Capítulo 3
GIUSEPPE PEGOU ALGUMAS POUCAS mudas de roupa, abriu o cofre e pegou todas as joias que tinham acumulado, algumas delas herança de seu pai, outras que tirou de famílias como prêmio de guerra.
Havia aprendido alguma coisa com seu pai, que além de diplomata, era um italiano judeu, uma combinação pouco comum, mas que ensinou o filho a importância da família e a falta de escrúpulos em fazer o que fosse possível e quase sempre não correto para manter todos seguros e confortáveis, mas para ele não havia nenhum interesse na sua descendência paterna e nem no que ele acreditava.
Sua única fé era sua Carmenzita e Batista, mas daquele momento em diante era somente nela.
Tudo estava pronto para eles, havia um avião esperando em um hangar clandestino que Batista mantinha em segredo. Segundo fontes seguras, os irmãos Castro e Che chegariam em Havana somente em janeiro, teriam dois dias de vantagem, se saíssem voando pelo Norte, não teriam problema nenhum, a revolução vinha pelo Sul.
Giuseppe acomodou carinhosamente Carmen no assento, passou-lhe o cinto de segurança e guardou sua mala com o dinheiro e joias ao lado dela, deu-lhe um beijo.
E foi então que tudo aconteceu.
Ele pegou sua pistola e disse:
— Querida, se eu não voltar, quero que vá para o Brasil, o piloto sabe o itinerário.
— Meu Ramón...
Acariciou com leveza o lábio da esposa, preferia que ela não dissesse mais nada naquele momento, sentiu na mão que relutava em tirar dos lábios suaves de Carmem um último beijo de despedida, faria o necessário.
Olhou para o piloto, fez um sinal para seguir o plano. Pulou do avião disparando às cegas apenas para ganhar o tempo necessário.
— Eu dou cobertura a vocês, agora vão.
O avião começou a taxiar saindo do hangar e começou a ganhar velocidade e levantou voo.
Carmen viu Giuseppe ser rendido por alguns militantes de Castro e pensou que não poderia ter planejado um final melhor, estava aliviada, não precisaria mais continuar com o plano.
Agora estamos livres... temos o dinheiro e a liberdade...
O copiloto saiu do lado de seu chefe, sentou ao lado dela e a abraçou.
— Agora tudo ficará bem, querida.
— Eu sei...
O piloto deu um sorriso e fez uma manobra jogando seu auxiliar contra a lateral oposta, Carmem gritou desesperada, com a força da manobra o cinto de segurança apertou sua barriga. O piloto olhou para o outro homem e viu que ele estava inconsciente, ela estava respirando com dificuldade, no instante que recuperou o folego e abriu os olhos havia uma pistola apontada para ela.
— Por enquanto você está salva, ordens do chefe – ele mudou a direção da arma mirou contra o garoto e disparou – se você se mexer já sabe o que acontecerá, só que com você vou fazer muito pior.
Carmen engoliu seco vendo todos os seus planos indo por água.
GIUSEPPE FOI COLOCADO à frente de um pelotão de fuzilamento, juntamente com diversos partidários de Fulgencio Batista, quando viu um de seus inimigos se aproximar e disse:
— Viva La Revolucion!!!
Giuseppe cuspiu em sua face, o homem respondeu com risada.
— Acredito que um tiro irá fazer mais estragos que uma cuspida, meu camarada, mas saiba que sua “Carmenzita” estará muito bem cuidada.
Giuseppe não teve muito tempo para sequer esboçar qualquer reação, nem conseguiu compreender completamente o que o outro falou.
O guerrilheiro apontou a arma em direção da sua cabeça e disparou no centro de sua testa.
Capítulo 4O CORONEL ESTAVA OLHANDO atentamente do outro lado do salão e disse para sua esposa:— Será que o Roberto não vai aprontar nada? Esse jantar é extremamente importante, precisamos causar uma boa impressão diante da sociedade.— Acho que até ele tem algum senso de responsabilidade, mas a garota é mais velha que ele, por ser filha de quem é deve ter juízo por eles dois, acredito que o não deixará aprontar nada.— Espero que o pai dela não esteja pensando o mesmo que nós.Tinham conseguido enganar todos os que vigiavam e saíram de fininho durante o discurso infindável de algum político, estavam na lateral do hotel ouvindo a música, a noite estava agradável e não se preocupavam mais se alguém os veria.<
Capítulo 5CARMEN ESTAVA SAINDO ESCOLTADA das instalações militares com o filho nos braços, o dia estava cinza, talvez refletisse seu interior destruído por aquela guerrilha maldita.Ouviu alguns soldados gargalhando e olhou na direção deles, foi quando viu o piloto algemado. Enquanto o soldado empurrava o piloto, que mantinha a cabeça baixa, para um galpão afastado, os outros riam de algo que o soldado dizia, mas ela não conseguia compreender as palavras da distância que estava.— Qual o seu nome? – Gritou ela.Ele olhou com uma expressão quase sem vida, tinha os olhos roxos e o lábio ferido, a roupa suja de sangue.— Esteban Hernandez – ele gritou em resposta e ganhou um soco no estômago que roubou todo o ar.O soldado ao seu lado lhe deu uma coronhada que o fez trope&cce
Capítulo 6A FAMÍLIA ESTAVA REUNIDA para o café da manhã e Roberto estava comendo três vezes mais do que era habitual.— Você está bem, querido? – Perguntou sua mãe.— Só com muita fome.— Imagino porquê. – Indagou seu pai imaginando o que haviam feito.— Só não sei porque estou sentindo uma violenta dor no rosto, parece que um trem passou por cima de mim.— Se quiser faço o mesmo do outro lado para lhe refrescar a memória.— Carlos!— Porque o senhor me bateu?O coronel se levantou imerso em fúria.— Você poderia ser como os demais membros desta família? Pessoas decentes, que estudam e trabalham, que dão bom exemplo, sabem se comportar, que não fica dizendo: pô!!! Bix
Capítulo 7RIO DE JANEIRO – 1964CARMEN OLHAVA O FILHO brincar no quintal de sua casa com um sorriso no belo rosto, no início pensou que estaria trocando uma ditadura por outra, porém, acabou percebendo que havia sido uma transição razoavelmente tranquila e feliz. Mesmo tendo passado por incontáveis dificuldades, percebeu que tinha valido a pena para chegar ali e poder ver seu filho crescer. Ninguém sabia do seu passado, poderia ser quem e o que quisesse, aquela era uma chance rara, a oportunidade de ter uma vida nova.Deus foi bom conosco...Seu garotinho, acabara de completar cinco anos, e todos os dias desses rápidos anos que passou ao lado dele se sentiu agradecida. Ela colocou o nome de Esteban Ramón Mendez para honrar uma promessa que fez em uma época há muito tempo passada.Ele era um garoto alegre e
Capítulo 8CARMEN E O FILHO foram atendidos por um médico que já estava esperando por eles. Depois de revistar e revirar tudo, deixaram seus pertences ao lado da cama. Ela tinha acabado de fechar os olhos exausta quando um oficial entrou e disse sem rodeios.— Fala espanhol ou inglês?Ela ainda estava um pouco atordoada com tudo o que tinha acontecido.— Fala espanhol ou inglês, senhora?— Espanhol... – disse como se houvesse saído de um transe – sou cubana, onde estou e para onde levaram o homem que estava comigo?— Você não está em condições de fazer muitas perguntas, moça. Gostaria de saber o que faziam com uma maleta cheia de dólares americanos, para onde vocês estavam indo?— Meu marido era oficial do exército cubano e seguranç
Capítulo 9— VOCÊS O QUE? – Explodiu um coro de vozes que alternavam entre a raiva e a perplexidade.— Isso mesmo, meu velho – disse Roberto com tranquilidade e um sorriso bobo apesar de sequer ter onde morar e não se importava se algum dia teria, não ter dinheiro nenhum ou profissão – vamos nos casar.O embaixador estava se contendo de raiva, suas esposas tentavam contornar sem sucesso a situação. A cada vez que arriscava um olhar para o marido percebia um novo tom de vermelho no seu pescoço.— E vocês irão viver do que, me digam?Roberto foi até seu sogro quase flutuando, o abraçou, segurou carinhosamente seu rosto com ambas as mãos como se fosse lhe tascar um beijo de cinema e disse:— Relaxa, bicho, o universo é maravilhoso, irei cuidar muito bem do no
Capítulo 10CARMEN E O PEQUENO ESTEBAN passaram aquela noite no hotel e como tudo o que tinha foi-lhe furtado, simplesmente não sabia o que fazer em um país estranho, não era fluente no idioma, não conhecia ninguém, ou seja, pressentia que tudo de ruim poderia acontecer-lhe.Quando o dia raiou ela foi até o gerente do hotel que estava conversando com o atendente e disse:— Senhor, poderia ter com o senhor um minuto?O gerente se virou humildemente e dispensou toda a atenção a ela:— Claro, senhora Carmen, o que gostaria? As instalações não são do seu agrado?— Sim... é que...O atendente chegou até eles e entregou uma correspondência ao gerente, ele a leu rapidamente e disse:— Diz respeito à senhora.— Meu respeito?&
Capítulo 11ESTEBAN CRESCEU e estava com treze anos, era um garoto quase inexpressivo na escola, não se dava bem com as garotas, era mediano para péssimo em quase todas as matérias e tinha um ódio inexplicável de sua mãe, que parecia não se importar nem um pouco com ele quando Fernando aparecia em sua casa.— Ela está dando o rabo para ele – disse um de seus amigos.— Minha mãe é uma mulher santa, está me ouvindo?— É a primeira vez que uma santa gosta de rola – ele disse enquanto segurava seu pênis sobre a calça.E a pancadaria comia solta e Esteban sempre voltava todo machucado para casa.— O que aconteceu, querido?— Nada!!!E batia a porta na cara dela.AOS POUCOS ESTEBAN ia conseguindo seu dinheiro trabalhand