Corro até o centro comercial, que ostenta todas as conveniências que a gentalha pode desejar: lavanderia automática, loja de 1,99, loja de bebidas, um mercadinho vagabundo que aceita cupons do governo e vende pão mofado e carne vencida, tabacaria, loja de penhores e bar de motoqueiros. As outras lojas fecharam horas atrás, com grades nas janelas. Grupos de homens e mulheres se reúnem ao redor das inúmeras motocicletas que ocupam o estacionamento do bar. O fedor rançoso de cigarro e o cheiro de maconha se misturam no ar quente. São as lâmpadas fracas sobre as mesas de sinuca, as luzes de néon vermelhas no bar e as duas televisões que geram a única iluminação do local.
O cartaz na porta avisa duas coisas: proibida a entrada de menores de vinte e um anos e na
Segunda-feira, 24 de setembro de 2018. 22h15 – 1406 Mason St – Bolton HillBaltimore – EUA. Quando entro no quarto de Josh, está vazio. Deixo minha mochila no chão e desabo na cama dele. Minha cabeça está realmente começando a doer. Se eu fosse esperta, superaria a dor e usaria esse tempo para terminar meu artigo de escrita de ficção. Mas prefiro ler trechos do diário de Olga e, para ser franca, é um pouco estranho para mim. Abro o diário mesmo assim.“Ele dizia que, se eu contasse a qualquer um, ele me mataria. Acredito nele.” A primeira data é de quatro meses atrás. Nela, Olga rabiscou seu nome pelas margens de cima a baixo. Passo os olhos pelos primeiros par&aacut
Sábado, 12 de agosto de 2016. 15h59 – Quintal dos fundosGilmor Homes, Baltimore, EUA. Olga e eu estamos deitadas de costas sobre a grama, meus dedos entrelaçados nos dela, olhando fixamente para o céu. — Imagina flutuar lá para cima — disse Olga. O tom de voz dela era sonhador e melancólico, e isso só acontecia quando estava chapada, o que de fato estava. — Se um dia eu tivesse a oportunidade de ir para o espaço, eu iria. — Dei risada e fechei os olhos. Não queria sequer olhar para o céu. — Sério. Iria num segundo. Tudo aqui embaixo é sem sentido… — Olga continuou. Eu estava tão chapada.
Terça-feira, 25 de setembro de 2018. 21h12 – Seagirt Marine Terminal, Port of Baltimore Faz anos desde a última vez em que estive aqui, mas ainda sei o caminho de cor. Há um carro na frente do buraco no portão que leva ao reservatório, e balanço a cabeça em desaprovação. Eles deveriam estacionar longe daqui. Isso é invasão. Ninguém pode saber que tem alguém aqui. Passo me espremendo pelo buraco na cerca e desço a estreita trilha de terra. Meu estômago revira repetidamente. Ouço murmúrios baixos. À medida que me aproximo, eles se tornam palavras.
Terça-feira, 25 de setembro de 2018. 22h33 – Gilmor Homes, Baltimore, EUA.Desço pelas ruas estreitas e tortuosas. Eu estava indo direto para o abrigo, mas, em vez de parar e entrar, eu me viro abruptamente para a direita, passo pela calçada do prédio ao lado, e subo uma pequena colina para a área sem saída que dá para a floresta. Ando até chegar à clareira.Por um momento, fico parada na escuridão silenciosa. A única fonte de luz é o círculo amarelo da lua.Meus joelhos travam e sou golpeada por outra onda de medo, consciente do quanto nãoquero ir até lá. E se for algo que não vou aguentar ver?Ligo a lanterna do celular e continuo andando. As folhas estalam embaixo dos meus pés. Estou respirando pesadamente. E é aí que sinto o cheiro
Três garotos estão andando na minha direção. Dois são altos e magricelos, um é mais baixo e atarracado. Sinto um frio na barriga. Dou a volta e me coloco atrás deles. Os garotos não me notam. Estão conversando. Eu escuto: — Nem acredito que você está aqui hoje — diz um deles. — Minha mãe pagou minha fiança às duas da manhã. Aí apareceu no meu quarto as seis e me mandou levantar para vir para escola. — Que foda. — É. — O garoto grunhe. — Valeu pelo apoio. — B
O buraco no meu peito é enorme. Abandonei Olga, e agora ela está morta. A tristeza me atinge, tão intensamente que mal consigo respirar. Abro o armário, enfio a mão lá no fundo e tateio em busca da fotografia. Eu a pego e me afundo na cama. A moldura é de glitter cor-de-rosa e tem uma florzinha esmaltada na parte de cima, com um coração no meio dela. Olga me deu de presente no verão, depois do sexto ano. A foto mostrava nós duas olhando por baixo de chapéus de sol ridículos que Olga havia comprado. Lá estou eu: cabelo preto, rosto esquecível; e ao meu lado está ela: cabelo castanho ondulado ocupando metade da foto, pele bronzeada, nariz médio, queixo forte, a boca enorme se abrindo no maior sorriso do mundo. Olg
Zoe se inclina para frente e desliza até que seus pés alcançam o chão, e eu dou um passo para trás. Ela parece que vai levantar, mas suas mãos afundam no lençol. Está se retraindo. — Da segunda vez que Olga te mencionou, era porque ele tinha decidido que você era a única. Acho que o que ele quis dizer era que você era a próxima única, porque você quer saber o que ele disse da terceira vez? Não! Dou mais um passo para trás. — Ela escreveu sobre você porque ele tinha decidido que Olga iria ajudá-lo. — Pela primeira vez, a voz dela se abala. Ela suspira, e então sorri:— Estranho, não? Que Olga
Sinto-me enjoada. Jonas continua: — Eu, generosamente, permiti esses luxos pra ele, porque eu sei que os objetivos dele se alinham com os meus. Eu sei o que ele quer, e eu sei que ele é capaz de alcançar. — Sua mandíbula endurece enquanto me encara. — Então é isso o que vai acontecer: você vai terminar esse relacionamento com o meu filho. Você não vai mais vê-lo, você não vai manter a amizade com ele. Você não vai entrar em contato com ele. Entendeu? — Ou o quê? — sussurro, porque eu preciso ouvi-lo dizer isso. — Sem treinos, roupas, carro, casa e comida. É isso que você quer para ele, Amélia?&