POV ALICE.Fiquei olhando para aqueles dois homens como se eles tivessem me dito que o mundo acabaria amanhã. Como assim? Uma ordem de despejo? Meu coração começou a acelerar no peito, e minha mente se encheu de perguntas. Como? Por quê? Eu mal consegui processar.— Despejo? — Minha mãe repetiu com a voz vacilante, dando um passo à frente. — Deve haver algum engano. — Comentou mamãe, tentando parecer firme.O homem de terno mais alto, segurando uma pasta preta, abriu-a com calma, puxando um documento que parecia oficial demais para ser um engano. Ele o estendeu para minha mãe com uma expressão fria e profissional.— Não há engano, senhora Miller. Aqui está a notificação oficial. A propriedade foi adquirida recentemente, e o novo proprietário está reivindicando o terreno. Vocês têm um prazo de 72 horas para desocupar o local. — Falou todo arrogante. O mundo parecia estar caindo sobre minha cabeça.— Adquirida? — perguntei, sentindo minha voz falhar de incredulidade. Minha mãe pegou o p
POV ALICE.— MAMÃE! — gritei, quando vi minha mãe cair no chão, seus olhos se fechando abruptamente. Meu coração disparou e, por um momento, parecia que o mundo inteiro havia parado. Por um instante, congelei, mas logo consegui sair daquele estado. Meu coração martelava contra o peito enquanto eu corria para ela, caindo de joelhos ao seu lado.— Mamãe! — Gritei novamente, minhas mãos tremendo enquanto tentava segurá-la. — Acorde! Por favor! Não me deixe, mamãe! — Falei desesperada.Toquei seu rosto pálido, tentando encontrar algum sinal de vida. Em desespero, procurei sua pulsação, pressionando meus dedos contra o pulso dela. Nada. Meu coração apertou, o desespero me engoliu.— Não, não, não! Isso não está acontecendo! — Meu grito saiu sufocado, minhas mãos tremiam descontroladamente. Eu chorava, meu rosto já molhado pelas lágrimas. Antes que eu pudesse pensar no que fazer, a porta da frente foi aberta com força. Luis entrou correndo, seguido pelo senhor Francisco.— Alice, o que est
POV ALICE.O corredor do hospital parecia interminável, iluminado por luzes brancas que pulsavam em minha visão, fazendo meus olhos doerem. A ansiedade estava me consumindo. O cheiro estéril de álcool e medicamentos me enjoava, mas o nó no meu estômago era pior. Luis ainda estava sentado ao meu lado no banco, sua mão segurando a minha, me ancorando à realidade. Meu mundo estava despedaçando, eu só pensava na minha mãe dentro daquela sala há mais de uma hora. Cada segundo que passava parecia uma eternidade. E a falta de notícia estava me deixando impaciente.— Por que eles não dizem nada? — sussurrei, mais para mim mesma do que para ele. Luís me puxou para mais perto e falou com sua voz baixa e firme:— Eles estão fazendo tudo que podem, Alice. Sua mãe está em boas mãos. — Disse Luís tentando me acalmar.Queria acreditar nele, mas minha mente não conseguia encontrar paz. Antes que pudesse responder, a porta dupla da sala de emergência se abriu, e um homem de jaleco branco caminhou em n
POV ALICE.Passaram alguns minutos e uma enfermeira veio até a sala de espera, para me buscar para ver minha mãe. Levantei apressada e Luís se levantou junto, me abraçando e me passando apoio e força. Acompanhei a enfermeira até a entrada da UTI, meu coração estava acelerado, eu estava ansiosa.Assim que entramos, ela me levou até um dos quarto. A enfermeira parou de repente em frente a uma porta e a abriu, me dando passagem, e quando entrei, fiquei angustiada e assustada assim que vi minha mãe deitada naquela cama, com vários fios pelo seu corpo e conectados a máquinas.Me aproximei com cuidado da cama, meus olhos encheram de lágrimas assim que percebi como ela estava pálida. Peguei em sua mão e ela estava tão fria. Não aguentei e comecei a chorar desesperadamente.— Mamãe, estou aqui, por favor, não desista agora. Não posso ficar sem a senhora. Por que não me contou que estava doente? Como pode ficar sofrendo sozinha? — Perguntei, mas sabia que ela não me responderia. — Vou fazer de
POV DARIUS.As palavras de Alice ainda pairavam no ar, firmes e cortantes, e ressoavam em minha mente. — Eu aceito. — Ela havia dito isso com uma firmeza inesperada, me desarmando completamente. Por um instante, tudo ao meu redor pareceu ficar em silêncio. Olhei para ela, que sustentava meu olhar com uma força que escondia sua vulnerabilidade. Alice acabara de me entregar sua decisão, mas não era como eu esperava. Minha intenção ao vir aqui era ajudá-la, redimir-me pelo que havia causado, mas agora ela havia virado o jogo. Eu a encarei por alguns segundos, tentando processar o que acabara de acontecer. Eu estava acostumado a planejar tudo, mas Alice sempre encontrava um jeito de me surpreender.Eu a encarei, tentando processar o que acabara de acontecer. Minha intenção ao vir aqui era ajudar, corrigir a situação caótica que, de certa forma, era minha culpa. Mas Alice havia transformado aquilo em algo muito maior.— Isso foi inesperado, mas estratégico da parte dela — Baltazar murmur
POV DARIUS.Quero manter Alice, longe daquele infeliz do Luís. Não me importo se ela trabalhe fora, fico até admirado e feliz em saber que ela é forte e honrada. Mas não quero minha companheira perto de um macho que a deseja. Alice ficou em silêncio por um momento, então se levantou abruptamente, a raiva evidente em seu rosto.— Você só pode estar brincando! — Disse com raiva.— Não estou. — Minha voz saiu firme e calma. — Isso é para o seu bem e o da sua mãe. — Argumentei.— Cuidado com as palavras, Darius. Ela está vulnerável, mas não é burra e manipulável. — Baltazar alertou em minha mente. — Essa não é a hora de afastá-la. Você precisa trazê-la para mais perto, não a empurrar para longe. — Disse.— Meu bem? — Alice riu, sem humor. Ela me chamou de meu bem? — Você acha que tem o direito de decidir o que faço da minha vida? — Perguntou irritada.— Estou oferecendo segurança e estabilidade, Alice. — Respondi, ignorando o alerta de Baltazar.— Pare de ser tão inflexível! A mãe dela es
PRÓLOGO.Nasci amaldiçoado, condenado a carregar uma punição que não era minha. O primeiro rei supremo dos lobisomens, Julian, teve seu coração corrompido e exterminou alcateias indefesas. Foi punido por suas ações cruéis com uma maldição: transformar-se em uma besta infernal que destrói tudo ao seu redor. Desesperado, rogou à deusa Lua por misericórdia, mas tudo que conseguiu foi transferir a maldição para seus descendentes.A intenção era dar-lhe tempo para encontrar uma solução, mas Julian não se importava com quem sofreria, contanto que não fosse ele. Sua companheira, no entanto, não suportava a ideia de seus filhos herdarem esse fardo. Recorreu à feitiçaria para poupá-los, condenando, assim, seus netos. Sou esse neto. Meu pai foi poupado, mas herdei o castigo imposto a Julian, meu avô. Quando me transformo em besta infernal, perco todo controle; o único desejo que sinto é o de sangue e destruição.A deusa profetizou em sonho a um dos antigos anciões da nossa alcateia que a maldiç
POV DARIUS.— O que tinha no chá, sua maldita? — perguntei com raiva.— Não se preocupe, querido, agora você é meu. — Disse Agnes, sorrindo vitoriosa.Senti uma leve tontura e percebi o cheiro de lobos se aproximando. Rosnei de raiva e Agnes se assustou. Levantei-me, pronto para matar a todos. Agnes me olhou, com os seus olhos arregalados, e saiu correndo pela porta da cabana. Eu me levantei, ainda um pouco tonto, e saí da cabana logo atrás da bruxa, pronto para acabar com sua vida. Mas, quando cheguei na porta, só pude ver ela desaparecendo em meio à fumaça roxa e densa. Com dificuldade, fui me transformando em um lobo negro de olhos azuis, mas era tarde demais. Minha visão estava turva, e meus reflexos, lentos.Havia algo naquele chá que me impedia de lutar com toda a minha força. Maldita hora em que confiei naquela bruxa e suas promessas. Pensei, enquanto minhas mandíbulas se fechavam em torno do pescoço de um lobo marrom, quebrando-o com um estalo surdo. O gosto metálico do sangue