Entrei no quarto, sentindo borbulhar dentro de mim tantas emoções de uma só vez que tive tontura. Senti uma urgência gritante de ligar para Henry e gritar com ele, tamanha era a minha raiva pelo que tinha feito. Mas, ao mesmo tempo, fiquei cansada só de imaginar essa conversa. Então, concluí que devia ter raiva de mim mesma, por concordar em voltar para esse mundo maldito em primeiro lugar. Eu me dei conta do que estava fazendo apenas quando senti a palma da minha mão acertar o abajur e ele se estilhaçar na parede. O som foi muito parecido com o dos ossos de Chris se partindo naquela lembrança e fez eu me arrepiar.Caroline olhou sem afetação para o abajur que quebrei. Ela estava com o mesmo olhar distraído de Henry, perdida em seus próprios pensamentos.&mdas
Fazia poucos minutos que eu tinha acordado no banco de trás do Jeep, minha cabeça deitada numa jaqueta, apoiada na porta. Chris remexia no porta-malas há algum tempo, até que se sentou ao meu lado no banco. Contorci o rosto numa careta de dor, sentindo minha pele se repuxar com o sangue seco.— Está muito ruim? — questionei.— Está fundo, vai precisar de pontos — respondeu, pressionando um pano com um remédio ardido na minha testa, por onde o sangue tinha escorrido. — Como foi parar naquele lugar?Desviei o olhar dele, negando-me a admitir qualquer coisa. Ele me encarou carrancudo, como se me desafiasse a responder.— Não lembro — respondi. CarolineChris se ajoelhou no chão ao segurar Julie e impedir sua queda. Ela estava pálida e reparar nisso só me deixou mais preocupada. Zach sugeriu que a levássemos dali, pondo a mão nas minhas costas para tentar me reconfortar. Chris a carregou para o Jeep e mal nos deu tempo de entrar no carro antes de arrancar com el. Eu me desesperava a cada instante, porque ela não acordava durante o caminho todo para o hospital e isso indicava a gravidade da situação. O Heisenberg mais velho entrou na recepção hospitalar com Julie nos braços e gritando por atendimento. A veia em seu pescoço saltava tão fortemente de ansiedade que eu temi pela vida das pessoas, se não acudissem seu pedido logo.Demorou até que nossos ânimos se acalmassem. Zach tentou nos tranquilizar. Ele mesmo não estava afetado. Meus poderes tinham evoluído a tal ponto que eu sentia as emoções dele e de outras criaturas facilmente; por isso, sabia que sua única preocupação era por mim. De certa maneira, eu era grata. Chris, O importante é não dizer que não importa
JuliePareceu bobagem lutar contra aquele exame de sangue à medida que as horas foram passando. Afinal, o quão ruim eu poderia estar que seria considerado grave, certo? Esse era meu pensamento de reconforto.Decidi dormir para esperar o resultado. No começo da noite, Caroline veio me acordar. O clínico estava parado em frente à minha cama com o resultado do exame nas mãos.— Bom, se Caroline não está chorando, quer dizer que não tenho nada — concluí. Só depois de dizer isso foi que reparei no rosto de cada um deles e percebi que Chris não estava no quarto. Isso não era bom sinal. — Eu estou com câncer ou o quê? — questionei, tentando parecer indiferente.— Precisa começar a levar a situação mais a sério, senhorita — o médico disse e a cara dele também não era das melhores. — Você gerou uma hepatite alcoólica, Julie.Ao ouvir isso, não consegui conter meu espanto e meu rosto deve ter me denunciado. Eu sabia que o mal-estar poderia ter a ver com o meu consumo de álcool, mas nunca achei
Caroline — Eu fico com a consciência pesada em vê-la daquele jeito e não contar a verdade — desabafei com Zach, enquanto secava meu cabelo na toalha após sair do banho. Ele estava sentado na cama do quarto, com sua postura impecável e as mãos apoiadas nos joelhos de um modo artificial.— Isso já passou. A essa altura, não faz diferença ela saber daquela visão. Luke morreu e os videntes não podem impedir uma visão de se concluir.— Eu podia ter ido atrás dele. Ou então, podia ter contado a Julie e ela mesma impedia sua vinda.— Foi Loyd quem o trouxe pra cá. Mesmo ela sabendo disso, imagine o perigo de entrar no caminho dele.— Talvez. — Dei de ombros.— Como está se sentindo com as visões?— Estou me acostumando, eu acho. — Eu me sentei ao seu lado, distraída com os anéis que eu usava nos dedos, enquanto refletia sobre tudo que previ até então. — Há coisas piores na minha mente agora…Zach continuou retesado em sua posição, mas seus olhos se arregalaram de susto ao me ouvir dizer iss
Julie estragou nossa viagem para Hudson, mas eu acredito que, a essa altura da história, isso já era esperado. Apesar do meu choque com os acontecimentos a seguir, uma parte de mim estava preparada para algum problema. Por outro lado, eu me surpreendi comigo mesma e com a efervescência dos meus sentimentos diante do que sucedeu. Após Zach partir, fizemos nossas malas para visitar Rufus e resolver o caso que minha irmã tinha encontrado no jornal. De acordo com as notícias, parecia se tratar de uma assombração numa escola de ensino médio.A viagem já durava sete horas quando Chris decidiu estacionar num posto de gasolina para esticar as pernas e comprar o jantar. Fui até a conveniência enquanto ele abastecia o tanque. Julie dormia no banco traseiro há algum tempo. Quando retornei com as sacolas, ainda de longe, pude ver o Heisenberg pegar uma manta e cobrir minha irmã, entocando as beiradas do tecido nos ombros dela para que não caísse. Eu me senti tão mal que perdi a percepção de onde
JulieEra depois da hora do almoço quando desci para a cozinha de Rufus na manhã seguinte. Eu prendia no meu pescoço uma gargantilha preta que Luke me dera depois de encontrar uma foto ridícula da minha adolescência em que eu vestia um estilo gótico piegas. Ele dizia que era grotesco mas que combinava comigo. Lembro de tê-lo socado quando ouvi isso, mas, recordando a brincadeira agora, eu sorria para o nada como uma boba. — Boa noite — Chris zombou, dando garfadas numa embalagem de torta com glacê sem olhar para mim. — Tem um prato pra você na geladeira.— Quem cozinhou? — perguntei de modo descontraído, pegando a carne assada e o purê de batatas coberto por papel filme.— Rufus. O cara é uma dona de casa de primeira.Chris ainda não olhara para mim. O silêncio que se instalou entre nós me deixou desconfortável, já que nunca tive problemas para conversar com ele.— Vou procurar mais sobre o caso da escola — avisei ao terminar de comer.— Hum, sobre isso: acho melhor deixar pra lá.—
Tentei apoiar meu rosto na mão pela milésima vez e senti uma pontada de dor atravessar todo o lado esquerdo do meu rosto. Minha bochecha estava inchada e arroxeada. O hematoma causado por Caroline doía tanto que meu olho latejava. Logo depois de acordar, após Zacharias me nocautear, pesquisei no acervo de Rufus algo que impedisse o anjo de me localizar e descobri o ritual de uma pulseira de ferro banhada em óleo sagrado. Fiz o ritual como indicava o livro e amarrei a pulseira no meu braço. Depois disso, foi motivada pelo ódio que peguei o Jeep de Chris para investigar o caso de assombração na escola.Quando li a notícia no jornal pela primeira vez, um garoto chamado Arnold Rogers fora assassinado a facadas na cidade. A testemunha ocular do assassinato declarara que o assassino calçava chuteiras vermelhas e usava luvas. Conversando com os pais dele, eles afirmaram que ele não possuía nenhum conhecido com razões para atacá-lo. Porém, alguns professores e alunos disseram que ele tinha se