Esfrego a cabeça.
— Eu quero estar com você. Aqui. Em casa. Em qualquer lugar. Eu não brinquei com você. Confia em mim, Amélia.
Ela se afasta. Confiança deve ser a palavra mais horrível no vocabulário dela. Desesperado para acertar as coisas, eu solto:
— Eu confiei em você. — Minha boca se fecha, e tudo dentro de mim endurece. As palavras têm um gosto amargo. — Te contei sobre... — Não consigo terminar, mas ela entende.
Ela morde o lábio inferior.
— O negócio da irmã gay é segredo?
Faço que sim com a cabeça. Eu realmente não quero falar sobre isso. Rugas de preocupaçã
— Você se lembra do trabalho de contos do ano passado? — pergunto. Ele me lança um olhar vazio e coça a parte de trás da cabeça. — Você ficou chateado porque eu tinha que entregar durante as competições da primavera — lembro a ele. Ele faz um sinal com a cabeça e diz:— Sua professora de inglês não gostou?Minha boca fica seca, e eu engulo.— Não. Eu... hum... ela quer que eu participe do concurso literário.Isso chama a atenção dele.— Você está em um concurso literário?— Não, ainda não. Mas a professora Rose acredita que posso ganhar.Ele pisca, e o sorriso demora a aparecer, mas finalmente se forma.— Parabéns, Joshua. Já contou à sua mãe? Ela adora quando você se sai bem nas aulas.— N&atil
Era.Elaeraminha irmã gêmea. Minha irmã de três minutos e sete segundos mais nova, com os olhos azuis mais lindos que já existiu.Eu começo a rir.A julgar pela expressão pálida no rosto de Amy, ela não estava esperando por isso.Para ser honesto, nem eu estava. É engraçado da mesma forma que não é nada engraçado.É o tipo de risada que me faz pensar se eu finalmente enlouqueci.— Você me faz lembrar muito ela — sorrio, tossindo outra risada estranha.— Ela costumava me dizer o tempo todo que eu era tímido, e que eu era muito ingênuo, e que eu só via o mundo através de óculos cor-de-rosa. — Paro e respiro, olhando brevemente para a foto, para o sorriso de Meg antes de olhar para Amélia.— E talvez eu seja.Ou talvez ela fo
— Estou feliz de você estar aqui. Eu estava preocupado.Ela levanta uma sobrancelha, mas fica quieta.— Eu te trouxe um presente — Amélia diz depois de um momento, dando dois passos em minha direção. Ela me entrega uma pequena caixa amarela e molhada. — Você não tem que fazer isso, Amy. Ela dá de ombros novamente. — Não é nada demais, mas não sei... achei que você poderia gostar. — Ela está com um sorriso tímido que eu nunca tinha visto antes.Normalmente ela é tão extrovertida, agora parece um pouco insegura.Sorrio e desfaço a fita.Tomo cuidado para não rasgar o papel molhado.
Josh— Preciso dormir — anuncio. — Temos aula amanhã.Entro para o quarto e Amélia passa por mim e se joga na cama. Tudo bem. Desligo a luz e subo na cama. Seguindo o exemplo dela, eu deito sobre a coberta. O calor do seu corpo aquece o meu. Ela está certa. Ela consegue deitar na mesma cama sem tocar. Inspiro, e seu aroma doce me envolve.No ano passado, meu professor de ciências destruiu o mito de que o sexo passa pela cabeça dos caras a cada sete segundos. Tenho que discordar disso. Meus dedos coçam com a necessidade de acariciar a pele suave de Amy. Quero beijá-la.— Então, eu tenho uma amiga — ela diz, na escuridão. — Olga. Ela sumiu faz alguns dias, e eu não sei o que fazer. Ela era a única amiga que eu tinha e, quando eu comecei a estudar para entrar na universidade, nos afastamos um pouco... Eu quero acreditar que ela est
Depois do almoço, vou até o banheiro. Estou de pé diante da pia. No outro lado do banheiro, estão duas garotas, veteranas do segundo ano. Não as conheço bem, mas sei seus nomes: Alexa e Liana.Alexa sempre usa enormes brincos de argola prateados e Liana, um rabo de cavalo tão apertado que parece que seu rosto está todo esticado.Não estou prestando atenção nelas ou em coisa alguma, mas ouço algo vibrando. É o telefone de Liana recebendo uma mensagem. Então, meio segundo depois, sua voz aguda soa:— Fala sério!Levanto os olhos. Alexa está passando delineador, puxando o rosto de um jeito que permite ver o cor-de-rosa em torno dos olhos.— O quê? — Alexa pergunta. Mesmo que eu não saiba o que Liana vai dizer, meu coração já decide começar a bater mais rápido.— V
Corro até o centro comercial, que ostenta todas as conveniências que a gentalha pode desejar: lavanderia automática, loja de 1,99, loja de bebidas, um mercadinho vagabundo que aceita cupons do governo e vende pão mofado e carne vencida, tabacaria, loja de penhores e bar de motoqueiros. As outras lojas fecharam horas atrás, com grades nas janelas. Grupos de homens e mulheres se reúnem ao redor das inúmeras motocicletas que ocupam o estacionamento do bar. O fedor rançoso de cigarro e o cheiro de maconha se misturam no ar quente. São as lâmpadas fracas sobre as mesas de sinuca, as luzes de néon vermelhas no bar e as duas televisões que geram a única iluminação do local. O cartaz na porta avisa duas coisas: proibida a entrada de menores de vinte e um anos e na
Segunda-feira, 24 de setembro de 2018. 22h15 – 1406 Mason St – Bolton HillBaltimore – EUA. Quando entro no quarto de Josh, está vazio. Deixo minha mochila no chão e desabo na cama dele. Minha cabeça está realmente começando a doer. Se eu fosse esperta, superaria a dor e usaria esse tempo para terminar meu artigo de escrita de ficção. Mas prefiro ler trechos do diário de Olga e, para ser franca, é um pouco estranho para mim. Abro o diário mesmo assim.“Ele dizia que, se eu contasse a qualquer um, ele me mataria. Acredito nele.” A primeira data é de quatro meses atrás. Nela, Olga rabiscou seu nome pelas margens de cima a baixo. Passo os olhos pelos primeiros par&aacut
Sábado, 12 de agosto de 2016. 15h59 – Quintal dos fundosGilmor Homes, Baltimore, EUA. Olga e eu estamos deitadas de costas sobre a grama, meus dedos entrelaçados nos dela, olhando fixamente para o céu. — Imagina flutuar lá para cima — disse Olga. O tom de voz dela era sonhador e melancólico, e isso só acontecia quando estava chapada, o que de fato estava. — Se um dia eu tivesse a oportunidade de ir para o espaço, eu iria. — Dei risada e fechei os olhos. Não queria sequer olhar para o céu. — Sério. Iria num segundo. Tudo aqui embaixo é sem sentido… — Olga continuou. Eu estava tão chapada.