Caroline
No mesmo dia da morte de Luke, Chris e Henry voltaram ao galpão para recolher o corpo de Luke, mas ele não estava lá. Segundo Henry, Tabatha viu alguém levar o corpo e tudo indicava que havia sido alguém mandado por Loyd. Decidimos não comentar isso com Julie.
Os Heisenberg ficaram preocupados com a possibilidade de o espírito de Luke retornar, caso não fosse cremado, mas afirmei que ele não era esse tipo de pessoa. Pensei em sua mãe e irmã, sem terem ideia do que aconteceu com ele. Cogitei a ideia de dar alguma satisfação a elas, mas, se eu fosse para o outro mundo, os demônios fariam o mesmo e isso geraria catástrofes horríveis. Ponderar sobre isso me fez perceber como era estranho que Loyd tivesse conseg
JulieHenry ficou me observando estupidamente quieto, enquanto eu colocava o cartucho de balas na minha arma e guardava minha faca no cós da calça. Eu achava que conseguiria sair do quarto em paz, mas Caroline, Chris e Zacharias entraram, olhando-me alarmados.— Julie, o que está pensando em fazer? — minha irmã perguntou.— Só eu acho que o prazo do Loyd na Terra já venceu? Está na hora de pôr um fim nisso, ele já nos prejudicou o suficiente — respondi, enfiando a arma no cós também.— Quer devolvê-lo ao Inferno? — Zacharias perguntou, arregalando os olhos como se estivesse ouvindo um absurdo.— É um bom começo. — Dei de ombros.Zacharias manteve seus olhos perdidos no chão, refletindo. Henry, Chris e Caroline trocaram olhares inseguros. Em seguida, o Heisenberg mais velho me encarou. Era estranho que eles estivessem tão relutantes.— Eu topo — Chris disse, para o meu alívio.— Claro, os dois cabeças-duras daqui! — Caroline ironizou, sem graça alguma no tom. — Só vocês para aceitarem
O eco do bater da porta ainda ressoava sinistramente nos meus ouvidos quando Caroline perguntou a Chris:— Por que você disse isso?— Foi melhor assim — Zacharias respondeu. Eu tinha até me esquecido da presença do anjo ali conosco, de tão quieto que ele ficou. — Não é seguro para nenhum de nós que Henry confie tanto em demônios. Não podemos tê-lo por perto.— Deixar Henry ir conviver com demônios é muito pior! — ela respondeu. — Nós não podemos nos desestabilizar dessa maneira, ou então Loyd vai ganhar vantagem!Soltei um suspiro, relativamente aliviada, mas também com um aperto forte no peito. Henry tinha definitivamente feito sua escolha e meu coração parecia levar chutes, mesmo já abatido. Ao mesmo tempo, voltei a sentir uma grande indiferença com relação a tudo. De repente, eu não tinha mais energia nenhuma para exterminar Loyd. Considerei voltar para a cama. “Voltar para a cama, não”, pensei imediatamente. A mera ideia me causou vergonha.— Vou dar uma volta — avisei, fechando
Eu tinha acabado de sair do quarto quando o homem, cujo rosto estava escondido pelas sombras da noite, atacou Caroline por trás, agarrando-a como se tentasse enforcá-la com o braço. Minha irmã reagiu rápido, sabendo exatamente o que fazer naquela situação. Ela se abaixou, abraçou seus joelhos e o derrubou no chão. Chris avançou para cima do homem, mas ouvimos um sibilo do desconhecido e, em seguida, minha visão inteira ficou turva. Ergui as mãos para me proteger de um possível ataque, mas fiquei completamente distraída com a imagem que se formou diante de mim. Parecia que eu não estava mais no hotel. O local era uma capela vazia, de paredes nuas e chão desocupado. Apenas Henry estava ali, andando ansiosamente de um lado para o outro. De repente, a porta da capela se abriu e uma moça de olhos pretos trouxe um Chris amordaçado e sangrando. — Estou aqui — Henry disse, seu peito subindo e descendo de ansiedade ao ver o irmão. — Agora, deixe ele ir. — Primeiro, cumpra sua parte do trato
Entrei no quarto, sentindo borbulhar dentro de mim tantas emoções de uma só vez que tive tontura. Senti uma urgência gritante de ligar para Henry e gritar com ele, tamanha era a minha raiva pelo que tinha feito. Mas, ao mesmo tempo, fiquei cansada só de imaginar essa conversa. Então, concluí que devia ter raiva de mim mesma, por concordar em voltar para esse mundo maldito em primeiro lugar. Eu me dei conta do que estava fazendo apenas quando senti a palma da minha mão acertar o abajur e ele se estilhaçar na parede. O som foi muito parecido com o dos ossos de Chris se partindo naquela lembrança e fez eu me arrepiar.Caroline olhou sem afetação para o abajur que quebrei. Ela estava com o mesmo olhar distraído de Henry, perdida em seus próprios pensamentos.&mdas
Fazia poucos minutos que eu tinha acordado no banco de trás do Jeep, minha cabeça deitada numa jaqueta, apoiada na porta. Chris remexia no porta-malas há algum tempo, até que se sentou ao meu lado no banco. Contorci o rosto numa careta de dor, sentindo minha pele se repuxar com o sangue seco.— Está muito ruim? — questionei.— Está fundo, vai precisar de pontos — respondeu, pressionando um pano com um remédio ardido na minha testa, por onde o sangue tinha escorrido. — Como foi parar naquele lugar?Desviei o olhar dele, negando-me a admitir qualquer coisa. Ele me encarou carrancudo, como se me desafiasse a responder.— Não lembro — respondi. CarolineChris se ajoelhou no chão ao segurar Julie e impedir sua queda. Ela estava pálida e reparar nisso só me deixou mais preocupada. Zach sugeriu que a levássemos dali, pondo a mão nas minhas costas para tentar me reconfortar. Chris a carregou para o Jeep e mal nos deu tempo de entrar no carro antes de arrancar com el. Eu me desesperava a cada instante, porque ela não acordava durante o caminho todo para o hospital e isso indicava a gravidade da situação. O Heisenberg mais velho entrou na recepção hospitalar com Julie nos braços e gritando por atendimento. A veia em seu pescoço saltava tão fortemente de ansiedade que eu temi pela vida das pessoas, se não acudissem seu pedido logo.Demorou até que nossos ânimos se acalmassem. Zach tentou nos tranquilizar. Ele mesmo não estava afetado. Meus poderes tinham evoluído a tal ponto que eu sentia as emoções dele e de outras criaturas facilmente; por isso, sabia que sua única preocupação era por mim. De certa maneira, eu era grata. Chris, O importante é não dizer que não importa
JuliePareceu bobagem lutar contra aquele exame de sangue à medida que as horas foram passando. Afinal, o quão ruim eu poderia estar que seria considerado grave, certo? Esse era meu pensamento de reconforto.Decidi dormir para esperar o resultado. No começo da noite, Caroline veio me acordar. O clínico estava parado em frente à minha cama com o resultado do exame nas mãos.— Bom, se Caroline não está chorando, quer dizer que não tenho nada — concluí. Só depois de dizer isso foi que reparei no rosto de cada um deles e percebi que Chris não estava no quarto. Isso não era bom sinal. — Eu estou com câncer ou o quê? — questionei, tentando parecer indiferente.— Precisa começar a levar a situação mais a sério, senhorita — o médico disse e a cara dele também não era das melhores. — Você gerou uma hepatite alcoólica, Julie.Ao ouvir isso, não consegui conter meu espanto e meu rosto deve ter me denunciado. Eu sabia que o mal-estar poderia ter a ver com o meu consumo de álcool, mas nunca achei
Caroline — Eu fico com a consciência pesada em vê-la daquele jeito e não contar a verdade — desabafei com Zach, enquanto secava meu cabelo na toalha após sair do banho. Ele estava sentado na cama do quarto, com sua postura impecável e as mãos apoiadas nos joelhos de um modo artificial.— Isso já passou. A essa altura, não faz diferença ela saber daquela visão. Luke morreu e os videntes não podem impedir uma visão de se concluir.— Eu podia ter ido atrás dele. Ou então, podia ter contado a Julie e ela mesma impedia sua vinda.— Foi Loyd quem o trouxe pra cá. Mesmo ela sabendo disso, imagine o perigo de entrar no caminho dele.— Talvez. — Dei de ombros.— Como está se sentindo com as visões?— Estou me acostumando, eu acho. — Eu me sentei ao seu lado, distraída com os anéis que eu usava nos dedos, enquanto refletia sobre tudo que previ até então. — Há coisas piores na minha mente agora…Zach continuou retesado em sua posição, mas seus olhos se arregalaram de susto ao me ouvir dizer iss