Capítulo 7
RIO DE JANEIRO – 1964
CARMEN OLHAVA O FILHO brincar no quintal de sua casa com um sorriso no belo rosto, no início pensou que estaria trocando uma ditadura por outra, porém, acabou percebendo que havia sido uma transição razoavelmente tranquila e feliz. Mesmo tendo passado por incontáveis dificuldades, percebeu que tinha valido a pena para chegar ali e poder ver seu filho crescer. Ninguém sabia do seu passado, poderia ser quem e o que quisesse, aquela era uma chance rara, a oportunidade de ter uma vida nova.
Deus foi bom conosco...
Seu garotinho, acabara de completar cinco anos, e todos os dias desses rápidos anos que passou ao lado dele se sentiu agradecida. Ela colocou o nome de Esteban Ramón Mendez para honrar uma promessa que fez em uma época há muito tempo passada.
Ele era um garoto alegre e
Capítulo 8CARMEN E O FILHO foram atendidos por um médico que já estava esperando por eles. Depois de revistar e revirar tudo, deixaram seus pertences ao lado da cama. Ela tinha acabado de fechar os olhos exausta quando um oficial entrou e disse sem rodeios.— Fala espanhol ou inglês?Ela ainda estava um pouco atordoada com tudo o que tinha acontecido.— Fala espanhol ou inglês, senhora?— Espanhol... – disse como se houvesse saído de um transe – sou cubana, onde estou e para onde levaram o homem que estava comigo?— Você não está em condições de fazer muitas perguntas, moça. Gostaria de saber o que faziam com uma maleta cheia de dólares americanos, para onde vocês estavam indo?— Meu marido era oficial do exército cubano e seguranç
Capítulo 9— VOCÊS O QUE? – Explodiu um coro de vozes que alternavam entre a raiva e a perplexidade.— Isso mesmo, meu velho – disse Roberto com tranquilidade e um sorriso bobo apesar de sequer ter onde morar e não se importava se algum dia teria, não ter dinheiro nenhum ou profissão – vamos nos casar.O embaixador estava se contendo de raiva, suas esposas tentavam contornar sem sucesso a situação. A cada vez que arriscava um olhar para o marido percebia um novo tom de vermelho no seu pescoço.— E vocês irão viver do que, me digam?Roberto foi até seu sogro quase flutuando, o abraçou, segurou carinhosamente seu rosto com ambas as mãos como se fosse lhe tascar um beijo de cinema e disse:— Relaxa, bicho, o universo é maravilhoso, irei cuidar muito bem do no
Capítulo 10CARMEN E O PEQUENO ESTEBAN passaram aquela noite no hotel e como tudo o que tinha foi-lhe furtado, simplesmente não sabia o que fazer em um país estranho, não era fluente no idioma, não conhecia ninguém, ou seja, pressentia que tudo de ruim poderia acontecer-lhe.Quando o dia raiou ela foi até o gerente do hotel que estava conversando com o atendente e disse:— Senhor, poderia ter com o senhor um minuto?O gerente se virou humildemente e dispensou toda a atenção a ela:— Claro, senhora Carmen, o que gostaria? As instalações não são do seu agrado?— Sim... é que...O atendente chegou até eles e entregou uma correspondência ao gerente, ele a leu rapidamente e disse:— Diz respeito à senhora.— Meu respeito?&
Capítulo 11ESTEBAN CRESCEU e estava com treze anos, era um garoto quase inexpressivo na escola, não se dava bem com as garotas, era mediano para péssimo em quase todas as matérias e tinha um ódio inexplicável de sua mãe, que parecia não se importar nem um pouco com ele quando Fernando aparecia em sua casa.— Ela está dando o rabo para ele – disse um de seus amigos.— Minha mãe é uma mulher santa, está me ouvindo?— É a primeira vez que uma santa gosta de rola – ele disse enquanto segurava seu pênis sobre a calça.E a pancadaria comia solta e Esteban sempre voltava todo machucado para casa.— O que aconteceu, querido?— Nada!!!E batia a porta na cara dela.AOS POUCOS ESTEBAN ia conseguindo seu dinheiro trabalhand
Capítulo 12ALEJANDRA ESTAVA GRITANDO de dor, cada vez que tinha que parir uma criança era como se fosse a primeira vez, e aquela já era a sexta vez nos últimos dez anos.— Calma, querida!— Calma o caralho, seu filho-da-puta, é do seu rabo que está saindo um filho?Roberto riu, mas, de repente, os aparelhos começaram a apitar feito loucos e um médico o empurrou.— Preciso que saia daqui agora!!!— O que está acontecendo, doutor?— Senhor Roberto, A-GO-RAAAAAAA!!!!Um enfermeiro agarrou gentilmente o braço de Roberto e o encaminhou até a porta.— Ela vai ficar bem? – Perguntou humildemente.— Ela está em boas mãos, farão tudo o que for possível, só não poderemos nos distrair com coisas desne
Capítulo 13ELIEZER SOARES estava revivendo a mesma história de tantos tempos antes se repetir com sua filha. Quando Claudia tinha dois meses de vida, Lúcia, sua esposa, fugiu com o vizinho viúvo e deixou a filha com ele. Eliezer tentou o máximo que conseguiu ser a mãe e o pai ao mesmo tempo, não se casou novamente, pois além de ficar desiludido com o amor ficou desiludido com tudo o que a vida poderia proporcionar. Agora era sua filha é quem estava sofrendo desse mal, o mesmo mal que, como um círculo vicioso voltava a lhe rondar como uma besta-fera sedenta.Tinha uma semana que esse tal cubano, mexicano, colombiano ou sei lá o que estava desaparecido, porém, seu instinto de pai dizia que algo errado estava acontecendo e que pensavam que sua filha seria uma idiota em suas mãos, de ser largada para trás com um filho no vent
Capítulo 14O EMBAIXADOR JUAN estava atento a cada detalhe do que acontecia ao seu redor, já estava voando mais de seis horas, ou estavam viajando para fora do país ou estavam procurando algum lugar para pousar, ele sabia dos problemas causados entre os militares e os militantes socialistas, era uma guerrinha tola que ambas as partes adoravam fazer alvoroço, de vez em quando aparecia algum morto de cada lado e o marketing era sempre espalhafatoso, não era uma guerra sangrenta, violenta sim, mas não tão mortífera como fora em outras ditaduras mundo afora, em especial em seu país...Juan conhecia alguns grupos que poderiam promover aquele sequestro, em especial alguns grupos se destacavam como:C.O.L.I.N.A. (Comando de Libertação Nacional);VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária);M.N.R. (Movimento Nacionalista
Capítulo 15HAVIA MAIS DE SETE meses que ninguém sabia notícias de Claudia Soares. Com isso, a cidade entrara em polvorosa, surgiram vários rumores e fofocas de que a garota teria se suicidado, ou estava com a mãe.Talvez a garota sabia de tudo, e foi morar com a mãe, diziam eles. Mas, Felipe Artêncio, sabia que todos estavam completamente enganados, a garota tinha dado um golpe de mestre em todos eles.CLAUDIA ESTAVA ACARICIANDO a protuberante barriga deitada na areia. Dali a poucas semanas o bebe nasceria e estava chegando o momento de voltar a cidade e enfrentar os Artêncios.O primeiro passo já fora dado, ganhar a confiança de um deles. Felipe estava chegando com uma cesta, e Claudia se lembrou dele sete meses antes caminhando para onde ela estava naquele mesmo local.