Capítulo 3
Perspectiva da Hannah Hoje minha mãe viria me ver na nova casa, já fazia um tempo que não a via. Combinei com Kalel de não vir aqui até mais tarde, minha mãe não pode nem sonhar que estamos juntos. –Oi? Mamãe gritou da varanda. –Entra, mãe. –Gritei da minha pequena cozinha. –Que casa mais fofa. –Ela entrou e deixou sua bolsa no sofá, se aproximou e me abraçou. –É tão bom te ver. –Aaaw, é muito bom mesmo. –Respirei o cheiro dela. –Você está tão bonita. –Mamãe se afastou e me olhou de cima a baixo. –Aquele homem sumiu mesmo da sua vida? –Sim, eu estou livre. –Que bom. Quanto a seu pai é melhor que não saiba disso, ele pode querer te vender pra outra pessoa. –Acha que ele faria isso? –Ele disse que queria outra filha pra vender, então acho sim. –Nossa. –Franzi. –Por que ele é assim? –Eu não sei, tudo pra ele é dinheiro. –Ela suspirou triste. –Não vamos falar dele, vamos aproveitar nosso tempo juntas. –Sim. Me conte tudo. Conversar com minha mãe era sempre bom, me fazia voltar no tempo imaginar que meu pai não me vendeu para ter uma vida melhor. De noite meu amor veio me buscar, e juntos fomos para o aniversário do Ryder. Tudo estava indo muito bem, até mesmo minhas consultas médicas. Kalel me puxou para a pista de dança, eu sorri enquanto abraçava ele. As coisas ainda estavam devagar no nosso relacionamento, mas só por tê-lo em minha vida, eu já estava feliz. –Você está pensando de novo nos nossos problemas? –Kalel me olhou profundamente. –Você as vezes me assusta, sabe exatamente tudo sobre mim. –Bom, eu sou seu maior fã. No dia seguinte... –Você pode vir amanhã? –Lara suspirou do outro lado da linha. –Eu tenho uma consulta com o psiquiatra, eu to com medo. Felizmente eu a convenci a procurar ajuda, para ela perder o medo que tem com seu corpo e quem sabe um dia parar com as máscaras e se aceitar. –É claro que posso. –Que alívio. Lara estava se tornando parte da minha vida, era como uma irmã que eu nunca tive. Apesar de ainda manter uma distância, eu sabia que podia contar com ela. Kalel acha que não é bom terem meu endereço, não por enquanto. Ainda estavam atrás de mim, e eu não queria colocar ninguém em perigo. Apenas Vick sabia meu endereço, e estava vinte minutos atrasada. –Eu te vejo amanhã então, em frente a clínica. –Tá bom. Fique bem. –Lara suspirou e desligou. –Hannah! –Vick entrou gritando. Levantei e fui até a sala, ela entrou de cabeça baixa e usando óculos escuros. Tirou os sapatos e respirou fundo quando os pés tocaram no chão. Eu ri. Ela levantou a cabeça e tirou os óculos, uma marca roxa marcava toda a região do olho direito. –Vick? –Ele me bateu. –Sua voz fraquejou. –Eu mexi no celular dele e achei umas mensagens, liguei para a pessoa e discutimos. Ele ficou furioso e me bateu. –Não acredito. –Fui até ela e nos abraçamos. –Ele está me traindo faz dois meses. –Você terminou tudo? –Não, ele não deixou. –Ela me apertou e começou a chorar de soluçar. –Ele me quer de volta em duas horas, ou vai me procurar e me bater. –Vick, isso está muito errado. –Me afastei e segurei seu rosto. –Vamos dar parte dele? –Não. Apesar de tudo, eu amo ele. –Ah, Vick. –Acariciei seu rosto, ela continuou chorando. –Não diz nada disso para o Kalel, eu não quero a máfia envolvida. Infelizmente, agressões assim aconteciam o tempo todo. Meninas como Vick sofrem isso por anos até conseguir se defender, e deixar que a lei cuide de tudo. Como amiga, meu dever aqui era fazer com que ela perceba que está no caminho errado, e só então conseguir ajuda. ** Lara ouviu atentamente meu desabafo sobre Vick, ela ficou tão surpresa quanto eu. Estávamos sentadas esperando a vez dela no psiquiatra, pelo visto ia demorar um pouco. O bom era que podíamos passar algum tempo juntas. –Eu entendo a dor e o medo dela. –Lara disse. –Pode contar comigo para conversar com ela e tentar convencer a procurar a polícia. –Obrigada, mas eu acho que isso não vai acontecer. –Tem que partir dela, eu sei. –Lara respirou fundo. –Mas e você como andam as coisas no trabalho? –Bem melhor na verdade, eles mudaram algumas coisas. –Tipo o que? –Tem um novo mecanismo na cabine que alerta a agressão. Se encontra na lateral na parte de baixo da cama. É um botão silencioso que aciona todos os seguranças. –E se estiver amarrada? –Se não for capaz de apertar o botão, o reconhecimento facial estuda nossa reação. –Uau, isso é legal. –Uma vez que o mecanismo detecta algo estranho, temos dois minutos para desativar o alarme que só nós sabemos que está lá. –Todo cuidado é pouco. –Eu sorri pra ela, pois eu já sabia de tudo isso. Kalel me contou, mas eu queria que Lara se sentisse bem com a novidade. –Sim. –Ela riu. –Nunca mais vamos sofrer esse tipo de coisa. Conversamos até ela ser chamada. Fiquei feliz quando ela entrou na sala, o primeiro passo estava dado. Peguei o celular e mandei mensagem pra ele, que respondeu rapidamente. Os cuidados desse homem comigo supera tudo. Nunca imaginei que chegaria a isso, devido a nosso começo. Bem, eu o amo e sei que ele me coloca em seu pedestal. Eu só espero que um dia eu me cure, e consiga ter um relacionamento normal de novo. Eu quero fazê-lo feliz, e pra isso nossa relação precisa melhorar. No dia seguinte passei o dia todo no clube ao lado do Kalel e seus irmãos. Eu adorava cada segundo com eles, éramos uma família de verdade. Olhei a tela do tablet do Liam, que agora eles carregavam para todo canto. Ali estava todo o sistema de segurança do clube, informações dos clientes e funcionários. Eles tinham acesso a quem estava com quem nas cabines, por quanto tempo e o tipo de pacote que pediram. A única coisa que não era uma exigência eram fotos, os clientes ainda tinham suas privacidades. –Eu amo esse novo sistema. –Liam riu. –Eu aposto que sim. –Eu ri e balancei a cabeça negativamente. –Você é um pervertido. –Mason bateu na cabeça de Liam. –O que? É legal saber que elas estão transando enquanto nos trabalhamos. Eu ri. Essa família tinha sérios problemas com sexo. –Ryder, vamos espiar a ruiva? –Vocês não vão a lugar nenhum. –Mason se aproximou e tirou os aparelhos das mãos deles. –Se não sabem ser profissionais então não devem ter isso. –O que? Isso é sacanagem. –Liam pegou o tablet de volta. –Mason tem toda razão. –Kalel disse, muito confortável ao meu lado. –Vocês dois podem ficar com o antigo sistema, e quando forem maduros podem ter acesso a todo o programa. –Tão falando serio? –Sim, Ryder. –Kalel o encarou. –Vocês quebraram duas regras. –É publico para assistir. –Ryder se defendeu. –Já fazíamos isso antes, a única coisa que mudou é que agora sabemos onde cada uma estar. –Assunto encerrado até que mostrem profissionalismo. –Isso não é justo. –Liam chutou algo e desceu furioso. –Está nos rebaixando por isso? –Claro que não, só não vão ficar agindo dessa forma. Somos uma equipe aqui, Ryder. Mantenha o foco e não faça do nosso trabalho uma piada. Ryder Respirou fundo e foi atrás do Liam, agora éramos só nós três e um silêncio estranho. –Eles ficaram chateados. –Olhei para Mason e depois para Kalel. –Não vai durar um minuto, você vai ver. –Kalel riu, e beijou minha cabeça.Capítulo 4 Perspectiva Blake Virei na cadeira e apoiei os cotovelos sobre a mesa, olhei em volta e vi Liam derrubar um garçom. Esses irmãos idiotas, sempre agindo como brutamontes. Eu ri. Bebi minha cerveja toda, acenei para a gostosa na gaiola. Ela sorriu e continuou rebolando. "Eu amo meu trabalho." Desviei o olhar e vi Ryder muito irritado sentar no sofá. " Tá legal, era hora de voltar ao trabalho. " Deixei a cerveja no balcão e me levantei, enquanto andava várias mulheres estavam acenando para mim. – Qual o problema com o bebê da família? –Me sentei ao lado de Ryder. –Vai se foder. –Tá legal, eu já vi que não está pra conversa. –Kalel e Mason são uns imbecis! –Ele cerrou os dentes e me encarou. –Por que não bebemos e me conta tudo? –Levantamos e fomos para o bar. –É besteira. –Ryder bufou. –Mas as vezes nos sentimos descartáveis aqui, só eles resolvem tudo e nos tratam como… –Irmãos mais novos imaturos que só pensam em sexo? –Virei a garrafa e be
Capítulo 5 Lara Olhei para o reflexo no espelho, rosto bonito, corpo perfeito e cicatriz. Como alguém me tocaria desse jeito? Lara era uma farsa, um monstro que não devia estar mais no clube. Abri a maleta de maquiagem e comecei a me esconder, era um trabalho longo que chegou a demorar duas horas, hoje em dia eu faço truques mais simples com menos tempo. O celular tocou. Guardei o pincel e me estiquei para pegar, era Lucca. –Bom dia, chefe. –Lara, eu já pedi para não me chamar de chefe. –Ele riu. –Eu sou teimosa as vezes. –Estou vendo. Enfim, você pode ficar até mais tarde hoje? –Quão tarde? –Entrando às 18h até as 4h30. –Alguma ocasião especial? –Fecharam o clube para um evento particular, uma despedida de solteiro. Pacotes como dança, cabines públicas e as fechadas. O que você ganhar leva na hora, não vai cair para o final do mês. –Bom, eu preciso mesmo de dinheiro. Eu aceito. –Perfeito, te aguardo. –Tá bom. –Sorri e desliguei. Era uma honra um d
Capítulo 6 Lara Hannah soltou a mão de Julien no carrossel, e veio sentar no banco ao meu lado. Já faz duas semanas que ela cuida da minha irmã pra mim. Eu acho que Julien ajuda ela a superar os problemas, e também é uma companhia. Fiquei feliz por Kalel não achar ruim, afinal sou sua funcionária e Hannah é sua namorada. Meus problemas não deveriam interferir na vida da minha amiga. Se eu não estivesse desesperada por ajuda, não colocaria esse peso nas costas dela. Era sorte Hannah ser um anjo e não reclamar. –Ela está tão feliz. –Hannah disse sorrindo. –Ela é uma criança vivendo a vida de um adulto, cuidando da mãe que nem quer saber dela. Olha pra ela agora, sorrindo e tendo programas de criança. –Ela é uma menina incrível. –Eu nem sei como agradecer a tudo que tem feito, ela melhorou muito na escola. –Não me agradeça, eu faço porque gosto. –Hannah pegou minha mão e apertou gentilmente. –Ganhei duas irmãs. –Pode ter certeza que sim. –Então. Me conte como anda aq
Capítulo 7 Lara Meu coração ainda estava batendo muito rápido, e minhas mãos geladas. Olhei para o caminho que leva até a área dos chefes, e bati contra alguém. Olhei assustada para frente, ele segurou meu braço me impedindo de cair. – Lara, tudo bem? – Kalel me olhou gentilmente, como sempre. –Sim, eu não vi o senhor vindo. –Isso é porque eu saí daqui. –Ele sorriu e apontou para a cabine ao lado. Havia uma garota terminando de se vestir. Naquele momento meu coração quase parou. Eu peguei meu chefe traindo minha melhor amiga. "Que decepção!" –Ah, perdão. –Pelo que? Você só esbarrou em mim. Ele passou a mão no cabelo e olhou para dentro da cabine. Uma mistura de sentimentos me invadiram. O choque do que aconteceu lá em cima, e ver Kalel com outra. Me doeu por causa da Hannah. Olhei pra ele e tomei coragem de perguntar. –O senhor terminou com a Hannah? Ele olhou pra mim surpreso, e eu o encarei arrependida. Afinal, ele é meu chefe. E mesmo que Hannah sej
Capítulo 8 Lara No dia seguinte me olhei no espelho e gritei, a marca ali estava realmente feia. Mas a maquiagem mais uma vez estava me ajudando, em alguns minutos estava ali meu lindo rostinho de novo. Peguei minhas coisas e segui para o clube, o lugar estava vazio. –O que aconteceu? –Parei ao lado de Ryder, ele largou o copo no balcão e me encarou. Seus olhos procurando o roxo. –A polícia está aqui. –Ele apontou para os fundos. – Problemas? –Não, eles querem o depoimento de vocês. –Lara, como está bonita. –Lucca parou ao meu lado, junto dele Liam e Mason. –Obrigada. –Olhei todos aqueles olhos em mim. –Você deu um jeito nisso. –Liam apontou para meu rosto e riu. –Muito bom. –Obrigada. –Você vai responder algumas perguntas e depois pode esperar no camarim. –Lucca disse. –Sim, senhor. –Passei por eles e fui até o policial. Depois de responder algumas perguntas fui liberada, fiquei no camarim como ele pediu. Até as 20h o clube ficaria fechado, o que nos deu algum desc
Capítulo 9 Perspectiva do Liam Olhei em volta para ter certeza de que ninguém estava me olhando, se soubesse o que fiz me matariam. Kalel ia ficar uma fera comigo e não ia prestar, mas agora era tarde. Eu já estava no fundo do poço, sem chance de salvação. "Esse era um caminho sem volta." Avistei Kalel e Mason discutindo, levantei e fui até eles. Ryder me viu e me seguiu. Mesmo sendo quatro irmãos, quase nunca brigávamos assim. Eram sempre brigas estúpidas, nada que uma bebida não resolvesse. –Foda-se, Kalel. Somos seus irmãos e precisamos de você aqui. –Não seja um babaca, Mason. –Kalel disse, não dando muita atenção ao problema deles. –Sou babaca por me preocupar com você? –Mason cerrou os dentes, demonstrando sua raiva. –O que está acontecendo aqui? –Ryder perguntou, olhando de um para o outro. –Esse otário quer nos deixar aqui e sair com Blake para encontrar a irmã dele. A mesma irmã que ficou desaparecida por anos. –Esse foi sempre nosso acordo! –Kalel gritou.
Capítulo 10 Perspectiva Mason Aquele episódio com o Kalel me deixou furioso. Por um instante, até esqueci do problema com a Lara. Meu plano para mandá-la embora estava quase pronto. Em poucos dias, ela estaria na rua. Mas com o Kalel indo com o Blake, o Lucca ia defendê-la. Não entendo o que o Lucca vê nela. Era quase como se ele estivesse apaixonado! Ele ligava para ela oferecendo extras, e ela corria para fazer tudo. Depois da confusão que ela causou, era mais um motivo para mandá-la embora. Ela tinha uma marca feia no rosto, e mesmo com o Kalel oferecendo dias de folga, ela não aceitou. Às vezes, meus irmãos são muito condescendentes. Se fosse comigo, eu simplesmente mandaria ela embora e pronto. Outra preocupação que martelava na minha mente era a Hannah. Com a saída de Kalel, ela ficará vulnerável. –Você pisou feio na bola com o Kalel mais cedo. –Disse Lucca ao sentar ao meu lado. –Não fazia ideia de que o Kalel precisava de tanta bajulação. –Comentei. –Qual é
Capítulo 11 Perspectiva Hannah A notícia caiu sobre mim como um balde de água fria. Kalel, meu amado, partiria em missão com Blake. A tristeza me invadiu, um nó se formou na garganta, mas a verdade é que eu não podia impedi-lo. A irmã de Blake, a quem eu jamais conheci, estava viva. Retornei para casa, buscando um refúgio para acalmar meu coração. A notícia da partida de Kalel me deixava perturbada, e eu precisava de um tempo para processar tudo. A sorte é que minha mãe estava vindo me visitar, e ela queria conversar sério comigo. Talvez a sua presença e sabedoria pudessem me ajudar a lidar com essa situação. –Mãe! –Fechei a porta atrás de mim. –Aqui em cima. Joguei a bolsa sobre o sofá e corri para o meu quarto. Ela estava lá, sentada na cama, um papel em suas mãos. Caminhei até ela e me sentei, meu coração batendo forte. Olhei para o papel e congelei. –O que é isso? –Eu achei isso enquanto fazia faxina. –Ela me encarou com lágrimas nos olhos. –É o acordo que seu pai