Coloquei o bolo em cima da mesa e o Gustavo sentou-se, cruzando s pernas em seguida. O clima não estava muito bom. A cara do Gustavo não estava nada agradável e eu não me ousaria a falar algo para ele e ser castigada. Fiquei em pé de braços cruzados, olhando cada detalhe do bolo e esperando alguma atitude do Gustavo, mas tudo que ele fez foi continuar emburrado.
– Bolo...! Vá em frente... – Gustavo apontou para o bolo. – Corte! – Ordenou.
Assenti e peguei uma faca, o que me fez por alguns instantes, lembrar de como Victoria morreu. Meu corpo estremeceu, sacudir a cabeça como forma de espantar esses pensamentos e voltei para o bolo.
– Que estranho... – Tentei cortar, mas estava um pouco duro e eu estava com medo de fazer algo errado. – O bolo está duro. – Falei para o Gustavo, que se inclinou um pouco para analisar.
– Isso... ele está
Eu não fazia ideia dessa história. Não sabia o que pensar e muito menos o que falar. Ele queria me contar algo? Ele queria dizer que era meu pai... ou que tinha raiva do meu pai seu irmão? – Me sinto bem contando isso para alguém. – Ele afirmou aliviado, mas eu não, eu estava em choque. – Não olhe para mim desse jeito, você não sabe de nada... – Ele se irritou e se levantou cambaleando e com dificuldade. – Eu não deveria ter mostrado a minha garota para o meu irmão daquele jeito! – Ele segurou-se na parede para não cair. – Como iria saber que os dois iria se apaixonar um pelo outro? – Ele estava frustrado e eu tentando compreender seu desabafo. – Apenas porque ele ia para a universidade e era mais alto... ela me trocou por ele. – Ele arranhava a parede com raiva. – E então ela se casou com ele, como se ela ti
O tempo passou rápido e aos poucos eu sentia minhas férias indo embora. Talvez, ir para a escola fosse melhor que viver com meu tio me agredindo e gritando comigo por besteira. Eu estava jantando com minha vó e mais uma vez, eu estava me sentindo em, apenas com ela.Eu comia com pressa porque meu tio poderia chegar a qualquer momento e brigar por eu estar comendo sua comida... então, era melhor eu esconder qualquer vestígio, lavar e guardar tudo depois. – Vai com calma, Katherine. – Minha vó falou rindo. – Seu tio não vai voltar para casa hoje à noite... só relaxe e aproveite. – Ela afirmou e sugeriu toda simpática. Ouvir isso me alegrou. – Você está feliz? – Ela perguntou notando a minha expressão. Fiz que sim com a cabeça de boca cheia. – Então coma devagar, sem pressa ou você terá indige
Descer ou ficar? Eu me perguntava olhando os degraus da escada. A vontade que eu tinha era de deixar meu corpo fraco rolar por ela abaixo, para ver se de fato eu morria de uma vez por todas. Respirei fundo e lentamente, comecei a descer, me segurando para não perder o equilíbrio.A casa estava quieta e cheirosa. Não havia sinal algum do Gustavo ainda. Entrei no quarto dele e não o vi. O porão estava fechado, então tirei da lista, já que quando ele ficava lá em baixo sozinho, deixava tudo aberto.Me restou apenas a cozinha. Adentrei na mesma e lá estava ele, sentado diante do bolo que quase destruiu todo. Ele segurava uma colher e comia aos poucos. Quando Gustavo me viu, ficou surpreso, deslizou a cadeira para trás e levantou-se. Ele pegou o bolo e parecia deslocado.– Está um pouco derretido, mas você quer um pedaço? – Ele perguntou sem jeito. – Ou um ming
Um dia, quando eu estava pesquisando e lendo algumas referências filosóficas para produzir um pequeno roteiro como trabalho de curso, eu li uma frase que ficou marcada em mim: “Somos indivíduos livres e nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem valores ou regras eternas, a partir das quais podemos no guiar. E isto torna mais importantes nossas decisões, nossas escolhas.” Do filósofo, escritor e crítico francês, Jean-Paul Sartre.Era assim que eu me sentia, livre e presa ao mesmo tempo, tendo que tomar decisões difíceis e eu, mais uma vez, estava diante de uma.– Você não se lembra de mim? – Ele questionou e eu engoli em seco.– Ah... ah... o rapaz do banheiro. Fingir que me recordei dele.– Exato! – Ele assentiu. – Eu sou o cara que você conheceu no banheiro do bar.
Santiago entregou o pen drive ao detetive, que o plugou no computador, sentou-se para assistir ao vídeo. Meu coração queria saltar da minha boca. Eu não sabia que vídeo era, muito menos o Gustavo... poderia ser qualquer um.– Não consigo realmente ver... o que você está tentando mostrar? – Detetive Lobo perguntou confuso.– O quê? Está tudo no vídeo! – Santiago irritou-se desesperado indo até ele.Gustavo estava inquieto querendo saber do que se tratava.– Não consigo ver nada por causa da chuva. Não consigo nem dizer quem é quem... – Detetive Lobo murmurou.– Sai. – Santiago o empurrou para o lado, e começou a mexer no computador. – Você não consegue ver isso? – Ele mostrava algo na tela. – Olhe! Ele está jogado contra o para-brisa!– Como eu
Meu corpo travou. Lhe ver após muito tempo era assustador. Eu não esperava isso... jamais. Minha cabeça começou a doer e meu corpo a tremer. As lembranças invadiram meus pensamentos e eram ruins. Eu não queria ficar revivendo isso, mas eu sempre acreditei que meu passado, por mais que eu tentasse, não me deixaria viver em paz.– Venha aqui! – Ele ordenou todo autoritário.– C-como você... – Gaguejo querendo entender como ele me encontrou na casa do Gustavo.– Esquece isso e venha aqui agora! – Ele se aproximava aos poucos e eu continuava inerte. – Vou contar até dez para vocês vim até a mim pedaço de merda. – Ele parecia levemente alterado.Quando ele começou a contar, eu corri para dentro e quando tentei fechar a porta, ele jogou todo seu corpo pesado contra ela, me impedindo. Eu tentava fechar e ele empurrava do
O olhar do policial já me dizia o que me aguardava... talvez, fosse o fim de tudo e meu coração estava gritando de dor. Eu realmente não queria que tudo terminasse assim. O Policial me conduziu até uma sala de interrogatório e me deixou sozinha, trancada. Havia apenas a mesa, duas cadeiras e eu. Olhei para o grande vidro e vislumbrei meu terrível reflexo e foi nesse instante que flashs do meu passado começaram a surgir, em uma linha temporal, até os momentos que passei com o Gustavo. – Eu quero recomeçar! Por favor... eu quero que seja diferente. – Murmurei começando a chorar. Abaixei meu olhar e ao erguer, vi no vidro em minha frente, uma vida totalmente diferente da que eu vivi. Era eu ali, porém, em outra versão... eu era um menino? Me chamava Kaique? Eu não entendia o que estava acontecendo... caminhei me aproximando e estendi minha mão para tocar. Era como um verdadeiro paradoxo. Em um momento eu estava na polícia, na sala de inte
— Olá, sou a diretora. Vamos começar o primeiro teste, é bem simples. – A mulher de cabelos curtos e sotaque latino falou pegando o microfone da mão de Hugo. – Fiquem todos em cima do palco e façam exatamente o que eu pedir.Nerida Prado não era necessariamente a pessoa mais paciente do mundo, principalmente com os falatórios de Hugo. Quando soube que ele estaria envolvido na produção da série recusou de imediato. Até que Karoly bateu na sua porta às três da manhã implorando para que ela reconsiderasse, mas a mulher ficou firme na sua decisão. Sem mais opções a roteirista jogou um pen drive por debaixo da porta e se retirou. No dia seguinte Nerida apareceu no estúdio com uma caneta na mão perguntando quando tempo a fariam esperar até imprimirem o contrato."Nerida Prado." — pensou Kaique. –