NARRADORAAldo nunca imaginou que viveria para ver algo tão extraordinário.A imensa parede de gelo e pedras, que impediu sua fuga e a de Tomas, não era nenhum obstáculo para um lycan.Ele olhou para cima, vendo-o escalar apenas com força bruta.As garras das patas se cravavam, perfurando o gelo, impulsionando-o para cima com facilidade sobre-humana.Em suas costas, amarrado firmemente, levava um saco feito com restos de roupas dos cadáveres deixados na batalha anterior, sujas de sangue e lama.Dentro do saco, desmaiada, ia a valiosa filha da governanta.Ela não resistiu à dor agonizante dos “ajustes” que o trabalhador fez para garantir que ela não os delatasse.Aldo observou enquanto o lycan saltava do topo e se lançava no vazio, atravessando metros mortais até o outro lado, desaparecendo de sua vista.Quanta força.Esperava que ele conseguisse salvar sua fêmea, pois se essa poderosa criatura perdesse sua companheira de forma violenta, o caos se instauraria no reino.*****KATHERINE
NARRADORA— S... senhora? — a criada ousou dar um passo à frente, empurrando suavemente a madeira.— Sinto muito se está dormindo, é algo urgente, não sabemos se a Duque... ¡Aahhh!Ela gritou, levando as mãos à boca ao ver a ama Freya estirada no tapete, com uma poça de sangue ao redor de sua cabeça.O instinto a fez avançar em vez de ficar congelada ou fugir.— Senhora Freya! — ajoelhou-se ao lado do corpo inerte.Laura havia sido voluntária no centro de tratamentos, sabia o básico.Estendeu os dedos trêmulos, seus lábios também tremiam. Tudo nela se movia incontrolavelmente!— Que esteja viva, pelo amor de Deus, por favor, Sra. Freya — as pontas dos dedos frios tocaram o pulso no lado do pescoço.Depois de alguns segundos, Laura fechou os olhos, e lágrimas escorreram dos cantos.— O QUE VOCÊ FEZ COM FREYA?! — o rugido da Duquesa a fez reagir.Laura abriu os olhos de repente, vendo a expressão distorcida da mulher, cheia de ira e assombro.— Eu não fiz nada, não fiz nada, eu juro, so
NARRADORAO impacto foi brutal; o ar escapou dos pulmões da mulher com um suspiro sufocado enquanto sua cabeça batia contra a pedra.A dor foi imediata e cegante.Katherine sentiu que o mundo girava ao seu redor antes de desmoronar, sem forças, sobre o tapete macio.Sua visão escurecia e, do chão, mal conseguiu distinguir Francis se afastando, uma sombra que desaparecia pela porta.*****Enquanto isso, Francis corria como um condenado pelo corredor, desviando de algumas criadas que revisavam os quartos, adentrando uma área abandonada.O “tesouro” que roubou estava em suas mãos, e ele seguia direto para a ala dos falecidos Duques, onde quase ninguém procurava e onde estava seu bilhete de saída daquela prisão.*****KATHERINE— Senhora! — no meio da minha névoa, ouvi um grito feminino me chamando e senti mãos tentando me erguer.Meus olhos, ainda um pouco turvos, conseguiram se concentrar por um segundo.Era uma criada e dois valetes que me ajudavam; parece que tinham me ouvido gritar.
KATHERINEEu suava e suava; meus dentes batiam dentro da boca de maneira incontrolável, os segundos pareciam se transformar em horas.Eu ouvia o rangido das roldanas passando pelas rodas, o atrito do metal contra as pedras e a madeira estremecendo.Foi só um instante, mas para mim pareceu uma eternidade.Quando cheguei ao fim do destino, o monta-pratos, ou o que quer que fosse essa caixa instalada, parou.Fiquei quieta, em silêncio, ouvindo apenas minha própria respiração acelerada, ofegante, e os batimentos do meu coração martelando contra o peito.Abri um pouco os olhos e senti os cílios úmidos; estendi a mão para acionar a alavanca.Atrás dessas paredes metálicas, talvez encontrasse minha morte; eu não sabia, mas já não havia volta.Com um rangido, começaram a se abrir novamente.Eu me afundei ainda mais no fundo, lutando para me livrar dos meus fantasmas, me preparando para lutar, mas nada disso foi necessário.Lá fora estava meio escuro, parecia um subsolo; eu não sabia, o ar não
KATHERINEFiquei por um segundo estirada sobre a terra, recuperando o fôlego, olhando para as copas distantes das árvores, enchendo meus pulmões com oxigênio fresco.Tossi um pouco baixinho e me ergui, sentando-me.Ao meu lado, o poço de pedra por onde havia saído.Ao longe, a silhueta do castelo se desenhava vagamente contra o céu poente, os últimos raios alaranjados do sol.Parecia ser uma saída secreta da morada do Duque.Levantei-me sem perder mais tempo; cada segundo contava.Limpei rapidamente a sujeira das palmas das mãos e examinei aquele selo vermelho, concentrada; o sinal não tinha desaparecido e me guiava para uma direção nessa intrincada floresta.Rasguei a saia do vestido com raiva, arrancando várias camadas; precisava de mais agilidade, quase tropecei várias vezes e estava pesado demais.Com os botins mais livres, comecei a correr em direção ao lugar onde a linha vermelha se desenhava.*****Agachada atrás dos arbustos, levei a mão ao peito para recuperar o fôlego.Olhav
KATHERINE— Amor, cuidado! — Segurei-a nos braços, amortecendo o impacto.Ela arfava pela boca, completamente encostada em mim; podia sentir seu coraçãozinho disparado.— Filha, só mais um pouco, meu amor, já estamos perto. Não podemos parar — olhei nervosa para o caminho à frente; não conseguia enxergar com clareza, mas sabia que os monstros estavam lá fora.Me agachei diante de Lavinia, que mal conseguia falar, tentando recuperar o fôlego.— Ma… mãe, estou muito can-sa-da... mamãe... tenho... medo — ela se jogou nos meus braços, chorando de novo.Tudo o que pude fazer foi acariciar sua cabecinha e suas costas; minha alma doía ao ver os hematomas em seu rosto. Aqueles porcos filhos da puta não tiveram piedade nem de uma criança.— Meu amor, eu sei que está cansada, mas não posso te carregar, querida, você pesa muito. Nunca conseguiríamos escapar — limpei suas lágrimas com os dedos e beijei suavemente sua testa suja.Estávamos um desastre.— Só mais um pouco, minha princesa, prometo q
KATHERINE— Não, não, deixem minha filha, deixem ela! Façam o que quiserem comigo, eu serei sua refém, eu!Me ofereci, mas aquela velha bruxa obedeceu seu filho e foi atrás de Lavinia.— Me solta, me solta! Aaahhh, maldito psicopata! — rugi quando minha boca foi mordida.Senti seus dentes rasgando meu lábio inferior até fazer sangrar, e depois ele se afastou saboreando o gosto.Ele me tinha presa contra a árvore, completamente controlada; eu não conseguia escapar.— Então você está disposta a tudo, Duquesinha. E se eu te oferecer um acordo? Se você se comportar direitinho, talvez eu deixe sua filhinha ir embora — de repente, em meio à minha resistência, ele disse essas palavras que me fizeram parar para encará-lo.Eu sabia que ele estava jogando comigo; entendia muito bem o que ele pediria a seguir.Já tinha passado por essa situação tantas vezes.Por um prato de comida em dias, por um gole de água suja, por algo que me desse calor para não morrer congelada na minha cela... quantas ve
KATHERINEO grito ficou preso na minha garganta.Apenas vi um borrão, seus passos retumbaram contra a terra, saiu da floresta profunda, com suas enormes garras estendidas em direção às costas de Francis.Seu rugido rasgou a noite; o mundo inteiro pareceu estremecer.O homem que me acossava mal teve tempo de reagir.O grito de agonia ecoou quando aquela mão coberta de uma densa pelagem se agarrou ao seu pescoço, segurando-o como se fosse uma boneca de trapo.Ele o afastou de mim, levantando-o sobre a cabeça.Parecia um gigante diante dos meus olhos; seus olhos eram vermelhos, impiedosos, como dois rubis frios.O estrondo me fez estremecer, me jogando contra o tronco da árvore, onde me agarrei aos joelhos, pressionando-os contra o peito como proteção.Tremia, meus dentes batiam, e eu só via vermelho enquanto a chuva de sangue caía das alturas.Ele despedaçou o corpo de Francis com suas garras; suas presas abertas não paravam de rugir, cheias de ódio visceral.Os órgãos voaram, manchando