Com esforço, e a vontade de viver, a moça deixou o medo de lado, deu um passo para trás e se virou para agarrar a mão de Alair. Ele puxou-a com destreza pelo cotovelo e a abraçou pela cintura, e com a força dos braços do homem que amava, deram um único passo para trás. Alair virou-a para si e a abraçou ternamente. Seus braços tremiam pela emoção e o medo que sentiu. Em seu ouvido, perguntou: — O que aconteceu, Sarati? O que pensava em fazer? Meu coração está acelerado. Pensei o pior, que fosse perdê-la.— Como assim?Sarati estava em choque, não compreendia o que ocorrera na beira daquele penhasco. Ela mirou os olhos de Alair ainda confusa. Os seus rostos aproximaram-se. Ela tentou emitir qualquer palavra, que explicasse o que acontecera, mas nada saía. A jovem notou que, com ternura, Alair acariciava seu rosto. Sarati fechou os olhos com o toque suave em sua pele, isso era tudo que ansiara desde que o conheceu. Ela então sentiu o hálito doce e fresco de Alair aproximando-se da sua bo
— O senhor falou comigo, senhor Julião?— Não, Liá, estou apenas pensando alto. Quero pão, ovos e chá, também. — Prepararei para o senhor. Quer esperar para comer junto com o bolo, ou não.— Não, vou comer o bolo e depois o salgado, com o chá.— Sim, senhor.Dona Liá trabalhou, em um passado já distante, no palácio como ajudante da rainha, mas era também uma guardiã, e possuía alguns dons, inclusive o de perceber a estrela a qualquer momento. Recusou-se a deixar a Cidade Central na grande fuga. Permaneceu ali e vendia mantimentos para os soldados e para os que, assim como ela, negaram-se a deixar a cidade. Fizera um combinado com a rainha, e Padiah, que ficaria para passar qualquer informação importante e protegê-los das maldades do Comandante Maior.Eles mantinham a esperança na profecia da estrela e buscavam conviver da melhor maneira possível, um dia de cada vez. O que ninguém imaginaria é que ela era também uma espiã estratégica de Padiah. Caso ocorresse qualquer episódio fora da
Da parte dele surgiu uma paixão avassaladora, bem como uma necessidade de conquistar aquela que o deixara de olhos vidrados. Assim, Ruliá passou a frequentar a praça assiduamente. No terceiro dia, ele esperou que Lara fizesse sua vigília, diante da estrela, e a abordou, com malícia e desejo. Como já fazia parte de um plano arquitetado, o forasteiro não veio mal-vestido, pelo contrário, estava arrumado, cabelos lavados, bem-vestido. Ele chegou sorrateiro, e abordou a guardiã, logo após a purificação da água, que ainda conseguia alimentar o planeta.— Oi, posso falar com você.Lara não respondeu. Ficou sem graça e abaixou a cabeça. O desejo de Ruliá aumentou ainda mais, diante da inocência da jovem.— Você é a guardiã mais linda que já vi.— Obrigada — agradeceu a jovem guardiã, com a face corada de timidez e uma tremura na voz.Esse desembaraço e a boa criação de Lara serviram como porta de entrada para que Ruliá sem demora conquistasse sua presa. Ele fingiu-se de bom rapaz, não bebia,
Ruliá sempre tomava o antidoto, para manter a farsa, mas com o grau de entorpecimento muitas vezes o efeito era lento. E ele, como já conseguira o que queria, não ligava, mais tanto para a esposa. Muitas vezes, fazia um esforço sobre-humano para a enganar com um amor incondicional, que não existia. Ruliá abriu a porta com força, o que já a assustou.— Lara, estou com fome, meu jantar está pronto.— Sim, e tenho uma surpresa para você, meu amor.— Depois que eu jantar. Estou com fome — ele falou com a voz alterada.— Tudo bem, Ruliá.Ela o serviu, o esperou comer e depois soltou a notícia, que para ele, foi como uma bomba.— Ruliá, estou grávida.— O quê? Um filho, com essa energia da estrela. Jamais. — Como assim — ela falou assustada, pela reação do marido e o tom de voz.— Renuncie as suas funções como guardiã. Não quero um filho meu com essa energia. Entendeu, Lara.— Como assim.O tapa foi tão forte, que para não cair, a jovem se segurou na ponta da mesa.— Faça o que estou manda
— É muito bonita, meu filho. Vamos abrir essa caixa.— Vamos, eu quero ver.Lara abriu o modesto baú e encontrou ali os seus tão preciosos objetos estelares: a pulseira e o colar. Guardiãs de primeira grandeza possuíam sempre os dois artefatos.A guardiã tirou a pulseira com a mão direita e na mão de Lara, a estrela cintilou, o que deixou Julião maravilhado.— O que é isso, mamãe?— A Estrela de Thuman, meu filho. A mamãe já foi guardiã um dia, e uma vez guardiã eternamente guardiã. Sabe aquela estrela, que fica na praça?— Sei, é muito bonita.— Então, a mamãe tinha a função de purificar aquela água que escorre do monumento. — E, por que você parou?— Porque seu pai pediu. Ele não gosta que eu o deixe sozinho.— O que essa estrela faz?— Oferece-nos a energia necessária para vivermos em paz, harmonia e amor e nos traz abrigo, alimentos e tecnologia.Lara retirou também o colar e a estrela brilhou ainda mais. Os dois estavam tão compenetrados pela beleza da luz, que emanava da estrel
— A passagem foi aberta! — Murmurou Liá, com os olhos marejados. — Preciso avisar a Padiah o quanto antes.— Liá, corra. Não só avise através da tecnologia. Fuja. Sua missão, aqui na Cidade Central, por enquanto se acabou. Vá para a caverna — a estrela a chamava e Liá, sem pensar duas vezes, correu para cumprir mais essa missão.Em minutos, Liá chegou ao seu diminuto aposento, que consistia em apenas quarto e cozinha. Sentou-se na cama e tentou se transportar. No entanto, nesse momento a estrela não brilhou, uma vez que para usufruir desse poder, precisava de seu parceiro. Há tempos ele fora assassinado pelas mãos dos soldados cruéis do Comandante Maior. Diante desse empecilho, a guardiã não precisou pensar muito, e foi obedecer ao comando anterior. Rápida e eficiente, ela arrumou sua mochila, apenas com o essencial. Para disfarçar, espalhou roupas e deixou comida na geladeira, pois assim não desconfiariam de que fora embora. Com a mochila nas costas, pegou o mapa que, antes da gran
Talvez seja por isso que, não cremos nas histórias que nos contavam.— Desculpe se os ofendi, levo uma vida de temor e vigília. Tome, olhem o mapa. Tomara que possam me ajudar. Se andam muito com essa carroça, talvez consigam me falar pelo menos o rumo, o qual tenho que tomar.No mesmo instante em que Abra abria o mapa, e o decifrava, Julião na Cidade Central, chegava nas cercanias do Palácio para despertar o Comandante. A estrela o atrasou, para que Liá consegui encontrar o casal de jovens e pudesse chegar até Padiah. O soldado, enquanto corria, tropeçou várias vezes, em corpos espalhados no chão, que mal se moviam de tanta droga, espalhada pelo corpo. Além de ter sido importunado, por um colega de trabalho que voltava de seu turno.— Julião, como vai? Já está indo para o Palácio? — Estou e preciso correr.— Mas você não deixou seu turno, hoje pela manhã? Esqueceu alguma coisa.Julião, não podia ser grosseiro. Esse soldado possuía uma patente maior do que a sua, pelo menos. Por enqu
— Dona Liá, idosa, eu não diria, mas ansiosa, isso sim! — respondeu-lhe Abra, sorrindo — Demorei a verificar, porque essa não é a rota que costumamos fazer, mas é para o mesmo lado que vamos, pelo menos até parte do trajeto. Quando chegarmos em nossa casa, nosso mentor, que conhece o deserto e a região como ninguém, a ajudará e, quem sabe, a acompanhe, até o vosso destino. — Nós temos que partir logo — advertiu Tutti — pois teremos uma longa jornada pela frente. Chegaremos a nossa casa somente ao fim do dia. Eu e senhora vamos no interior da carroça, dona Liá.Liá não tinha palavras para agradecer-lhes, e os abraçou enternecida. — Obrigada, nem sei o que dizer. E não precisam me chamar de Dona, por favor. Sinto-me mais velha, ainda, do que sou.O deserto fazia-se como pintura, uma paisagem mística, porém também muito perigoso, que pregava peças em viajantes descuidados. Liá sentiu-se abençoada por ter encontrado os jovens, já que não tinha certeza se teria sobrevivido sozinha. Agora