O Preço Da Máfia (livro 2)
O Preço Da Máfia (livro 2)
Por: Jac Esteves
Os traumas de uma dançarina

Capítulo 1

Lara

Antes...

O despertador estava gritando na cômoda, mas meu corpo não queria levantar. Abri os olhos sonolentos, estiquei o braço e peguei o relógio.

Meio dia, que ótimo.

Noite passada no clube acabei ficando até mais tarde, porque dois clientes pediram o pacote completo na cabine.

Eu odeio chegar em casa às 4h da matina, isso está me matando.

–Lara, eu to com fome. –Julien parou perto da cama, com seu rostinho triste de sempre.

–Você tem mãe, Ju. –Me levantei e trombei pra fora do quarto, fui me arrastando até o final do corredor.

Entrei no banheiro e me sentei no vaso, minha irmã veio atrás de mim. Ela é uma cópia minha, cabelo castanho, olhos azuis e uma pele bem clarinha.

–A mamãe está com febre e não me deu nada pra comer.

–Hm. –Abri os olhos mais atenta agora. –Droga, você faltou à escola!?

–Sim. –Ela moveu seus pequenos ombros. –Hoje tinha prova.

–Merda! –Levantei, tirei a roupa e fui pro chuveiro. Julien virou e fechou a porta atrás dela, ela é uma boa menina.

Depois de um banho rápido fui pra cozinha, preparei ovos e bacon com torrada. Ela comeu tudo bem rápido, sorri e a beijei na testa.

Fui até o quarto da mamãe, ela estava assistindo televisão.

–Você deu comida pra ela?

–Não tem nada pronto, mãe. –Me aproximei. –Você tem que se levantar daí.

–Eu faço isso mais tarde.

–Julien não tem até mais tarde, ela é uma criança e sente fome.

–Se você não ficasse a noite toda vendendo seu corpo, talvez sua irmã tivesse uma vida melhor.

–Meu corpo paga os estudos dela!

Meu tom de voz saiu alterado, ela olhou pra mim e nada disse.

–Eu vou arrumar uma condução pra ela não depender mais de você, tente pelo menos preparar o café dela. E tome um banho, suas roupas estão sujas e você está fedendo.

–Tanto faz.

Me virei e saí do quarto dela batendo o pé. Eu odeio minha vida, de verdade eu odeio.

–Lara, você vende seu corpo? –Julien sentou no braço do sofá e me encarou na cozinha.

–Eu danço. –Sorri pra ela.

–Como? –Julien sorriu.

–Eu fiz aula de ballet quando tinha sua idade, mas parei aos dezesseis anos. –Me afastei da pia e fiquei na ponta dos pés. Ela olhou e arregalou seus lindos olhos.

–Uau. Eu posso fazer ballet também?

Descansei os pés e suspirei. Eu queria dar uma vida melhor pra ela. Mas aulas de ballet a essa altura.

Virei e fui até a geladeira, o bloco estava com todas as despesas do mês. Não me restava nem vinte reais. Fechei os olhos e uma lágrima escorreu na minha bochecha.

–Eu vou procurar uma escola de ballet, tá bem?

–Oba. –Ela gritou. –Eu quero ser igual a você quando crescer, e eu vou ter muito dinheiro para ajudar mamãe e você.

Suas palavras me derrubaram, virei e corri para meu quarto. Fechei a porta e fiquei encostada nela por uns segundos.

“Por que tudo é tão difícil pra nós?”

Meu celular tocou…

–Aló?

–Lara, aqui é o Lucca.

–Oi. –Parei de chorar e me sentei na cama.

–Você está livre agora?

–Ah… Sim.

–Eu sei que hoje você só entra às 18hs, mas estamos precisando de alguém para cobrir uma de suas colegas. É um extra a mais pra você.

Um extra a mais? Era tudo que eu precisava, mas quanto seria? A geladeira estava quase vazia, e os cartões todos estourados. Eu precisava de dinheiro extra e com urgência.

–Eu vou precisar de uma hora.

–Ótimo. Me procure quando chegar.

–Tudo bem, obrigada. –Desliguei e sorri.

Procurei minhas roupas, no tempo certo estava pronta, saí do quarto e fui ver Julien. Ela me olhou triste pois sabia que eu ia sair.

–Vai me deixar sozinha?

–Eu vou sair para procurar sua escola de ballet.

–Mesmo?

–Sim. Você sabe as regras?

–Nunca mexer no fogão, não brincar com fogo, não mexer em nada com tomada, nem em coisas pesadas. Ah, não abrir a porta para ninguém, a não ser que diga as palavras.

–E?

–Ligar para você se acontecer alguma coisa, e se você não atender bater na vizinha.

–Isso. –Sorri e beijei sua cabeça. –Tem lanche pra você na geladeira, coma no horário e de noite vão entregar pizza. Só atenda se ele falar as palavras mágicas.

–Ta bem. –Ela virou para assistir seu desenho.

Foi com dor no peito que a deixei sozinha, mas era preciso.

Avisei a minha vizinha para ficar de olho e fui correndo para o carro. Morava a quinze minutos do clube, com ajuda do trânsito cheguei em dez minutos.

Lucca estava na recepção do salão básico da casa.

–Chefe?

–Oi, Lara. –Ele riu. –Não precisa me chamar de chefe.

–Mas o senhor é meu chefe.

–Senhor. –Ele riu. –Me sinto um coroa agora.

–Desculpe. –Sorri sem jeito.

–Sua cabine é a três, você pode se apressar?

–É claro. –Fui para o camarim, e deixei minha bolsa no armário.

–Lara, cobrindo alguém? –Sam me olhou e sorriu.

–Sim. Cabine três.

–Ah, a safada da Gabi. Você tem muito trabalho.

Sam é ruiva e muito simpática, além de ter um corpo bonito. Virei para as roupas e peguei uma vermelha, fui me trocar e corri para a cabine.

Meu trabalho era ficar dançando, e nada mais que isso. Aos poucos os homens foram se chegando, eles não me tocavam a não ser que eu deixasse.

Fechei meus olhos e continuei dançando, sensual do jeito que todo homem gosta. Quem me via admirava meus olhos, bunda, coxa, peitos e até cabelo.

Eu sou bonita, chamo atenção dos homens fácil. O que eles não sabiam era que por dentro eu estava gritando por socorro.

Eu não sou feliz fazendo esse trabalho, mas preciso.

–Gostosa, me deixa te tocar. –Alguém disse.

Abri os olhos e um homem moreno sorriu, ele não era feio. Sua mão tocou minha coxa, mas eu recuei. Não vim para ser tocada, e não queria isso.

–Ei, não toque nela. –O segurança avisou.

–Desculpe. –O homem se afastou.

Às 18hs estava trocando de lugar, fui tomar banho e então me aprontar para meus clientes, se assim eu fosse escolhida.

Lucca bateu na porta do camarim, terminei de passar o batom e virei pra ele.

–Como prometido. –Ele se aproximou e me entregou um cheque.

–Obrigada.

Olhei o papel mais valioso do mundo, novecentos reais em um dia para cobrir alguém. Meu humor melhorou bastante, sorri e fui me juntar às outras garotas. Nós ficávamos na área externa até alguém chamar ou vir escolher pessoalmente.

–Lara, cabine 2. –Charles disse.

–Ok. –Olhei meu tablet, para saber do que a pessoa gostava.

Sim, nós temos acesso a essas coisas. Pessoas como Charles ficam encarregados de montar o perfil dos clientes, e então chegam a nós.

Meu cliente não exigia muitas coisas, mas ele queria uma dança privada antes do sexo.

Fui para a entrada e subi a ladeira até a cabine, peguei meu cartão e passei na máquina a porta abriu.

Ele estava lá me esperando, um homem bonito na casa dos trinta. Loiro, de olhos azuis e dono de um corpo maravilhoso.

A porta fechou automaticamente atrás de mim.

–Oi, eu sou Lara. –Caminhei até o ferro de pole dance.

–Joni. –Ele se encostou no sofá, me admirando.

–Algum pedido além da dança? –Escorreguei no ferro sentando sobre os calcanhares.

Ele sorriu e negou com a cabeça, levantei e dei um giro no ferro. Foi uma dança de quase trinta minutos, fazendo de tudo para ele ficar excitado.

Quando ele não aguentava mais começou a tirar as roupas, me agarrou pela cintura e tirou minha saia. Depois de checar se ele estava com camisinha, deixei que se encaixasse em mim.

–Você é maravilhosa. –Ele mordeu meu pescoço enquanto bombeava dentro de mim.

Eu estava acostumada a esse tipo de elogio, mas gostava de ouvir eles loucos por mim. Às vezes fazia esse lugar valer a pena, mesmo que fosse horrível.

Além dele, transei com mais duas pessoas e dancei na gaiola. No final da noite eu estava acabada, tudo que eu queria era minha cama.

–Como foi pra vocês? –Gustavo tirou a blusa e jogou no cesto.

–Normal. –Sam riu.

–Cansativo. –Me sentei.

–Ouvi dizer que o chefão está namorando uma megera. –Sam disse. –E que ela quer tomar conta do clube.

O chefão é Kalel e ele nunca namorou, mas ele transa com quase todo mundo. Ele e seus irmãos são a grande tentação para nós as funcionárias.

Eles nunca ficaram com nenhuma, mas a mulherada que vinha se dava bem.

–Eu vi, ela é gostosa. –Gustavo mordeu os lábios e piscou pra mim.

Eu não dava muita importância para a vida amorosa dos meus chefes, contanto que me pagassem no final do mês.

Depois de tudo pronto voltei pra casa, as duas já estavam dormindo. Chegar em casa às 2h da manhã numa quinta era um milagre. Caí na cama e apaguei.

Na manhã seguinte só iria trabalhar às 18h, deixei Julien na escola e fui fazer compras. Consegui encaixar ela no ballet e ambas ficamos felizes, mesmo me apertando um pouco valia a pena.

Os meses passaram rápido demais, e a grana começou a faltar. Minha mãe não voltou a trabalhar e só vivia dentro do quarto.

Cheguei no trabalho estressada, trombei nos chefes mais novos e pedi milhares de desculpas. Corri para me trocar e subi para meu primeiro cliente, ele era mais novo e não sabia muita coisa.

Quando acabou a porta abriu e ele saiu, estava recolhendo minhas coisas quando Gustavo entrou.

–O que foi? Eu ainda estou aqui dentro, você tem que esperar virem limpar –Avisei.

–Nós não temos nojo. –Ele entrou e atrás dele Fred.

Eu não sabia que clientes pediam serviço gay, nem sabia que meus colegas aceitavam. A porta fechou e eu corri.

–Droga, por que está fechando se eu ainda estou aqui?

–Porque nós somos seus clientes.

–Ou, ou. Como assim?

–Hoje você será nossa.

Apavorada me afastei, ele se despiu por completo. Me agarrou pelos cabelos e me jogou na cama, virei e tentei fugir.

Ele puxou meu calcanhar e me virou pra ele. Com habilidade tirou minhas roupas e sem camisinha enfiou seu pau, forte e bruto. O amigo dele ficou de braços cruzados assistindo.

–Por favor, para.

–Ah não, você é tão gostosinha.

Eu gritei, chorei e implorei para ele parar. Quanto mais eu sofria, mas ele gostava.

Um tempo depois Gustavo saiu de cima de mim e o outro tirou as roupas, ele colocou a camisinha enquanto o idiota me segurava.

Por mais que estivesse chorando, eles não mudaram suas atitudes. Uma vez que eles se afastaram para pegar brinquedos, eu levantei com as penas doloridas e fui até a porta.

Bati e gritei, Gustavo agarrou meu cabelo e me pressionou contra a porta.

–Eu vou comer sua deliciosa bunda.

Com as mãos na porta tomei impulso e empurrei ele, ele foi pra trás e quando voltou dei uma cabeçada nele e chutei seu saco.

–Filha da puta. –Ele caiu de joelhos se curvando de dor. –Quando eu levantar vou te matar.

O outro ficou rindo e sentou no sofá, eu fiquei na porta arrependida de ter batido nele.

Quando ele levantou me deu um tapa no rosto e me levou pra cama, prendeu minhas mãos e tirou algo de sua calça que estava no chão.

Era um estilete, ele se aproximou sorrindo.

–O que vai fazer?

–Foder sua vida pra sempre. –Ele enfiou o estilete abaixo do meu peito.

–Aaaah!

–Isso, grita. –O estilete rasgou minha pele, desceu passando por minha barriga, quadril e coxa.

–Caralho, você está maluco? –O amigo gritou.

Olhei meu corpo e gritei, era pior do que eu imaginava. Minha pele estava aberta, isso deixaria uma cicatriz monstruosa.

Gustavo disse alguma coisa e começou a se vestir, então com um cartão que ele não devia ter, conseguiu abrir a porta.

–Se contar isso pra alguém mato sua família.

–Merda. Onde você vai? –O amigo se vestiu enquanto Gustavo se mandava.

–Meu Deus. –Fechei meus olhos.

–Eu não tive nada haver com isso. –O garoto se aproximou e me libertou da corrente, me cobriu com o roupão e saiu correndo.

Fodeu, minha vida esta acabada. Levantei cheia de sangue, peguei meu celular e sentei no sofá. Liguei para a única pessoa que poderia me ajudar.

–Sam, venha para a cabine doze com panos e curativos.

–O que aconteceu?

–Estou ferida, é bem sério.

–Tô indo.

Uns minutos depois ela entrou e ficou chocada com o que via. Ela sabia muito bem os primeiros socorros e com algumas coisas improvisou.

Depois limpou o quarto e me ajudou a sair, e me cobriu mentindo para Lucca me deixar ir embora.

Eu fui para o hospital e depois de muitos pontos tive que mentir para a polícia que fui atacada na rua, como os exames acusaram violência sexual eles acreditaram.

No dia seguinte liguei para Lucca.

–Eu to doente, não sei quando vou poder trabalhar.

–Tudo bem, você é uma funcionária exemplar. Tire o tempo que for preciso.

Quase um mês depois eu voltei a trabalhar, com a ajuda da Sam descobrimos como usar maquiagem para enganar.

O problema seria quando tocassem minha pele, eles iam sentir e estranhar. E ainda tinha o fato de estar traumatizada, mas eu tinha que alimentar minha mãe e irmã.

–Vai conseguir. –Sam me abraçou. –Quando sentir que vão tocar a cicatriz, você pega na mão deles e coloca no seu seio.

–Tá. –Fui andando para a primeira cabine.

O cliente pediu luzes de néon, isso me deu alguma vantagem. Porque quando sentei em cima dele eu chorei, era horrível a sensação.

Quando ele tocou minha cintura fiz o que Sam disse e levei suas mãos até meus seios.

Agora...

Hannah estava bem e a tal Joana morta, uma víbora a menos na sociedade.

Os chefes ficaram um tempo no hospital, quando tiveram alta nós todos fizemos uma surpresa pra eles. Com balões, bolo e muita bebida.

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