Tentar escapar no Festival Cultural da Academia de Artes não foi uma boa ideia e com certeza, ao chamar atenção de algumas pessoas, acabei chamando também a do Gustavo. Ele não comentou nada justamente para me castigar em casa, sem eu desconfiar de que uma surpresa me esperava.
Eu peguei no sono dentro do guarda-roupa e despertei com alguns sons estranhos. Não eram vozes falando e sim gemendo. Eu conhecia a do Gustavo, mas a outra era desconhecida..., não, eu sabia quem era, só não tinha certeza.
Abri meus olhos e sentei-me para tentar entender melhor.
– Me toca mais... – A garota falou e eu tive certeza de quem era. – Mais... – Seus gemidos eram altos.
– Onde você acha que estou tocando? – Gustavo perguntou e a garota gemeu mais ainda.
Deslizei um pouco a porta do guarda-roupa, criando uma fresta para tentar enxergar o que estava acontecendo.
Victoria estava diante de mim, com sua face molhada e seu corpo encolhido tremulo. Eu sentia raiva de tudo e queria acabar de uma vez com isso. Segurei firme a faca e engatinhei em sua direção, o que a deixou ainda mais desesperada.– Porque você está se aproximando? – Ela perguntou nervosa.Quando eu a olhava, eu só conseguia enxergar ele, o meu passado, que se aproximou de mim e depois me tratou como lixo.– Porque veio falar comigo se não ia ficar comigo? – Perguntei com meus grandes olhos vidrados. – Você só precisava de uma amiga dispensável? – Eu estava em cima da Victoria. – Alguém que você pudesse jogar fora quando não quisesse mais? – Meu coração estava acelerado e eu queria dizer tudo isso para ele e o fazer pagar pelo que me fez sentir. – Então você era esse tipo de pessoa? Exatamente assim c
Três dias depois, eu ainda sentia dor em minha vagina por causa da tortura do Gustavo usando aquele pau de borracha. Se fosse o seu de verdade, com certeza a dor seria prazerosa de se sentir, mas eu estava incomodada. Joguei-me na cama deitada para vestir uma calça para sairmos, já que ficar de pé estava um pouco complicado por causa da vagina e dos pés que não estavam em por cento curados.Gustavo entrou no quarto já arrumado e revirou os olhos quando me viu de pernas pra cima vestindo uma calça.– Repugnante! – Me repreendeu. – Poque você veste sua calça assim? Fica parecendo uma lagarta.– Me desculpe, ´que meus pés estavam doendo e lá em baixo também... – Fiquei vermelha.– Lá em baixo...? – Gustavo tentava entender o que eu queria dizer. – Ah! – Entendeu e revirou os olhos outra vez. – De qu
No dia seguinte, antes de voltarmos para casa, Gustavo decidiu passar em um mercado para comprar algumas coisas. Eu fiquei calada como sempre, apenas observando estacionar o carro. O telefone do Gustavo tocou. Ele atendeu e parecia conversar com algum de seus amigos, sobre Victoria e a polícia... Meu coração estava quase saindo pela boca.– A policia disse que eles não precisam de mim? – Gustavo questionou despreocupado. – Mas não seria melhor se eu fosse? – Começou a fazer cena. – Então eles não precisam de mim? – Eu evitava olhar para sua expressão sínica. – Onde ela poderia ter ido? Isso é realmente preocupante. – Engoli em seco e abaixei meu olhar triste. – Espero que nada de ruim tenha acontecido. – Ele agora estava simulando um tom de voz preocupado e pior que ele era muito bom. – Os pais dela estão na delegacia tamb&eacut
Coloquei o bolo em cima da mesa e o Gustavo sentou-se, cruzando s pernas em seguida. O clima não estava muito bom. A cara do Gustavo não estava nada agradável e eu não me ousaria a falar algo para ele e ser castigada. Fiquei em pé de braços cruzados, olhando cada detalhe do bolo e esperando alguma atitude do Gustavo, mas tudo que ele fez foi continuar emburrado.– Bolo...! Vá em frente... – Gustavo apontou para o bolo. – Corte! – Ordenou.Assenti e peguei uma faca, o que me fez por alguns instantes, lembrar de como Victoria morreu. Meu corpo estremeceu, sacudir a cabeça como forma de espantar esses pensamentos e voltei para o bolo.– Que estranho... – Tentei cortar, mas estava um pouco duro e eu estava com medo de fazer algo errado. – O bolo está duro. – Falei para o Gustavo, que se inclinou um pouco para analisar.– Isso... ele está
Eu não fazia ideia dessa história. Não sabia o que pensar e muito menos o que falar. Ele queria me contar algo? Ele queria dizer que era meu pai... ou que tinha raiva do meu pai seu irmão? – Me sinto bem contando isso para alguém. – Ele afirmou aliviado, mas eu não, eu estava em choque. – Não olhe para mim desse jeito, você não sabe de nada... – Ele se irritou e se levantou cambaleando e com dificuldade. – Eu não deveria ter mostrado a minha garota para o meu irmão daquele jeito! – Ele segurou-se na parede para não cair. – Como iria saber que os dois iria se apaixonar um pelo outro? – Ele estava frustrado e eu tentando compreender seu desabafo. – Apenas porque ele ia para a universidade e era mais alto... ela me trocou por ele. – Ele arranhava a parede com raiva. – E então ela se casou com ele, como se ela ti
O tempo passou rápido e aos poucos eu sentia minhas férias indo embora. Talvez, ir para a escola fosse melhor que viver com meu tio me agredindo e gritando comigo por besteira. Eu estava jantando com minha vó e mais uma vez, eu estava me sentindo em, apenas com ela.Eu comia com pressa porque meu tio poderia chegar a qualquer momento e brigar por eu estar comendo sua comida... então, era melhor eu esconder qualquer vestígio, lavar e guardar tudo depois. – Vai com calma, Katherine. – Minha vó falou rindo. – Seu tio não vai voltar para casa hoje à noite... só relaxe e aproveite. – Ela afirmou e sugeriu toda simpática. Ouvir isso me alegrou. – Você está feliz? – Ela perguntou notando a minha expressão. Fiz que sim com a cabeça de boca cheia. – Então coma devagar, sem pressa ou você terá indige
Descer ou ficar? Eu me perguntava olhando os degraus da escada. A vontade que eu tinha era de deixar meu corpo fraco rolar por ela abaixo, para ver se de fato eu morria de uma vez por todas. Respirei fundo e lentamente, comecei a descer, me segurando para não perder o equilíbrio.A casa estava quieta e cheirosa. Não havia sinal algum do Gustavo ainda. Entrei no quarto dele e não o vi. O porão estava fechado, então tirei da lista, já que quando ele ficava lá em baixo sozinho, deixava tudo aberto.Me restou apenas a cozinha. Adentrei na mesma e lá estava ele, sentado diante do bolo que quase destruiu todo. Ele segurava uma colher e comia aos poucos. Quando Gustavo me viu, ficou surpreso, deslizou a cadeira para trás e levantou-se. Ele pegou o bolo e parecia deslocado.– Está um pouco derretido, mas você quer um pedaço? – Ele perguntou sem jeito. – Ou um ming
Um dia, quando eu estava pesquisando e lendo algumas referências filosóficas para produzir um pequeno roteiro como trabalho de curso, eu li uma frase que ficou marcada em mim: “Somos indivíduos livres e nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem valores ou regras eternas, a partir das quais podemos no guiar. E isto torna mais importantes nossas decisões, nossas escolhas.” Do filósofo, escritor e crítico francês, Jean-Paul Sartre.Era assim que eu me sentia, livre e presa ao mesmo tempo, tendo que tomar decisões difíceis e eu, mais uma vez, estava diante de uma.– Você não se lembra de mim? – Ele questionou e eu engoli em seco.– Ah... ah... o rapaz do banheiro. Fingir que me recordei dele.– Exato! – Ele assentiu. – Eu sou o cara que você conheceu no banheiro do bar.