Fredy andava de um lado para outro em sua ampla sala no décimo segundo andar.
Esfregava as mãos uma na outra demonstrando claramente sua aflição. Eram sete horas da manhã e as olheiras fundas no seu rosto denotavam as poucas e mal dormidas horas daquela noite.
Marcos, próximo à porta, só acompanhava com os olhos. Havia passado a noite em claro na esperança de um sinal. Tinha de aproveitar que o satélite estava disponível full time nesse primeiro dia. Depois, seu acesso seria de apenas 15 minutos duas vezes ao dia.
O telefone tocou. O segurança atendeu e transferiu na frequência especial para a sala da presidência.
Fredy deu um pulo e antes mesmo do segundo toque já havia atendido.
— Doutor Frederico, é o Coronel Krismmel pro senhor na linha especial.
O Presidente odiava o próprio nome. Preferia ser chamado de Fredy, mas não contestou. Acionou um botão em um pequeno painel e travou todas as linhas de acesso. Da
Na guarita do 9º Batalhão de Engenharia de Combate, o Cabo aproximou-se da viatura. Ramon tirou do rosto o Ray-Ban, olhou para o soldado e respondeu a pergunta: — Ramon Karline, da CIFEC. O Coronel Krismmel está nos esperando. — Um momento, senhor! O Cabo foi até a guarita e interfonou. Em seguida, pediu suas identidades e deu-lhes em troca crachás de visitante. — Por favor, senhor, continuou o Cabo. Este soldado vai acompanhá-los. O soldado pediu licença e entrou no carro. Ramon já conhecia o caminho, pois já estivera naquele quartel em outra ocasião. Contudo, era preciso seguir o ritual. Na porta do pavilhão, estacionaram o veículo e um oficial veio apanhá-los. — Por aqui, senhores. O Coronel os espera. Subiram a escada que dava acesso ao gabinete do Coronel. Uma sala espaçosa com dois ambientes. Em um dos lados, uma extensa mesa com um computador. O outro ambiente continha um sofá e quatro poltronas dispostos
Marcos cochilava na cadeira. Estava acordado desde a manhã do dia anterior. O vídeo acusou recepção de mensagem com o bip característico. Marcos abriu os olhos e rastreou rapidamente a tela. — São eles! gritou para consigo mesmo. “Acorda, mano! Você não achou que ia ser fácil, não é? Pois é... eles acharam! Mas está tudo bem conosco.” Marcos sorriu satisfeito. Eles estavam bem. Era seu irmão sem dúvida nenhuma. “Graças a Deus, Ramon! O Fredy nem vai acreditar!” “Tivemos problemas com o carro, mas está sob controle agora.” “Já sabe das últimas?” “O Coronel me colocou a par”. “Espere um instante que eu vou chamar o Fredy. Ele quer falar com você.” Enquanto Ramon aguardava, o Coronel saiu da sala com o restante da equipe. — Vamos andar um pouco. Vou mostrar o quartel para os novos. Fique à vontade e o tempo que precisar. Ramon acenou positivamente enquanto aguardava o Fredy do outro la
Logo após o almoço em companhia do Coronel, a equipe deixou o quartel. Até Miranda eram apenas 68 quilômetros e isso seria feito em menos de uma hora. Lá, as equipes da CIFEC eram bastante conhecidas. Miranda era uma cidade pequena e qualquer pessoa de fora era facilmente identificada. Willdson e Ramon haviam feito inúmeras pesquisas naquela região e eram conhecidos por muitos. Como supostamente ninguém imaginaria seu objetivo, o jeito era agir com naturalidade. Para todos os efeitos, tratava-se de mais um trabalho de pesquisa sem maior importância. Assim, poderiam buscar informações sobre o proprietário da fazenda Miranda Estância e confirmar suas suspeitas. Se as coisas se complicassem, pensariam em outra alternativa. O apoio do Exército era importante, mas não podia transparecer. Por isso a equipe tinha de agir sozinha. A Prefeitura seria o primeiro contato em Miranda. O Diretor da Cultura, senhor Sérgio de Almeida, veio recebê-los assim que foram
Euclides Barbosa era o mais velho dos três irmãos que cuidavam da fazenda Boa Vista. Ele tinha um armazém na cidade onde ficava a maior parte do dia quando não estava na fazenda. Já era quase noite quando Ramon parou o carro em frente ao estabelecimento e foi logo entrando. — Boa noite, seu Euclides! Como tem passado? — Oras, se não são os meninos da CIFEC! Quanto tempo...! E aí? Vão pesquisar na fazenda outra vez? Euclides era um bom homem. Dera muita ajuda às equipes da CIFEC desde 1976 quando foi desenvolvido o Projeto Neanderthal. — Não exatamente, acrescentou Ramon. Willdson também entrou no armazém e cumprimentou Euclides. Carlos e Henrick ficaram no carro. — Ué! continuou Euclides. Sabe que lá a casa é de vocês! — Sei disso, seu Euclides. E é por isso que estamos aqui. Precisamos da sua ajuda, complementou Ramon. Lembra-se das escavações que fizemos na ponta limite da sua fazenda, em 1976? — Ué! Claro que
A viatura parou em frente ao Hotel Pantanal. Durante o percurso, Carlos e Henrick haviam se inteirado do assunto no armazém. O hotel era simples, mas tudo muito limpo. Havia uma varanda na entrada e um jardim todo arborizado. Os quartos ficavam em um pavilhão lateral, também ladeado por uma varanda. Não havia muro na entrada, e era possível ir aos quartos sem passar pela recepção que ficava junto ao restaurante. Os hóspedes, na maioria, eram pescadores vindos de São Paulo. Como dissera Euclides, não foi difícil localizá-lo. Após as apresentações, Roberto se mostrou uma pessoa incrível e amável. Era um homem de estatura mediana, aparentando uns quarenta anos. Usava um bigode não muito espesso e seu sotaque mostrava claramente não ser daquela região. — Mas o que traz vocês a lugares tão distantes? Ramon expôs os objetivos da equipe tendo o cuidado de não deixar transparecer qualquer intenção secundária, mesmo porque a equipe do Projeto INCA pene
Eram 07:15h da manhã do dia 5 de julho quando Roberto Paschoal chegou ao encontro. A equipe já estava à sua espera desde as 06:45h. — Bom dia, Roberto! Tudo bem com você? Ramon cumprimentou-o acompanhado pelos demais elementos da equipe. Fingiu não perceber, mas pressentiu problemas. — Podemos partir? perguntou. Roberto colocou as mãos nos bolsos, abaixou a cabeça e começou a falar com certa insegurança. — Sabe o que é, pessoal? A situação não está tão positiva como pensávamos até ontem. — Algum problema, seu Roberto? quis saber Carlos um pouco aflito pela colocação. — O problema, continuou Roberto, é que eu tenho alguns sócios na fazenda. Estive conversando com eles ontem à noite, pelo telefone, sobre o trabalho de vocês. Um deles fez objeções sobre as pesquisas. — Você não falou que tinha sócios, interrompeu Ramon. Mas se quiser, continuou, podemos falar com eles e explicar exatamente qual é nosso trabalho. Com certez
A equipe se afastou rapidamente enquanto Roberto, pensativo, dirigiu-se ao telefone do hotel. Pediu licença ao rapaz da recepção, discou o DDD e em seguida o número. Ao primeiro toque, Roberto desligou. — Não conseguiu linha, senhor? perguntou o rapaz solicitamente. Roberto não respondeu. Ficou parado com a mão no aparelho, olhando para lugar nenhum. O rapaz insistiu: — Algum problema, senhor? O senhor está bem? — Oh! Tudo bem. Está ocupado. Vou tentar mais tarde. Roberto saiu da recepção e foi até a varanda. Refletiu por um momento e desceu a rua. Na esquina, em frente a uma churrascaria, existia uma cabina pública de telefone. Como ainda era cedo, tudo estava deserto. Dessa forma, era mais seguro manter qualquer tipo de conversação. Discou o código do DDC, discagem direta a cobrar, o número, aguardou a gravação e identificou-se. — Senhor Paschoal? perguntou a secretária. Deseja falar com quem? — Dr. de Ávila por favor
Roberto ouviu de Ávila bater o telefone. Ficou parado por um instante com o aparelho na mão, refletindo sobre as últimas palavras do “Doutor”. Ele tinha vago conhecimento dos negócios de Ramos de Ávila, mas não era um de seus homens de frente. Na verdade, apenas administrava Miranda Estância, mas fazia-se passar por proprietário por ordem do próprio de Ávila. Segundo ele, essa fachada dava mais segurança aos negócios. Sabia que coisas estranhas aconteciam por lá, mas aprendera a ficar de boca fechada. Para isso, recebia um gordo salário, mas sabia também que aquele era o último emprego de sua vida. Resolveu seguir a sua intuição. Se apoiasse os arqueólogos, poderia tê-los em suas vistas. Colocou o telefone no gancho e caminhou vagarosamente em direção ao hotel. Estava entrando num jogo perigoso e teria que ser cauteloso. A discrição era uma de suas qualidades. E isso, com certeza, era o que lhe dava certa tranquilidade. Tinha por hábito não fazer perg