Pablo RodriguézÉ claro que estamos atrasados, foi só Alicia entrar em minha casa que ela pareceu esquecer que tinha que ir para empresa. E não adiantou eu me vestir o mais rápido que consegui, só saímos depois de minha avó praticamente nós obrigar a comer, acho que o olhar fuzilador de Alicia quando recusei tomar café também contribuiu.Minha família está encantada por ela, me arriscaria a dizer que o sentimento é recíproco, ela parecia tão confortável e leve junto com eles. É como se aquela Alicia que conheci em meu primeiro dia de trabalho nunca tivesse existido, a mulher sentada ao meu lado, cantarolando baixinho uma música que ela diz ser de uma banda Pop coreana, não parece em nada com a chefe que os funcionários apelidaram de megera. Não que ela não tenha sido uma tirana com os funcionários, essa descrição apenas não se encaixa com a mulher sentada ao meu lado.Essa Alicia é doce, delicada, com um sorriso fácil e radiante.Sei que não me apaixonei pela Alicia de agora, sou m
Pablo RodriguézA maioria dos funcionários da Pamuk almoçavam no mesmo lugar, o restaurante tem uma espécie de contrato aparentemente e fica a apenas alguns metros do prédio da empresa, o que facilita para irmos a pé.Vejo como um restaurante de luxo, mas sempre ficamos no térreo que, segundo Tom, é aonde a ralé fica. Eu não me importo, gosto de passar um tempo com meus novos amigos no horário de almoço enquanto eles falam sem parar e, aparentemente, eles sabem de tudo o que acontece naquela empresa. A presença dos dois se tornou confortável a ponto de fazer com que eu me soltasse mais, até participando do clube de fofoca deles. Já conheço toda a empresa e todos que trabalham lá sem nem ter trocado uma palavra, apenas pela descrição de Tom e Mili.Estava tentando não me preocupar com o fato de Alicia não sair de sua sala, dizendo a Mili para não pedir o seu almoço, mas o questionamento sobre ela estar chateada pelo que eu disse no estacionamento volta a rondar minha mente.— Como voc
Pablo Rodriguéz Me viro para ver o que causou sua mudança repentina de humor.Um homem alto, forte e vestindo um terno preto caminha a passos firmes em nossa direção, a cabeça baixa me impede de ver suas feições para saber de quem se trata, mas a postura imponente e tensa dele me diz que não se trata de sua primeira vez aqui, e a reação de Mili me faz crer que ela sabe quem ele é. Conforme o homem se aproxima, observo com afinco seu rosto e a expressão sisuda, confirmando que não é alguém que eu tenha visto antes. Não sou hipócrita para dizer que o cara não é bonito, mandíbula quadrada, coberta por uma camada extensa de barba escura, da mesma tonalidade dos seus cabelos bem cortados, seu olhar frio contém olheiras profundas e lembram um pouco do que eu era alguns meses atrás. Ele passa por mim, ignorando completamente minha presença, e para em frente à mesa de Mili.— Boa tarde, senhor Atkinson, não...— Quero falar com Alicia — ele interrompe Mili em um tom de voz opressor. Quem
Alicia PamukMe assusto ao ver Pablo parado no meio da minha sala. Depois da visita breve de Edward, apenas para saber como eu estava, notei que ele não estava junto de Mili me esperando como de costume.Segundo minha assistente, ele tinha ido tomar um café, fico tanto tempo presa aqui que às vezes esqueço que eles não estão o tempo todo parados, esperando uma ordem minha. Me levanto rápido, surpresa e curiosa por ele estar aqui. Sua expressão não diz muito. — Mili disse que me procurou — sua voz é firme e sua postura formal demais. — Precisa de algo?Saio do lugar, ficando agora recostada em minha mesa, meu tornozelo incômoda um pouco, mas não está machucado, é só uma dorzinha me fazendo lembrar da minha péssima ideia de ir até o restaurante almoçar, só para ficar perto de Pablo. Por que assumir isso soa tão patético?— A senhorita precisa de algo? — ele parece irritado.— Voltamos à senhorita? — Cruzo os braços. Ele me olha de cima a baixo, dá uma lufada de ar e coloca as mãos no
Pablo RodriguézEu tive uma semana incrível e Alicia fazer parte dos meus dias, de uma forma diferente, tem sido a melhor parte. Passamos a ficar juntos todos os dias depois do expediente. Tomei a decisão de aceitar o presente que Deus, ou seja lá qual força superior, estava me dando e me permiti viver essa felicidade.Se dependesse de Alicia , eu passaria todas as noites em seu apartamento, seja cozinhando juntos, transando, nadando na piscina, brincando com Stark ou vendo doramas e passando raiva por ela ficar babando naqueles coreanos metidos a besta. Já tínhamos terminado Pousando no Amor e agora estávamos vendo Noiva por Vingança . Repetimos o ritual, eu dorDonna com ela, acordávamos mais cedo, eu ia até a casa dos meus avós para me trocar e ficávamos para o café.Alicia parecia estar muito feliz com essa rotina, sempre mimando Brenda e meus avós, vi minha irmã quase ter uma sincope ao ganhar uma quantidade exorbitante de produtos da Pamuk. Estou começando a achar, ou melhor,
Alicia PamukDonna só podia estar aprontando alguma coisa, não tinha mais nenhum carro além do meu e, segundo ela, era uma social com alguns amigos. Mas então por que parece que só a gente chegou?Toco a campainha, sentindo a mão suada de Pablo junto a minha. Ele está nervoso, eu sei que está. — Ah, que bom que chegaram! — A porta é aberta e Donna praticamente pula em nossa frente.Ela está usando um vestido colorido, como os de sempre, e seus olhos vão diretamente para a minha mão segurando a de Pablo, então seu sorriso dobra de tamanho.Ela nos puxa para um abraço.— É tão bom recebê-los — diz.— Cadê todo mundo? — cochicho entredentes antes de ela nos soltar.— Ah, estão aqui, somos só nós. — Aponta para nosso pequeno círculo.— O quê? Não vem mais ninguém? — questiono, olhando ao redor, e ela nega, balançando a cabeça. É claro que ela aprontaria algo!— Não fiquem parados aí, venham. — Faz um floreio para que entremos. — Pablo, é um prazer recebê-lo em nossa casa. Kai, querido!
Alicia PamukNão sei que horas são, mas os raios de sol tentam invadir o interior do quarto através da cortina. O peitoral nu de Pablo é um ótimo travesseiro. Sorrio, vendo que ele ainda está em um sono pesado. Os planos de passear com Stark pela manhã aparentemente foram adiados. Aproveito para memorizar cada traço do seu rosto bonito, sua barba por fazer, as marcas e linhas de expressão causadas pela exposição ao sol, a pintinha delicada acima da maçã do rosto, os lábios carnudos com pequenas manchinhas vermelhas. Sua beleza é tão única. Passo os dedos pela dog tag, sentindo o relevo e relendo um dos nomes escritos, Richard Walsh, tenho curiosidade de saber quem é ele desde a primeira vez que li, mas ainda não tive coragem de perguntar, nunca falamos sobre o tempo de Pablo nas Forças Armadas, não consigo imaginar os horrores que ele viu enquanto servia, e talvez tudo o que ele queira seja esquecer. Se, em algum momento, ele precisar falar sobre essa fase da sua vida ou a perda
Pablo RodriguézFecho à porta tremendo de raiva, não consigo sequer imaginar a dor que Alicia sente ao ouvir aquelas palavras horrorosas vindas de sua própria mãe. Essa mulher nem deveria ser chamada assim, porque não merece um título tão sagrado.Me sinto mal por pensar que eu possa ter sido o causador de tudo, porque o olhar acusatório daquela mulher deixava claro que ela sabia o que estava acontecendo entre mim e sua filha.Me volto para Alicia , agora sentada sobre o carpete, abraçada às pernas em um choro copioso e desesperador.— Eu sou uma assassina, eu sou uma assassina,... — ela repete, apertando as têmporas. Fico de joelhos em sua frente e puxo as suas mãos. Seu rosto molhado pelas lágrimas traz uma expressão desesperadora. — Fica calma, meu amor — é o meu coração falando, estou em pedaços por vê-la assim. Sua respiração fica irregular e uma palidez preenche sua face.— Está doendo tanto. — B**e contra o peito. — Eu deveria estar morta! — Ela puxa o ar com força e suas pala