NARRADORA— Francis! — a governanta exclamou, interrompendo a conversa com o jardineiro.O jovem desmontou de um salto, com o rosto transtornado e os cabelos desarrumados pelo vento.— Vem comigo — disse ele, quase em um sussurro, enquanto o puxava pelo braço e o arrastava para dentro do castelo.Uma vez em seu quarto no primeiro andar, fechou a porta com força e passou o ferrolho.— Fale, Francis. O que aconteceu?Seu filho começou a andar em círculos, passando a mão repetidamente pelos cabelos, o nervosismo evidente.— O Duque sabe que estão roubando nas fronteiras do sul. Descobriu o desvio de mercadorias e... e... acho que também sabe sobre as pragas. Não sei quão detalhada é a informação, mas ele descobriu alguma coisa.— Como ele descobriu? Seja mais específico! — ela exigiu, segurando-o pelos ombros para interromper sua marcha frenética.— Não sei direito, porra! — Francis afastou as mãos dela com um tapa. — Tudo aconteceu tão rápido.— Fale baixo! — ela o repreendeu, aproximan
NARRADORADesde que Freya entrou no quarto da governanta, sentiu um leve arrependimento, mas já era tarde demais.— Sente-se, sente-se aqui — a Sra. Prescott a convidou educadamente a se sentar na poltrona próxima à lareira, casualmente de costas para o banheiro.— Diga-me, em que posso ajudá-la? — ficou de pé diante da anciã, apertando uma mão contra a outra para disfarçar seu nervosismo.— Bem, a senhora entregou o livro de contabilidade, e a Duquesa me pediu para revisá-lo...— Você? Mas é apenas uma ama, o que saberia sobre contabilidade? Digo... — a governanta percebeu sua grosseria.Agora que a via com o volumoso livro nas mãos trêmulas, lembrou-se de outro pequeno detalhe que também poderia incriminá-la.— Sim, sou ama, mas também fui administradora de um lar por décadas, não tão grande como este castelo, mas há coisas básicas muito óbvias — o tom de Freya foi adquirindo firmeza.Essa era a razão pela qual deveria ter esperado Katherine, mas estava insultada pela forma como aqu
NARRADORANO ACAMPAMENTO DO DUQUE THESIO...— Conseguiram arrancar alguma coisa daquele espião? — Thesio perguntou ao mensageiro que retornava a cavalo.Ele estava instalado em um acampamento improvisado, um pouco afastado do acampamento principal sob o controle de seu general.— Não, senhor, nem mesmo sob tortura ele revelou algo útil — informou o homem.Thesio franziu o cenho, sentado sobre o tronco caído de uma árvore.Ele gostaria de intimidar aquele homem pessoalmente, mas não era conveniente estar em um local tão comprometedor.Conhecia Elliot; aquele homem se agarraria a qualquer coisa para incriminá-lo e, agora com aquela caixa em seu poder, Thesio temia o pior.Em um caso extremo, poderia encontrar um bode expiatório, dizer que Arthur foi o mentor de tudo, que agiu sem seu conhecimento. Por isso, não lhe convinha aparecer.— Volte e diga a Arthur para eliminá-lo, desmontar todas as evidências, recolher o acampamento sem deixar vestígios — decidiu imediatamente.Já bastava de
NARRADORA— Agggh... sol... ta... me... maldi... to! — Arthur lutava como um tigre encurralado.Seu torso se contorcia, tentando se virar para se livrar da praga que havia pulado em suas costas.As mãos de Álvaro tremiam cada vez mais à medida que apertava a corda entre os pulsos.As veias estavam dilatadas, saltando sob a pele, e as feridas escorriam sangue.Ele cerrou os dentes, vendo apenas escuridão, prestes a perder a consciência, mas a sede de vingança mantinha sua ira pulsando.Porém, não foi suficiente.Ele afrouxou apenas por um segundo, só um, e seu corpo girou, caindo de lado na terra dura.Bateu a cabeça, soltando um gemido de dor, com a garganta arranhada e latejante.Ao longe, os rugidos da batalha; perto, a tosse sufocada de seu inimigo.Álvaro tentou se levantar, mas desta vez seu corpo não respondeu. O pico de adrenalina estava se esgotando.— Maldito desgraçado, agora você vai ver se não acabo com você! — ouviu o grito furioso e o peso sobre sua cintura.Álvaro não p
NARRADORAEle ergueu a cabeça e rugiu para os céus, um som gutural vindo do fundo da garganta que espantou os pássaros, fazendo-os fugir em bandos diante do predador supremo que estava prestes a emergir.Alexia viu tudo, e um líquido amarelo e turvo escorreu por entre suas pernas; o cheiro acre, de medo e morte, impregnava o ar.Mesmo assim, viu sua última chance de escapar, enquanto Elliot lidava com todas aquelas sensações estranhas que já não reprimia, deixando-as fluir como uma represa completamente aberta.Ela se levantou com a urina escorrendo pelas coxas e começou a correr aos tropeços, afastando-se cada vez mais da fera.Elliot caiu no chão, apoiado sobre as mãos e joelhos; as unhas negras, até mesmo as dos pés, se alongavam, rasgando as botas, duras como lâminas afiadas.A mandíbula se remodelava, prestes a se expandir em um feroz focinho; sua pele ardia como se estivesse em carne viva, e os folículos se dilatavam para dar espaço à pelagem.A transformação parecia iminente.—
NARRADORAAldo nunca imaginou que viveria para ver algo tão extraordinário.A imensa parede de gelo e pedras, que impediu sua fuga e a de Tomas, não era nenhum obstáculo para um lycan.Ele olhou para cima, vendo-o escalar apenas com força bruta.As garras das patas se cravavam, perfurando o gelo, impulsionando-o para cima com facilidade sobre-humana.Em suas costas, amarrado firmemente, levava um saco feito com restos de roupas dos cadáveres deixados na batalha anterior, sujas de sangue e lama.Dentro do saco, desmaiada, ia a valiosa filha da governanta.Ela não resistiu à dor agonizante dos “ajustes” que o trabalhador fez para garantir que ela não os delatasse.Aldo observou enquanto o lycan saltava do topo e se lançava no vazio, atravessando metros mortais até o outro lado, desaparecendo de sua vista.Quanta força.Esperava que ele conseguisse salvar sua fêmea, pois se essa poderosa criatura perdesse sua companheira de forma violenta, o caos se instauraria no reino.*****KATHERINE
NARRADORA— S... senhora? — a criada ousou dar um passo à frente, empurrando suavemente a madeira.— Sinto muito se está dormindo, é algo urgente, não sabemos se a Duque... ¡Aahhh!Ela gritou, levando as mãos à boca ao ver a ama Freya estirada no tapete, com uma poça de sangue ao redor de sua cabeça.O instinto a fez avançar em vez de ficar congelada ou fugir.— Senhora Freya! — ajoelhou-se ao lado do corpo inerte.Laura havia sido voluntária no centro de tratamentos, sabia o básico.Estendeu os dedos trêmulos, seus lábios também tremiam. Tudo nela se movia incontrolavelmente!— Que esteja viva, pelo amor de Deus, por favor, Sra. Freya — as pontas dos dedos frios tocaram o pulso no lado do pescoço.Depois de alguns segundos, Laura fechou os olhos, e lágrimas escorreram dos cantos.— O QUE VOCÊ FEZ COM FREYA?! — o rugido da Duquesa a fez reagir.Laura abriu os olhos de repente, vendo a expressão distorcida da mulher, cheia de ira e assombro.— Eu não fiz nada, não fiz nada, eu juro, so
NARRADORAO impacto foi brutal; o ar escapou dos pulmões da mulher com um suspiro sufocado enquanto sua cabeça batia contra a pedra.A dor foi imediata e cegante.Katherine sentiu que o mundo girava ao seu redor antes de desmoronar, sem forças, sobre o tapete macio.Sua visão escurecia e, do chão, mal conseguiu distinguir Francis se afastando, uma sombra que desaparecia pela porta.*****Enquanto isso, Francis corria como um condenado pelo corredor, desviando de algumas criadas que revisavam os quartos, adentrando uma área abandonada.O “tesouro” que roubou estava em suas mãos, e ele seguia direto para a ala dos falecidos Duques, onde quase ninguém procurava e onde estava seu bilhete de saída daquela prisão.*****KATHERINE— Senhora! — no meio da minha névoa, ouvi um grito feminino me chamando e senti mãos tentando me erguer.Meus olhos, ainda um pouco turvos, conseguiram se concentrar por um segundo.Era uma criada e dois valetes que me ajudavam; parece que tinham me ouvido gritar.