Um dia, quando eu estava pesquisando e lendo algumas referências filosóficas para produzir um pequeno roteiro como trabalho de curso, eu li uma frase que ficou marcada em mim: “Somos indivíduos livres e nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem valores ou regras eternas, a partir das quais podemos no guiar. E isto torna mais importantes nossas decisões, nossas escolhas.” Do filósofo, escritor e crítico francês, Jean-Paul Sartre.
Era assim que eu me sentia, livre e presa ao mesmo tempo, tendo que tomar decisões difíceis e eu, mais uma vez, estava diante de uma.
– Você não se lembra de mim? – Ele questionou e eu engoli em seco.
– Ah... ah... o rapaz do banheiro. Fingir que me recordei dele.
– Exato! – Ele assentiu. – Eu sou o cara que você conheceu no banheiro do bar.
Santiago entregou o pen drive ao detetive, que o plugou no computador, sentou-se para assistir ao vídeo. Meu coração queria saltar da minha boca. Eu não sabia que vídeo era, muito menos o Gustavo... poderia ser qualquer um.– Não consigo realmente ver... o que você está tentando mostrar? – Detetive Lobo perguntou confuso.– O quê? Está tudo no vídeo! – Santiago irritou-se desesperado indo até ele.Gustavo estava inquieto querendo saber do que se tratava.– Não consigo ver nada por causa da chuva. Não consigo nem dizer quem é quem... – Detetive Lobo murmurou.– Sai. – Santiago o empurrou para o lado, e começou a mexer no computador. – Você não consegue ver isso? – Ele mostrava algo na tela. – Olhe! Ele está jogado contra o para-brisa!– Como eu
Meu corpo travou. Lhe ver após muito tempo era assustador. Eu não esperava isso... jamais. Minha cabeça começou a doer e meu corpo a tremer. As lembranças invadiram meus pensamentos e eram ruins. Eu não queria ficar revivendo isso, mas eu sempre acreditei que meu passado, por mais que eu tentasse, não me deixaria viver em paz.– Venha aqui! – Ele ordenou todo autoritário.– C-como você... – Gaguejo querendo entender como ele me encontrou na casa do Gustavo.– Esquece isso e venha aqui agora! – Ele se aproximava aos poucos e eu continuava inerte. – Vou contar até dez para vocês vim até a mim pedaço de merda. – Ele parecia levemente alterado.Quando ele começou a contar, eu corri para dentro e quando tentei fechar a porta, ele jogou todo seu corpo pesado contra ela, me impedindo. Eu tentava fechar e ele empurrava do
O olhar do policial já me dizia o que me aguardava... talvez, fosse o fim de tudo e meu coração estava gritando de dor. Eu realmente não queria que tudo terminasse assim. O Policial me conduziu até uma sala de interrogatório e me deixou sozinha, trancada. Havia apenas a mesa, duas cadeiras e eu. Olhei para o grande vidro e vislumbrei meu terrível reflexo e foi nesse instante que flashs do meu passado começaram a surgir, em uma linha temporal, até os momentos que passei com o Gustavo. – Eu quero recomeçar! Por favor... eu quero que seja diferente. – Murmurei começando a chorar. Abaixei meu olhar e ao erguer, vi no vidro em minha frente, uma vida totalmente diferente da que eu vivi. Era eu ali, porém, em outra versão... eu era um menino? Me chamava Kaique? Eu não entendia o que estava acontecendo... caminhei me aproximando e estendi minha mão para tocar. Era como um verdadeiro paradoxo. Em um momento eu estava na polícia, na sala de inte
— Olá, sou a diretora. Vamos começar o primeiro teste, é bem simples. – A mulher de cabelos curtos e sotaque latino falou pegando o microfone da mão de Hugo. – Fiquem todos em cima do palco e façam exatamente o que eu pedir.Nerida Prado não era necessariamente a pessoa mais paciente do mundo, principalmente com os falatórios de Hugo. Quando soube que ele estaria envolvido na produção da série recusou de imediato. Até que Karoly bateu na sua porta às três da manhã implorando para que ela reconsiderasse, mas a mulher ficou firme na sua decisão. Sem mais opções a roteirista jogou um pen drive por debaixo da porta e se retirou. No dia seguinte Nerida apareceu no estúdio com uma caneta na mão perguntando quando tempo a fariam esperar até imprimirem o contrato."Nerida Prado." — pensou Kaique. –
— O número discado encontra-se desligado ou fora da área de cobertura. – Kaique suspirou.Novidade. Tentou uma última vez e resolveu deixar o recado.— Sou eu. Bom eu... só queria dizer que estou em Los Angeles agora e... Eu estou no meio de um teste, mas... – outro suspiro dessa vez mais profundo. – Você tinha razão. Eu sei disso e por isso peço desculpas, mas mesmo estando errado eu queria que soubesse que estou bem e que vai ser a última vez. Se não der certo eu vou fincar meus pés no chão e focar minha mente em outra coisa como você sempre me disse pra fazer. Não é que eu desista dos meus sonhos, só... Não vou mais gastar todo meu tempo para eles se realizarem. Isso também não quer dizer que eu espero que me entenda e possamos ser como antes. Não sei nem mesmo se você vai querer ver minha cara, mas eu
O despertador do celular tocou, mas era inútil. Kaique não havia dormido a noite toda. Estava deitado no chão da sala do seu minúsculo apartamento encarando o teto manchado. Desligou o alarme e encarou a tela. 7:00. Cobriu os olhos com o braço segurando na outra mão o roteiro e o contrato do estúdio.Se levantou e entrou no chuveiro achando que assim poderia despertar ou tirar aquela sensação dele. Por um momento havia tido esperança, por um momento tinha visto o caminho se abrir, mas claro que Gustavo havia estragado isso. "Maldito Gustavo! Maldita Karoly! Merda de teste!"Esfregava os cabelos molhados de pura irritação. Desligou o chuveiro e por mais que não estivesse com a menor pressa resolveu acabar com isso logo, trocou de roupas e nem mesmo tomou café. Só pegou as chaves do seu Fiat cinza e se dirigiu para o estúdio.Dessa vez apesar do
ᴥᴥᴥᴥᴥᴥInglewood é diferentemente dos outros bairros de Los Angeles, um dos mais sem graças cuja a grande atração trata-se de uma lanchonete com uma rosquinha gigante como monumento no telhado, o Randy’s Donuts. Por se tratar de um bairro mais pobre foi justamente onde Kaique se instalou.Andando pelas ruas cheia de pessoas e carros passando numa confusão de aromas e gritos Hyago encarava o endereço no celular quando este tocou. Era um dos números de Alef e mesmo que não tivesse sido reconhecido pelo sistema sabia que só podia ser ele ligando, então apenas ignorou."Certo. O cemitério está a minha direita..." — ele deu zoom no mapa. — "Tenho que virar aqui e seguir reto duas quadras." — Hyago guardou rapidamente o celular no bolso do casaco. Usava suas roupas mais comuns, boné e óculos escuro enquanto rezava para não
Kaique não sabia dizer a quanto tempo estava ali, sentado no sofá entulhado de roupas encarando aquelas duas palavras – Paradoxo Kather – Desde a visita de Hyago toda sua mente virou um emaranhado de emoções e pensamentos. Ele apoiava o queixo nas mãos cruzadas e fitava o roteiro e o contrato. "Se ao menos ela atendesse minhas ligações." Pensou em pegar o celular novamente para tentar, talvez deixar mais um recado, talvez devesse dizer que passou no teste, talvez...O cansaço o dominava, ele passou as mãos pelo cabelo anelados e pegou o celular. Eram quatro da manhã, certamente não devia ligar. Teve uma ideia, talvez mais estúpida que a primeira. Abriu o Instagram, digitou o nickname e entrou no perfil. O botão de follow mostrava que já era um seguidor, clicou no ícone do direct. O teclado apareceu... o que devia dizer?Começou a digitar,