— O número discado encontra-se desligado ou fora da área de cobertura. – Kaique suspirou.
Novidade. Tentou uma última vez e resolveu deixar o recado.
— Sou eu. Bom eu... só queria dizer que estou em Los Angeles agora e... Eu estou no meio de um teste, mas... – outro suspiro dessa vez mais profundo. – Você tinha razão. Eu sei disso e por isso peço desculpas, mas mesmo estando errado eu queria que soubesse que estou bem e que vai ser a última vez. Se não der certo eu vou fincar meus pés no chão e focar minha mente em outra coisa como você sempre me disse pra fazer. Não é que eu desista dos meus sonhos, só... Não vou mais gastar todo meu tempo para eles se realizarem. Isso também não quer dizer que eu espero que me entenda e possamos ser como antes. Não sei nem mesmo se você vai querer ver minha cara, mas eu
O despertador do celular tocou, mas era inútil. Kaique não havia dormido a noite toda. Estava deitado no chão da sala do seu minúsculo apartamento encarando o teto manchado. Desligou o alarme e encarou a tela. 7:00. Cobriu os olhos com o braço segurando na outra mão o roteiro e o contrato do estúdio.Se levantou e entrou no chuveiro achando que assim poderia despertar ou tirar aquela sensação dele. Por um momento havia tido esperança, por um momento tinha visto o caminho se abrir, mas claro que Gustavo havia estragado isso. "Maldito Gustavo! Maldita Karoly! Merda de teste!"Esfregava os cabelos molhados de pura irritação. Desligou o chuveiro e por mais que não estivesse com a menor pressa resolveu acabar com isso logo, trocou de roupas e nem mesmo tomou café. Só pegou as chaves do seu Fiat cinza e se dirigiu para o estúdio.Dessa vez apesar do
ᴥᴥᴥᴥᴥᴥInglewood é diferentemente dos outros bairros de Los Angeles, um dos mais sem graças cuja a grande atração trata-se de uma lanchonete com uma rosquinha gigante como monumento no telhado, o Randy’s Donuts. Por se tratar de um bairro mais pobre foi justamente onde Kaique se instalou.Andando pelas ruas cheia de pessoas e carros passando numa confusão de aromas e gritos Hyago encarava o endereço no celular quando este tocou. Era um dos números de Alef e mesmo que não tivesse sido reconhecido pelo sistema sabia que só podia ser ele ligando, então apenas ignorou."Certo. O cemitério está a minha direita..." — ele deu zoom no mapa. — "Tenho que virar aqui e seguir reto duas quadras." — Hyago guardou rapidamente o celular no bolso do casaco. Usava suas roupas mais comuns, boné e óculos escuro enquanto rezava para não
Kaique não sabia dizer a quanto tempo estava ali, sentado no sofá entulhado de roupas encarando aquelas duas palavras – Paradoxo Kather – Desde a visita de Hyago toda sua mente virou um emaranhado de emoções e pensamentos. Ele apoiava o queixo nas mãos cruzadas e fitava o roteiro e o contrato. "Se ao menos ela atendesse minhas ligações." Pensou em pegar o celular novamente para tentar, talvez deixar mais um recado, talvez devesse dizer que passou no teste, talvez...O cansaço o dominava, ele passou as mãos pelo cabelo anelados e pegou o celular. Eram quatro da manhã, certamente não devia ligar. Teve uma ideia, talvez mais estúpida que a primeira. Abriu o Instagram, digitou o nickname e entrou no perfil. O botão de follow mostrava que já era um seguidor, clicou no ícone do direct. O teclado apareceu... o que devia dizer?Começou a digitar,
Hyago estava pouco se importando com o falatório de Alef, sua maior preocupação mesmo era chegar até o prédio logo para finalmente ver se Kaique havia aceitado ou não o bendito papel. Assim que estacionou Hyago o deixou falando sozinho e saiu imediatamente entrando pela porta de vidro automática. Passou pelo balcão dando um bom dia para as recepcionistas e seguiu pelo corredor até a maquiagem.— Ah Hyago, quanto tempo... — Um outro ator o parou. — Não sabia que já estava de volta ao trabalho e...— Poisé, sabe como é. — Ele se desvencilhou dele. — E pra variar estou atrasado, a gente se vê. – Nem esperou o cara responder e voltou a andar.Chegou na porta branca com a placa indicativa. "Finalmente."Girou a maçaneta e entrou no lugar. A sala não era muito grande, as paredes tinham um tom pastel. E
— Certo, é só uma prévia, mas os patrocinadores insistem então... — James Trevor suspirou. Tinha a pele escura e cabelo rastafári, os olhos castanhos amarelados eram treinados para identificar e capturar os mínimos detalhes, não era em vão que tinha o apelido de olhos de águia e era um dos melhores fotógrafos do mundo.— Ah sim, isso vai ser ótimo. — Karoly falou animada. — Eu posso ajudar a dirigir, posso, posso Nerida? — ela sorriu para a mulher que se mantinha inexpressiva.— Com licença, o fotografo sou eu. — James falou alto. — Eu mesmo irei dirigir e fotografar, vocês duas se contentem por eu permiti que assistam.— Tsk! — Nerida revirou os olhos. — Neste caso eu tenho bem mais o que fazer. — ela saiu pisando dura da sala.— Que chata. — James murmurou.— Eu a
ᴥᴥᴥᴥᴥᴥ— Hyago, escute...— EU VOU TE MATAR! — O moreno jogou o casaco de qualquer jeito no sofá dentro do trailer. A raiva fazia seu corpo ferver. — Como pôde, Alef?— Olha a culpa não é só minha, a Amber planejou tudo, deve ter convencido a Jiulia...— Me poupe! Você e a Amber que devem ter armado tudo e colocado a Jiu naquela situação. No meio de uma live na internet com milhões de pessoas assistindo pra que não tivéssemos como recusar essa ida no programa de casais. — Ele encarou Alef furioso até que um celular tocou dentro do bolso do seu terno. O homem já por reflexo pegou o aparelho. — Nem se atreva!— É do programa, eu preciso atender. — Alef fez sinal para o rapaz esperar e se virou falando animadamente com o produtor. — Sim, claro será um prazer... — Hyago ouvia revi
O estúdio era enorme, como todo grande estúdio de Hollywood deve ser. Kaique já havia feito alguns tours pelo lugar, primeiro num passeio escolar e depois quando havia acabado de se mudar para a cidade, cinco anos atrás. Mesmo assim ainda estava pasmo com o tamanho dos prédios, as ruas e encruzilhadas que davam acesso a todos os tipos de set de filmagem e principalmente o fato de Hyago dirigir o carro elétrico por passagens que ele nunca havia visto.— É uma espécie de atalho, acaba sendo mais longo, mas evita os turistas e principalmente os abutres. — Hyago explicou assim que entraram no veículo.— Abutres?— É, os paparazis que entram com os turistas e tentam invadir os sets.— Ah, sim. Claro. Acho que não é mesmo uma boa ideia sermos vistos assim. — Hyago se virou para ele.— Assim como?— Uê... quer di
— É e eu disse que tem coisas que não gosto da Coréia. A comida é uma delas. Quem em sã consciência fica comendo lula quando descobre o hambúrguer. — ele brincou. — Embora o risoto de lá seja meu favorito, na verdade o da minha mãe porque ninguém em toda américa consegue fazer pratos coreanos tão bem. — Ele abaixou o olhar."É mesmo, a mãe dele morreu alguns anos, não foi?"— E você Kaique? — Ele mudou de assunto. — Mora sozinho, não é? Deve sentir falta de comida caseira.— Ah... Na verdade não, minha mãe nunca cozinhou bem. Sempre vive de embutidos.— Caramba, a NASA devia te estudar então. Porque mesmo vivendo de porcarias continua numa forma de dar inveja a muitos dos atores marombeiros daqui. — Kaique riu.— Que nada. Eu apenas