SIGRIDA estreita cama de ferro preto, as paredes de madeira, o teto com vigas um tanto negligenciadas, a velha poltrona ao lado da janela e alguns baús de madeira em um canto.Tudo parece desgastado, quebrado, mas não sujo nem desagradável.—Lembrei da cabana dos meus pais. Ontem à noite, eu te trouxe aqui… é um lugar ao qual sempre desejei voltar —ele confessou, e meu coração se encheu de ternura.Ele não disse claramente, mas acho que seus pais morreram, talvez tentando salvá-lo quando o levaram ou por não suportar a dor de perdê-lo, não sei, e não quero reabrir essas feridas nele.—E você passou a noite limpando? Se estava abandonada, de onde você tirou os lençóis? —perguntei, franzindo o cenho ao notar o óbvio.—Bem… não havia ninguém. Eu… não percebi, só precisava descansar com você, eu estava um pouco atormentado —ele se senta, olhando ao redor.—Silas, como pode achar que algo ficaria intacto por tanto tempo? Ai, Deusa… dá para ver claramente que alguém mora aqui! —disse enqua
SIGRIDDepois de várias rodadas de confrontos, finalmente as coisas ficaram mais ou menos esclarecidas.Silas e eu inventamos que éramos um casal; ninguém mencionou minha verdadeira origem, e eu não falei que era uma feiticeira.Com sorte, não me reconheceriam, e os elementais não conseguiam sentir o poder de seres sobrenaturais com tanta facilidade, por isso muitas vezes eram enganados.Acontece que a senhora era a curandeira da vila, outra elemental, mas que conhecia ervas medicinais, ajudava em partos e tinha algum conhecimento de medicina.Como essa cabana estava vazia há tantos anos, deram-na para ela morar, já que preferia a tranquilidade, ficar mais afastada e próxima da floresta.—Meu pai… ele deveria ser o dono desta casa —disse Silas, de pé atrás de mim.Nós duas estávamos sentadas à mesa quadrada de madeira que servia de sala de jantar.—Você é o menino que foi roubado daqui, não é? —ela perguntou, um pouco mais calma.Silas assentiu com um murmúrio rouco.—Seu pai… depois
NARRADOREle rugiu para eles com os caninos expostos, as pupilas vermelhas se estreitando, a aura intimidadora de um vampiro poderoso.O comando do novo líder fez os guerreiros saírem do transe e obedecerem.BAM!As portas se abriram de par em par e ele entrou com passos firmes, liberando todo o seu poder superior, esmagando qualquer ideia de rebelião.Sua mãe o encarava ao fundo do salão, de olhos vermelhos e arregalados, parada diante das mesas dos líderes.Ela levou a mão à boca, chorando, ao ver a cabeça decapitada do marido.Ela entendeu naquele instante — a dor lacerante de perder seu companheiro — mas não conseguia compreender como aquilo era possível, já que ele havia acabado de sair para falar com o filho.Agora tudo fazia sentido, e seu coração tremia, consumido pelo luto e pela traição.Alessandre sequer olhou para ela enquanto avançava pelas escadas.Virou-se para a multidão que jantava no banquete, mesas longas cheias de iguarias e escravos elementais, belos e servindo ta
NARRADORA —Este é o vilarejo dos elementais onde você nasceu? —Sigrid segurava o chapéu de palha de aba larga para que o vento não o levasse.Eles haviam saído após o almoço com Silas para recolher capim fresco para os coelhos.Seus passos os levaram até o topo de uma colina coberta de margaridas, de onde era possível ver, lá embaixo, as casinhas de madeira e pedra.O som das carroças rodando, o cacarejar das galinhas e as risadas das crianças brincando no campo ecoavam ao longe.—Sim, está exatamente como eu me lembrava. Nunca esqueci este lugar, ao contrário de tantas outras coisas —respondeu Silas, olhando com nostalgia para o vale onde havia nascido.Eram suas melhores lembranças, mesmo durante as noites mais escuras e as piores torturas.—Você já esteve aqui antes? —ele perguntou a Sigrid.Sua mão segurava delicadamente a dela, o feixe de ervas preso em um saco às costas e a foice na outra mão.—Sim, foi aqui que escondi o bebê, lembra? O bebê que salvei quando te conheci, o fil
NARRADORASilas ficou rígido.A verdade é que ele não gostava muito de contato físico, a não ser que fosse com Sigrid, mas suportou isso estoicamente, sem ser rude.Apesar dos momentos desconfortáveis, naquela tarde, Silas recuperou um pedacinho de sua família. No entanto, no fundo, sua verdadeira família era apenas a mulher ao seu lado.Todo o amor que restava em seu coração era para ela.O resto havia murchado.Aproveitando um instante a sós, enquanto sua tia arrastava Sigrid para a cozinha para ajudá-la com o lanche da tarde, Silas se aproximou do bebê no berço.Os tatuagens escuras já não se limitavam apenas ao rostinho da criança, mas agora avançavam, consumindo pouco a pouco seu pequeno corpo.Silas estendeu dois dedos, pousando-os na testinha do bebê.Imediatamente, a energia sombria começou a ferver, lutando para não ser expulsa.O bebê começou a chorar de dor.Aquela energia maligna resistia, mas o poder de Silas a forçava a obedecer um novo mestre.Sigrid, percebendo as inte
NARRADORASigrid estava extremamente tensa, não pela luta de vida ou morte que estava por vir, mas sim preocupada com os sentimentos e os impulsos assassinos de Silas.Lucrecia não podia descobrir o verdadeiro poder deles.O próprio Silas e sua condição de Selenia eram as maiores vantagens secretas que possuíam.O prelúdio da festa acontecia nos imensos jardins e salões abertos para o exterior, repletos de lanternas e luzes suaves, onde os convidados brindavam, conversavam e trocavam olhares sugestivos.Todos mascarados.Alguns ocultavam muito mais do que apenas o rosto.Estavam ali por um objetivo — e, ao aceitarem o convite, sabiam que a noite prometia orgias e sexo desenfreado.Aquilo era apenas o aquecimento. As verdadeiras festas aconteceriam mais tarde, nos andares subterrâneos da mansão.Ou talvez Lucrecia tivesse preparado algo ainda mais ousado e excitante.—Precisamos encontrar um jeito de fazê-la nos convidar para jogar em particular. Essa será a melhor chance de separá-la
NARRADORALucrecia procurava por todo lado, buscando pistas, insinuando-se de forma sedutora em cada canto.Já havia se deparado com casais, trios, quartetos e até quintetos espalhados pelo gramado, contra as sebes do labirinto, sobre os bancos de pedra.Dentro dessa enorme estrutura verde, pequenos pátios, fontes e recantos discretos eram estrategicamente projetados para o prazer.Ela adorava se perder naquele emaranhado de folhas, mas, naquela noite, nada parecia ser o bastante.Aqueles olhos... Ela não conseguia tirar da mente aqueles olhos negros.O escravo havia levantado a cabeça por um segundo, só um segundo, mas aquele olhar tão letal...Deusa, era tão parecido com o olhar do seu Gray.Havia algo de estranho nele, algo que ela não conseguia decifrar, mas precisava vê-lo novamente.De onde aquela puritana da Electra havia conseguido um exemplar como aquele?E parecia tão bem domesticado...Electra… aquela vadia a estava preocupando. Poderosa demais para o seu gosto.Nem mesmo M
NARRADORASigrid sentiu um movimento atrás dela e levou a mão sutilmente para trás, apertando a roupa de Silas.A mensagem era clara: "calma, eu posso lidar com isso".— Mas eu acho que havia mais eventos. Os outros vão ficar muito decepcionados — Sigrid respondeu com neutralidade.— Que se fodam. Venham, venham comigo, vamos para o meu santuário — Lucrecia os convidou, bem entusiasmada.Ela já ia estender as garras para agarrar Silas pelo braço, mas Alessandre foi mais rápido e segurou-a pela cintura, afastando-a.— Me conta, o que você estava fazendo para provocar tanto os meus pais? Já estou farto de nunca ser levado em consideração — o vampiro começou com sua conversa superficial, ajudando também Sigrid.Era mais que óbvia a luxúria nos olhos de Lucrecia ao encarar Silas, uma obsessão que ia além de qualquer disfarce perfeito.Através dos corredores escuros, com a brisa noturna fazendo as folhas sussurrarem, os gemidos abafados em cada canto e as risadinhas femininas, Lucrecia os