Era muito estranho, mas eu não sentia absolutamente nada, se não fosse pelo odor forte e pelo gosto ruim eu acreditaria que tinha tomado água.
Meu vestido era no estio vitoriano, bastante rodado no tom rosa claro, uma renda muito fina e delicada caia sobre a saia e trazia pequenas rosas bordadas com minúsculas pedrinhas brilhantes, meus cabelos foram presos para trás em um tipo de trança frouxa, a maquiagem era tão delicada quanto o vestido, pedi para que Aila tentasse fazer algo que não chamasse muita a atenção, ela protestou.
- Mas é o seu noivado!
- Tudo bem, pode fazer do seu jeito, porém nada de cores fortes.
Ela assentiu empolgada.
Quando eu já estava no corredor senti uma pontada forte no estomago e pendi para frente.
- Tudo bem senhorita?
Eu olhei para Aila que me acompanhava e sorri.
- Sim, apenas pisei na barra do vestido.
- Eu pedi para que o deixassem mais curto, mas parece que essas costureiras não
Abri meus olhos confusa de onde estava ao meu redor eu podia ver a nevoa branca se desfazendo calmamente, logo comecei a reconhecer aquele lugar, toquei meu corpo desesperada. - Não, isso não pode estar acontecendo... Não eu tenho que... Eu preciso voltar! Fechei os olhos com força e senti um tremor forte, minhas mãos estavam formigadas e meu corpo parecia adormecido e pesado, abri os olhos calmamente e deixei a respiração adentrar em meus pulmões mais calma, sobre mim eu podia sentir o peso do corpo de minha vó e meu vô que choravam descompassados, olhei ao redor e vi tarja de joelhos ao lado da cama. - Tia? Vô? Vó... Tomei coragem para poder falar, a cabeça de minha vó se ergueu do meu peito e eu vi seus olhos se explodirem de espanto. - Viva! Ela está viva! Eu sentia meu corpo inteiro doer como se muitos ossos tivessem se quebrado, mas sim ela tinha razão eu estava viva, minha tia levantou a cabeça e veio ao meu encontro segurando m
Eu quase tive tempo de chegar ao meu quarto até ele conseguir me alcançar, mas ele me segurou pelo braço antes que eu encostasse na maçaneta. - Espere Anna... - O que é agora? Ele abriu a porta do quarto para mim e fez um sinal para que eu entrasse. Assim que entramos ele trancou a porta atrás de si. - Eu não menti quando disse que talvez não pudesse protegê-la, eu sei que confia que em Taika estará mais segura, mas sabe que isso não é totalmente verdade, o seu mundo oferece muito mais tranquilidade que você poderá encontrar aqui... - Não estou procurando por tranquilidade. - E o que está procurando? Se matar? - Meu pai me falou que Jarkko queria a varinha das herdeiras... - Sim, e pode apostar que assim como ele muitos viram atrás dela. - As pessoas a querem por que não sabem o que irão enfrentar a varinha não pode ser dominada por qualquer um, ela tem um único dono ou dona, sei lá. Ele parou me
No dia seguinte Kaarl se encontrou com Olli no campo de treinamento, olhou Anna de longe treinando, ela estava dando uma verdadeira surra em Makki. - Quando foi que ela ficou tão boa? - Ela tem se esforçado muito e para ser sincero acordou com a corda toda hoje, eu se fosse você não arriscaria. - Não vou, não estou querendo encontrar motivos para confrontá-la ultimamente. Olli parou o olhando. - Ok, seja sincero agora estou tomando essa liberdade por que a algum tempo observo vocês, vamos lá, é fingimento não é? - Do que está falando? - O relacionamento de vocês, não pode ser real, eu vejo a forma hostil com que ela te trata e você também parece tratar de tudo com frieza... Kaarl suspirou esfregando as mãos no rosto. - Se eu disser que sim vou estar envolvendo você em uma verdadeira guerra e Anna não me perdoaria. - Você não está me envolvendo em nada, eu conclui isso sozinho, faz tempo que percebi, poré
Procurei por Kaarl no escritório, no quarto, no salão comunal e em toda parte, mas ele parecia não estar em lugar algum, foi quando eu lembrei do que Olli tinha dito sobre ele ter voltado a ser o guerreiro que ele era, e se ele tinha voltado a ser isso só havia um lugar que ele poderia estar, a sala de armas. A sala de armas em minha opinião era um dos lugares secretos de Taika que não deveriam existir, mas era um reino que tinha vivido toda sua existência em guerras, as paredes do lugar estavam repletas de equipamentos usados por aquelas pessoas para destruir qualquer um que atravessasse a fronteira, lá estavam, canhões, carabinas, bestas, espadas, punhais, arco e flechas, lanças, catapultas, alabardas, enfim... Toda e qualquer coisa que pudesse vir a matar. E lá estava Kaarl, novamente sem a camisa e com os punhos enfaixados socando algo que em meu mundo era conhecido por atletas que praticavam boxe, mas que tinha suas diferenças no mundo dele o saco não era feito
Eu voltei a segurar o rosto dele entre minhas mãos. - Sua mãe não era um monstro, ela tornou-se um monstro, existe algo bom em você e eu acredito que esse lado bom pode dominar o que há de ruim. Ele segurou minhas mãos e as tirou do rosto dele se aproximando de mim o suficiente para eu sentir sua respiração contra o meu rosto. - Fala como se pudesse confiar em mim novamente, você pode? Pode confiar em mim novamente? Eu me aproximei dele vencendo o espaço entre nós e o beijei como se aquela também fosse uma resposta, eu não tinha certeza se podia confiar nele ou não, mas eu também não sabia o quanto eu podia confiar em Tiina, e sabendo agora que o lado bom nem sempre foi de fato bom talvez o lado ruim tivesse uma razão para existir. Uma das mãos de Kaarl me segurou pela cintura e me puxou para ele enquanto outra desceu em minha nuca pressionando minha boca na dele de uma forma faminta, necessária como se ele quisesse possuir cada pedaço de mim
Quando o dia seguinte amanheceu eu abri os olhos com calma e logo reconheci o rosto de minha tia. - Tia Tarja? Eu olhei em volta vendo que eu ainda estava no castelo. - Olá querida, como se sente? - Bem, só um pouco cansada. - Você dormiu por cerca de dois dias, Hermes veio me chamar em meu mundo para que eu viesse cuidar de você... - E Kaarl o que houve com ele? Onde ele está? - No corredor, ele ficou ao seu lado durante todo o tempo, mas eu quis um minuto a sós com você, e veja só parece que tive sorte, nesse meio tempo você acordou. - E ele está bem? - Está você o curou... – Ela se levantou. – Eu vou chama-lo para que vocês possam conversar, porém Anna vá com calma, ele está... Diferente. Assim que ela saiu da cama eu me levantei, pus os pés no chão sentindo os pelos do carpete amaciar minha pele, levantei-me e caminhei até a janela olhando a beleza do mundo de Taika e enquanto eu estava de costas a p
Sabe aquela sensação de liberdade que as pessoas costumam dizer que os órfãos sentem por não terem ninguém para lhe impor limites, pois é... Nunca tive. Talvez fosse por que eu não era uma órfã propriamente dita já que eu apenas não tinha sido criada pelos meus pais, na verdade eu nem os tinha conhecido, não sei quem foi meu pai, minha vó disse que não o conheceu, e minha mãe... Bom, ela desapareceu do hospital no mesmo dia que eu nasci, uns dizem que ela surtou por causa do uso excessivo de drogas, outros dizem que ela apenas não queria o compromisso de limpar fraldas, eu não sei ao certo o que aconteceu ou por que ela me abandonou, mas apesar de tudo isso ter acontecido comigo eu nunca fui uma adolescente revoltada ou tive crises existenciais, na verdade eu era bem resolvida com isso. Sentada em uma cadeira estreita demais para o meu traseiro, me senti desconfortável; mas não tão desconfortável como, com certeza, estava à diretora do colégio, que tentava se livrar de
Eu estava cega de raiva, irada por ter sido enganada, me sentindo traída e ao mesmo tempo confusa. Tudo que eu queria era sair dali, fugir para bem longe. Meu vô veio ao meu encontro para me segurar, mas eu desviei dele e sai correndo pela porta dos fundos, cruzei o portão de madeira e corri pela calçada como uma doida. Nas ruas, as pessoas andavam para o trabalho e me olhavam assustadas, enquanto eu tentava desviar delas sem muito sucesso; devo ter trombado em uns três. Meus olhos estavam embaçados e minha garganta seca. Limpei o rosto com as mãos e segui correndo. Olhei para trás tentando ver se alguém vinha trás de mim, mas meu avô ficara para trás. Dobrei a esquina, entrando no terreno baldio da casa cinza, a casa abandonada que eu e meus colegas costumávamos morrer de medo de cruzar na frente quando eu era criança; mas eu não era mais criança e, para ser sincera, aquele me parecia um ótimo lugar para chorar em paz. Tinha neve sobre os meus pés e logo a