Agora que era uma mulher adulta, quanto tempo o demônio teria coragem de deixá-la ali? Três dias? Uma semana? Mesmo que fossem somente algumas horas, Anne não queria mais lutar. Ela estava cansada de ser derrotada por causa de sua própria ingenuidade. Em sua ânsia de escapar, sempre esquecia o quanto Anthony era ardiloso.Tentando manter a cabeça ocupada, esperou a vista se adaptar com a escuridão e começou a procurar se havia algo a sua disposição, como comida, água ou uma cama. Tudo que encontrou foi um balde vazio e, mesmo assim, ele estava ali por acaso.Sem ter o que fazer, a jovem recostou contra a parede e tentou dormir, o máximo de tempo que conseguia.No primeiro dia, a sensação no estômago vazio era suportável, mas no segundo parecia que ela começava a desidratar, enquanto sentia câimbras abdominais. No terceiro, os lábios de Anne racharam e ficou difícil de mover o corpo, então ela simplesmente ficou parada. A jovem não gastou energia com futilidades como gritar por socor
Com uma mistura de raiva e frieza, Tommy olhou para Hayden.― Você é o mordomo, não é? Somos membros da família Marwood. Você tem certeza de que tem autoridade para nos expulsar? ― Em dúvida, Hayden parou, incapaz de encontrar uma resposta e Tommy aproveitou o momento de hesitação para se embrenhar na mansão. Exasperado, Hayden pegou o celular, no bolso de seu paletó, e começou a discar. Mas, Ron o interrompeu e, com uma expressão neutra no rosto, perguntou, com simplicidade: ― Anne está presa aqui? ― Hayden parecia desconfortável. Ele não queria mentir, mas ao mesmo tempo, tinha medo de desafiar seu empregador, por isso, escolheu uma resposta que não o comprometeria:― Ninguém pode desobedecer ao Senhor Marwood. Aconselho-o a sair, agora mesmo! ― Encostada na porta, grogue e quase em letargia total, Anne escutou seu nome soar distante, quase como se fosse chamada em outra vida, ou outra galáxia. Tinha sido uma ilusão? Afinal, não fazia sentido nenhum ouvir a voz
Com dificuldade, Anne se arrastou e começou a erguer o corpo, se escorando na parede, enquanto pensava em como realmente era uma pessoa azarada, primeiro por ter perdido a mãe, depois por ter se envolvido com aquele drama familiar que não lhe dizia respeito e ter se tornado a válvula de escape de um jovem desequilibrado. Cansado do impasse, Anthony apontou a arma para um vaso e apertou o gatilho, dizendo, em meio ao barulho:― Vocês não vão levá-la embora. O próximo disparo é no peito de um de vocês. ―Anne gritou, assustada, achando que alguém tinha sido ferido, mas olhou a seu redor e viu que Ron e Tommy estavam bem.Atraídos pelo barulho, os seguranças da propriedade convergiram, encontrando Tommy no corredor, Anne escorada na parede, Anthony bloqueando a passagem e Ron na sala. Compreendendo a situação, o líder do grupo perguntou:― Senhor Marwood, você quer que nós os expulsemos? ― Ron não ousaria revidar, porque obviamente estava do lado perdedor. Além disso, ainda eram
Anne cambaleou para trás, surpresa, aterrorizada e impressionada. ― Você sabe mesmo como segurar uma arma? Você consegue disparar? Quer que eu te ensine? ― Anthony abriu um sorriso de tubarão e apertou o gatilho. ― Ah! ― Anne levou as mãos à cabeça assustada e suas pernas cederam. Se houvesse algum líquido em sua bexiga, teria urinado em suas roupas. Mas, quando voltou a si, percebeu que não tinha sido atingida.― Sai da minha frente, ou vou atirar de novo. ― Anthony disse, com indiferença. Sem querer pagar para ver, Anne correu para o pátio, onde Hayden esperava, ao lado de um carro, segurando a porta aberta. Sem hesitar, a jovem se jogou no veículo e escutou a porta fechar, atrás de si.O carro se afastou da Curva e seguia para a cidade, mas o corpo de Anne ainda tremia. O trauma tinha sido muito grande e ela precisaria de algum tempo para se recuperar. Por isso, voltando para seu apartamento, pegou uma cadeira e começou a bater contra a parede, enquanto gritava:― Seu
No dia seguinte, assim que acordou, Anne se lembrou de enviar uma mensagem de texto para Tommy e sua tia para dizer que estava segura e que não se preocupassem.A jovem se recuperou, ainda com o corpo abalado pelo suplício de três dias e começou a se arrumar para ir trabalhar. Mesmo sabendo que, na verdade, tinha perdido completamente o interesse por seu emprego na clínica. Não fazia mais sentido ela ir para aquele lugar, para se afastar de Anthony quando ele tinha adquirido o espaço, justamente para mantê-la vigiada. No entanto, se ela não fosse mais, causaria suspeitas em Anthony.Assim que chegou no trabalho, Zelda comentou, com sarcasmo:― Finalmente! Que menstruação longa você teve! ― ― Sim, foi mesmo. ― Anne respondeu, cansada daquilo tudo. ― Que pessoa frágil! Vai acabar tirando férias todos os meses, agora! Não sei por que a empresa quer manter pessoas como você. Até o diretor foi demitido por sua causa! ― Zelda disse e se virou. As sobrancelhas de Anne curvaram, en
Mas, assim que desceu as escadas, logo depois de cruzar as catracas, uma mulher de meia-idade carregando frutas passou, andando rápido e Anne se virou, em estado de choque, achando que tinha visto um fantasma.Sem perceber nada diferente, a mulher continuou galgando os degraus, mas agora ela estava muito perto de Anne e a jovem não tinha como ter feito confusão. Ela realmente via um fantasma, em carne e osso.“Aquela era minha mãe? Como? Como pode ser? Ela está morta! Será que estou alucinando?"A mulher caminhava na direção da catraca quando Anne tomou uma atitude e decidiu segui-la. Ela caminhou até chegar em um edifício muito antigo, cheio de apartamentos e sem portaria, o que facilitou a entrada da jovem que ainda acompanhava a mulher à distância. Até que ela parou em um dos apartamentos, e só enquanto ela pegava a chave na bolsa, sentiu uma presença atrás de si e virou na direção de Anne. Confusa, a mulher derrubou a sacola de frutas e as chaves, deixando que tudo se espalhas
― A mamãe vai voltar, logo! ― ― Vamos esperar! ― A boquinha fofa de Chloe fez beicinho:― Sério? Mas... vai demorar muito... ― Os dois meninos pararam de falar e brincar, desanimando com o comentário da irmã. Depois de alguns segundos em silêncio, Charlie pensou em algo e seus olhos brilharam:― Vamos buscar a mamãe! ― Chris não disse nada. Ele parecia pensar que o plano era bom e seu rosto começou a ficar vermelho de excitação.Chloe espiou de sua colcha, com os olhos grandes:― Mas, mamãe está longe, Nancy disse... ela... está em... em Lu... ― ― Luton! ― Charlie respondeu.― Precisamos ir! ― Os olhos de Chloe brilharam. No entanto, ela se sentiu frustrada e disse ― como vamos chegar lá? ― Seus dois irmãos ficaram em silêncio e, então Chris concluiu:― Vamos perguntar! ― Os olhos das três crianças fofas brilhavam como estrelas, enquanto elas conversavam absurdos e davam ideias impossíveis, tornando, em suas pequenas cabeças, a ideia cada vez mais real.Na tarde
― É uma cidade grandiosa, se você souber procurar o que gosta, garanto que não vai se decepcionar. ― Com os radares instantaneamente ligados, os bebês sorriram e começaram a seguir o casal, até chegar em um dos guichês de atendimento. Em suas cabecinhas, eles tinham certeza que daquela maneira conseguiriam encontrar a mãe.Na fila, a pessoa da frente acreditava que eles fossem os filhos da pessoa de trás e vice versa, mas ambos os grupos comentavam sobre a fofura e beleza das crianças, bem como sobre a raridade de se ver trigêmeos.― Essas três crianças são muito fofas! ― ― Uau! São trigêmeos! ― ― Que coisa mais fofa, eu queria beliscar esses bochechões todos... ― Apesar de todo mundo prestar atenção nas crianças, todos as deixavam passar, sem se preocupar, acreditando que estavam sendo supervisionados. Quem imaginaria que três crianças tão pequenas podiam ser um pequeno bando em fuga? E foi assim que o trio passou pela verificação de segurança da alfândega, tendo apenas uma