Jéssica sentiu o olhar de Clara e não se escondeu. Pensou por um momento, decidindo que não tinha nada a esconder.
— Sua cirurgia foi muito bem-sucedida, Clara. A retirada das lesões foi limpa e não houve intercorrências. Você deve estar completamente reestabelecida, contanto que siga as orientações. — Paschoal dava as boas notícias para Clara.
— Certo, e quem realizou o procedimento? — Clara perguntou, sua voz cortante, como se já soubesse a resposta, mas não queria admitir.
— Foi nossa melhor residente. Jéssica Silva. — Paschoal não sabia qual o relacionamento entre elas, mas preferiu revelar tudo de uma vez, imaginando que seria mais fácil control
Leonardo entrou um pouco depois que Jéssica saiu. Tinha um ar indiferente e preocupado mais com o externo do que com Clara adoentada à sua frente.— Oi. Desculpe a demora, estava providenciando tudo para a nossa mudança.— Mudança? Pra onde? — Clara quase teve um mini surto. Seu rosto se contorceu de confusão e raiva, como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor.— Pra Campinas. Gostei da cidade e vamos ficar aqui.— Não. Nossa vida é em São Paulo. Minha fã base está lá. Não posso simplesmente largar tudo e vir pra Campinas. E nem você! Temos contratos, patrocinadores... o mundo não funciona assim. — Clara usou de toda a racionalidade que tinha. Era como uma resposta automática à iminente perda de controle.— Já verifiquei isso. A estrutura aqui seria tão boa quanto a de lá, na verdade. E a fã base não sentiria tanta diferença. Campinas é uma cidade mais tranquila, sem paparazzi. Seria até mais conveniente.— Leonardo. Sabe o que estou fazendo aqui? — Clara mudou de assunto de
Leonardo ajustou a gola da camisa, disfarçando o incômodo com o calor abafado daquela tarde.Ele sentia o suor escorrendo pela testa, mas estava determinado a resolver a questão da casa o mais rápido possível.Não queria mais saber de hotéis, olhares curiosos ou pessoas tirando fotos escondidas.Precisava de discrição e tranquilidade. Tinha a sensação de que esse passo, essa mudança, era o que faltava para finalmente conseguir manter Clara longe das questões de sua carreira e da pressão da mídia.Um passo certeiro na direção da sua liberdade. — Essa aqui é uma das últimas da lista, senhor Leonardo — informou a corretora com um sorriso simpático. — A casa é de uma médica muito respeitada aqui na cidade. Inclusive, ela deixou algumas diretrizes bem específicas sobre a locação.Leonardo arqueou uma sobrancelha, intrigado.— Diretrizes? Que tipo?— Ela não quer que seja alugada para festas, nem para pessoas que possam atrair a atenção da imprensa. É bem reservada. Uma mulher... intensa —
Jéssica chegou em casa no início da noite, tentando ignorar o cansaço que apertava seus ombros.O clima ali dentro não era mais o mesmo, e ela sofria muito com isso. Não adiantava fingir.Desde a revelação sobre a verdade biológica dos filhos, os olhares carregavam uma frieza que doía mais do que qualquer palavra dita.Na sala, Caio e Breno jogavam videogame lado a lado, mas sem trocar uma única palavra. Maria lia um livro no canto do sofá, os olhos atentos à mãe assim que ela entrou.— Oi, meus amores — disse Jéssica, tirando os sapatos.— Mamãe — respondeu apenas Maria alegremente. Os meninos fingiram não ouvir.Hugo veio da cozinha com um pano de prato nos ombros e uma expressão cansada.— Fiz macarrão. Tá quase pronto — avisou, tentando soar natural.<
O barulho da campainha rompeu o início tranquilo da manhã. Jéssica, que ainda estava de roupão, estranhou a visita inesperada. Hugo apareceu na sala ao mesmo tempo, franzindo a testa.— Deixa eu ver quem é — disse ela, caminhando até a porta.Do outro lado, um homem de terno escuro e expressão neutra ergueu uma pasta.— Senhora Jéssica Silva?— Sim… sou eu.— Oficial de Justiça. Tenho aqui uma citação referente a uma ação judicial movida pelo senhor Leonardo Faria. Preciso que a senhora receba formalmente.Jéssica sentiu o coração gelar.— Ação!? Que tipo de ação?— Trata-se de uma Ação de Regulamentação de Guarda e Convivência Familiar, com pedido de busca e localização de menor. O autor alega que a senhora deixou a cidade com o filho Breno Faria sem aviso prévio, caracterizando possível abandono do lar e obstrução do vínculo paterno.— Isso é um absurdo! — a voz de Hugo ecoou atrás dela.O ofic
Hugo e Jéssica estavam sentados no restaurante, com olhares complicados. Pensavam em tudo o que estava em jogo naquele momento.O peso da situação era claro em seus rostos, e nenhuma das palavras ditas até ali parecia suficiente para expressar o desespero que estavam enfrentando.Ricardo entrou sorridente ao encontrar o velho amigo, mas o clima tenso logo se fez presente.— Hugo, tudo bem? Pô, cara, quanto tempo! — cumprimentou com um abraço.— Jéssica, você está linda. — Ele lhe deu um delicado beijo nas mãos.— Você também está ótimo. Esperava que nos encontr&
Leonardo caminhava pelos corredores da escola com um ar afável, um crachá provisório pendurado na camisa e um sorriso ensaiado nos lábios.Foi muito fácil convencer a direção a permitir que um projeto social, voltado para o incentivo à arte entre as crianças, funcionasse ali. Claro que ser um astro ajudava bastante.Os funcionários, encantados com sua presença elegante, o deixaram circular sem grandes objeções.Mas não era a educação que o movia. Seu coração disparava, e o encontro com seu filho mexia de verdade com seu juízo.Encontrou Breno no pátio, afastado das outras crianças, com o estojo aberto sobre a mesa de concreto e os lápis de cor espalhados.Leonardo se aproximou devagar, agachando-se ao lado do menino como quem oferece um segredo.— Olá
Jéssica acordou às 5h40 com um barulho alto vindo da cozinha. Garantiu que Breno continuasse dormindo e foi ver o que estava acontecendo. Já podia prever a situação: Leonardo tinha chegado bêbado novamente. Essa situação se tornou frequente desde que se casaram.— Bom dia. — disse ela, chegando na cozinha para confirmar seu palpite. O marido estava caindo de bêbado. Mal se aguentava em pé. Tentava pegar um copo d’água, mas, apoiado na porta da geladeira, balançava muito e quase derrubou tudo o que tinha lá dentro. Um barulho que certamente acordaria o bebê.— Para com isso! — ela o sentou na cadeira e pegou a água para servi-lo, a fim de evitar o pior.— Meu anjo, Jéssica... — ele falava com a voz embargada pelo álcool. Não dava para saber se estava elogiando ou debochando da esposa. Ela o servia em partes para evitar o escândalo e, em parte, porque realmente acreditava que esse era o dever de uma boa esposa.— Qual é o problema com esse seu trabalho? Você é o único da banda que chega
Do outro lado da cidade, Hugo e Clara estavam discutindo sobre a campanha que Clara estrelaria. O sonho dela de se tornar uma influencer famosa parecia finalmente estar dando os frutos desejados.— Não podemos colocar cerveja numa campanha de carros, Clara!. O cliente já especificou o que gostaria que tivesse no comercial. — Hugo estava exausto nesse momento. Estava há horas tentando convencer a esposa a fazer exatamente o que o cliente queria, e não havia nenhum sinal de que ela tivesse entendido o que precisava.— Uma campanha com amigas se divertindo vai parecer muito mais legal. E vai atrair os jovens. As amigas, com roupas bem sensuais, bebendo muito... — Ela divagava, como se não estivesse falando nenhum absurdo. O problema é que o principal posicionamento das redes dela era a família. Mudar assim não fazia sentido para ninguém.— Clara, é um carro para família! Não tem nada de sensual nessa campanha! Você pelo menos leu o briefing? — Hugo parecia um pouco exasperado. Clara tem