Eu estava com meu celular no ouvido, esperando Henry atender. Já era noite e ele não havia dado notícias suas, o que, dado o caso de vampiro em que fora trabalhar, era preocupante. Caroline ficou extremamente exausta após a conversa com Luke e estava dormindo há horas. Ela sempre teve o sono leve, mas desta vez, Chris estava assistindo televisão num volume absurdo e abrindo garrafas de cerveja em sua cama, e ela nem tinha me mexido.
A chamada caiu na caixa postal mais uma vez e eu bufei, atraindo a atenção do loiro.
— Nada? — ele perguntou e sacudi a cabeça. — Merda… — sussurrou, a voz mais grave de preocupação.
— Eu vou até lá — avisei, indo tirar a chave do Jeep da mesa de cab
Foi a voz de Chris, após um tenso momento de silêncio, que me trouxe à realidade do que acontecia e me tirou de um profundo abismo de pensamentos negativos. — Quer nos contar alguma coisa, Henry? — o Heisenberg mais velho perguntou, obrigando seu irmão a se virar e se deparar conosco. Seus olhos estavam pretos como os de um demônio, as orbes, as íris antes verdes, e até a crueldade que costumava morar nessas criaturas. Havia um homem sentado numa cadeira, meio inconsciente. No momento em que entramos, pudemos ver a fumaça preta de um demônio sendo exorcizada para fora dele e atravessando o chão em direção ao Inferno. Para completar a desgraça da cena, havia uma mulher ao lado de Henry. Ela era tão baixa que não chegava aos nossos ombros, mas a julgar pelos seus olhos iguais aos de Henry, ela era uma ameaça maior que todos nós juntos. É claro que ela tin
— Talvez a gente devesse conversar mais tarde, quando a poeira abaixar — Henry sugeriu e eu respondi imediatamente, quase o interrompendo:— Não. Vamos conversar agora mesmo. — Apontei para o armário e os potes de vidro, olhando para Henry. — Esse sangue é dela?— Sim...— Então me dê uma boa razão para não jogar essa merda toda no chão e exorcizar um demônio que sabe onde minha irmã dorme.— Eu preciso do sangue, você não entende...— Precisa? — repeti. — Como um viciado? O que acontece se você não beber?— Perco meu
A última porta do carro tinha acabado de ser fechada quando arranquei com o Jeep, fazendo os pneus gritarem contra o asfalto. Joguei meu celular no colo de Caroline, sentada ao meu lado, e mandei ela rastrear as coordenadas enviadas. Expliquei a eles rapidamente o que fora a ligação e, antes que qualquer um deles respondesse, avisei que não podíamos pedir a ajuda de Zacharias.— Mas estou usando o crucifixo, ele vai saber que estou perto do Loyd — Caroline respondeu.— Então arranca essa coisa do seu pescoço! — gritei.— Você precisa se acalmar, temos que montar um plano para entrar lá.— Não, não dá tempo! Onde é o lugar?<
Loyd observou os curativos feitos por Caroline no corpo de Luke e acenou positivamente com a cabeça, com uma expressão de falsa admiração.— Fascinante! — disse. — É bom ver que esses últimos anos do outro lado renderam alguma coisa boa para você, garota. Porque, para mim, só renderam dor de cabeça. Venha aqui — ele chamou minha irmã, mas ela se manteve no lugar.O demônio desmanchou qualquer resquício de sorriso e fez sinal com dois dedos para que ela se aproximasse. Caroline foi puxada por uma força invisível até ele, sem tocar o chão. Ela o encarava com bastante atenção, da mesma forma que fazia nos treinos com Zacharias quando tentava roubar seus poderes. Mas, desta vez, suas tentativas falharam. Loyd de r
CarolineNo mesmo dia da morte de Luke, Chris e Henry voltaram ao galpão para recolher o corpo de Luke, mas ele não estava lá. Segundo Henry, Tabatha viu alguém levar o corpo e tudo indicava que havia sido alguém mandado por Loyd. Decidimos não comentar isso com Julie.Os Heisenberg ficaram preocupados com a possibilidade de o espírito de Luke retornar, caso não fosse cremado, mas afirmei que ele não era esse tipo de pessoa. Pensei em sua mãe e irmã, sem terem ideia do que aconteceu com ele. Cogitei a ideia de dar alguma satisfação a elas, mas, se eu fosse para o outro mundo, os demônios fariam o mesmo e isso geraria catástrofes horríveis. Ponderar sobre isso me fez perceber como era estranho que Loyd tivesse conseg
JulieHenry ficou me observando estupidamente quieto, enquanto eu colocava o cartucho de balas na minha arma e guardava minha faca no cós da calça. Eu achava que conseguiria sair do quarto em paz, mas Caroline, Chris e Zacharias entraram, olhando-me alarmados.— Julie, o que está pensando em fazer? — minha irmã perguntou.— Só eu acho que o prazo do Loyd na Terra já venceu? Está na hora de pôr um fim nisso, ele já nos prejudicou o suficiente — respondi, enfiando a arma no cós também.— Quer devolvê-lo ao Inferno? — Zacharias perguntou, arregalando os olhos como se estivesse ouvindo um absurdo.— É um bom começo. — Dei de ombros.Zacharias manteve seus olhos perdidos no chão, refletindo. Henry, Chris e Caroline trocaram olhares inseguros. Em seguida, o Heisenberg mais velho me encarou. Era estranho que eles estivessem tão relutantes.— Eu topo — Chris disse, para o meu alívio.— Claro, os dois cabeças-duras daqui! — Caroline ironizou, sem graça alguma no tom. — Só vocês para aceitarem
O eco do bater da porta ainda ressoava sinistramente nos meus ouvidos quando Caroline perguntou a Chris:— Por que você disse isso?— Foi melhor assim — Zacharias respondeu. Eu tinha até me esquecido da presença do anjo ali conosco, de tão quieto que ele ficou. — Não é seguro para nenhum de nós que Henry confie tanto em demônios. Não podemos tê-lo por perto.— Deixar Henry ir conviver com demônios é muito pior! — ela respondeu. — Nós não podemos nos desestabilizar dessa maneira, ou então Loyd vai ganhar vantagem!Soltei um suspiro, relativamente aliviada, mas também com um aperto forte no peito. Henry tinha definitivamente feito sua escolha e meu coração parecia levar chutes, mesmo já abatido. Ao mesmo tempo, voltei a sentir uma grande indiferença com relação a tudo. De repente, eu não tinha mais energia nenhuma para exterminar Loyd. Considerei voltar para a cama. “Voltar para a cama, não”, pensei imediatamente. A mera ideia me causou vergonha.— Vou dar uma volta — avisei, fechando
Eu tinha acabado de sair do quarto quando o homem, cujo rosto estava escondido pelas sombras da noite, atacou Caroline por trás, agarrando-a como se tentasse enforcá-la com o braço. Minha irmã reagiu rápido, sabendo exatamente o que fazer naquela situação. Ela se abaixou, abraçou seus joelhos e o derrubou no chão. Chris avançou para cima do homem, mas ouvimos um sibilo do desconhecido e, em seguida, minha visão inteira ficou turva. Ergui as mãos para me proteger de um possível ataque, mas fiquei completamente distraída com a imagem que se formou diante de mim. Parecia que eu não estava mais no hotel. O local era uma capela vazia, de paredes nuas e chão desocupado. Apenas Henry estava ali, andando ansiosamente de um lado para o outro. De repente, a porta da capela se abriu e uma moça de olhos pretos trouxe um Chris amordaçado e sangrando. — Estou aqui — Henry disse, seu peito subindo e descendo de ansiedade ao ver o irmão. — Agora, deixe ele ir. — Primeiro, cumpra sua parte do trato