Terça-feira, 25 de setembro de 2018.
22h33 – Gilmor Homes,
Baltimore, EUA.
Desço pelas ruas estreitas e tortuosas. Eu estava indo direto para o abrigo, mas, em vez de parar e entrar, eu me viro abruptamente para a direita, passo pela calçada do prédio ao lado, e subo uma pequena colina para a área sem saída que dá para a floresta. Ando até chegar à clareira.
Por um momento, fico parada na escuridão silenciosa. A única fonte de luz é o círculo amarelo da lua. Meus joelhos travam e sou golpeada por outra onda de medo, consciente do quanto não quero ir até lá. E se for algo que não vou aguentar ver?
Ligo a lanterna do celular e continuo andando. As folhas estalam embaixo dos meus pés. Estou respirando pesadamente. E é aí que sinto o cheiro
Três garotos estão andando na minha direção. Dois são altos e magricelos, um é mais baixo e atarracado. Sinto um frio na barriga. Dou a volta e me coloco atrás deles. Os garotos não me notam. Estão conversando. Eu escuto: — Nem acredito que você está aqui hoje — diz um deles. — Minha mãe pagou minha fiança às duas da manhã. Aí apareceu no meu quarto as seis e me mandou levantar para vir para escola. — Que foda. — É. — O garoto grunhe. — Valeu pelo apoio. — B
O buraco no meu peito é enorme. Abandonei Olga, e agora ela está morta. A tristeza me atinge, tão intensamente que mal consigo respirar. Abro o armário, enfio a mão lá no fundo e tateio em busca da fotografia. Eu a pego e me afundo na cama. A moldura é de glitter cor-de-rosa e tem uma florzinha esmaltada na parte de cima, com um coração no meio dela. Olga me deu de presente no verão, depois do sexto ano. A foto mostrava nós duas olhando por baixo de chapéus de sol ridículos que Olga havia comprado. Lá estou eu: cabelo preto, rosto esquecível; e ao meu lado está ela: cabelo castanho ondulado ocupando metade da foto, pele bronzeada, nariz médio, queixo forte, a boca enorme se abrindo no maior sorriso do mundo. Olg
Zoe se inclina para frente e desliza até que seus pés alcançam o chão, e eu dou um passo para trás. Ela parece que vai levantar, mas suas mãos afundam no lençol. Está se retraindo. — Da segunda vez que Olga te mencionou, era porque ele tinha decidido que você era a única. Acho que o que ele quis dizer era que você era a próxima única, porque você quer saber o que ele disse da terceira vez? Não! Dou mais um passo para trás. — Ela escreveu sobre você porque ele tinha decidido que Olga iria ajudá-lo. — Pela primeira vez, a voz dela se abala. Ela suspira, e então sorri:— Estranho, não? Que Olga
Sinto-me enjoada. Jonas continua: — Eu, generosamente, permiti esses luxos pra ele, porque eu sei que os objetivos dele se alinham com os meus. Eu sei o que ele quer, e eu sei que ele é capaz de alcançar. — Sua mandíbula endurece enquanto me encara. — Então é isso o que vai acontecer: você vai terminar esse relacionamento com o meu filho. Você não vai mais vê-lo, você não vai manter a amizade com ele. Você não vai entrar em contato com ele. Entendeu? — Ou o quê? — sussurro, porque eu preciso ouvi-lo dizer isso. — Sem treinos, roupas, carro, casa e comida. É isso que você quer para ele, Amélia?&
Sábado, 29 de setembro de 2018. 21h11 – Chesapeake Av. - FairfieldBaltimore – EUA.Amélia Lâmpadas marcam o caminho por um corredor comprido, que termina em uma escada. Subimos até o próximo andar. Sinto o coração bater nas orelhas, nas têmporas e na garganta. Josh aperta minha mão. — Estou preocupado, Amélia. Você não devia estar aqui. — Não devia mesmo — respondo-o. Há duas garotas em pé ao meu lado: uma alta e magra e outra mais baixa, com delineador azul. A garota alta segu
Segunda, 01 de outubro de 2018. 07h16 – Universidade de Baltimore, Baltimore – EUA. Antes da primeira aula, vou comprar um café e, quando saio, encontro Josh me esperando com um sorriso no rosto. — Como você está? — Josh pergunta. — Um desastre, na verdade.— Amélia, você dormiu um pouco desde sábado? Comeu alguma coisa?Ele faz uma pausa e me encara, como se estivesse esperando que eu pensasse no que está dizendo. E a verdade é que eu não tenho dormido muito. Mal comi. Mas como posso comer quando Olga está morta? Como posso dormir quando quem quer que tenha feito isso com ela, est&a
Espio pelo canto e meus joelhos fraquejam. Meus dedos se enfiam na parede de tijolos para me impedir de cair, quando vejo dois guardas carregando um saco preto para o furgão.Aquilo era um corpo? O furgão branco sai pela porta dos fundos, que se abre automaticamente. Com meu canivete na mão, corro a distância que falta até a porta de trás antes que ela se feche. Consigo entrar, e meu corpo está formigando de ansiedade.Eu não deveria estar aqui. Entro na primeira sala que vejo. Ligo a lanterna do meu celular, mantendo-a baixa, longe das janelas. O lugar tem meias-paredes para dividir os cômodos, mas sem portas. Há uma mesa encostada, com materiais de pintura organizados em recipientes, alinhados em uma fileira perfeitamente reta. O lugar i
Josh se aproxima e eu me afasto. Algumas dores não devem ser compartilhadas. Eu fui a idiota que acreditou no Mike. Fui eu que sinceramente pensei que era especial o bastante para ser amada.— Ele se aproveitou de você. — Josh fala. Um sentimento de raiva se agita na voz dele. — Isso não te faz uma vagabunda, isso faz dele um babaca.Ele não está entendendo.— Eu bebo. Eu fumo maconha. Eu já usei outras drogas. Antes de você me conhecer, eu ficava chapada o tempo todo e transei com outros caras. Não sou o tipo de garota com quem você quer ter um relacionamento. Você não está enxergando quem eu sou de verdade.— Sei que você abriu mão da oportunidade de se drogar no sábado, quando Jake te deu aquela droga. Sei que você anda mais na linha do que a maioria dos alunos da faculdade. Eu não sei quem você fingia ser