.— Sshh — sibilei um pouco, man
DUQUE THESIO— Senhor, vi tudo das sombras, por sorte não tinha me adentrado no acampamento. Eles chegaram como uma praga e acabaram com nossa gente! O Duque de Everhart estava na dianteira...Eu ouvia o relatório do meu soldado, andando de um lado para o outro como uma besta enjaulada pelo escritório.Ele nem teve tempo de avisar Arthur sobre a retirada.A verdade é que, no fundo, estou feliz que o tenham assassinado e não o tenham feito refém ou testemunha.Agora ele pode perfeitamente ser meu bode expiatório.Negarei tudo, é melhor parecer um Duque incompetente do que estar envolvido com feitiçaria e os planos para foder com Elliot.— Maldição! — BAM!Chutei a cadeira com raiva.Tanto dinheiro investido em matéria-prima e subornos, o que roubei de Elliot mal compensava, tudo foi parar nos estômagos dos meus soldados.Temia que os homens do Regente me visitassem a qualquer momento.Toc, toc, toc.Congelei ao ouvir as batidas na porta.— Cala a boca — fiz um sinal para o soldado e in
DUQUE THESIODe volta ao primeiro andar, caminhei em direção ao salão.Empurrei a porta e a encontrei de pé, observando o jardim pela janela.Meus olhos desviaram para o vestido justo que ela usava, ousado como tudo nela.As curvas sensuais de seus quadris e seu traseiro me faziam imaginar tantas loucuras prazerosas sob os lençóis da minha cama.— Querida, demorei muito? — fechei a porta e me aproximei com passos firmes.Ela se virou e me deu um sorriso provocante.— Não, Vossa Excelência, foi pouco tempo.Peguei-a pelos ombros e me inclinei para beijar suas bochechas.Como sempre, pressionei meus lábios bem perto dos cantos da sua boca, quase no limite de beijar aqueles lábios suculentos.Brenda sempre virava o rosto; hoje me deixou sair com a minha.— Foram gentis com você? A que devo sua visita repentina? Venha, sente-se...— Não, espera, Thesio — segurou minha mão, sem querer sentar.— Não sou uma mulher de rodeios. Estou aqui hoje para dar uma resposta à sua proposta, que espero
KATHERINE— Pronto — clap, clap, clap.Sacudi minhas mãos, observando meu bom trabalho.Não ficou impecável, mas estava bastante habitável e decente.Olhei para o corredor, para o bom rapaz que esperava como um aluno diante de sua professora.— Venha, traga a menina, querido — pedi, e o vi se erguer sobre suas poderosas patas traseiras, carregando a pequena com cuidado.Agora que a adrenalina estava diminuindo, as palavras dele no meio da ponte voltaram à minha cabeça.Enquanto o via entrar com certa dificuldade pelo estreito batente e o ajudava, minhas mãos tocaram suavemente seus poderosos antebraços.Elliot disse que essa criatura me ama, como ele... Será que são seres independentes? Não é a mesma coisa? E ele me ama?Assim, sem mais nem menos, tão rápido? Amor para mim é uma palavra muito séria.Nossos olhares se cruzaram, e por uma razão tola, comecei a ficar nervosa.Meu coração falhou uma batida.— Hum — tossi falsamente. — Vamos colocá-la na cama, encontrei alguns lençóis no a