Josh
— Preciso dormir — anuncio. — Temos aula amanhã.
Entro para o quarto e Amélia passa por mim e se joga na cama. Tudo bem. Desligo a luz e subo na cama. Seguindo o exemplo dela, eu deito sobre a coberta. O calor do seu corpo aquece o meu. Ela está certa. Ela consegue deitar na mesma cama sem tocar. Inspiro, e seu aroma doce me envolve.
No ano passado, meu professor de ciências destruiu o mito de que o sexo passa pela cabeça dos caras a cada sete segundos. Tenho que discordar disso. Meus dedos coçam com a necessidade de acariciar a pele suave de Amy. Quero beijá-la.
— Então, eu tenho uma amiga — ela diz, na escuridão. — Olga. Ela sumiu faz alguns dias, e eu não sei o que fazer. Ela era a única amiga que eu tinha e, quando eu comecei a estudar para entrar na universidade, nos afastamos um pouco... Eu quero acreditar que ela est
Depois do almoço, vou até o banheiro. Estou de pé diante da pia. No outro lado do banheiro, estão duas garotas, veteranas do segundo ano. Não as conheço bem, mas sei seus nomes: Alexa e Liana.Alexa sempre usa enormes brincos de argola prateados e Liana, um rabo de cavalo tão apertado que parece que seu rosto está todo esticado.Não estou prestando atenção nelas ou em coisa alguma, mas ouço algo vibrando. É o telefone de Liana recebendo uma mensagem. Então, meio segundo depois, sua voz aguda soa:— Fala sério!Levanto os olhos. Alexa está passando delineador, puxando o rosto de um jeito que permite ver o cor-de-rosa em torno dos olhos.— O quê? — Alexa pergunta. Mesmo que eu não saiba o que Liana vai dizer, meu coração já decide começar a bater mais rápido.— V
Corro até o centro comercial, que ostenta todas as conveniências que a gentalha pode desejar: lavanderia automática, loja de 1,99, loja de bebidas, um mercadinho vagabundo que aceita cupons do governo e vende pão mofado e carne vencida, tabacaria, loja de penhores e bar de motoqueiros. As outras lojas fecharam horas atrás, com grades nas janelas. Grupos de homens e mulheres se reúnem ao redor das inúmeras motocicletas que ocupam o estacionamento do bar. O fedor rançoso de cigarro e o cheiro de maconha se misturam no ar quente. São as lâmpadas fracas sobre as mesas de sinuca, as luzes de néon vermelhas no bar e as duas televisões que geram a única iluminação do local. O cartaz na porta avisa duas coisas: proibida a entrada de menores de vinte e um anos e na
Segunda-feira, 24 de setembro de 2018. 22h15 – 1406 Mason St – Bolton HillBaltimore – EUA. Quando entro no quarto de Josh, está vazio. Deixo minha mochila no chão e desabo na cama dele. Minha cabeça está realmente começando a doer. Se eu fosse esperta, superaria a dor e usaria esse tempo para terminar meu artigo de escrita de ficção. Mas prefiro ler trechos do diário de Olga e, para ser franca, é um pouco estranho para mim. Abro o diário mesmo assim.“Ele dizia que, se eu contasse a qualquer um, ele me mataria. Acredito nele.” A primeira data é de quatro meses atrás. Nela, Olga rabiscou seu nome pelas margens de cima a baixo. Passo os olhos pelos primeiros par&aacut
Sábado, 12 de agosto de 2016. 15h59 – Quintal dos fundosGilmor Homes, Baltimore, EUA. Olga e eu estamos deitadas de costas sobre a grama, meus dedos entrelaçados nos dela, olhando fixamente para o céu. — Imagina flutuar lá para cima — disse Olga. O tom de voz dela era sonhador e melancólico, e isso só acontecia quando estava chapada, o que de fato estava. — Se um dia eu tivesse a oportunidade de ir para o espaço, eu iria. — Dei risada e fechei os olhos. Não queria sequer olhar para o céu. — Sério. Iria num segundo. Tudo aqui embaixo é sem sentido… — Olga continuou. Eu estava tão chapada.
Terça-feira, 25 de setembro de 2018. 21h12 – Seagirt Marine Terminal, Port of Baltimore Faz anos desde a última vez em que estive aqui, mas ainda sei o caminho de cor. Há um carro na frente do buraco no portão que leva ao reservatório, e balanço a cabeça em desaprovação. Eles deveriam estacionar longe daqui. Isso é invasão. Ninguém pode saber que tem alguém aqui. Passo me espremendo pelo buraco na cerca e desço a estreita trilha de terra. Meu estômago revira repetidamente. Ouço murmúrios baixos. À medida que me aproximo, eles se tornam palavras.
Terça-feira, 25 de setembro de 2018. 22h33 – Gilmor Homes, Baltimore, EUA.Desço pelas ruas estreitas e tortuosas. Eu estava indo direto para o abrigo, mas, em vez de parar e entrar, eu me viro abruptamente para a direita, passo pela calçada do prédio ao lado, e subo uma pequena colina para a área sem saída que dá para a floresta. Ando até chegar à clareira.Por um momento, fico parada na escuridão silenciosa. A única fonte de luz é o círculo amarelo da lua.Meus joelhos travam e sou golpeada por outra onda de medo, consciente do quanto nãoquero ir até lá. E se for algo que não vou aguentar ver?Ligo a lanterna do celular e continuo andando. As folhas estalam embaixo dos meus pés. Estou respirando pesadamente. E é aí que sinto o cheiro
Três garotos estão andando na minha direção. Dois são altos e magricelos, um é mais baixo e atarracado. Sinto um frio na barriga. Dou a volta e me coloco atrás deles. Os garotos não me notam. Estão conversando. Eu escuto: — Nem acredito que você está aqui hoje — diz um deles. — Minha mãe pagou minha fiança às duas da manhã. Aí apareceu no meu quarto as seis e me mandou levantar para vir para escola. — Que foda. — É. — O garoto grunhe. — Valeu pelo apoio. — B
O buraco no meu peito é enorme. Abandonei Olga, e agora ela está morta. A tristeza me atinge, tão intensamente que mal consigo respirar. Abro o armário, enfio a mão lá no fundo e tateio em busca da fotografia. Eu a pego e me afundo na cama. A moldura é de glitter cor-de-rosa e tem uma florzinha esmaltada na parte de cima, com um coração no meio dela. Olga me deu de presente no verão, depois do sexto ano. A foto mostrava nós duas olhando por baixo de chapéus de sol ridículos que Olga havia comprado. Lá estou eu: cabelo preto, rosto esquecível; e ao meu lado está ela: cabelo castanho ondulado ocupando metade da foto, pele bronzeada, nariz médio, queixo forte, a boca enorme se abrindo no maior sorriso do mundo. Olg