Alicia PamukMe assusto ao ver Pablo parado no meio da minha sala. Depois da visita breve de Edward, apenas para saber como eu estava, notei que ele não estava junto de Mili me esperando como de costume.Segundo minha assistente, ele tinha ido tomar um café, fico tanto tempo presa aqui que às vezes esqueço que eles não estão o tempo todo parados, esperando uma ordem minha. Me levanto rápido, surpresa e curiosa por ele estar aqui. Sua expressão não diz muito. — Mili disse que me procurou — sua voz é firme e sua postura formal demais. — Precisa de algo?Saio do lugar, ficando agora recostada em minha mesa, meu tornozelo incômoda um pouco, mas não está machucado, é só uma dorzinha me fazendo lembrar da minha péssima ideia de ir até o restaurante almoçar, só para ficar perto de Pablo. Por que assumir isso soa tão patético?— A senhorita precisa de algo? — ele parece irritado.— Voltamos à senhorita? — Cruzo os braços. Ele me olha de cima a baixo, dá uma lufada de ar e coloca as mãos no
Pablo RodriguézEu tive uma semana incrível e Alicia fazer parte dos meus dias, de uma forma diferente, tem sido a melhor parte. Passamos a ficar juntos todos os dias depois do expediente. Tomei a decisão de aceitar o presente que Deus, ou seja lá qual força superior, estava me dando e me permiti viver essa felicidade.Se dependesse de Alicia , eu passaria todas as noites em seu apartamento, seja cozinhando juntos, transando, nadando na piscina, brincando com Stark ou vendo doramas e passando raiva por ela ficar babando naqueles coreanos metidos a besta. Já tínhamos terminado Pousando no Amor e agora estávamos vendo Noiva por Vingança . Repetimos o ritual, eu dorDonna com ela, acordávamos mais cedo, eu ia até a casa dos meus avós para me trocar e ficávamos para o café.Alicia parecia estar muito feliz com essa rotina, sempre mimando Brenda e meus avós, vi minha irmã quase ter uma sincope ao ganhar uma quantidade exorbitante de produtos da Pamuk. Estou começando a achar, ou melhor,
Alicia PamukDonna só podia estar aprontando alguma coisa, não tinha mais nenhum carro além do meu e, segundo ela, era uma social com alguns amigos. Mas então por que parece que só a gente chegou?Toco a campainha, sentindo a mão suada de Pablo junto a minha. Ele está nervoso, eu sei que está. — Ah, que bom que chegaram! — A porta é aberta e Donna praticamente pula em nossa frente.Ela está usando um vestido colorido, como os de sempre, e seus olhos vão diretamente para a minha mão segurando a de Pablo, então seu sorriso dobra de tamanho.Ela nos puxa para um abraço.— É tão bom recebê-los — diz.— Cadê todo mundo? — cochicho entredentes antes de ela nos soltar.— Ah, estão aqui, somos só nós. — Aponta para nosso pequeno círculo.— O quê? Não vem mais ninguém? — questiono, olhando ao redor, e ela nega, balançando a cabeça. É claro que ela aprontaria algo!— Não fiquem parados aí, venham. — Faz um floreio para que entremos. — Pablo, é um prazer recebê-lo em nossa casa. Kai, querido!
Alicia PamukNão sei que horas são, mas os raios de sol tentam invadir o interior do quarto através da cortina. O peitoral nu de Pablo é um ótimo travesseiro. Sorrio, vendo que ele ainda está em um sono pesado. Os planos de passear com Stark pela manhã aparentemente foram adiados. Aproveito para memorizar cada traço do seu rosto bonito, sua barba por fazer, as marcas e linhas de expressão causadas pela exposição ao sol, a pintinha delicada acima da maçã do rosto, os lábios carnudos com pequenas manchinhas vermelhas. Sua beleza é tão única. Passo os dedos pela dog tag, sentindo o relevo e relendo um dos nomes escritos, Richard Walsh, tenho curiosidade de saber quem é ele desde a primeira vez que li, mas ainda não tive coragem de perguntar, nunca falamos sobre o tempo de Pablo nas Forças Armadas, não consigo imaginar os horrores que ele viu enquanto servia, e talvez tudo o que ele queira seja esquecer. Se, em algum momento, ele precisar falar sobre essa fase da sua vida ou a perda
Pablo RodriguézFecho à porta tremendo de raiva, não consigo sequer imaginar a dor que Alicia sente ao ouvir aquelas palavras horrorosas vindas de sua própria mãe. Essa mulher nem deveria ser chamada assim, porque não merece um título tão sagrado.Me sinto mal por pensar que eu possa ter sido o causador de tudo, porque o olhar acusatório daquela mulher deixava claro que ela sabia o que estava acontecendo entre mim e sua filha.Me volto para Alicia , agora sentada sobre o carpete, abraçada às pernas em um choro copioso e desesperador.— Eu sou uma assassina, eu sou uma assassina,... — ela repete, apertando as têmporas. Fico de joelhos em sua frente e puxo as suas mãos. Seu rosto molhado pelas lágrimas traz uma expressão desesperadora. — Fica calma, meu amor — é o meu coração falando, estou em pedaços por vê-la assim. Sua respiração fica irregular e uma palidez preenche sua face.— Está doendo tanto. — B**e contra o peito. — Eu deveria estar morta! — Ela puxa o ar com força e suas pala
Pablo RodriguézJá passa das sete da noite e eu estou ajudando Alicia com o jantar, isso está meio que se tornando um ritual e já conheço a sua cozinha de ponta a ponta. Estou feliz por ter exposto um pouco sobre mim para ela, no fundo eu me sentia inseguro por falar do que vivi e sobre Clarice, tive receio que ela pudesse entender tudo de uma maneira diferente e decidir se afastar, mas sua resposta foi a oposta, o que faz com que eu a ame ainda mais.Me sinto um pouco estranho por nosso relacionamento ter sido exposto, aliás, esse foi o motivo para Alicia ter recebido a infeliz visita da mãe. Somos notícia em vários tabloides nova-iorquinos, algo novo que nunca passou pela minha cabeça. Brenda me ligou tendo um surto porque, segundo ela, eu estava famoso em todas as redes sociais, algo que dispenso, mas preciso dar um jeito de me acostumar, já que Alicia é uma pessoa pública.Busco não pensar em nossa diferença social para não me sentir incomodado, afinal, eu sou só um ex-fuzileiro
Alicia PamukMinha boca está seca, estou com medo da conversa que terei com meu pai, mas decido confiar em Pablo, ele parecia certo de si quando disse que tudo ficaria bem.— Sobre o que quer conversar? Deve ser algo muito importante para fazer você vir aqui tão cedo. — Cruzo os braços e ele ajeita a postura. — Sua mãe me contou que veio aqui ontem — diz e rio sem humor.— Então é esse o motivo da visita? Minha mãe? Você veio me expulsar daqui ou dizer para eu sair da empresa? — Filha, você entendeu errado... — Não entendi nada errado! Minha mãe prometeu e o senhor veio cumprir. E quer saber? Eu vou me virar sozinha — afirmo, sentindo um nó se formar em minha garganta.— Alicia , me ouve...— Ouvir o que, papai? Que minha mãe não queria ter dito aquilo? Que no fundo ela é uma boa pessoa? ELA NÃO É! — grito, fazendo Stark latir assustado.— EU PEDI O DIVÓRCIO! — ele grita, me olhando fixamente.Paro, pensando se ouvi corretamente o que ele acabou de dizer.— O senhor fez o quê?— Eu
Alicia PamukUm mês depois.Minhas mãos estão suando e praticamente escorregam no volante, minhas pernas tremem e eu não sei como estou conseguindo tal façanha.Volto a repetir o mantra na mente: É só um carro, não preciso ter medo.Sinto a mão de Pablo sobre a minha coxa, um sinal de que já fiz o suficiente, então eu paro, mas meu coração ainda está acelerado e duvido que diminuirá o ritmo.— Quase um quilômetro, amor. — Ele puxa meu rosto e beija minha testa, então segura minha mão e me encara. — Estão suadas — digo sem graça, mas ele se abaixa e beija cada uma delas.— Não precisa ter medo, é um processo lento, mas você já conseguiu muito. Quase um quilômetro, eu estou orgulhoso. — Sorri.Há três semanas, Pablo tem me levado até uma estrada isolada com o objetivo de fazer com que eu volte a dirigir. Eu voltei para a terapia e acabei comentando com ele sobre a sugestão em uma sessão sobre superação de traumas, aonde a terapeuta falou sobre enfrentar um dos maiores causadores, e é c