Em um piscar de olhos, a moça jazia na casa de Manú, sentada na cadeira antiga e relembrando quantas vezes sentou-se nesse mesmo lugar atenta, estudando a manipulação das ervas na companhia da avó. Voltou ao seu quarto antes de regressar. Estava da mesma forma como o deixara pela última vez. A lembrança do aconchego de adormecer após as histórias que a mãe lhe contava, trouxe lágrimas aos seus olhos. Não sabia quanto tempo se passou. Ao longe, ouviu a voz de Alair, que evocava seu nome e pedia para abrir os olhos. — Por que me acordou? Estava tão bom, Alair! Vi minha mãe e a nossa vaquinha de estimação também… Ela ainda vive, acredita? Foi tão bom, não escutei mamãe, mas ela gesticulou uma frase com os lábios. Acho que entendi o processo.— Isso é ótimo, quer dizer, que captou como é esse trabalho, mas você projetou o passado. E precisamos do presente, o aqui e agora, ok. E já peço desculpas, Sarati, mas precisamos empregar esse dom para ir a outro lugar.— Então, me saí bem mesmo?
— Alair, relembro as fotos lindas desse lugar, mas não consigo imaginar que é aqui, nessa mesma praça que a estrela brilhava.— É difícil acreditar. Os livros nos mostraram apenas a beleza, mas agora estamos diante da escuridão. Sarati, escuto barulho de pessoas chegando. Os dois olharam para o local, de onde caminhavam pessoas. Foi nesse momento que eles o viram, pela primeira vez. O temível Comandante Maior. Alair apertou forte a mão de Sarati, oferecendo-lhe segurança.— Lembre-se que ele não poderá nos ver. Vibre na luz da estrela e não na das trevas.— É quem estou pensando, Alair?— Acho que sim, também nunca o vi. Ele está vindo em nossa direção. Vamos focar a energia da estrela e tentar ouvi-lo.— Soldado, você voltou da viagem e não encontrou o corpo da esposa de Julião?— Não, senhor, localizamos apenas sangue e restos de roupa no chão. Com certeza, o trabalho foi tão benfeito que sobrou apenas a carcaça para os abutres comerem. — Mandei-o também para essa missão, pois qua
— Sem tempo para a digestão — ela perguntou sorrindo.— Sem tempo, pelo menos por hoje.Ela se colocou na posição, de frente a Alair, e eles refizeram o processo, dessa vez, imaginaram a caverna, e se viram na biblioteca, onde Padiah estudava um dos livros de forma bem concentrada.— Pai — chamou Alair.Padiah levantou-se sorridente. Sentia falta do filho. Ficou de frente para os dois guardiões.— Quanta saudade! Como vão? Sarati, pelo visto, aprendeu rápido o exercício de deslocamento. Que maravilha! E você, meu filho, parece ótimo! Fico satisfeito.— Pai, estamos com saudades, entretanto não podemos demorar. Antes de vir nos encontrar como senhor, fomos até a Cidade Central. Estamos exaustos, mas precisamos de seu auxílio para que nos esclareça algumas questões.— Como está a Cidade Central? Há alguma movimentação de soldados?— Não percebemos nenhuma aglomeração. A cidade está na mesma, como o senhor, sempre descreveu: um caos. O que nos deu mais medo foi quando nos deparamos com o
— Rainha, o que existe no palácio? Isso pode nos preocupar? — perguntou Padiah. — Precisamos de uma resposta. Nossos meninos estão exaustos. Já aprenderam a fazer o deslocamento, mas já foram a dois lugares hoje. Precisam descansar.— Sim, claro, meu amigo, temos que deixar esses jovens descansarem. Vou ser breve. No palácio, na parede de um dos porões, camuflei um pedaço da pedra estelar, antes que fosse destruída de vez. Tenho certeza de que ela sentiu a presença de vocês por lá. No momento certo, ela principiará o processo de limpeza espiritual e energética da Cidade Central. Você lembra-se da caixa de madeira na qual, ao invés da estrela, encontrou apenas um manuscrito, Padiah.— Ah! Finalmente desvendo o mistério do conteúdo da caixa que estava vazia! — exclamou Padiah, perdendo-se nas lembranças da caixa estelar. — Alair, Sarati, sei que estão exaustos com a atividade mental. Precisam ir. Aqui os homens permanecem em treinamento. Logo que desvendarem como abrir a passagem, estar
Com esforço, e a vontade de viver, a moça deixou o medo de lado, deu um passo para trás e se virou para agarrar a mão de Alair. Ele puxou-a com destreza pelo cotovelo e a abraçou pela cintura, e com a força dos braços do homem que amava, deram um único passo para trás. Alair virou-a para si e a abraçou ternamente. Seus braços tremiam pela emoção e o medo que sentiu. Em seu ouvido, perguntou: — O que aconteceu, Sarati? O que pensava em fazer? Meu coração está acelerado. Pensei o pior, que fosse perdê-la.— Como assim?Sarati estava em choque, não compreendia o que ocorrera na beira daquele penhasco. Ela mirou os olhos de Alair ainda confusa. Os seus rostos aproximaram-se. Ela tentou emitir qualquer palavra, que explicasse o que acontecera, mas nada saía. A jovem notou que, com ternura, Alair acariciava seu rosto. Sarati fechou os olhos com o toque suave em sua pele, isso era tudo que ansiara desde que o conheceu. Ela então sentiu o hálito doce e fresco de Alair aproximando-se da sua bo
— O senhor falou comigo, senhor Julião?— Não, Liá, estou apenas pensando alto. Quero pão, ovos e chá, também. — Prepararei para o senhor. Quer esperar para comer junto com o bolo, ou não.— Não, vou comer o bolo e depois o salgado, com o chá.— Sim, senhor.Dona Liá trabalhou, em um passado já distante, no palácio como ajudante da rainha, mas era também uma guardiã, e possuía alguns dons, inclusive o de perceber a estrela a qualquer momento. Recusou-se a deixar a Cidade Central na grande fuga. Permaneceu ali e vendia mantimentos para os soldados e para os que, assim como ela, negaram-se a deixar a cidade. Fizera um combinado com a rainha, e Padiah, que ficaria para passar qualquer informação importante e protegê-los das maldades do Comandante Maior.Eles mantinham a esperança na profecia da estrela e buscavam conviver da melhor maneira possível, um dia de cada vez. O que ninguém imaginaria é que ela era também uma espiã estratégica de Padiah. Caso ocorresse qualquer episódio fora da
Da parte dele surgiu uma paixão avassaladora, bem como uma necessidade de conquistar aquela que o deixara de olhos vidrados. Assim, Ruliá passou a frequentar a praça assiduamente. No terceiro dia, ele esperou que Lara fizesse sua vigília, diante da estrela, e a abordou, com malícia e desejo. Como já fazia parte de um plano arquitetado, o forasteiro não veio mal-vestido, pelo contrário, estava arrumado, cabelos lavados, bem-vestido. Ele chegou sorrateiro, e abordou a guardiã, logo após a purificação da água, que ainda conseguia alimentar o planeta.— Oi, posso falar com você.Lara não respondeu. Ficou sem graça e abaixou a cabeça. O desejo de Ruliá aumentou ainda mais, diante da inocência da jovem.— Você é a guardiã mais linda que já vi.— Obrigada — agradeceu a jovem guardiã, com a face corada de timidez e uma tremura na voz.Esse desembaraço e a boa criação de Lara serviram como porta de entrada para que Ruliá sem demora conquistasse sua presa. Ele fingiu-se de bom rapaz, não bebia,
Ruliá sempre tomava o antidoto, para manter a farsa, mas com o grau de entorpecimento muitas vezes o efeito era lento. E ele, como já conseguira o que queria, não ligava, mais tanto para a esposa. Muitas vezes, fazia um esforço sobre-humano para a enganar com um amor incondicional, que não existia. Ruliá abriu a porta com força, o que já a assustou.— Lara, estou com fome, meu jantar está pronto.— Sim, e tenho uma surpresa para você, meu amor.— Depois que eu jantar. Estou com fome — ele falou com a voz alterada.— Tudo bem, Ruliá.Ela o serviu, o esperou comer e depois soltou a notícia, que para ele, foi como uma bomba.— Ruliá, estou grávida.— O quê? Um filho, com essa energia da estrela. Jamais. — Como assim — ela falou assustada, pela reação do marido e o tom de voz.— Renuncie as suas funções como guardiã. Não quero um filho meu com essa energia. Entendeu, Lara.— Como assim.O tapa foi tão forte, que para não cair, a jovem se segurou na ponta da mesa.— Faça o que estou manda